segunda-feira, outubro 20, 2014

Eleições fazem "parar o país"?

Também hoje, no mesmo "Fórum TSF", David Dinis afirmava no seu comentário, a propósito do curto espaço de tempo existente entre eleições legislativas e presidenciais, que "o país não poderia parar por causa de um longo período eleitoral" (cito de cor). Embora a posição de David Dinis em relação ao calendário eleitoral fosse, no essencial, correcta (antecipação das legislativas por dois ou três meses e consagração constitucional futura deste novo calendário), parece-me estranho este "medo" de que o país possa parar por causa de eleições, vindo de quem se faz arauto de posições ultra-liberais.

Uma das características das democracias ocidentais dos países desenvolvidos, dos regimes não totalitários e liberais, é a existência de uma grande autonomia da impropriamente chamada "sociedade civil" face ao Estado. Mesmo em Portugal, onde essa autonomia está ainda um pouco longe das democracias mais antigas e das sociedades mais civilizadas e desenvolvidas, ela é já, em certa medida, uma realidade e o modo como os portugueses, famílias e empresas, têm sabido resistir e adaptar-se às políticas recentes, aqui e ali conseguindo mesmo "trocar-lhes as voltas, é disso bom exemplo. Significa isto que não excluindo um período eleitoral mais ou menos longo possa influenciar algumas decisões governamentais estratégicas ou alguns investimentos privados mais importantes, por isso mesmo devendo, se possível e sem sacrifício da necessária discussão pública das candidaturas,  ser evitável, estará longe, muito longe, mesmo, de fazer parar o país, ou algo que se assemelhe. O que me parece é que David Dinis, talvez impregnado do "espírito do tempo", ter-se-à limitado a deixar escapar o desabafo daqueles (muitos) liberais de pacotilha para os quais as eleições são uma "chatice", infelizmente necessária, mas uma "chatice"; um elemento disfuncional que, por isso mesmo, seria bem dispensável. Que David Dinis não tenha portanto medo: não só eleições não fazem parar o país, como elas são mesmo, em circunstâncias normais, oportunidade para reequacionar opções, avaliar alternativas e proceder ao arejamento necessário de ideias e dirigentes do Estado. E ainda bem que assim é.

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