quinta-feira, maio 22, 2014

Resultados e avaliação de treinadores

Em Portugal, o único critério para avaliação de um treinador parece ser a classificação ou resultados alcançados pela(s) equipa(s) que treinou nos últimos anos. Paulo Fonseca levou o Paços de Ferreira ao 3º lugar? É o "máximo das bolachas". Domingos levou o SC Braga ao vice-campeonato? É "the next big thing". Nuno Espírito Santo o Rio Ave FC a duas finais (devem estar esquecidos do modo com uma delas foi alcançada), apesar de um 11º lugar no campeonato? Está pronto para "novos desafios". Marco Silva conseguiu dois 4ºs lugares  com o GD Estoril-Praia em anos consecutivos? Só pode ser " the one and only". Depois, Paulo Fonseca deu com "os burros na água no FCP, Domingos Paciência coleccionou insucessos e que dizem jornalistas e comentadores? Nada, esquecem, a memória é curta.

Mas, perguntar-me-ão, não serão os resultados alcançados, pelo menos os que o são de forma sustentada, o principal parâmetro de avaliação do trabalho realizado por um clube e não é o treinador peça importante nesse trabalho? Sim, claro, mas o treinador é apenas uma peça (importante, mas apenas uma peça) e os resultados de uma equipa de futebol profissional, hoje em dia, dependem de uma série de factores organizacionais internos (gestão global e financeira, "scouting", investimento realizado, relacionamento com empresários de jogadores e capacidade de se movimentarem nos tão famigerados "fundos", modo como o treinador encaixa na filosofia e cultura do clube, etc, etc) e de condicionantes externas, incluindo variáveis macroeconómicas. Exemplos? Alguma vez Jorge Jesus poderia ter alcançado os resultados dos últimos anos no SLB sem o investimento realizado, a relação privilegiada do clube com alguns empresários, o modo como o clube se tem movimentado no terreno complexo dos "fundos", o trabalho de "scouting", a relação de confiança que estabeleceu com a Banca, etc, etc? Os resultados alcançados por Marco Silva e pelo GD Estoril-Praia teriam sido possíveis sem a Traffic Sports, a sua capacidade organizativa, o investimento no clube e a sua experiência com os "fundos" e representação de jogadores? E o crescimento do SC Braga é independente da respectiva Câmara Municipal e do crescimento da cidade nos últimos anos, via "bolha imobiliária"? Ao invés, não se gabava o FCP, e com alguma razão, de qualquer treinador poder ser campeão no clube? 

Enfim... algum rigor acrescido na forma como se analisa o trabalho de treinadores e os resultados alcançados pelos clubes talvez evitasse a criação de ídolos de "pés de barro" ou de "underdogs" precoces. Com maior justiça para todos, claro. 


7 comentários:

Queirosiano disse...

De qualquer maneira, Marco Silva parece um homem prudente e com os pés assentes na terra. Procura subir passo a passo, de um clube pequeno para um clube maiorzito, sem aspirar no imediato a um grande.

JC disse...

Lol!!!

gps disse...

Muito infeliz o comentário do Queirosiano, ao nível os "antis" que invadem os sites dos jornais desportivos.

Não se pode é esquecer que o SLB dos tempos de Vilarinho, Vale de Azevedo e primeiros anos de LFV (e que não foi assim há tanto tempo) era uma equipa mediana, pelo que não fica bem "achincalhar" (pelo menos bem é o verbo que me vem agora à ideia) um clube oom o currículo e prestígio do Sporting Clube de Portugal

gps disse...

Quanto ao post do JC, quem lê, até fica com a ideia que se deve contratar treinadores que não apresentem resultados.

Falou (e muito bem) da Traffic.

Esqueceu-se é de referir que essa empresa já estava no Estoril antes da entrada do Marco Silva (sem grandes resultados desportivos) ou que a equipa perdeu alguns dos seus melhores jogadores (Jefferson, Steven Vitória, Carlos Eduardo, Licá e, a meio da época, Luís Leal) e ainda assim superou o 5º lugar do ano passado.

É óbvio que a contratação de Marco Silva pode correr bem ou não (pois existe sempre um coeficiente de risco, sobretudo num treinador ainda relativamente jovem), contudo achei um pouco "deselegante" pois percebe-se perfeitamente que visava o SCP e o Marco Silva.

Sendo igualmente de realçar que Marco Silva terá sido equacionado como uma alternativa à eventual saída de Jorge Jesus ou como substituto de Paulo Fonseca.

gps disse...


Quanto aos méritos do SLB que JC refere (e reconheço), nomeadamente como "a relação privilegiada do clube com alguns empresários, o modo como o clube se tem movimentado no terreno complexo dos fundos", gostaria de saber se concorda com a eventual “promiscuidade” entre clubes, empresários e quiçá a selecção (ainda agora Jorge Mendes comprou 50 % do passe de Rafa que foi uma das surpresas da convocatória; e assim de repente um jogador pouco conhecido - apesar do seu talento - passa a ter outra visibilidade; ou a influência de Jorge Mendes na "gestão" de certos clubes, como o Mónaco, que será treinado por Leonardo Jardim e tem Luís Campos como consultor) ou que o Benfica empreste jogadores ao Boavista em contrapartida das transmissões desportivas (até que ponto é que a verdade desportiva poderá ser afetada por estes negócios) ou que supostamente o Benfica “impeça” que ex-jogadores, como Miguel Rosa, joguem contra o seu antigo clube.

JC disse...

1. O comentário do Queirosiano, gps, tem graça e não ofende. Todos os que se lêem por aí fossem assim. Vocês, "lagartos", é que andam demasiado sensíveis - acho.
2. Mas alguma vez eu teci considerações específicas sobre a qualidade de Marco Silva enquanto treinador? Limitei-me a dizer que não se pode aquilatar do seu valor e de outros treinadores (JJ, Domingos, P. Fonseca, Espírito Santo, etc) apenas tendo em conta os resultados alcançados.
3. Quanto aos empréstimos de jogadores, já por várias vezes aqui afirmei que sou contra se possam realizar entre equipas que disputam a mesma competição. Ponto final e vale para qualquer clube, qualquer competição e qualquer país. Mas enquanto for legal, nenhum clube se pode armar em "anjinho", a não ser que aceite competir com armas desiguais. Já em relação à tal "promiscuidade" de actuação dos empresários, vejo com maior dificuldade o que possa ser feito e tb não me parece tal afecte mais a tal "verdade desportiva" do que o "dinheiro novo" (russo, árabe, chinês, etc). O que há a fazer é caminhar no sentido de regulamentos que limitem as transferências, definam tectos salariais, limitem a contratação de jogadores por "fundos", etc, etc. a questão não é moral, mas de credibilidade da indústria. Acho que a prazo lá chegaremos. Mas enquanto lá não chegarmos, há que saber lidar com o que é permitido.
4. À tal questão de empréstimo de jogadores ao Boavista, já respondi de forma mais genérica no ponto anterior.
Cumprimentos

JC disse...

Ah, esqueci-me: o facto do GD Estoril-Praia ter perdido os melhores jogadores e ter melhorado mesmo assim a sua classificação apenas vem corroborar a importância da Traffic Sports e a sua influência e conhecimento do mercado, principalmente do brasileiro. Não me parece tal fosse possível sem isso, independentemente do valor do treinador, chame-se ele Marco Silva ou Manel da Horta. E, note, até tenho boa impressão de Marco Silva, que me parece bom treinador e dono de bom-senso qb.