João Araújo não é apenas um advogado defensor de um qualquer arguido desconhecido; ele é o advogado (ou um dos) encarregue da defesa de José Sócrates, um ex-primeiro-ministro de Portugal em prisão preventiva por alegados actos praticados no exercício das suas funções ou em consequência desse mesmo exercício. Por isso mesmo, os seus actos como advogado, principalmente os praticados nos exercício dessas suas funções de principal figura encarregue da defesa do ex-primeiro-ministro e mais ainda quando em frente das câmaras de televisão e/ou perante a comunicação social, alguma dela hostil, não têm apenas implicações na ideia que de si todos ou alguns de nós possam ter formado ou vir a formar como jurista, advogado e cidadão; bem ou mal, correcta ou incorrectamente, elas reflectem-se também na imagem, já de si suficientemente controversa e extremada, que os cidadãos já formaram ou vão formando sobre José Sócrates, e na ideia que também, correcta ou incorrectamente, assim vão construindo sobre o antigo governante e o seu comportamento enquanto político e cidadão. Bem ou mal, é assim que as coisas se passam. Pior, quando entre essa comunicação social se incluía, e foi especialmente visado por João Araújo, um orgão de comunicação social que, por mais abjecto que seja (e é) e por menos consideração que me mereça (merece-me zero), parece gozar de especial favorecimento por parte do Ministério Público e, pelo menos, de alguma magistratura. Acresce ainda que para a defesa de José Sócrates seria útil, ou, no mínimo, daria algum jeito, conquistar algum "tempo de antena" de modo a permitir a essa mesma defesa apresentar os seus pontos de vista e captar alguma simpatia para a sua causa junto dos portugueses. Por isso mesmo, ao deixar-se ultrapassar pelas circunstâncias em que foi abordado, não as dominando e respondendo aos jornalistas (ou a uma jornalista) no tom em que o fez, o advogado João Araújo, independentemente das opiniões que cada um possa ter sobre o que de positivo ou negativo o tom irónico que normalmente utiliza possa trazer a um desfecho positivo do processo que envolve o antigo primeiro-ministro, não terá cometido apenas um momentâneo lapso com eventuais repercussões pessoais negativas, mas também laborado num erro comportamental que se pode vir a reflectir nas, já por si extremamente difíceis, funções que desempenha na defesa do seu cliente.
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