Nos países mais evoluídos e civilizados, até um homicida, mesmo um "serial killer, tem direito a um julgamento justo e, depois de cumprir a pena, mais ou menos pesada, a que for condenado, tem oportunidade de se redimir e reintegrar na sociedade. Em Portugal, a condenação máxima será de vinte e poucos anos e, no caso de bom comportamento, uma vez cumprida metade da pena o preso pode ter direito a usufruir de liberdade condicional, o que facilita, e ainda bem que assim é, a sua reintegração social.
Infelizmente, parece que para muitos jornalistas desportivos que julgam carregar às costas a justiça e a moral do mundo, autênticos "puritanos" da alma e "talibans" dos comportamentos, alguns atletas profissionais, mais concretamente jogadores de futebol, não só não têm direito a julgamento imparcial e justo, como são condenados à partida, nas páginas dos jornais, nas rádios e nas televisões, ao degredo, ao exílio, ao banimento ou até, no limite e quais hereges de antanho, a serem queimados nas fogueiras dos seus (jornalistas) tempos de antena.
O profissional Oscar Cardozo teve, após o jogo da final da Taça de Portugal, um comportamento público grave e condenável, desrespeitando a sua hierarquia e o clube onde exerce a sua profissão. De acordo com a lei, compete ao clube proceder a averiguações e, sendo caso disso, levantar o respectivo processo disciplinar, findo o qual deve ser definida a respectiva penalização. Tarde ou cedo, melhor ou pior, foi isto que foi feito. Cumprida essa penalização, compete agora também ao clube averiguar se existem ou não condições para a plena reintegração do atleta na estrutura e no grupo de trabalho de que faz parte. Penso apenas o clube - e estou a falar de administração, direcção, equipa técnica, etc - estará na posse de todos os elementos necessários a uma decisão. Tudo o que vá para além disto, incluindo, claro está, o julgamento e condenação sumários no espaço mediático, é tão caracteristicamente troglodita, como quaisquer cânticos entoados no estádio pedindo o regresso do jogador. Com uma atenuante para os autores dos cânticos: ao contrário do que acontece com jornalistas, comentadores e "ofícios correlativos", ninguém lhes pede conhecimentos, imparcialidade e que estejam acima das emoções do momento. Estamos conversados?
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