Com a "Lei Bosman" e a livre circulação de jogadores, os chamados agentes e empresários adquiriram um poder até aí bastante mitigado. Fácil de compreender: em vez de os clubes negociarem a compra e venda dos passes dos jogadores numa base local ou nacional, com a habitual excepção do número máximo de 2 ou 3 estrangeiros por equipa, passaram a ter de fazê-lo a uma escala global, europeia ou mundial. Ora é fácil de entender que nenhum clube, mesmo os maiores, terá capacidade para negociar (contratar/ceder) simultaneamente um número elevado de jogadores com vários clubes de diferentes países, muitas vezes distantes e com especificidades culturais e negociais difíceis de ultrapassar. Com o "dinheiro novo" vindo das "máfias russas" e do petróleo árabe, esse papel dos agentes/empresários ainda mais se fortaleceu e intensificou, estando mesmo esse seu poder, por vezes concordo que excessivo, na base do modelo de negócio entretanto definido e implementado por alguns clubes, casos mais emblemáticos, em Portugal, o do SLB e o FCP, mas a que também, num patamar mais baixo, clubes como, por exemplo, o SC Braga e o Rio Ave FC não escapam. Acresce que, por debilidade financeira de alguns clubes, muitas vezes agentes e empresários acabam também por funcionar também como "financiadores de último recurso", o que vem a fortalecer ainda mais a sua posição perante os clubes. Significa isto que estes - os principais clubes - se encontram, face a tais empresários/agentes, numa situação dúplice ou um pouco no "fio da navalha": se não podem abdicar ou condicionar demasiado a sua acção, com o perigo de verem prejudicado o seu "modelo de negócio", também será dramático colocarem-se numa sua dependência excessiva, o que poderá sacrificar os seus interesses e, logo, as prestações e conquistas desportivas das suas equipas. "Cruel dilema", como diria o impagável Vasco Santana.
Lembrei-me disto por duas razões:
- Uma, as dificuldades encontradas pelo SLB para colocar no mercado alguns dos seus activos, colmatar reiteradamente algumas das posições da equipa de futebol profissional (mormente defesa-esquerdo e "pivot defensivo") e a dificuldade em se entenderem alguns negócios aparentemente menos claros, casos de Roberto/Pizzi e Fariña, o que parece remeter para alguma subalternização dos interesses do clube em função dos de terceiros.
- Outra, a questão Bruma e a reacção de muitos jornalistas, comentadores e adeptos do SCP, aos quais quase só faltou chamarem negreiros e traficantes de carne humana aos agentes/empresários envolvidos, tenham estes agido de forma correcta ou incorrecta, de boa ou de má fé. Sejamos claros: não sou jurista e devo dizer pouco me interessam as minudências dessa ordem envolvendo o contrato do jogador. Acrescento mesmo que, em termos de "justiça moral" (o que quer que isso seja), e perante os contornos do que conheço, a decisão da CAP, favorável ao meu velho rival de Alvalade, me deixa bastante mais confortável do que qualquer outra em sentido contrário. Mas ouvir e ler, como já foi o caso, jornalistas e comentadores referirem-se genericamente a agentes e empresários, sem distinção, de modo aberto ou veladamente, como "traficantes" e "oportunistas", "exploradores de talentos" ou "parasitas", um pouco como nos habituámos, infelizmente, a ouvir designar os políticos, apenas remete apenas para a demagogia e o populismo, fruto de má-fé ou da total ignorância do papel essencial, embora demasiadas vezes excessivo para os clubes, que os chamados "agentes desportivos" desempenham no futebol actual. Seria bem melhor que, a montante, se preocupassem os que agora tanto de criticam o poder dos empresários com a regulamentação de um mercado e de uma indústria onde parece valer tudo, o que, isso sim, contribuiria de uma forma organizada e estruturada para a limitação efectiva do poder desses mesmos agentes. Mas, claro, parece ser bem mais fácil e vender mais espaço e tempo "jogar à pedrada".
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