Tenho por hábito pensar que mesmo em actividades onde as emoções assumem papel importante, como o são, por exemplo, os casos dos amores e do futebol, os homens reservam sempre um lugar de relativo destaque para a racionalidade. Por isso mesmo me interrogo sobre quais as razões que terão levado o Presidente do SCP, depois de ter contratado Jorge Jesus e com isso conseguir um trunfo capaz de unir e entusiasmar os sportinguistas, a assumir o despedimento litigioso de Marco Silva e, pior, invocar como uma das razões para "justa causa" aquela história inacreditável do "fato oficial do clube", elementos estão na origem de críticas contundentes vindas de alguns sectores "leoninos". Estupidez? Burrice? Não me parece, a não ser que homens como Hitler, Stalin ou Pol Pot (podem acrescentar alguns outros a vosso jeito) fossem desprovidos da mais elementar inteligência, o que, pese embora a megalomania demonstrada a partir de dado momento, não era com certeza o caso.
O que acontece é que como qualquer radical, Bruno de Carvalho tem um projecto para o clube que passa pela assumpção e exercício do poder por uma espécie de pequena vanguarda iluminada detentora da verdade e da razão, exercendo essa "vanguarda" o poder em nome das "massas populares" (a tal "devolução do clube ao povo"), e, tal como acontece nas ditaduras mais radicais, da esquerda à direita, aproveita uma situação que pensa lhe é favorável (e é, sem dúvida) para expurgar do clube, "purificando-o", os elementos que se lhe opõem, tentando no mínimo enfraquecê-los perante "as massas". No fundo, e salvaguardadas as devidas e longas distâncias, estamos perante uma espécie de "Nacht der langer Messen" ("Noite das Facas Longas") ou dos célebres Processos de Moscovo de 1936, reinventados e adaptados às circunstâncias, quando Hitler e Stalin consolidaram os seus poderes e os seus projectos aproveitando ou forjando situações que lhes eram favoráveis. Continuando com as analogias, o SCP e Bruno de Carvalho assumem assim a sua "Revolução Cultural", pedindo às "massas" um género de "fogo sobre o quartel-general" dos notáveis "traidores sportinguistas". O que acontece neste caso, ao contrário do que disse um dia Cavaco Silva sobre os referendos ("sabe-se como começam mas não se sabe como acabam"), é que nos ensina a História como estes processos começam, mas também, infelizmente, como desde sempre têm acabado.
1 comentário:
O caro JC anda a ver muitos filmes (ou a ler muitos livros) :)
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