Ponto número um: não sou contra a existência e actividade dos "fundos" no futebol; são eles que, quer através da compra/venda dos chamados "direitos económicos", quer actuando como financiadores, contribuem para que não se cave um fosso ainda maior entre os PMCN (pequenos e médios clubes nacionais) e os "grandes" europeus. A Inglaterra proíbe a sua actividade apenas porque tem acesso ao dinheiro novo e também porque, desde há muito (mais de 100 anos), os seus clubes são sociedades anónimas, cotadas em bolsa, sendo conhecidos a sua estrutura accionista e os nomes seus proprietários. A proibição da actividade dos "fundos" de jogadores no país surge aqui, portanto, apenas como uma defesa do status quo. Mais ainda, acho até bastante "engraçado" que adeptos dos clubes portugueses e jornalistas critiquem a actividade dos fundos quando esta, conjunturalmente, possa ser desfavorável a este ou aquele clube, mas se abstenham de o fazer em situações contrárias, seja, quando apenas a sua colaboração permite a contratação de jogadores de qualidade ou o financiamento em situações de "aperto.
O que está mal e deve ser combatido não é, portanto, a existência de "fundos", mas sim:
- A total desregulação do mercado, tornando a actividade de "fundos" e agentes de jogadores totalmente opaca, permitindo a existência de operações de engenharia financeira de legalidade e transparência duvidosas, contratações com as provas já em curso e empréstimos entre equipas que disputam as mesmas competições.
- O contraste entre um mercado de contratações totalmente livre, em termos internacionais, e a inexistência de uma Liga Europeia ou a proibição da fusão entre Ligas nacionais, não permitindo aos grandes clubes de PMP (pequenos e médios países) - casos dos "grandes" portugueses, belgas e holandeses, por exemplo - o acesso aos grandes mercados e respectivas receitas, mantendo assim um certo proteccionismo em favor dos grandes clubes de grandes países (Espanha, Inglaterra, Alemanha, etc).
Em prol da tal "verdade desportiva" - cujo foco está bem longe de se cingir às "novas tecnologias" -, da defesa da indústria e da competitividade internacional dos grandes clubes portugueses, é sobre estes dois pontos, fundamentalmente, que devem incidir as críticas e os apelos à mudança. O resto é brincar de aprendiz de feiticeiro, com o risco do feitiço nos explodir na cara.
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