segunda-feira, novembro 30, 2015

A principal tarefa de António Costa

Não pode existir uma democracia estável e saudável onde as desigualdades sociais e de rendimentos sejam demasiado elevadas. Onde não exista uma vasta classe média com aspirações e poder de compra. Onde não sejam assegurados suficientes mecanismos de ascensão económica e social. Por alguma razão, ou seja, por todas estas razões, foram o desenvolvimento e a criação de uma classe média fortalecida, que no tempo da ditadura era apenas embrionária, as grandes preocupações do regime saído do 25 de Abril. Umas vezes tal correu bem; outras menos bem. Mas ninguém poderá, de boa fé, negar que os objectivos foram alcançados: com a opção europeia o país desenvolveu-se e conseguiu fazer crescer e fortalecer a sua classe média, assegurando as necessárias possibilidades de ascensão social e a estabilidade democrática ao centro (esquerda e direita).
Foi este "status quo" que as políticas dos últimos quatro anos puseram em causa, enfraquecendo e empobrecendo a classe média e substituindo as possibilidades reais de ascensão social, para muitos, mesmo os mais "remediados", pelo aconselhamento à emigração, enfraquecendo assim as estruturas económicas e sociais garantes da democracia e do bem -estar. Com elas gerou-se o radicalismo e a desertificação de um centro político que até aí tinha assegurado a governabilidade.
Ora, é pois a recuperação desses valores perdidos, que foram sempre os que asseguraram a estabilidade democrática, a principal tarefa do actual governo. António Costa e o PS parecem tê-lo compreendido, optando por pôr de parte os radicalismos, por definir um programa social-democrata moderado e por construir um governo composto por nomes sem grandes cedências à sua esquerda. Que PCP e BE tenham aceitado juntar-se à tarefa e que PSD e CDS, nas suas críticas, não consigam ultrapassar a "vulgata" é bem sinal do grau de destruição e de radicalismo em que uma direita, que nem sequer consegue compreender os mecanismos que asseguram a democracia, fez cair o país.

quinta-feira, novembro 26, 2015

Renato Sanches

Cada vez me convenço mais não vejo o mesmo jogo que os escrevinhadores dos jornais desportivos e os comentaristas televisivos. Ora vamos lá ver... Reconheço a Renato Sanches enorme potencial para vir a ser um "8" de eleição: tem passada larga, poder físico, intensidade de jogo e sabe "queimar linhas" e arrastar consigo a equipa; só quem nunca tenha visto os jogos da equipa "B" pode ignorá-lo ou dizer o contrário, embora reste saber como se comportará quando for necessário jogar em "ataque posicional" contra equipas muito fechadas, sem espaço "entre linhas". Mas tendo dito isto, ontem, se estas suas qualidades potenciais (repito: "potenciais") ficaram evidentes, perdeu demasiadas vezes a bola e errou demasiados passes em zonas proibitivas; contra uma equipa "um degrau acima" do Astana (o SC Braga, próximo adversário do SLB, para não ir mais longe) isso arriscava-se a ter sido fatal. Tem apenas dezoito anos, enorme potencial e isso funciona como atenuante e esperança futura? Claro, mas estamos a analisar um jogo, e as prestações individuais nesse mesmo jogo, e não a avaliar, no geral, as qualidades potenciais de um jogador. Repito: tem Renato Sanches qualidade para aparecer mais vezes na equipa principal do meu clube, até porque joga numa posição - e tem características ímpares para nela jogar - onde o SLB está carente? Sim, mas sejamos rigorosos na análise da sua prestação em cada jogo.

quarta-feira, novembro 25, 2015

4ªs feiras, 18.15h (143) - David Cronenberg (I)

"Crash" (1996)
Filme completo c/ legendas em inglês

Cavaco Silva "indicou"?

Ao utilizar o termo "indicar" (terá sido com o dedo indicador, o polegar ou o do meio esticado?) em vez de "indigitar", referindo-se à indigitação de António Costa como Primeiro-Ministro, Cavaco Silva terá talvez querido desvalorizar o acto, mostrar que o terá feito a contra-gosto, humilhar António Costa, fragilizar o futuro governo ou quaisquer outras coisas do mesmo género ou ainda piores. Mas foi apenas ordinário, rasca, ressabiado,"pouca coisa"; mostrou ser alguém indigno do cargo para o qual os portugueses em má hora o elegeram. Enfim... foi apenas e só Cavaco, e não é preciso dizer mais nada.

terça-feira, novembro 24, 2015

António Costa merece uma enorme chapelada


Simpatize-se ou não com o homem (eu simpatizo), goste-se ou não do político e da solução de governo encontrada (gosto só "assim, assim" e o programa de governo envolve riscos sérios), tenham-se ou não todas as legítimas dúvidas sobre a solidez do acordo alcançado (tenho as de muita gente e só um louco não as tem) e tudo o mais o que se quiser chamar à discussão, um António Costa derrotado a 4 de Outubro e para muitos destinado à demissão do cargo de secretário-geral do PS consegue quebrar um tabu de 40 anos com um acordo à esquerda, submete Cavaco Silva a um enorme vexame (Cavaco pôs-se a jeito) e acaba primeiro-ministro indigitado. Para quem ainda tinha dúvidas, convenhamos que estamos perante um político que deve ser levado a sério e alguém que merece uma enorme chapelada. Está dada.

segunda-feira, novembro 23, 2015

As "exigências" de Cavaco Silva

Independentemente da minha concordância ou discordância com as questões levantadas pelo Presidente da República a António Costa - nas quais reconheço alguma relevância - fica a minha pergunta: tendo algumas delas conteúdo programático, tem o PR poderes constitucionais para exigir o seu cumprimento? Se amanhã existir na Assembleia da República uma maioria que, por exemplo, advogue a saída da UE, da zona euro ou se recuse a cumprir o Tratado Orçamental, pode o Presidente da República, do qual os governos não dependem, recusar-se a dar-lhe posse?

Em minha opinião, as chamadas "exigências" da Cavaco Silva destinam-se apenas se não a salvar-lhe a face", o que neste momento já é impossível, mas a limpá-la um pouco perante o povo de direita. 

domingo, novembro 22, 2015

Das responsabilidades de Rui Vitória

Não sou dos que isentam ou menorizam as responsabilidades de Rui Vitória no futebol praticado pelo SLB e nos maus resultados apresentados pela equipa. Ao contrário do meu consócio Pedro Adão e Silva, nem sequer acho essa responsabilidade se restrinja ao "não ter feito exigências" quanto à constituição do plantel. Certo que este plantel é mais fraco do que o da época anterior, mas a equipa não tem uma ideia/modelo de jogo (e isso é problema de treinador), Vitória hesita demasiado no sistema táctico a utilizar e o seu discurso, mesmo quando, como ontem, se queixa de decisões que considera controversas das equipas de arbitragem, soa sempre como vindo de alguém com uma personalidade "low profile", o que lhe retira força e impacto. No fundo, não me parece estejam aqui em causa as suas competência e conhecimentos técnicos, no sentido restrito do termo, mas fundamentalmente trata-se de uma questão de personalidade, que me parece pouco adequada às necessidades e exigências do "Glorioso".

Matiné de Domingo (129)

"The Virgin Queen", de Henry Coster (1955)
Filme completo c/ legendas em castelhano

sábado, novembro 21, 2015

SLB: mau demais para ser desculpável

Sem conseguir ter bola e fazê-la circular, já que os jogadores do SCP eram sempre rápidos a pressionar e tapar as linhas de passe; sem intensidade para sair em transições rápidas, este meu SLB é uma equipa sem ideias, que se limita ao jogo directo (mais correctamente, ao "pontapé para a frente") ou a entregar a bola a Nico Gaitán esperando que este resolva. Assim, com o volume de jogo ofensivo que deixa o adversário criar junto à nossa área, e apesar do golo de avanço, a vitória do SCP era apenas uma questão de tempo. Mau demais para ser desculpável.

quarta-feira, novembro 11, 2015

4ªs feiras, 18.15h (141) - David Lynch (I)

Filme completo c/ legendas em português

Uma direita histérica e um acordo frágil

  1. Alguma direita portuguesa, incluindo nela alguns ministros da PàF,  abriu as portas ao disparate e entrou em pânico e histeria por o país poder vir a ter um governo do PS - com um programa social-democrata mais do que moderado e do qual, se excluirmos as questões de costumes, a democracia-cristã tradicional nem sequer se sentiria demasiado afastada - apoiado no parlamento por PCP e BE, partidos que nem sequer assumirão quaisquer pastas governativas. Sobre o radicalismo dessa direita e a a sua falta de convicções democráticas, estamos conversados. Uma vergonha. 
  2. Para que conste, tenho reservas em relação à natureza e aparente fragilidade do actual acordo PS/PCP/BE e, embora na generalidade esteja ideologicamente bem mais perto deste programa do que do da PàF, não só constato os riscos existentes, como existem medidas, como a redução do IVA da restauração e a questão da TAP, com as quais estou em desacordo. Nada disto me impede, no entanto, de lhe dar o benefício da dúvida e até o meu apoio de princípio e, sobretudo, de não alinhar nos disparates e alarvidades que sobre o assunto tenho ouvido e lido, frutos da má-fé e da ignorância política e histórica. 
  3. Se a direita acha o acordo PS/PCP/BE frágil, ou até muito menos do que isso, que razões tem para entrar em histeria, se prevê a um futuro governo vida tumultuosa e breve? Parece-me que, no fundo, tem apenas medo o futuro não lhe dê razão.

terça-feira, novembro 10, 2015

PáF: "coligação de centro-direita" ou "frente de direita"?

Para além do equívoco de chamar de "centro-direita" à denominada coligação PáF, que, na realidade, e a linguagem e argumentação usados no debate de ontem e de hoje bem o mostram, é de direita radical, outro erro comum é os "media" referirem-se ao conjunto PSD/CDS como "coligação". De facto, estamos, isso sim, perante algo bem mais parecido com uma "frente", no sentido marxista-leninista do termo e em tudo semelhante, embora de sinal contrário, às formadas no pós-guerra em alguns países do extinto Pacto de Varsóvia, em que alguns partidos de origem não-comunista, por motivos de sobrevivência política (e não só política), se diluíam sob a liderança e hegemonia comunista. Neste caso, foi o CDS, após a "demissão irrevogável" de Paulo Portas e por questões de pura sobrevivência política, que acabou por perder qualquer autonomia para se diluir numa frente de direita liderada e hegemonizada pelo PSD. Algum rigor de linguagem e alguns conhecimentos de História seriam bem-vindos a muitos jornalistas e comentadores da "nossa praça".

sexta-feira, novembro 06, 2015

Friday midnight movie (151) - Jean Rollin (IV)

Filme completo c/ legendas em castelhano

Causa Nossa: "Semipresidencialimo" ou "poder moderador"?

Causa Nossa: "Semipresidencialimo" ou "poder moderador"?: Este é o lead da minha coluna de hoje no Diário Económico . Haverá alguma vantagem em qualificar de "semipresidencialista" um...

Só não percebo porque não se revê a Constituição da República e se acaba de vez com o actual equívoco, assumindo o parlamentarismo e passando o PR a ser eleito por colégio eleitoral ou assumindo o Presidente da AR tal papel. Com a actual confusão, o PR acaba sempre por ser um elemento de instabilidade institucional e um fomentador da instabilidade política.