quarta-feira, setembro 27, 2006

"Post" nº1

Portugal tornou-se feio. Onde quer que os nossos prezados concidadãos tiveram oportunidade de lhe tocar, Portugal (salvo raras excepções) tornou-se mais feio. E parece ter tomado como padrão a Estrada Nacional nº 1, de má memória, com todo o seu desordenamento, profusão de casas pouco mais do que barracas despejadas a esmo sem gosto e sem rigor e restaurantes barulhentos onde comida sem qualidade é tida como simples e caseira (e na maioria das casas portuguesas come-se mal). Talvez, aqui e ali, o padrão possa também ter sido a estrada (?) da Caparica para a Fonte da Telha, e os seus parques de campismo “tipo” bairro de lata, com as suas “barracas” (eles dizem “tendas”) encostadas umas às outras, botijas de GásCidla (já não é, mas, para mim, será sempre GásCidla), “adiantados” e sardinhas e febras no carvão acompanhados por uma “pomada” lá da terra. Se sairmos das auto-estradas e visitarmos as pequenas cidades e vilas do norte do país, Portugal, fora dos centros históricos onde por vezes se realizam feiras, se vende pseudo artesanato e farturas e churros em roulottes engalanas a neon, tal qual jukeboxes dos anos cinquenta, tornou-se num país de subúrbios. Uma terra onde, ao longo das estradas que não são “auto”, se dispersam, sem qualquer ordenamento aparente, “espaços” de venda de materiais de construção, stands (o “povo” diz standers) de carros usados, churrascarias e casas de “alterne” - talvez como aquela do filme de João Canijo em que saímos do cinema com ânsia de limparmos o corpo de uma sujidade húmida. Ah!, e nas pequenas e médias cidades de província há agora as “novas centralidades”, tão acarinhadas pelos autarcas, eufemismo que define novas oportunidades de construção e novos subúrbios com prédios iguais aos da “segunda ponte do Feijó”. E Portugal tornou-se feio também em Lisboa, cidade pouco limpa onde pontificam os dejectos caninos e apodrecem os restos de comida que as “velhas” dão aos gatos vadios, “coitadinhos”. Onde os já por si estética e visualmente poluentes “ecopontos” não são mais do convites ao acumular de lixo e os passeios da tão elogiada “calçada portuguesa” armadilha para transeuntes desprevenidos. Portugal tornou-se efectivamente mais feio, fruto da expansão explosiva de uma classe média recente (ainda “com muita terra debaixo das unhas” e em processo acelerado de “brasileirização” sociocultural), consequência de uma “terciarização” tardia, e de uma classe de novos-ricos que soube bem aproveitar as necessidades de ocupar e expandir os antigos lugares disponíveis e as oportunidades criadas pelo dinheiro fácil e pelo, propositado, laxismo reinante. Portugal tornou-se mais feio: Se possível, façamos alguma coisa por ele...

4 comentários:

M Isabel G disse...

Ora aí está um excelente post!
FAzer alguma coisa por isto?? Acho que já não vai lá...

Muito bem isso da calçada portuguesa, um grande atraso de vida. Muito typical, dizem eles.

JC disse...

Mtº obrigado, Miss Pearls.

JC

Anónimo disse...

A estrada Caparica - Fonte da Telha patenteia três "verdades" inquestionáveis de que qualquer português se deve orgulhar:
1 - Aquela orla está, desde que o nosso 1º liderou o Ambiente, escrupulosamente protegida. Blindada do maléfico lobby da construção.
Reciclada de quaisquer vestigios da presença humana.
Vigiada por hordas de defensores da natureza.
2 - A confirmação, in loco, clara e inequivoca de que os governantes comunistas eleitos e 4 ou 5 vezes confirmados pela populaça, são os verdadeiros e guardiões da honestidade, da transparencia e unicos arautos do verdadeiro espirito do poder local.
3 - Por ultimo que o povo, na sua imensa sabedoria é o unico arquitecto do bom gosto, a unica entidade com capacidade para salvaguardar o que é genuinamente português: Chapa ondulada para os telhados, aluminio para as janelas e portas, azulejos multicolores para as paredes exteriores e meios bidon de combustivel como cozinha exterior.
Qualquer calçada portuguesa sempre é menor atraso de vida quanto os "eco pop" arranjos da estrada da Caparica para a Fonte da Telha.

Anónimo disse...

Caro Gato,

É evidente que não aguenta isto.
A avaliar pela sua árvore genealógica, parece que haveria outras hipóteses.

Afinal o que o prende cá?