Em termos abstractos, isto é, sem ter em consideração o negócio em concreto, não vejo razões para que a TAP não seja privatizada, apenas estranhando que o governo o queira fazer agora, um pouco à "trouxe-mouxe" e em final de mandato. Uma medida estratégica desta importância requereria prudência e, se possível, um compromisso político e social bem mais alargado, até porque reconheço a empresa tem para muitos portugueses um valor simbólico que, bem ou mal, muitas vezes se confunde com a noção de "pátria" e com a própria soberania nacional. Aliás, foi mesmo essa própria noção de soberania sobre o Império que esteve na base da sua fundação e presidiu à sua estratégia de gestão durante muitos anos. Mas os tempos são outros, o Império acabou há 40 anos, a emigração mudou de perfil e a soberania exerce-se hoje, quando existe, de outros modos, que podem - acho - dispensar as chamadas "companhias de bandeira".
Tendo dito isto, e não querendo assumir aqui posição sobre a justeza da prevista greve dos pilotos, até porque não estou na posse de todos os elementos que o permitam e tal não é relevante para o que me proponho afirmar de seguida, quer-me parecer que estas afirmações de Pedro Passos Coelho, para além da natural e legítima tentativa de exercerem pressão sobre os pilotos e tentarem captar a simpatia da opinião pública, mais não pretendem do que abrir caminho a uma solução alternativa na hipotética falta de ofertas consistentes para a compra da transportadora aérea, o que não constitui cenário assim tão longínquo. Digamos que o primeiro-ministro aproveita a oportunidade para abrir a porta àquele que será o seu plano "B" e que está desde há muito nas cogitações do sector mais radical dos seus apoiantes. Veremos o que acontece, embora me pareça que esta última solução traria para o governo custos políticos e sociais bem gravosos em ano de disputa eleitoral.
2 comentários:
Tendo assistido de perto ao que se passou com as outras companhias europeias nos últimos anos, palpita-me que lhe vai acontecer. o mesmo que à Sabena ou à Alitalia. Ou fecha, pura e simplesmente
Em qualquer das hipóteses, atendendo à relação serviço prestado/custo respectivo/inconvenientes regularmente causados pelas pressões corporativas, não será coisa que eu lamente.
Na minha vida passada de passageiro frequente, não tenho grandes razões de queixa da TAP. Mas confesso que desde que me reformei tenho optado sempre que posso pelas "low cost" e sem quaisquer razões para mudar. Cumprimentos.
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