Com notáveis excepções como a de Pedro Adão e Silva, a discussão mediática sobre os candidatos presidenciais tem-se centrado, sobretudo, na sua capacidade de ganharem as eleições, na respectiva notoriedade (que nessas análises se interliga com a tal capacidade ganhadora), nos possíveis efeitos sobre as suas áreas políticas e/ou ideológicas de origem (divisão /unidade), no perfil mais ou menos mobilizador e noutras características onde a capacidade política do candidato ou proto-candidato não releva como factor essencial ou determinante. Ora o que devíamos começar por perguntar seria o que, na conjuntura que vai encontrar no país, qual o perfil de candidato que melhor se adequaria ao cargo de Presidente da República, de acordo com as funções que lhe estão constitucionalmente consagradas.
Parece não serem preciso dons de pitonisa (ou de bruxo) para concluirmos que dificilmente sairá das próximas eleições um bloco maioritária e governamentalmente coligável, principalmente de o PSD continuar a ser dirigido pelo actual grupo radical de Pedro Passos Coelho. Também parece ser ponto assente que o país continuará a enfrentar problemas económica e socialmente complicados, isto se não se lhe vierem a juntar questões de natureza política e partidária desestabilizadoras, como, por exemplo, o surgimento com capacidade eleitoral de partidos populistas e/ou radicais. Isto significa que serão necessários acordos e compromissos alargados, bem como a necessária experiência e tacto políticos, também perfil pessoal, para os negociar e gerar, o que é desde logo definidor do perfil ideal do futuro Presidente da República: alguém politicamente muito experiente, com capacidade negociadora comprovada, oriundo do espaço político que vai do centro-esquerda ao centro-direita e suficientemente descomprometido com o radical-austeritarismo dominante. Este perfil cabe inteirinho em António Guterres, claro, mas também em gente como Silva Peneda ou Ferreira Leite, não fossem os "anti-corpos" que uma sua candidatura iria gerar no PS e PSD. Tal como caberia em António Costa, não fora o caso de ter optado pelo partido. Infelizmente, já me parece pouco consentâneo com algumas das recentes declarações populistas de Rui Rio, com o estilo de "entertainer" comentador da "espumas dos dias" de Marcelo Rebelo de Sousa ou com a inexperiência (ia chamar-lhe "virgindade") política de uma incógnita chamada Sampaio da Nóvoa, cujo apoio expresso e imediato do actual Mário Soares (este que me desculpe) não me parece contribuir para o fazer encaixar no perfil que traço. Por mim, preferia o parlamentarismo em vez desta discussão sobre candidaturas presidenciais, mas se é preciso tê-la, então tentemos que seja feita com algum critério.
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