quinta-feira, setembro 11, 2014

Costa, Seguro e os debates

Talvez o problema principal dos debates Seguro/Costa tenha sido a sua má condução. Esclareço. Hoje em dia, o jornalismo vive do "soundbite", do sensacionalismo, de frases que dão grandes títulos e são de fácil e imediata percepção e isso é incompatível com o aprofundamento das questões, com qualquer raciocínio ou proposta mais elaborada. Ora foi nesse sentido que os debates foram conduzidos por Judite e Clara Sousa, mais, muito mais, no sentido de um "talk show" do que no de um debate político na verdadeira acepção do termo. É isto que explica, por exemplo, o sucesso de políticos/comentadores como Marcelo Rebelo de Sousa ou Luís Marques Mendes e a dificuldade de popularidade televisiva de quem, como Pacheco Pereira, por exemplo, lhes está nos antípodas. Ora este "formato" favorece claramente António José Seguro - daí o desconforto e hesitações de António Costa sobre os debates -, o seu populismo e as suas propostas "pronto a consumir, basta juntar-lhe água", mesmo que prometer não aumentar a "carga fiscal" (que não é o mesmo do que não aumentar os impostos, note-se) à distância de um ano, demitir-se se tiver de o fazer e referendar coligações caso não alcance uma maioria absoluta (mesmo que com maioria absoluta um governo PS vai ter sempre de negociar entendimentos) sejam dos maiores disparates que politicamente já me foi dado ouvir.  

Mas António Costa parece ter dificuldade em entender que não está na "Quadratura do Círculo", entre os seus "pares" (mesmo quando discordam, o "way of thinking" de Costa, Lobo Xavier e Pacheco Pereira é muito semelhante), num debate académico entre intelectuais que se estimam e que pretendem esclarecer a "causa das coisas".  O debate político eleitoral é um duelo e António Costa, mais inteligente do que Seguro mas infinitamente menos "esperto", sente-se desconfortável num ambiente que não é o seu, transmitindo a ideia de estar mal preparado, estar ali a contra-gosto e de vestir um fato que não está à sua medida ou não quadra com o "seu gosto". Por outro lado, por com elas concordar, falta de coragem política ou recear a perda de votos (todas elas más razões, note-se), Costa tem-se mostrado incapaz de desmontar algumas das propostas mais populistas e controversas de Seguro (excepção feita, que me lembre, à questão da "carga fiscal"), como, por exemplo, os "círculos uninominais", a diminuição do número de deputados (e nesta área Costa não está condicionado pelo Tratado Orçamental ou pelo "Memorando de Entendimento") e a afirmação irresponsável de Seguro sobre a reabertura dos tribunais encerrados pelo actual governo. Ora este será (ou deveria ser, em minha opinião) um dos campos que melhor demarca as duas candidaturas.

Mas enfim... Contrariamente ao que jornalistas e comentadores gostam de afirmar, penso que a eleição se irá decidir mais pelo "perfil" dos candidatos, por aquilo que cada um representa ("stands for"), do que pelas propostas concretas - para além de questões internas inerentes ao funcionamento do partido, acrescente-se. Além disso, quer-me também parecer (e isto de "parecenças" vale o que vale) que o número de indecisos será diminuto, pelo que a influência dos debates na votação também o será. Aguardemos.

3 comentários:

Anónimo disse...

O post é excelente do ponto de vista analítico mas...
No fundo, o que se passa, é uma questão de moscas.
Troca das ditas.
Tótózé, o calimero, não passa de uma cabeça oca, uma figura de plástico debitando um discurso que cheira a mofo (cheio de soundbytes, para usar uma expressão up-to-date).
Costa, o outro Tó, só com um Tó (caso contrário seria Tótó), é o seguimento, o clone bronseado, para pior do Zé que não era Tótó e tem apelido de filosofo, e que nos empurrou para o estado actual. Há beira do abismo forçou-nos ao passo em frente, em que um Coelho nos tem entalado pois as Portas foram escancaradas.
Entre cópias, o original, o tal filosofo, é sempre preferivel.
Em linguagem pura e dura...o que querem é saltar para a gestão do tacho e garantir os empregos aos amigos.
Mas temos o que merecemos...Dizia uma das senhoras, apoiantes do Tó (só Tó), quando questionada sobre o porquê do apoio, se conhecia o programa e as ideias do dito, etc, terá respondido que "disso não percebo nada", mas ele é muito simpático.
Temos o que merecemos...e a mais não teremos direito...até estoirarmos de vez.
Com gente desta não vamos longe.

Cumprimentos

Queirosiano disse...

Uma precisão: Costa, o tal que não pode prometer nada, nem adiantar propostas, porque a esta distância seria prematuro, não se coibiu ainda não há muitos dias de prometer a reabertura dos tribunais agora encerrados e a revisão do mapa judicial.
No comments.
Tudo bem visto, estão bem um para o outro.

JC disse...

Não tinha reparado Costa tinha dito tal coisa, Queirosiano. O que espero é, ganhe um ou outro, nenhum cumpra essa promessa.