Talvez já um pouco atrasado, mas não passa sem comentário.
Devo dizer que não me escandaliza se utilizem o corpo e/ou a intimidade (e o corpo é, digamos, uma das partes mais íntimas dessa mesma intimidade) para denuncia de certas situações políticas e prossecução de objectivos igualmente políticos que só desse modo possam ser conseguidos com um mínimo de eficácia e que a esse corpo e a essa intimidade estejam directamente ligados. Assim sendo, e só nesse sentido, compreendo e aceito a utilização das fotografias da criança filha de refugiados, morta numa praia, como elemento de mobilização em torno de uma causa política que talvez apenas desse modo pudesse ser dinamizada com a rapidez necessária. Como, do mesmo modo, aceito alguém o faça para denúncia de situações extremas de tortura, de efeitos de guerra ou de maus tratos. Nestes campos, existem um sem número de exemplos cujos mais conhecidos estão relacionados com os campos de extermínio nazis, a guerra do Vietname e por aí fora.
Mas tendo dito isto, devo dizer já considero obsceno que alguém o faça, estejamos a falar de uma gravidez, dos traços visíveis de uma doença grave ou qualquer outra situação semelhante, apenas e só com o objectivo de alcançar alguma notoriedade mediática destinada a arregimentar mais alguns votos para si próprio ou para aquele ou aqueles com quem possa estar directamente relacionado, sem que a tal esteja ou possa ser associada qualquer mensagem política evidente. Para ser mais claro, considero igualmente lamentáveis, do ponto de vista político, ético e até moral, quer a exposição mediática da grave doença de Laura Ferreira, mulher do primeiro-ministro, quer a nudez grávida de Joana Amaral Dias.
Estamos entendidos?
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