segunda-feira, maio 04, 2015

A greve dos pilotos: para além da propaganda

Em face do unanimismo propagandísta reinante e da muita demagogia que tem presidido ao debate, tenho tentado manter em relação à greve dos pilotos da TAP, acusados, à esquerda, de - oh, pecado capital! - querem ser capitalistas e, à direita, de quererem "destruir" a TAP, esquecendo o governo que quase tudo tem feito para vender ao desbarato e a estados ditatoriais e/ou cleptocráticos estrangeiros empresa públicas estratégicas (e eu sou dos que não considero a TAP estratégica sendo por isso sou favorável à respectiva privatização), em face disso, repito, tenho tentado manter em relação à greve dos pilotos um distanciamento que considero saudável, e até asséptico. Aliás, devo dizer que sempre que vejo demasiado unanimismo em relação a qualquer matéria, principalmente na política, a minha primeira reacção é desconfiar e procurar o "outro lado das coisas". Feitios, ou opção precavida de quem se fez adulto nos anos sessenta da contestação.

Tendo dito disto, não vou negar a muita razão que possa estar do lado dos que estão contra a greve, embora seja conveniente não esquecer que a intransigência dos pilotos e a reacção "dura" do governo servem "às mil maravilhas" as intenções políticas propagandísticas da coligação e suas opções para a empresa (vender depressa e sem grandes preocupações com o "day after", como tem acontecido até aqui em casos semelhantes). Aliás, sou dos que acha que a opção "assanhada" do governo contra uma greve impopular da qual até se vai servir para justificar a mais do que esperada venda por baixos valores da companhia aérea, tem mais que ver com objectivos de propaganda e de ganho de dividendos políticos do que com preocupações face ao futuro da TAP, justificando mesmo um qualquer plano alternativo, proposto pelos sectores mais radicais da direita, de fecho da companhia e da sua substituição por uma outra de dimensões bem mais reduzidas, um género de TAP(b).

Falta, no entanto, analisar uma questão importante: porque, independentemente das razões que possam ou não assistir aos pilotos, recolhe a greve tamanha unanimidade junto da "vox populi"? Esqueçam os que pensam tal se deve, fundamentalmente, a razões de ordem política, mesmo em função dos factores emocionais, de amor e ódio, que comandam as reacções dos portugueses perante uma empresa (a TAP) que sempre consideraram como sendo "sua" - o que, aliás, sempre foi da conveniência do poder político. O que está aqui maioritariamente em causa é, mais uma vez, o ódio e a inveja que a maioria dos cidadãos nutre pelos que consideram "ricos e poderosos", os "privilegiados", neste caso na figura de uma profissão bem paga, considerada de "elite" e com um estilo de  vida ainda visto pela maioria como "glamouroso", que lhes permite o acesso fácil a viagens, bens de luxo e por aí fora (dispenso-me de nomear). Este é o "caldo de cultura" que, em última análise, gera o unanimismo vigente. E para tal "caldo de cultura", confesso, mesmo podendo considerar a greve tem pouca razão de ser, não estou disposto a contribuir.

3 comentários:

Abel Rosa disse...

Concordo no essencial... acrescento que me parece ser evidente que a questão de fundo com os pilotos deve ser resolvida num tribunal.

JC disse...

Quanto à legalidade do direito a subscreverem 20% do capital, não é? Sim, mas se tal direito não for extensível a todos os trabalhadores, parece-me ilegal. Ou pelo menos iníquo. Mas sobre isso não me pronuncio.

Anónimo disse...

Caro JC

Acho que não é uma questão de inveja.
Um grupo de preveligiados está a dar a machadada final na companhia.
Que feche já.
Como contribuinte não tenho que dar mais do meu dinheiro para este peditório.
E quanto à TAP,os efeitos da greve vão muito para além destes 10 dias (agora parece que querem aumentar), e traduzem-se numa quebra de confiança por parte dos clientes...E sem clientes...não há companhia.
TAP jamé, obrigado.
Há, felizmente, tantas alternativas.
Já há muito que optei por outras companhias.
Interesse estratégico. É um mito, ou um soundbyte...que cai bem aos pseudo-intelectuais.

Cumprimentos