quarta-feira, setembro 30, 2015

4ªs feiras, 18.15h (136) - Orson Welles (I)




Filme completo c/ legendas em inglês

O PS vai perder as eleições? A direita já tem a uma "narrativa".

A actual direita que nos governa, dominada pela teoria do "pensamento único" e acolhendo-se sob a sigla TINA (there is no alternative), já criou a narrativa que mais lhe convém para o caso de uma cada vez mais provável derrota eleitoral do Partido Socialista e de António Costa: "o PS perde porque alienou o centro político e se aproximou dos partidos situados à sua esquerda". Demasiado simplista (como o prova aqui, e muito bem, Pedro Magalhães), errado (basta ler o programa eleitoral do partido), mas sem dúvida eficaz, como o são também, nesse seu simplismo, as narrativas e explicações vindas dos sectores mais extremistas: ela permite, desde já, começar a tornar dominante um discurso político que abra caminho no PS a uma personalidade como Francisco Assis que reconduza o partido ao redil do pensamento único e a um compromisso com um governo minoritário PSD/CDS e que, como parece claro, outro resultado não terá senão tornar o PS politicamente irrelevante e conduzir a prazo a uma maioria absoluta da actual coligação. Que esta narrativa, com o apoio maioritário dos "media" e a inépcia do PS, possa vir a fazer o seu caminho é coisa que já não me surpreenderá demasiado.

domingo, setembro 27, 2015

Matiné de Domingo (122)

"Wendy and Lucy", de Kelly Reichardt (2008)
Filme completo c/ legendas em castelhano

O novo 4x3(2)x3(4) de Rui Vitória

Não podendo prescindir de Jonas (o melhor jogador da Liga na época passada e o melhor marcador da equipa), digamos que Rui Vitória herdou um problema: Jonas não pode jogar como "ponta de lança único" e isso obriga a equipa a jogar em 4x2x4, um sistema que está longe de ser "a praia" do actual treinador do SLB e para o qual (prova-se ao fim de seis jornadas de campeonato) não existe um nº 8 que preencha os requisitos com a qualidade necessária.

Que está a tentar então fazer Rui Vitória? Transformá-lo em qualquer coisa híbrida, entre o 4x2x4 herdado de Jorge Jesus e um 4x3x3 no qual se sente bem mais à vontade, prescindindo para isso do nº 8 clássico das épocas anteriores, cujos expoentes foram Witsel e Enzo Perez, e fazendo jogar em seu lugar e de uma forma dinâmica André Almeida e Samaris, recuando Jonas para uma espécie de 9 1/2 ou nº 10 adiantado, ligando os sectores. Começou a fazer isso no Porto e ontem, quando toda a gente pensava voltaria ao sistema habitual, manteve-o. Para ficar? Veremos...

Perde assim a equipa aquilo que se pode chamar um "condutor de jogo"? Teoricamente, sim; mas na prática já se provou não existir no plantel quem possa assumir esse papel. Na realidade, consegue assim compatibilizar Jonas com o 4x3x3, tornando o sistema "elástico" e perto de um 4x2x4, ficando a equipa mais equilibrada, com André Almeida e Samaris, ao mesmo tempo  que transforma Jonas numa espécie de "pivot" do jogo ofensivo da equipa e entrega aos alas (Gaitán e Guedes), que jogam agora mais "por dentro", um papel mais activo na circulação de bola. 

Veremos também se resulta, mas, para já, Rui Vitória demonstra que é inteligente, tem ideias próprias e sabe como transformar um problema em solução. Para já, é "ben trovato".

quarta-feira, setembro 23, 2015

4ªs feiras, 18.15h (135) - Western (XIX)



"One Eyed Jacks", de Marlon Brando (1961)
Filme completo c/ legendas em português

BES, o "déficit" de 2014 e uma verdade inconveniente

Apesar de mentiroso compulsivo (mas Paulo Portas bate-o aos pontos, até no descaramento), desta vez o primeiro-ministro até tem razão. O problema, o grande problema é que tal como acontece com o cenário macro-económico do PS, cuja complexidade o torna impossível de entender por 99.9% dos portugueses e acaba também por embaraçar António Costa, também neste caso essa enorme maioria não consegue perceber o que quer Passos Coelho dizer com estas suas afirmações e, portanto, certo e sabido que o caso BES/GES só não irá entrar em força na campanha se o PS for ainda mais "totó" do que tem sido. Acresce que existe ainda a "cereja no topo do bolo": um "déficit" do primeiro semestre que é o dobro do previsto para o total do ano: por muitas explicações que Pedro Passos Coelho possa dar, com razão ou sem ela, perante os eleitores estes números irão sempre falar mais alto. 
António Costa e o PS têm pois aqui a sua oportunidade para ganharem as eleições. Como não sou apoiante ou eleitor da coligação PáF (confesso-me), espero a saibam aproveitar.

domingo, setembro 20, 2015

A derrota no Porto

Apenas uma coisa a dizer sobre o jogo de hoje: já vi a equipa, com plantéis bem melhores do que o actual, jogar bem pior e fazer bem piores resultados nos jogos com o FCP. Convém talvez lembrar que a nossa ala direita jogava o ano passado na segunda divisão e que Gonçalo Guedes tem dezoito anos. Nada a apontar a jogadores e treinador, portanto, e muito menos a Luís Filipe Vieira e ao actual modelo de negócio, o possível e adequado na conjuntura. Nas circunstâncias, todos estão a fazer o melhor que podem. Viva o Benfica!

Matiné de Domingo (121)


"Hunde, wollt ihr ewig leben?", de Frank Wisbar (1959)
Filme completo c/ legendas em castelhano

quinta-feira, setembro 17, 2015

O SCP - Lokomotiv e o "mestre da táctica"

Jogar contra um Lokomotiv (que estando longe de ser uma grande equipa é pelo menos mediana e um pouco melhor do que 90% das equipas da Liga portuguesa) com uma dupla de centrais  pouco rodada e demasiado jovem, sem um "nº6" posicional, com uma defesa muito subida e com dois laterais abertos e sempre a pensarem em atacar é pouco menos do que suicídio. Mas foi isso mesmo que Jorge Jesus, alias, "o mestre da táctica", resolveu fazer. O resultado está à vista. Mas será que os sportinguista andaram seis anos distraídos e ainda não tinham percebido o que nós, benfiquistas, já sabíamos há alguns anos? Habituem-se.

Um Passos Coelho em crescendo

Três notas:
  1. Fiquei com a sensação de que Passos Coelho tinha conseguido colocar António Costa demasiado na defensiva e que, com isso, conseguiu assumir a liderança do debate e colocar algumas dificuldades a António Costa.
  2. A questão da condição de recurso das prestações não contributivas, a que António Costa não soube dar a resposta directa que se impunha, vai acabar por marcar o debate. Uma coisa é ter razão - e o PS, na sua essência, tem-na - outra, bem diferente, é conseguir demonstrá-la, e António Costa não o conseguiu. Estejamos atentos ao modo como os "media", na sua maioria favoráveis à coligação, e as redes sociais o vão explorar, mas António Costa não sai bem na fotografia.
  3. Ter um programa estruturado, em certa media complexo e valorizado é um ponto positivo para o Partido Socialista e inovador em eleições legislativas. Mas a complexidade de algumas das suas propostas acaba por ser um problema para as explicações simples e claras que um debate entre candidatos normalmente exige.

sábado, setembro 12, 2015

6 - 0

  1. Sim, com Gonçalo Guedes no lugar de Vítor Andrade a equipa talvez perca alguma profundidade e jogo exterior, mas melhora o seu jogo colectivo e interior e isso permite a Mitroglou ter mais companhia da área mesmo com as deambulações de Jonas. Mas, apesar do golo, Talisca passou mais de metade do jogo sem ter qualquer influência na equipa, tornando assim gritante a falta um nº8 de categoria. Como será nos grandes jogos?
  2. O meu clube tem agora um novo projecto, um modelo de negócio diferente e uma estratégia clara que os serve. E isso prolonga-se em campo, "dentro das quatro linhas". Concorde-se ou não, com limitações ou sem elas em termos de resultados desportivos futuros, existe aqui uma coerência que assinalo e elogio.   

quinta-feira, setembro 10, 2015

Um debate clarificador

  1. Talvez mal aconselhado pelos seus "spin doctors" - uma espécie de "jovens turcos" voluntaristas e radicais -, talvez também influenciado pelas redes sociais onde esse radicalismo, a par do primarismo ideológico e do raciocínio imediatista, dominam, Pedro Passos Coelho ainda não percebeu as limitações do "efeito Sócrates", isto é, que ao invocar os "medos sócratistas" está a falar quase exclusivamente para o núcleo duro dos seus votantes, já que a maioria dos eleitores já percebeu que não só o perfil pessoal de António Costa está nos antípodas do de Sócrates, como não existe semelhança alguma entre o voluntarismo e até irascibilidade política do ex-primeiro- ministro e as cautelas e contenção, por vezes até em excesso, do actual líder do Partido Socialista, expressas de forma clara no programa eleitoral apresentado. Que Pedro Passos Coelho continue a insistir no "efeito Sócrates" é tudo o que o PS e Costa podem desejar.
  2. Situação idêntica funciona (ou não funciona, para Pedro Passos Coelho) no caso Syriza. Se a eleição do Syriza significou alguma esperança, saudada por todos os que, à esquerda e à direita, se opõem ao actual e "quase único" pensamento dominante, cedo ficou também claro para todos, incluindo para o PS e até mesmo, por outros motivos, para a esquerda radical do "Bloco", que a estratégia estaria condenada ao fracasso. E isso mesmo se reflecte no programa eleitoral do PS, que vai tão longe quanto o actual "estado da arte" da UE o permite, sem pôr frontalmente em causa, ao estilo "derrubar o muro à cabeçada", os seus fundamentos. Na realidade, estamos perante uma estratégia cautelosa,  claramente oposta à do Syriza, e muito fácil será para António Costa, que tem fama de tudo menos de ser um temível radical, explicá-la aos eleitores.
  3. O debate de ontem provou que basta a António Costa, que tem "lastro" enquanto pessoa, cidadão e político, ser um pouco mais autêntico e menos defensivo, pondo de lado as demasiadas cautelas, o estilo quase evangélico de quem pede desculpa por estar ali, o medo de ser visto como"radical" e optando por uma atitude mais pro-activa e por afirmações mais claras, para colher dividendos políticos. Espero o tenha percebido e aprendido a lição. 
  4. Devo dizer que não entendo a opinião dos que afirmam o debate não terá sido esclarecedor. Pelo contrário, desde o PREC e do célebre debate Soares/Cunhal que não me lembro de estarem "frente a frente" duas propostas tão claras e antagónicas. De um lado, o de António Costa, aquela de todos os que se reconhecem nos valores tradicionais da social-democracia, da democracia-cristã e do liberalismo social que criaram a UE e construíram as modernas sociedades e democracias europeias do século XX e do pós-guerra; do outro, o de Pedro Passos Coelho, o lado onde se acolhem todos o que perfilham o conservadorismo mais retrógrado e as emergentes ideologias neo-conservadoras e ultra-liberais, incluindo as suas franjas mais radicais. Depois do debate de ontem, ninguém se pode queixar de não poder escolher com clareza o seu lado.

terça-feira, setembro 08, 2015

UBER alles?

A luta dos taxistas pela proibição da Uber faz-me lembrar a destruição das máquinas pelos operários, durante a revolução industrial, sob a alegação de que estas lhes tirariam postos de trabalho: o mercado do transporte público individual de passageiros está a mudar, não volta para trás e qualquer acção proibicionista está condenada ao fracasso, pelo menos a prazo. Mas tendo dito isto, e existindo uma decisão judicial sobre o caso, é bom que o governo, apesar da Uber se ter transformado em bandeira de algum ultraliberalismo de pacotilha apoiante do governo e sempre adepto da total desregulação dos mercados, a faça cumprir,  exercendo a autoridade do Estado, para imediatamente e de seguida encetar um processo negocial que permita a ambos os operadores actuarem num mercado concorrencial e devidamente regulamentado. Entretanto, entre ir contra uma espécie de vanguarda radical dos seus apoiantes, com enorme visibilidade e influência nas redes sociais, e entrar em conflito aberto com uns milhares de votos das empresas de táxis, o governo sacode a chuva e espera que passe. É que a menos de um mês das eleições este tipo de conflito é mesmo uma "chatice!"

domingo, setembro 06, 2015

Matiné de Domingo (119)

"Great Balls of Fire", de Jim McBride (1989)
Filme completo c/ legendas em castelhano

A criança morta na praia, a política grávida e a mulher doente

Talvez já um pouco atrasado, mas não passa sem comentário.

Devo dizer que não me escandaliza se utilizem o corpo e/ou a intimidade (e o corpo é, digamos, uma das partes mais íntimas dessa mesma intimidade) para denuncia de certas situações políticas e prossecução de objectivos igualmente políticos que só desse modo possam ser conseguidos com um mínimo de eficácia e que a esse corpo e a essa intimidade estejam directamente ligados. Assim sendo, e só nesse sentido, compreendo e aceito a utilização das fotografias da criança filha de refugiados, morta numa praia, como elemento de mobilização em torno de uma causa política que talvez apenas desse modo pudesse ser dinamizada com a  rapidez necessária. Como, do mesmo modo, aceito alguém o faça para denúncia de situações extremas de tortura, de efeitos de guerra ou de maus tratos. Nestes campos, existem um sem número de exemplos cujos mais conhecidos estão relacionados com os campos de extermínio nazis, a guerra do Vietname e por aí fora.

Mas tendo dito isto, devo dizer já considero obsceno que alguém o faça, estejamos a falar de uma gravidez, dos traços visíveis de uma doença grave ou qualquer outra situação semelhante, apenas e só com o objectivo de alcançar alguma notoriedade mediática destinada a arregimentar mais alguns votos para si próprio ou para aquele ou aqueles com quem possa estar directamente relacionado, sem que a tal esteja ou possa ser associada qualquer mensagem política evidente. Para ser mais claro, considero igualmente lamentáveis, do ponto de vista político, ético e até moral, quer a exposição mediática da grave doença de Laura Ferreira, mulher do primeiro-ministro, quer a nudez grávida de Joana Amaral Dias. 

Estamos entendidos?