sexta-feira, janeiro 30, 2015

Friday midnight movie (119) - Hammer House of Horror (XII)

(Emitido no Reino Unido a 29 de Novembro de 1980)
Legendas em português

Passos Coelho e a dívida

Uma eventual renegociação das dívidas (e não falo delas em separado) dos países europeus é um assunto controverso, melindroso, que exige uma visão global e sensatez no modo como é encarado e analisado. Mais ainda quando existem ténues sinais do "mainstream" político europeu parecer estar a perder o seu "momentum".  Dizer o contrário e optar pelo discurso típico do Bloco de Esquerda é aventureirismo político, só possível de ser assumido por quem não tem nem quer vir a ter responsabilidades governativas. 

Mas fazer afirmações deste tipo, mais a mais no tom irado em que foram proferidas, tal como aconteceu  hoje no Parlamento com o primeiro-ministro Pedro Passos Coelho, é passar do simples e já de si perigoso radicalismo ao mais puro e duro fanatismo extremista, uma espécie de jihadismo financeiro e "fuga para a frente" que parecem ter tomado conta deste governo nas últimas semanas. Afirmações tão graves como esta de Passos Coelho deveriam merecer do PS uma reacção imediata. Infelizmente, o Partido Socialista parece como que anestesiado.   

quinta-feira, janeiro 29, 2015

Billboard #1s by British Artists - 1962/70 (37)

The Beatles - "Get Back" (24 de Maio de 1969)

E entretanto a Grécia?

E entretanto a Grécia? Bom, o Syriza e a Alemanha marcam cada um o seu território: de um lado, numa estratégia de "front loading", Tsipras aprova uma série de medidas desafiadoras e "pisca o olho" a Putin, colocando a política e a geo-estratégia no centro do problema e, do outro, a Alemanha, por ela própria ou através de terceiros que lhe são fiéis, vai avisando um pouco ao estilo "ou se portam bem ou vou-me a eles". Diria, sem ofensa para nenhum dos citados, estarmos perante um processo de negociação clássico, embora um pouco ao estilo regateiro (ou" marroquino", se quisermos), cada um jogando as armas que tem e não hesitando no "bluff". 

Para o PS e para António Costa é que me parece uma situação desconfortável: devem e têm de se distanciar do Syriza, pelas suas diferenças ideológicas, estatuto enquanto partidos e prevendo as coisas na Grécia possam correr mal e marcar as habituais distâncias face ao actual governo luso/germânico de Passos Coelho e à estratégia europeia que conduziu a social democracia a uma crise. De qualquer modo, ao PS (e, já agora, também aos europeus que ainda não perderam completamente o juízo) só convém mesmo tudo se vá resolvendo na Grécia com compromissos e uma solução negociada e equilibrada: com quaisquer outras, mais drásticas ou extremadas, vitórias retumbantes de um ou outro dos lados (Syriza e Alemanha), o PS só pode perder o seu espaço e a Europa seguir por maus caminhos.

terça-feira, janeiro 27, 2015

Liverpool para além dos Beatles (8)

The Swinging Blue Jeans - "Hippy Hippy Shake" (Chan Romero) - 1963

Jorge Jesus levou uma banhada táctica

A primeira coisa que me apetece dizer depois do jogo de ontem - e disse-o mesmo durante o próprio jogo aos que aturaram o meu mau feitio quando o "Glorioso" não ganha - é que Jorge Jesus levou enorme banho táctico de Paulo Fonseca. Ora vejamos:

Sem o lesionado Gaitán e o transferido Enzo Perez, o SLB fica com a capacidade para o seu jogo interior desequilibrar em pequenos espaços reduzida a Jonas. Bloqueado este, como muito bem o fez o FC Paços de Ferreira com recurso a um bloco baixo e compacto, restam as alas, e foi por aí que o SLB conseguiu criar perigo nos primeiros 20'. Acertadas também as marcações nas alas (na direita, sobretudo, já que pela esquerda o SLB foi quase inofensivo), o que se tornava mais fácil, desviando "recursos", pois no meio apenas Jonas sabe jogar em pequenos espaços, o FC Paços de Ferreira controlou o jogo a partir desse seu bloco baixo, utilizando o contra-ataque e passes longos que levaram o SLB a cometer demasiadas faltas. O golo pacense até poderia ter surgido na cobrança de uma dessas (demasiadas) faltas, mas acabou por ter origem num "penalty" desnecessário cometido por um jogador que, por muito voluntarioso que seja e mesmo possuindo um bom pontapé, comete demasiados erros defensivos e a quem falta cérebro e classe para jogar no "Glorioso". Que raio, o menos "espampanante" mas bem mais "certinho" Sílvio ainda não pode jogar? Poder, talvez possa, mas Eliseu é que é a "cara" de Jorge Jesus.

Que poderia ter feito Jorge Jesus? Colocar Pizzi mais cedo em campo, pois não passando de um jogador mediano parece-me o seu tipo de futebol bem mais adequado do que o de Talisca àquilo que o jogo de ontem pedia. E atenção: no próximo sábado, na Luz, vamos ver o Boavista FC fazer mais ou menos o mesmo. Com a ressalva de jogar um futebol mais "sarrafeiro" e ter pior treinador e piores jogadores do que a equipa de Paulo Fonseca.

Nota: estou com o meu prezado consócio Pedro Adão e Silva ("Record" de hoje): ser legal marcar "penalties" como o que ontem Bruno Paixão assinalou a favor do SLB é de bradar aos seus e transforma o futebol atacante num género de "vamos lá ver se lhe consigo acertar no braço".

segunda-feira, janeiro 26, 2015

Liverpool para além dos Beatles (7)

The Searchers - "Sweets For My Sweet" (Doc Pomus - Mort Shuman) - 1964

De como os primeiros desafios do Syriza serão internos

Atenção: os primeiros desafios que o Syriza vai ter de enfrentar não são tanto de natureza europeia, da pressão dos "países do norte" e de Bruxelas e Frankfurt, de financiamento. Esses serão cruciais, mas virão talvez mais tarde. É que, em primeiro lugar, e em certa medida em simultaneidade com esses, o Syriza vai ter de enfrentar e resolver dois problemas sem os quais estará à partida condenado ao fracasso:
  1. A sua coesão interna perante adversidades, contrariedades, pressões de toda a ordem e a luta política, que não deixará de incluir "golpes mais ou menos baixos", que os agora derrotados, com a Nova Democracia à cabeça, não deixarão de lhe mover com o provável apoio de algumas estruturas da UE; é mesmo assim a vida política, e todos sabemos, não só como funciona a política grega, como coesão interna é sempre algo que escasseia nos partidos radicais de esquerda, mesmo que o poder e a necessidade de alianças possam suavizar a sua habitual tendência para dissensão por minudências ideológicas. 
  2. A necessidade de manter a funcionar com alguma eficácia um aparelho de estado que imagino construído muito provavelmente à medida das necessidades da Nova Democracia e do PASOK, e que por isso mesmo pode não ser colaborante (é o mais provável) com a governação do Syriza, um partido que posso imaginar com estruturas relativamente frágeis e quadros políticos e administrativos escassos e pouco preparados. Posso estar errado, claro, mas antes das chamadas "grandes questões, acho que muito do que irá acontecer na Grécia pode passar por aqui.

domingo, janeiro 25, 2015

Matiné de Domingo (95)

"The Adventures of Tom Sawyer", de Norman Taurog, George Cukor e outros (1938)
Filme completo c/ legendas em português

Uma nota sobre a direita portuguesa nos 50 anos da morte de Winston Churchill

Agora que decorrem as comemorações dos 50 anos da morte de Winston Churchill, convém dizer que a maioria dos que agora, na direita portuguesa, o homenageiam teriam por certo estado contra ele durante a sua vida política e perante muitas das opções que então tomou. Pondo de parte alguns dos hábitos política e socialmente incorrectos que hoje em dia dificilmente seriam aceites pela direita portuguesa, mas que não vêm agora ao caso, Churchill arrastou o Reino Unido para uma guerra contra os desejos de uma esmagadora maioria da aristocracia (a sua classe social de origem) e do conservadorismo britânicos (da "direita" de então, digamos assim), partidários da política de "apeasement". Uma guerra que, se com enorme contribuição dos USA acabou por derrotar os nazi-fascismos, teve também como consequência imediata a ascensão do comunismo na Europa, a subsequente divisão desta e, a prazo, o fim do império britânico, o declínio do Reino Unido enquanto potência mundial e o fim do domínio da aristocracia na vida económica e política britânica, já de certo modo em causa desde o final da guerra de 14-18. "Last but not least", uma guerra que acabou por abrir caminho ao governo trabalhista de Clement Attlee, talvez o governo "mais à esquerda" da História do UK e aquele que deu início ao que hoje designaríamos por "descolonização". Digamos, pois, que não me parece a direita portuguesa mais radicalmente conservadora, como a do "Observador" e do "Blasfémias", tenha muita legitimidade para se reclamar do legado de um estadista com a dimensão de Winston Churchill. Mas lá que lhes dá jeito...

sexta-feira, janeiro 23, 2015

Friday midnight movie (118) - Hammer House of Horror (XI)

(Emitido no Reino Unido a 22 de Novembro de 1980)
Legendas em português

"Borgen"




"Borgen" (de 2ª a 6ª na RTP2, pelas 22h) não terá a ironia e a sobriedade do "House of Cards" original , o da BBC, muito menos o quase humor negro da interpretação de Ian Richardson no papel de Francis Urquhart, mas é de visão indiscutível, mais a mais agora que não somos obrigados a estar presos a um horário "oficial". Não conheço o "House of Cards" em versão americana, nem tenho intenções de o ver, mas sem dúvida que "Borgen" (a série é dinamarquesa) consegue dar-nos um retrato interessante dos bastidores da política, da sua promiscuidade actual  com os "media" e do modo como mutuamente se manipulam e, em conjunto ou separadamente, manipulam a opinião pública.

 E no entanto... No entanto, ao optar pelo formato "temporadas", com dez episódios cada e fazendo assim "render o peixe" (ou seja, a história) à medida do seu sucesso junto do público, "Borgen" enreda-se demasiadas vezes no exagero desproposítado, em acontecimentos e sequências inverosímeis ou demasiado perto do absurdo, no fio da navalha de um maniqueísmo que mais não pretende do que piscar o olho ao espectador, cativando-o pelo lado das emoções mais fáceis. Digamos que cede demasiadas vezes ao estilo telenovelesco, o que lhe retira autenticidade (já o "House of Cards" original não tem esse problema pois não só é uma sátira como segue o livro pré-existente de Michael Dobbs) e, por via disso, impede que a série alcance níveis de qualidade mais elevados. Parece um contra-senso, mas não é: tanto quanto sei, fica-se pelas três temporadas, o que ajudará a que não se transforme numa fábrica de enchidos e mantenha até ao fim a qualidade suficiente para nos tornarmos íntimos de Birgitte Nyborg, Katrine Fonsmark e Kasper Jull.

quinta-feira, janeiro 22, 2015

Liverpool para além dos Beatles (6)


The Merseybeats - "Wishin' And Hopin'" (Hal David - Burt Bacharach) - 1964

O SLB dos últimos jogos

Não sei se já repararam que a equipa do SLB está a jogar mais junta, menos "esticada" no campo, e que a sua capacidade de circulação de bola, de "ataque posicional", cresceu bastante nos últimos jogos. Porquê? Bom, em primeiro lugar a segurança de um guarda-redes como Júlio César e o modo como sabe usar os pés permite à defesa jogar mais "subida". Depois, porque Jonas, para além de recuar e preencher o espaço "entre linhas", ao contrário de Rodrigo não é um jogador de "sprints", mas sim de "tabelas", do "recebe, passa e desmarca", contribuindo para "colar" a equipa e criar um certo "carrossel" atacante. Esta capacidade acrescida de fazer circular a bola acentua-se ainda mais quando joga Cristante, um jogador de excelente técnica, relativamente posicional e que usa o passe curto e longo ou o "um para um" como como armas privilegiadas para iniciar a construção do jogo da equipa. Também Ola John não tenta apenas ser um jogador "perfurante", mas também de "diagonais" e de "tabelas". Ora a equipa jogar mais "junta" significa que pode pressionar e defender melhor e em bloco em zonas adiantadas do terreno, "sufocando" a equipa contrária, retirando-lhe a capacidade para ter bola e sair a jogar e precavendo as suas eventuais transições rápidas. Marca assim mais golos e sofre-os menos. Para quem ainda não tinha percebido, é mais ou menos isto o que tem acontecido nos últimos jogos. 

quarta-feira, janeiro 21, 2015

4ªs feiras, 18.15h (106) - Pasolini (II)

Filme completo c/ legendas em inglês

Liverpool para além dos Beatles (5)

Gerry and the Pacemakers - "How Do You Do It" (1963)

André Gomes, Bernardo Silva e a formação do SLB

Tal como eu, muitos outros benfiquistas gostariam de ter visto André Gomes e Bernardo Silva evoluir nas suas carreiras jogando na equipa principal do nosso clube. Principalmente, Bernardo Silva, um benfiquista de "antes quebrar que torcer". Mas convenhamos, a serem verdadeiros os números anunciados num mercado que prima pela opacidade e pelas "compensações", que cerca de 30 milhões de euros por dois jogadores da formação, em certa medida ainda com consistência por provar, não titulares, sendo que um deles ainda mal tinha posto os pés na equipa principal, é um excelente negócio e prova que o investimento na formação começa a compensar. Acresce ainda que em nenhum dos casos a venda dos respectivos passes prejudica a competitividade da equipa principal e os valores conseguidos podem mesmo ajudar ao seu reforço.

Não é bem o que, talvez com um pouco de romantismo à mistura, desejaríamos? Pois não: também eu gostaria de ver o Bernardo festejar uns golos com a camisola do "Glorioso". Mas o futebol de hoje - goste-se ou não - é mesmo isto e cá ficarão Luisão e Maxi para transmitirem aos recém-chegados a "mística" do clube. E tal como Rui Costa, talvez um dia o Bernardo nos marque um golo e se emocione com isso. E talvez um dia também volte. Cá estaremos à sua espera. Saudações benfiquistas, Bernardo.

terça-feira, janeiro 20, 2015

Liverpool para além dos Beatles (4)

Rory Storm and The Hurricanes - "I Can Tell" (1963)
Nota: Ringo Starr foi baterista do grupo

"F.... como coelhos", Papa Francisco?

Até eu, ateu, admito que o Papa Francisco, como chefe da Igreja Católica, muito dificilmente poderia ter ido mais longe do que a recomendação dos chamados métodos anticonceptivos "naturais" sem desencadear um autêntico terramoto no Vaticano e fora dele, de final imprevisível. Como a política é a arte do possível (e Jorge Bergoglio é acima de tudo um político), o facto de Francisco ter apelado à "paternidade responsável" significa que terá ido tão longe quanto lhe permitem a doutrina e a correlação de forças política e ideológica actuais na Igreja a que preside. Digamos que mostrou inteligência a apelou também à inteligência de quem sabe ler nas "entrelinhas". À bon entendeur...

Já a frase usada ("os bons católicos não devem procriar como coelhos" - para os mais brejeiros basta trocar "procriar" por uma  palavra de cinco letras) me parece de um mau gosto que, na sua posição de Chefe de Estado, Bergoglio bem poderia ter evitado. Tivesse sido um político "stricto sensu" e o que se não diria já por aí. Mas o apelo à eficácia do "soundbite" parece sempre ser mais forte, mesmo de quem se espera comedimento e se reclama da inspiração divina. Se foi por isso, está perdoado, porque a causa, se não de carácter divino, é pelo menos justa.

sábado, janeiro 17, 2015

José Sócrates e a "ética republicana"

Esta nota já vem atrasada, mas não ficaria de bem comigo próprio se não a escrevesse.

Ficámos a saber através do próprio José Sócrates, nas suas respostas à TVI24 e não por especulações jornalísticas, fugas ao segredo de justiça ou algo de semelhante moral ou criminalmente condenável e sem qualquer valor probatório, que o ex-primeiro-ministro recebeu dinheiro emprestado (quantias consideráveis) de um amigo cuja empresa foi importante fornecedora do Estado durante os seus mandatos à frente do governo. Mais, sabemos que grande parte da aprovação deste tipo de contratos (falo em abstracto) depende directamente de decisão e/ou influência governamental. Se, nestas circunstâncias, pedir dinheiro emprestado a um amigo, mesmo depois de já não exercer qualquer cargo político, está muito longe de constituir crime ou acto ilícito, penso ninguém duvidará estamos perante uma grave e inequívoca quebra daquilo que se convencionou chamar "ética republicana" (não gosto da designação, mas enfim...), para mim suficiente para definir uma personalidade e pôr término a quaisquer hipóteses de carreira política futura, por muito vagas que elas ainda fossem.

Nota: Estou a falar de ética política e não de matéria criminal ou do âmbito do funcionamento da Justiça, pelo que as minhas críticas sobre o modo como esta tem vindo a actuar, neste e noutros casos recentes, mantêm-se sem alteração. 

sexta-feira, janeiro 16, 2015

Friday midnight movie (117) - Hammer House of Horror (X)

(Emitido no Reino Unido a 15 de Novembro de 1980)
Legendas em português

Liverpool para além dos Beatles (2)

The Fourmost - "Hello Little Girl" (John Lennon) - 1963

Pires de Lima e Álvaro Santos Pereira

Juro não tenho qualquer procuração para defender o ex-ministro Álvaro Santos Pereira, nem sequer o conhecendo pessoalmente ou, muito menos, tendo com ele qualquer ligação. Acrescento que nem sequer achei a sua acção à frente do Ministério da Economia especialmente competente, ou incompetente. Santos Pereira limitou-se a "pôr-se a jeito" com aquelas histórias do "Álvaro" e dos "pastéis de nata" e como teve o azar de ficar responsável pelo Ministério em tempo de vacas esqueléticas, não tinha experiência ou peso políticos que se visse e vinha "de fora", foi trucidado por um jornalismo cobarde sempre pronto a fazer "pushing ball" dos mais fracos. Como conclusão, e isto apesar do disparatado livro de "memórias" que escreveu sobre os seus tempos de ministro, muito dificilmente alguém, nas circunstâncias, teria tido hipótese de fazer muito melhor. "Álvaro", um accadémico vindo de uma outra cultura e talvez não sendo demasiado esperto ou inteligente, expôs-se, e isso foi-lhe fatal.

Vem isto a propósito da autêntica "barracada" do ministro Pires de Lima sobre o acordo com os sindicatos da TAP e que levou ontem à incredulidade o seu companheiro de partido Lobo Xavier ("Quadratura do Círculo") e hoje a um categórico desmentido do primeiro-ministro em pleno parlamento. É que, convenhamos, não estamos aqui perante uma "boutade" (essa já Pires de Lima tinha ensaiado com as "taxas e taxinhas" e não se saiu demasiado bem), um pequeno lapso ditado pela inexperiência política, uma afirmação sem ou com irrelevantes consequências; estamos perante um acto político importante que, surpreendentemente, revela uma total falta de tacto político e de bom senso e um desconhecimento completo da legislação do trabalho inadmissível num ministro da Economia. Mas, ao contrário de Santos Pereira ("o Álvaro"), Pires de Lima, talvez por via da imagem de competência construída ao longo da sua carreira de gestor e da sua importância como putativo número dois do CDS, talvez também por, com a sua experiência e origem social, ter aprendido a "resguardar-se, sabe-se lá se também por compromissos e cumplicidades com os "media" que soube construir e gerir durante anos, tem aquilo que se chama de boa imprensa. E, convenhamos, é isto que faz toda a diferença.

quarta-feira, janeiro 14, 2015

4ªs feiras, 18.15h (105) - "Cinema Militante" (VIII e IX) - Sessão Dupla de homenagem a Francesco Rosi


Filme completo c/ legendas em inglês

Filme completo c/ legendas em castelhano

Manuel Valls por maus caminhos

Numa democracia digna de si própria, se alguém fizer em público ou difundir, de algum modo, comentários racistas, segregacionista, anti-semitas ou quaisquer outros do mesmo género contra um povo ou uma religião, estamos apenas, em minha opinião, perante um cretino, um energúmeno, desde que essas suas atitudes, na prática, não violem as leis da igualdade, isto é, não discriminem ninguém em função da raça, sexo ou nacionalidade, leis essas estruturantes de qualquer democracia. Se o fizerem, estará a violar a lei e terá então, mas só então, de responder por tal acto. Enquanto tal não acontecer, deverá ter todo o direito a exprimir a sua opinião, por mais abjecta que seja: confiemos a sociedade saberá julgar tais atitudes. Aliás, recorrendo à irreverência extrema e a um tipo de humor iconoclasta que torna sempre mais integrável e até mesmo bem vindo algum radicalismo, no limite, alguns mais susceptíveis podem mesmo considerar que o "Charlie Hebdo" não terá andado demasiado longe de algumas das categorias acima mencionadas.

O mesmo deve acontecer com quem difunde ideologias contrárias ao Estado Democrático, quaisquer que elas sejam, incluindo o nazismo e o apelo ao terrorismo, desde que não utilizem a violência na sua acção política. Se estivermos perante alguém que defenda o negacionismo, para além das características acima elencadas estamos também na presença de um ignorante, pelo menos em termos históricos, mas que tem pleno direito a ser cretino, enegúmeno e a fazer gala da sua ignorância. É isto que justifica a superioridade da democracia sobre todos os outros sistemas políticos.

Por isso mesmo, vejo com especial preocupação acontecimentos como este, e afirmações como a de Manuel Valls referindo que "é preciso não confundir a liberdade de opinião e o anti-semitismo, o racismo e o negacionismo”. Perante reacções deste tipo - que infelizmente não me espantam - o único comentário que posso fazer é que estamos (ou a França está) a ir por muito mau caminho.

terça-feira, janeiro 13, 2015

Billboard #1s by British Artists - 1962/70 (36)

The Beatles - "Hey Jude" (28 de Setembro de 1968)

Porque é o SC de Braga a "besta negra" do SLB?

Porque é que o SCP tem relativa facilidade em ganhar ao SC de Braga (o golo no último lance é enganador, pois o SCP esteve sempre muito mais perto de ganhar) e para o SLB o SC de Braga é uma espécie de "besta negra"? Simples: porque, ao contrário do que acontece com o SCP, o meu clube não sabe "ter bola", controlar o jogo, joga demasiadas vezes no risco do "um para um" e assim expõe-se demasiado às perdas de bola e aos contra-ataques e transições muito rápidas mortíferas do SC de Braga. Se formos ver, muitas vezes o SLB é o primeiro a marcar e depois permite a recuperação do SCB (aconteceu as duas vezes este ano), ou pelo menos a diminuição da diferença, como foi o caso o ano passado em Braga, para a Liga, onde ganhou mas acabou com "o credo na boca". Já o problema do SCP é diferente, e isso viu-se no passado domingo: joga um futebol fluído, circula bem a bola, consegue ter o controlo do jogo durante largos períodos, mas, até porque, de um modo geral, tem piores jogadores do que o SLB, é muito pouco eficaz nos desequilíbrios junto da área contrária, no último passe e nas conclusões, onde tudo se decide. E se virmos as equipas juniores e "B" de SLB e SCP, estas são uma espécie de "copycats" dos seus "irmãos" mais velhos. Pois, ninguém é perfeito.

segunda-feira, janeiro 12, 2015

Paris e o "aftermath"

Como sou optimista, talvez até ingénuo, acho que a nível oficial nada de essencial irá mudar em questões como as liberdades e o controlo de fronteiras após os atentados de Paris, isto depois de alguns desabafos mais ou menos securitários e de alguma retórica de circunstância destinados a satisfazer as emoções de momento e minimizar a capacidade de atracção dos diversos populismos e da extrema direita europeia. Em minha opinião (sou optimista, repito), tudo se irá limitar - e ainda bem - a uma melhoria da eficácia e colaboração entre os vários serviços de informação - que falharam redondamente neste caso - e a algumas medidas acrescidas de controlo que não afectarão no essencial a liberdade de circulação no espaço Schengen.  Por grande apego das actuais lideranças europeias à tolerância e às liberdades? Por crença profunda das mesmas na necessidade de mudanças na atitude e atenção dos governos face às minorias étnicas? Por concluírem da necessidade de moderação ou mesmo de mudança nas políticas económicas actualmente dominantes? Infelizmente (e vamos lá temperar o optimismo com algum realismo) não me parece. Mais porque a liberdade e facilidade de circulação são hoje em dia um pilar importante no funcionamento da economia europeia (e ainda bem que assim é) e as políticas securitárias custam o muito dinheiro que, para além da mais do que duvidosa relação custo/benefício, ninguém está verdadeiramente disposto a pagar. Antes assim.

sexta-feira, janeiro 09, 2015

Friday midnight movie (116) - Hammer House of Horror (IX)

(Emitido no Reino Unido a 8 de Novembro de 1980)
Legendas em português

Terrorismo(s) e políticas

Para não corrermos o risco de confundir as estratégias políticas e de segurança que devemos definir e pôr em prática para combatermos o terrorismo radical islâmico, convém ter em atenção que, de um modo geral, podemos dividir as suas acções em dois grupos fundamentais:
  1. Os grandes atentados, como o das Torres Gémeas, do metropolitano de Londres e da estação de Atocha, que envolvem meios consideráveis e uma logística e capacidade financeira só ao alcance de organizações relativamente sofisticadas. Aqui, claro está, não podemos falar de problemas de integração, austeridade e desemprego, até porque muitos dos seus executores são gente aparentemente integrada e com meios de vida, no mínimo, razoáveis. Estamos a falar de um problema em cuja resolução a política internacional e a geo-estratégia têm de assumir um papel fundamental.
  2. As pequenas acções (nos meios, que não nas consequências) como a de Paris (e outras), que, embora reivindicando-se e mergulhando as suas raízes numa ideologia islâmica radical, são executadas, essas sim, por gente demasiado marcada por problemas de integração económica, social e cultural, que as políticas europeias têm vindo a agravar e as torna alvos preferenciais do recrutamento jihadista. Não estará aqui todo o problema, nem sequer na desintegração mergulha a totalidade da sua raiz, mas apenas uma sua parte importante. Isso significa que o assunto é suficientemente grave para que, digo-o sem esperança, já que me parecem ser este tipo de acções encaradas pelos actuais dirigentes da UE um pouco como "efeitos colaterais" da política actualmente definida pela e para a Europa, os cidadãos europeus se recusem a enfrentar e resolver com coragem o problema.

quinta-feira, janeiro 08, 2015

Os "covers" de Joe Cocker (8)


The Beatles - "She Came In Through The Bathroom Window" (1969)

A versão de Joe Cocker (1970)

Nem tudo começa e acaba em Paris

Independentemente do nojo, do repúdio, da revolta que sentimos e da concordância no facto dos assassinos de Paris deverem ser julgados como quaisquer outros criminosos de delito comum, "serial killers", que sem dúvida o são (inclusivamente com todos os direitos destes, é importante dizê-lo), nem sequer, nos nossos piores sonhos, pensando em lhes conceder o estatuto de "combatentes", "resistentes" ou lá o que quer que seja, convém, do ponto de vista político e para termos a noção de como devemos agir no médio-longo prazo, lembrar onde e como tudo começa. E para isso temos de voltar às velhas questões políticas, ao "eterno" conflito israelo-palestiniano, à declaração Balfour, ao acordo Sykes-Picot e a uma questão que, com Arafat e sem Arafat, com o Hamas e eventualmente sem este, parece irresolúvel.  Mas também à queda da URSS, que abriu caminho ao fim das ditaduras nacionalistas árabes e criou o vazio onde o islamismo radical viu a sua oportunidade, se infiltrou e tem vindo a ocupar. E nestas duas importantes áreas da política internacional e da geo-estratégia convém reconhecer que aqueles que nós, ocidentais, que nos revemos na democracia, na tolerância e nas liberdades, temos vindo a eleger e mandatámos nem sempre terão estado à altura e agido com as necessárias prudência e sabedoria políticas. Essa é também uma nossa responsabilidade, mas, infelizmente, tenho pouca ou nenhuma esperança as coisas venham significativamente a mudar.

terça-feira, janeiro 06, 2015

Os "covers" de Joe Cocker (7)


The Rolling Stones - "Honky Tonk Woman" (1969)

A versão de Joe Cocker (1970)

SLB: demasiadas indefinições

As sofríveis últimas exibições do SLB ficam a dever-se ao facto, como diz Jorge Jesus, de este estar a ser obrigado a reconstruir uma equipa a meio da época e para isso precisar de tempo? Sim, claro que, em certa medida, isso é verdade. Mas Jorge Jesus nunca mencionou tal necessidade de tempo na sua primeira época ao serviço do clube, quando era necessário implementar novos métodos mas o SLB começou cedo a realizar exibições empolgantes e a golear. Para além disso, essa necessidade de tempo é frequentemente invocada quando, por alguma razão, imputável ou não à equipa técnica, algo parece estar errado. E o que me parece estar errado neste SLB? Não, não vou falar da qualidade inferior dos novos jogadores, se comparados com os que constituíam o plantel da época passada, não porque tal não seja relevante, mas porque essa análise está feita um pouco por todo o lado. O verdadeiro problema é que existem demasiadas indefinições na relação entre as características de alguns jogadores e as requeridas para os lugares que esses mesmo jogadores devem ocupar no modelo de jogo de Jorge Jesus, afectando os automatismos da equipa. Exemplos? Com André Almeida no lado esquerdo a equipa perde a profundidade fundamental nos jogos contra equipas mais fracas; nem Cristante nem Samaris encaixam no "6" tipo de Jorge Jesus; não existe um "8" com as características de Witsel ou Enzo Perez (ou até de Amorim), questões de qualidade à parte; Talisca é, em certa medida, um jogador indefinido, não se percebendo ainda muito bem onde poderá melhor encaixar no modelo de jogo da equipa; e, por último, falta uma dupla de avançados cujas características se complementem melhor, à imagem do que acontecia com Cardozo/Saviola ou Lima, ou Lima/Rodrigo. Convenhamos que são demasiados problemas que não sei como poderão ser resolvidos a curto-prazo para a equipa manter a identidade dos últimos seis anos. Os regressos a mais curto-prazo de Luisão, Sálvio e Eliseu ajudarão, estou certo, a melhorar um pouco a qualidade de jogo da equipa, mas convém lembrar que apenas este último (Eliseu) poderá ajudar a resolver algum dos problemas acima focados. Jorge Jesus está, pois, perante a tarefa da sua vida.

domingo, janeiro 04, 2015

Um "novo" André Gomes?

Acabei de ver no Valência-Real Madrid um André Gomes transfigurado: mais intenso, mais rápido e mais agressivo, sendo que o "déficit" destas características eram os defeitos essenciais que lhe eram apontados. Quanto a mim, e visto de longe, duas razões essenciais para esta espécie de "metamorfose":
  1. Jogar com mais regularidade, e sobretudo fazê-lo num campeonato onde o ritmo e intensidade nada têm a ver com os do campeonato português.
  2. Ter liberdade para aparecer e organizar em terrenos mais adiantados, sendo que no sistema do SLB de Jorge Jesus (no fundo, com apenas dois jogadores no "meio-campo" mas também com dois "pontas de lança") as preocupações do "nº8" com o equilíbrio da equipa limitam um pouco essa liberdade ofensiva; e se nos lembrarmos dos lances de André Gomes enquanto jogador do SLB que foram mais decisivos e nos ficaram na memória, de certeza que entre eles ocupam posição de destaque algumas dessas acções ofensivas e até um ou outro dos seus golos mais importantes. Foi também isso que hoje vimos.

Matiné de Domingo (92)


"Great Guns", de Monty Banks (1941)
Filme completo c/ legendas em castelhano

sexta-feira, janeiro 02, 2015

Friday midnight movie (115) - Hammer House of Horror (VIII)

(Emitido no Reino Unido a 1 de Novembro de 1980)
Legendas em português

Os "covers" de Joe Cocker (5)


Leonard Cohen - "Bird On A Wire" (1969)


A versão de Joe Cocker (1969)

O discurso de Ano Novo e a natureza do regime

O meu único comentário ao discurso de Ano Novo do Presidente da República é perguntar por que razão insistem os portugueses em manter um regime semi-presidencialista que já mostrou a sua disfuncionalidade e o seu esgotamento em vez de, à semelhança de qualquer democracia europeia madura e civilizada (o caso francês é excepção historicamente explicável), optarem pelo parlamentarismo puro. Mais ainda, perguntar porque razão esta discussão não está na ordem do dia preferindo jornalistas, comentadores e politólogos assumirem o papel de uma espécie de oráculo do Presidente de cada vez que este resolve dirigir-se aos portugueses. Na democracia portuguesa parecem existir assuntos cuja discussão pública se tornou, inexplicavelmente, numa espécie de tabu.