domingo, novembro 30, 2014

Matiné de Domingo (87)

"Private Buckaroo", de Edward F. Cline (1942)
Filme completo c/ legendas em francês

A propósito de Duarte Lima e de um Acordão


Não tenho qualquer convicção sobre a culpabilidade ou inocência de Duarte Lima - como, aliás, não a tenho sobre José Sócrates. Duarte Lima foi julgado por um tribunal competente de primeira instância e foi-lhe aplicada uma pena de dez anos de prisão da qual vai recorrer para os tribunais superiores, como é seu direito. Aguardemos e ponto final para já. Sobre o já costumeiro "arraial" organizado pelos "media" à volta do caso, principalmente quando da sua detenção, quase tudo ficou dito em devido tempo.

Mas o que não posso deixar de veementemente sublinhar e reprovar é o excerto do Acordão que acima transcrevo, significando que o tribunal, na sua decisão, se deixou influenciar de modo excessivo pelo ambiente geral condenatório dos "ricos e poderosos", dos políticos e, porque não acrescentá-lo, dos indiciados por aqueles crime que a sociedade considera mais infamantes (pedofilia, por exemplo). Claro que nas penas previstas no Direito Penal estão em grande medida vertidos os valores e sentimentos vigente numa sociedade - como não poderia deixar de ser - mas isso acontece de modo estrutural, para um período longo, e não em termos puramente conjunturais que mudam no curto-prazo e ao sabor da corrente.

Estamos, pois, a enveredar por caminhos muito perigosos, contra os quais sempre me bati e continuarei a fazê-lo. 

sábado, novembro 29, 2014

Francisco Assis e o PS

Há uma coisa que Francisco Assis ainda não percebeu, ou não lhe interessa perceber: para estar em situação de efectuar compromissos sobre matéria concreta com os partidos situados à sua direita, mantendo alguma capacidade de negociação e autonomia e sem correr o risco de ser por ela "engolido", o PS precisa absolutamente de um grande resultado eleitoral, com ou perto da maioria absoluta, o que até poderia contribuir para a queda da actual direcção do PSD, facilitando esses compromissos. Para tal, não pode nem deve anunciar desde já qualquer vontade explicita de fazer as chamadas "alianças à direita", o que apenas contribuiria para enfraquecer a sua atractividade eleitoral. A ser obrigado, quer por resultado eleitoral insuficiente, quer por necessidade de maior abrangência social e política, a negociar esses acordos (o que me parece muito provável), tal deve ser apenas apresentado a posteriori e não como vontade do partido mas como necessidade ditada pelas circunstâncias. No fundo, o que Assis está a fazer com este tipo de actuação é agir dentro do seu partido como um verdadeiro "infiltrado" do PSD actual. 

sexta-feira, novembro 28, 2014

Friday midnight movie (110) - Hammer House of Horror (III)

 (Emitido no Reino Unido a 27 de Setembro de 1980)
Legendas em português

PS: uma estratégia dual?

Nada que me pareça propositado - o que não significa não o seja -, mas parece depreender-se das reacções do PS ao "caso Sócrates" uma espécie de estratégia "dual": de um lado, o PS "oficial", tentando "separar a política da justiça" e isolar a detenção de José Sócrates no restrito círculo de "um caso de Justiça", mantendo a respeitabilidade política; por outro, algumas figuras que não ocupam cargos dirigentes no partido, pelo menos nas primeiras linhas, mas com indiscutível importância política e impacto mediático, como é o caso de Mário Soares (mas não só), que jogam tudo na sua politização e na tese da "cabala", com isto tentando responder à letra aos sectores mais extremistas e radicais do PSD, bem visíveis nas redes sociais, e gerar um ambiente de vitimização em torno do ex-primeiro-ministro e do PS que pode, indiscutivelmente, vir a render frutos políticos e eleitorais.

Uma vez mais: parece-me bem menos uma estratégia pensada e estruturada mas algo bem mais fruto da casualidade e das circunstâncias. Mas não só em política "o que parece, é" como também, a ter sido definida de forma pensada, e embora possa geral perplexidade e sentimentos contraditórios em muitos cidadãos, pode não vir a revelar-se muito má ideia. Veremos, já que à velocidade a que os acontecimentos políticos estão a ocorrer, "prognósticos só mesmo no fim do jogo".

quarta-feira, novembro 26, 2014

Sobre o SLB

Publicado no "Gato Maltês" no  passado dia 5 de Novembro: 

"Digamos que o modelo de Jogo de Jorge Jesus, demasiado dependente do valor e características das individualidades e inadequado para os grandes jogos, está esgotado nas suas potencialidades, significando isto que independentemente dos resultados que a equipa venha a conseguir a SAD do meu clube deverá ponderar seriamente a substituição do treinador no final da presente época". 

Nada mais acrescento.


4ªs feiras, 18.15h (100) - "Nouvelle Vague" (V)

"Paris Nous Appartient", de Jacques Rivette (1960)
Filme completo c/ legendas em castelhano

Soares e Sócrates

Mário Soares foi um dos três políticos mais importantes do século XX português (os outros terão sido Afonso Costa e Salazar). Foi fundador da democracia portuguesa e quem mais consequentemente se bateu por ela antes e depois do 25 de Abril. Personalidade determinante na adesão de Portugal à CEE e da consolidação democrática civilista dos anos 80. Um género de "pai da pátria", sem qualquer sentido pejorativo ou ressonância ditatorial mas antes como justa homenagem. 

É um gesto de amizade e coragem que enalteço e um sinal de indesmentível significado político ter-se dado ao incómodo, nos seus 90 anos, de se deslocar já hoje ao Estabelecimento Prisional de Évora para visitar José Sócrates. Mas se o seu estatuto e principalmente o seu merecido prestígio lhe conferem uma indesmentível relevância política e pessoal, também seria desejável exigir-se-lhe alguma prudência e contenção, a prudência e contenção que deve ser exigida a quem, por uma maioria de boas razões e direi mesmo que justamente, se alcandorou a um estatuto quase majestático. Seria isso que eu também esperaria de alguém a quem, apesar de nos últimos anos ter estado quase sempre em desacordo consigo, não posso deixar de manifestar a minha admiração e prestar a minha homenagem. Mesmo que reconheça em Mário Soares uma personalidade "bigger than life" à qual é difícil exigir tal contenção.

terça-feira, novembro 25, 2014

Roy Orbison SUN recordings (10)

"It's Too Late" (1956)

A caminho de um Estado policial?


Leio e não acredito. Espero bem não seja verdade. Não sou jurista e isto nada tem a ver com a pessoa de José Sócrates, mas então um juiz e um tribunal, supostamente independentes e livres nas suas decisões, subordinados apenas ao primado da lei, mantêm alguém detido apenas a pedido da acusação, do Ministério Público? Repito: espero bem não seja verdade, pois, caso contrário, parece-me ser o Estado de Direito Democrático a estar a ser perigosamente subvertido. Mas infelizmente, as minhas suspeitas de conluio entre o Ministério Público e o TCIC não são de agora. Estamos a caminho de um Estado policial?

segunda-feira, novembro 24, 2014

O caso José Sócrates e a minha posição pessoal (a quem tal interesse)

Não votei no PS de José Sócrates em 2005. Fi-lo, depois, em 2009 e 2011, pese embora discordar de algumas das suas políticas, nomeadamente as grandes obras públicas (apenas defendi o comboio de alta-velocidade Lisboa-Madrid), a capitulação perante as manifestações contra Correia de Campos e Maria de Lurdes Rodrigues e a imprudência com que enfrentou o início da crise, o que incluiu o tal aumento excessivo dos salários dos funcionários públicos. São apenas alguns exemplos. Mas, em contrapartida, sempre considerei positivo um número suficiente das suas políticas (reformas na saúde e na educação - algumas apenas tentadas - investimento nas novas tecnologias e nas energias renováveis, agenda de costumes, "Novas Oportunidades", tentativa de diversificação das exportações, etc, etc) para, perante as alternativas disponíveis e o meu posicionamento ideológico de partida, merecer o meu voto. Continuo a considerar que, apesar do pedido de resgate e de alguns falhanços, o balanço dos seus governos é, apesar de tudo, positivo.

Não conheço pessoalmente José Sócrates, mas, apesar de admirar alguns aspectos da sua personalidade política (coragem política, resiliência, convicção) devo dizer não nutro especial empatia pelo cidadão, embora também não seja daquelas personalidades com as quais especialmente antipatizo (neste último grupo, Cavaco Silva leva a palma). Posso dizer, sem o conhecer pessoalmente, que José Sócrates é uma daquelas pessoas cuja personalidade me é indiferente, mas de quem dificilmente seria amigo ou convidaria para minha casa. Ponto.

Não teço quaisquer comentários sobre a sua culpabilidade no actual processo, limitando-me a comentar um ou outro ponto sobre o qual é possível assegurar alguma credibilidade (são muito poucos, no entanto). Mas uma coisa devo dizer: existem valores que para mim são intocáveis, relacionados, fundamentalmente, com os Direitos, Liberdades e Garantias e todas e quaisquer pedras basilares do Estado de Direito Democrático. Por isso mesmo, sou dos que preferem ver um qualquer criminoso à solta do que preso graças ao desrespeito pelas normas processuais, pelo atropelo dos Direitos, Liberdades e Garantias ou com recurso a prova que não seja insofismável, produzida e validada por tribunal competente. E estas últimas questões superam, como disse, todas as outras e a elas subordino toda e qualquer opinião. Nesse aspecto, já me viram aqui, no "Twitter" ou no "Facebook" defender Passos Coelho ("caso" Tecnoforma), Ricardo Salgado, Duarte Lima e até os assaltantes de uma agência bancária em Campolide. Continuarei a fazê-lo sempre que necessário. Ponto final.

Felícia Cabrita paga com os meus impostos?


Ontem, ao fazer "zapping" tentando saber notícias e assistir a comentários sobre a detenção de José Sócrates, dei com a jornalista(?) Felícia Cabrita a comentar o caso na RTP Informação. Nada teria contra se tal acontecesse num dos canais privados, mas ver semelhante personagem,, arvorada à categoria de comentadora encartada num canal de serviço público confesso me deu volta ao estômago.

Acho muito bem a RTP convide comentadores de esquerda e de direita, do PCP ao CDS, do "Avante" ao "Observador", dos que odeiam e dos que "rasgam as vestes" pelo ex-primeiro-ministro, até, se tal for relevante, o simpático advogado Garcia Pereira, mas ver alguém como Felícia Cabrita, símbolo maior do jornalismo de sarjeta, a comentar o que quer que seja paga com os meus impostos, não obrigado. Mas parece que o governo, no que diz respeito à RTP, apenas se preocupa - e neste caso até acho que com alguma razão - com as transmissões da Champions League.  

domingo, novembro 23, 2014

Uma simples pergunta sobre o caso José Sócrates

Só uma pergunta: a ter alguma relação com a realidade o esquema divulgado de "circulação" de dinheiro entre a conta de José Sócrates na CGD, a conta na Suiça do seu amigo e as movimentações financeiras de Maria Adelaide Monteiro, mãe de José Sócrates, no qual, e pelo menos no modo como é descrito, devo dizer, dificilmente  vislumbro algo de irregular (o que não quer dizer tal não exista, particularmente hipótese de fraude fiscal), porque é que esta última ou um qualquer seu procurador nomeado não foram convocados para depor ou para interrogatório? Nada tenho contra a senhora e muito menos lhe desejo qualquer mal, mas, admitindo exista forte razão para tal, confesso a minha estranheza pelo facto em função da contribuição que poderia(m) dar para o apuramento da verdade.

Matiné de Domingo (86)




"Smash-Up - The Story of a Woman", de Stuart Heisler (1947)
Filme completo c/ legendas em francês

sábado, novembro 22, 2014

José Sócrates: uma detenção oportuna?

Partindo do princípio existem indícios válidos para levarem à detenção do ex-primeiro-ministro José Sócrates, e outra coisa não me passa pela cabeça pois a provar-se a sua inexistência tal conduziria a uma descredibilização acelerada da Justiça, pergunto-me se só agora, três anos depois do anterior primeiro-ministro cessar funções e exactamente quando António Costa assume a liderança do PS, subindo este nas sondagens, e os apoiantes do actual governo centram a sua estratégia no "regresso de José Sócrates", esses indícios são suficientemente fortes para que essa detenção se efective, ou se não estaremos aqui perante uma questão de pura e simples oportunidade.

sexta-feira, novembro 21, 2014

Friday midnight movie (109) - Hammer House of Horror (II)

 (Emitido no Reino Unido a 20 de Setembro de 1980)
Legendas em português

Subvenções vitalícias: os pontos nos ii

Podemos ter a opinião que quisermos sobre as subvenções vitalícias atribuídas a alguns antigos políticos (a lei foi revogada em 2005 e por isso só se aplica a quem abandonou a actividade antes desta data), sobre a inoportunidade de as restabelecer, mas não pudemos insurgir-nos contra o corte nas pensões já atribuídas e nos salários livremente negociados entre as partes, com quebra unilateral de um contrato, e, depois, acharmos muito bem que tal corte se aplique aos ex-políticos que adquiriram um direito ao abrigo da lei então vigente, como se existissem portugueses de primeira e de segunda. Pede-se alguma coerência, se fazem favor.

Pessoalmente, sou contra tais benefícios, em tempos atribuídos para compensar os baixos salários pagos a alguns cargos políticos e pensando com esta compensação se evitava a crítica popular a eventuais salários mais elevados, mas a partir do momento em que eles são atribuídos manda a honestidade e o respeito contratual cumprir com o acordado.

quinta-feira, novembro 20, 2014

Jimmy Ruffin (1936 - 2014)

"What Becomes Of The Broken Hearted" (1966)

O que move Francisco Assis

Devo dizer, antipatizo solenemente com Francisco Assis (o do PS, não o santo), e esta minha antipatia pouco ou nada tem a ver com razões ideológicas. Tal acontece desde aquela sua ida a Felgueiras, na qual - e não nutrindo eu qualquer simpatia por aquilo que a ex-autarca Fátima representa -  Assis mais parecia um "chefe de turma" ressabiado, tentando repor a ordem que o senhor reitor lhe tinha encomendado, do que um político lutando pelas suas ideias e ideais; alguém que viu na situação a oportunidade para os seus cinco minutos de fama e para uma espécie de vingança dos fracos que, num país de vistas curtas e ideias vagas, haveriam de o catapultar para a ribalta. Depois, a partir daí, sempre me pareceu bem mais um género de aspirante a António Vitorino de província: sempre sem uma ideia clara e com um pé no PS e outro no PSD, mas sem o à-vontade, a bagagem cultural, o cosmopolitismo e a tarimba política do "autêntico". Uma espécie de "copycat" em versão "low cost".

Tendo dito isto, reconheço Assis terá sem dúvida razão em alguns dos pontos que enuncia na sua entrevista ao "Observador", mas como não é a razão que faz mover o mundo e essa mesma razão não basta para caucionar uma atitude, as suas afirmações "nesta altura do campeonato", o "timing" escolhido, o interlocutor (Maria João Avillez) e o "media" ("Observador") seleccionados são tudo menos ingénuos e constituem uma autêntica punhalada cravada à traição na liderança de António Costa e na estratégia do partido. Uma punhalada que poderá custar alguns pontos percentuais nas próximas sondagens e talvez mesmo uns milhares de votos nas próximas legislativas. Mas, no fundo, é esse o verdadeiro objectivo de Assis: dificultar a obtenção de uma maioria clara ou até absoluta pelo PS forçando um quase inevitável governo do "Bloco Central" mas em condições bem mais desvantajosas para o seu partido. Porquê? Porque é nesse terreno, um pouco pantanoso e indistinto, sem fronteiras muito claras entre os dois partidos, que Assis encontra o seu terreno de eleição, aquele de onde sempre esperou retirar vantagens. É isso que sempre verdadeiramente o moveu.

Uma nota sobre o fim do Estoril Open

Tenho pena o Estoril Open (será sempre Estoril Open, por muitos nomes que lhe dêem) chegue ao fim. Em primeiro lugar, porque gosto de ténis, e, convenhamos, ter um torneio, mesmo que de média dimensão, aqui mesmo ao lado era sempre interessante; em segundo lugar, porque tive oportunidade de coordenar alguns patrocínios empresariais e de marcas a eventos organizados pela Lagos Sports ("Open de Portugal" em golfe e "Volta a Portugal" em bicicleta) e pouco ou quase nada tive a apontar ao profissionalismo e capacidade organizativa da empresa; por último, porque nestas "andanças" tive oportunidade de conhecer João Lagos e sempre mantive com ele e com a Lagos Sports um bom e saudável relacionamento. Mas sejamos honestos (e isto nada tem a ver com a capacidade demonstrada pela Lagos Sports e pelo seu principal rosto): o Estoril Open só foi sobrevivendo graças ao apoio do Grupo Espírito Santo (incluindo a PT no "pacote"), com ligações familiares e de amizade a João Lagos, e do Estado português (CGD e Turismo de Portugal), no seu conjunto os principais patrocinadores do torneio, sem que esses patrocínios tivessem na sua base qualquer racional custo/benefício mas apenas relações de carácter pessoal e de muito contestável interesse ou, pior ainda, "desígnio nacional". Mas, infelizmente, esta é uma situação que espelha bem alguma fragilidade da estrutura empresarial portuguesa, com pouca capacidade para sobreviver autonomamente (por um lado) e com idêntica incapacidade para, numa base puramente racional e não por outras quaisquer razões, patrocinar eventos de alguma dimensão (veja-se o caso actual da Liga Portuguesa de Futebol Profissional).

Tal como João Lagos, espero um dia o Estoril Open regresse, mas apenas se em bases bem mais saudáveis do que aquelas em que assentou no passado. Será sinal de que algumas coisas terão mudado, no bom sentido, no profissionalismo e capacidade de actuação do Estado e de muitas empresas portuguesas.  

segunda-feira, novembro 17, 2014

Miguel Macedo: os perigos e as virtualidades de uma demissão

  1. Não negando tudo o que tem sido dito sobre a situação de fragilidade política em que ficaria Miguel Macedo caso tivesse decidido manter-se no cargo de ministro da Administração Interna, com esta sua demissão, e como existem sempre duas faces na mesma moeda, Macedo está contudo a abrir um precedente grave: como não existe qualquer condenação dos aparentemente indiciados, nem sequer mesmo foi ainda deduzida acusação, de futuro, bastará ao Ministério Público, perante indícios mais ou menos suficientes ou até mesmo na ausência deles, e contando com a "prestimosa" colaboração dos "Correio da Manhã" deste mundo, efectuar algumas detenções nos orgãos do Estado, principalmente a alto nível, para levar um ou mais membros de um qualquer governo à demissão. Sabendo como as coisas funcionam e de como se efectuam condenações na praça pública e detenções com indícios tantas vezes irrelevantes, digamos que estamos a entrar por terrenos demasiado perigosos.O mesmo se passará quanto aos envolvidos no processo: seria legítimo suspenderem funções enquanto durasse a investigação, mas parece-me a demissão um exagero e, pior, uma admissão tácita de culpa. 
  2. Independentemente da opinião positiva que possamos ter sobre a atitude de Miguel Macedo (um ministro razoavelmente competente num governo desgraçadamente incompetente), quer-me parecer que Passos Coelho apenas terá acabado por ceder aos seus pedidos de demissão porque esta encerra em si algumas virtualidades. Elogiado por quase todos, suficientemente próximo de Passos Coelho mas não demasiado conotado com a ala radical do PSD actualmente no poder, dirigente experimentado do partido e dotado de bom-senso qb, Miguel Macedo poderá vir a ser trunfo e elemento de ligação importante em futuras negociações com o PS, bem como "ponte" a considerar entre tendências do partido no caso de derrota pesada do PSD/Passos nas eleições legislativas. Oportunidade demasiado importante para não ser aproveitada.

domingo, novembro 16, 2014

sexta-feira, novembro 14, 2014

Friday midnight movie (108) - Hammer House of Horror (I)

(Emitido no Reino Unido a 13 de Setembro de 1980)
Legendas em português

Nota: "Hammer House of Horror" foi uma série de TV criada pela Hammer Films, constituída por 13 episódios com cerca de 50' cada,  que passou no Channel 4 entre Outubro e Dezembro de 1980. O "Gato Maltês" espera poder vir a passar aqui no "blog" a série completa.

Zombieland (6)

The Zombies - "I Can't Make Up My Mind" (Março de 1965)

"Vistos Gold": a compra de um direito?

  1. O alegado caso de corrupção no processo de atribuição dos "vistos Gold" tem pelo menos um mérito: demonstrar que o Estado português está disposto a permitir o acesso a um direito básico (a concessão do direito de residência a estrangeiros originários de países não pertencentes à UE), que deveria ser igual para todos, independentemente da sua condição, através da sua compra (no fundo, é do que se trata). Talvez não chegue ao ponto de dizer que estão a ser postos em causa direitos liberdades e garantias (e no limite...), mas fácil é perceber que, pelo menos, o Estado português está a dar um péssimo exemplo na forma como trata a questão da imigração e da igualdade de tratamento e de oportunidades para os que procuram o nosso país.
  2. Esse exemplo estender-se-à facilmente a outras áreas e a outros procedimentos: se o Estado considera legítimo, desejável e legal a compra de um direito, porque não o poderei fazer, mesmo que com recurso a métodos ilegais, em relação a quaisquer outras actividades? No limite, podemos considerar estarmos perante um apelo mais ou menos encapotado à corrupção. 
  3. Acresce que do modo como a lei está "desenhada", a oportunidade só pode mesmo atrair dinheiro e cidadãos de proveniências mais do que duvidosas, e com intenções que facilmente se adivinham, até porque estamos perante o primeiro passo, necessário, para que esses cidadãos venham a adquirir no futuro as nacionalidades portuguesa e europeia. Deixem-se, portanto, de mentiras piedosas e hipocrisia sobre o controlo do registo dos estrangeiros que a ela pretendem ter acesso. Por alguma razão a maioria dos que aproveitaram a benesse são cidadãos chineses, angolanos e russos, países onde não existe liberdade empresarial, são dominados por oligarquias e a corrupção está instalada ao mais alto nível da governação. Mas se o Estado português vendeu algumas empresas estratégicas ao Estado chinês e os investimentos do Estado angolano em Portugal, incluindo no sector sensível da comunicação social, atingem níveis elevadíssimos, onde está a surpresa?
  4. Ah, mas temos de atrair investimento estrangeiro, e para isso há que negociar e conceder facilidades. De acordo, mas convém lembrar isso sempre foi feito - e bem - com as grandes empresas que pretendiam instalar-se em Portugal, caso a caso e em função do seu interesse para a economia portuguesa (como deve ser, portanto),concedendo benefícios fiscais e outro tipo de facilidades e garantias de vária ordem (por exemplo, para "quadros" expatriados"). Mas não me consta alguma vez tal tenha acontecido, pura e simplesmente, através da compra de um direito básico.
  5. Ah, mas existem leis semelhantes em outros Estados europeus e portugal tem de ser competitivo na captação de investimento estrangeiro. Em primeiro lugar, como digo no ponto 4., existem muitas maneiras de atrair investimento estrangeiro sem colocar em causa a igualdade de tratamento no acesso a direitos fundamentais. Em segundo lugar, é altamente questionável o interesse, actual e futuro, do investimento que tem sido captado através dos "vistos Gold", bem como do "caldo de cultura" negativo que pode e já está a gerar na sociedade e no relacionamento entre os cidadãos e a política (e isso também conta, e muito). Por último, a facto de tal medida poder ser comum a muitos países da UE só demonstra, infelizmente, o estado de "abandalhamento" em que se estão a deixar cair muitas das democracias liberais, o que não augura nada de especialmente positivo para todos os que nelas se reconhecem. E se tentássemos copiar, das democracias liberais mais desenvolvidas, fundamentalmente os bons exemplos?
  6. Já agora, um aparte: quantos dos defensores da actual lei que rege a concessão de "vistos Gold" já não se manifestaram - muitas vezes até com despropositado radicalismo, note-se - contra a presença nas selecções nacionais de futebol de ex-cidadãos estrangeiros que adquiriram a nacionalidade portuguesa cumprindo todos os requisitos legais e em condições de igualdade com quaisquer outros estrangeiros em idênticas circunstâncias, isto é, não comprando esse direito? Pois...

quarta-feira, novembro 12, 2014

4ªs feiras, 18.15h (98) - "Nouvelle Vague" (IV)

"L'Enfant Sauvage", de François Truffaut (1970)
Filme completo c/ legendas em português

Frivolidades ou coisas de "gajo": a "Herring Shoes"

O "Gato Maltês" confessa tem uma costela de Imelda Marcos no masculino: gosta muito de sapatos. Mas tem um problema com os "chinelos" de quarto (ou melhor, tinha). Isto porque gosta muito do modelo da Church e não tem nem nunca terá coragem de pagar o preço devido por tal coisa. Acharia mesmo pornográfico. Por isso, e até agora, por cá comprava um modelo não demasiado diferente, mas que não só não era a mesma coisa como deixava algo a desejar em termos de qualidade. Mas disse "tinha" porque finalmente, graças a uma dica de um amigo, descobriu a "Herring Shoes", onde pôde finalmente comprar o modelo igual ao da Church, marca "Herring Shoes", a um preço abordável e ainda com 20% de desconto sobre esse tal preço abordável. Encomenda feita na passada 2ª feira e entrega aqui em Lisboa há pouco mais de 1/2 hora. Impecável, até na embalagem: dentro da habitual caixa, enrolados em flanela, brochura da Herring Shoes, calçadeira e lata de graxa da cor dos ditos "xanatos" ("bordeaux") - tudo a condizer, portanto. Com tudo isto (incluindo o desconto), o preço foi praticamente o mesmo do tal modelo indígena não demasiado diferente, sendo a única diferença relevante o custo dos portes (£7.50). Olho para eles e acho até vou ter pena de os usar...

terça-feira, novembro 11, 2014

domingo, novembro 09, 2014

Matiné de Domingo (84)


"The Razor's Edge", de Edmund Goulding (1946)
Filme completo c/ legendas em francês

Do circunspecto ministro Pires de Lima

Não sou dos que acham a Assembleia da República deva ser um conjunto de meninos de coro, aprumados, bem afinadinhos, angelicais, onde o recurso a alguma palavra ou expressão tida como mais ousada possa ser motivo de escândalo. Aliás, qualquer país com cultura democrática a tradição parlamentar é exactamente o contrário de tal coisa, não sendo raro o recurso aos radicalismo e violência discursivas, às expressões irónicas e jocosas, aos risos e pateadas e aos apartes com maior ou menor sentido de humor. Apesar de tudo, vamos já longe das "bengaladas" e das polémicas que se arriscavam a acabar num qualquer descampado no dia seguinte pela alvorada. Quem não tem capacidade ou poder de encaixe para tal, melhor será que se dedique a outras áreas da política ou a "caçar gambozinos". 

Exactamente por isso, e sendo dos que consideram grave falta desrespeitar o parlamento (por exemplo, mentindo, como manifestamente o fez a actual ministra das Finanças, ou prestando falsas declarações) não sou dos que pensam o ministro Pires de Lima, pese embora o inequívoco mau gosto revelado na forma escolhida para se expressar e que nada tem a ver com a sua habitual imagem de pessoa circunspecta, faltou ao respeito à Assembleia da República com aquela sua cena das "taxas e taxinhas". Terá, isso sim, contribuído para criar uma pior imagem de si próprio, alguém que me parece nada acrescentou no cargo ao tão vilipendiado ministro Álvaro mas que, ao contrário do seu antecessor, tem beneficiado daquilo a que se convencionou chamar "boa imprensa". Digamos que Pires de Lima, um membro do governo que, como disse - e beneficiando dos favores mediáticos - tem sabido resguardar-se, escolheu mal o "mood & tone" da sua intervenção e, muito justamente, está e virá a pagar o preço justo por essa sua escolha. Tanto pior para si e para o governo de que faz parte.    

sexta-feira, novembro 07, 2014

Friday midnight movie (107) - Gothic/Horror (XXII)

"The Monster Club", de Roy Ward Baker (1981)
Filme completo c/ legendas em português

António Costa disse 130 páginas?

Apresentar uma moção de estratégia com 130 páginas é um convite a que ninguém a leia e um sintoma de que estaremos perante generalidades mais ou menos avulsas e não perante uma estratégia consequente. É que para apresentar uma estratégia não são necessários mais do que dois ou três parágrafos, curtos (e estou a ser generoso), seguidos de uma meia dúzia de medidas emblemáticas - ou "planos de acção" - que expliquem como a pôr em prática. Ou será que a intenção é mesmo ninguém leia a tal moção ou apresentar um documento que dê para (quase)tudo?

Vamos lá ver uma coisa: quando se fala em "mais do mesmo" não estamos apenas a falar em manter a mesma política; estamos, também, a falar em manter os mesmos vícios e os mesmos métodos, já que os processos não são estanques. E se falamos em "abrir os partidos à sociedade civil" (seja lá o que isso for - com "primárias", "partidos de eleitores", etc), de certeza não será como moções de 130 páginas, mas com ideias claras e sucintas, que se avançará o que quer que seja nesse sentido. Vale?

quinta-feira, novembro 06, 2014

Fats Domino & Imperial Records (11)

"Blueberry Hill" (Imperial 5407 - Setembro de 1956)

António Costa: um bom sinal

O PS de António José Seguro deveria, a seu tempo, ter negociado com o actual governo a reforma dos tribunais (novo mapa judiciário); este era um daqueles pontos em que seria indispensável um compromisso e o PS/Seguro poderia desse modo ter feito valer alguns dos seus pontos de vista sobre a matéria (se é que os tinha). Preferiu António José Seguro jogar a cartada populista para obter mais uns votos, prometendo tudo voltaria à "primeira forma" logo fosse governo. Agora, e muito bem, independentemente dos pontos positivos e negativos da actual reforma, António Costa assume a herança, evitando o "faz e desfaz" tão frequente e, eventualmente, também as habituais e inerentes confusões. Da parte de António Costa é um bom princípio, de quem sabe o que é governar, sendo pena que não assuma também o erro que seria baixar o IVA da restauração para 13%. Mas para já estamos perante um bom sinal. Esperemos tenha continuidade.

quarta-feira, novembro 05, 2014

4ªs feiras, 18.15h (97) - Alain Resnais (I)

"On Connaît la Chanson" (1997) - a homenagem de Alain Resnais a Dennis Potter
Filme completo c/ legendas em português

O que me disse o jogo de ontem sobre Jorge Jesus e o SLB.

O jogo de ontem foi um bom (ou mau) exemplo do que tem sido o SLB esta época: dificuldade em sair a jogar desde terrenos recuados; lado esquerdo da defesa em sobressalto permanente, independentemente de quem ocupa a posição; incapacidade de ter bola e de a fazer circular; meio-campo deficitário; pontas de lança sem conseguirem marcar um "golito" que seja, para amostra; e tudo demasiado dependente de desequilíbrios no "um para um", de uma correria de Sálvio ou de uma qualquer genialidade de Gaitán, o que aumenta exponencialmente a possibilidade de perdas de bola em zonas proibidas numa equipa já de si em permanente desequilíbrio. No fim, e porque a A.S. Monaco é uma equipa inferior a qualquer dos "três grandes" da bola indígena, lá aparece um qualquer lance de inspiração. com o inevitável Talisca a resolver. Que o SLB esteja tão dependente de um miúdo brasileiro quase desconhecido, de 20 anos, recém-chegado à Europa, é bem sintoma de que alguma coisa não estará bem.

Digamos que o modelo de Jogo de Jorge Jesus, demasiado dependente do valor e características das individualidades e inadequado para os grandes jogos, está esgotado nas suas potencialidades, significando isto que independentemente dos resultados que a equipa venha a conseguir a SAD do meu clube deverá ponderar seriamente a substituição do treinador no final da presente época.  

terça-feira, novembro 04, 2014

A condecoração

Aquilo a que o país assistiu ontem, no Palácio de Belém, não foi mais do que uma encenação, por vezes até patética, concertada entre os partidos apoiantes do actual governo e o Presidente Cavaco  Silva, que teve como objectivo principal reforçar a hipótese de candidatura a Belém de Durão Barroso. Os elogios despropositados de Cavaco Silva à influência positiva que a nomeação de Barroso terá tido para Portugal e o "branqueamento" do seu abandono do cargo de primeiro-ministro outra intenção não tiveram senão conceder ao agora ex-presidente da Comissão Europeia alguma "patine" da respeitabilidade patriótica necessária para uma candidatura ao cargo com hipóteses, mesmo que remotas, de vir a ser bem sucedida. De caminho, Cavaco Silva, com a despropositada pressa demonstrada na entrega da condecoração a Barroso, em contraste com o que acontece com acto semelhante envolvendo José Sócrates, não deixou por mãos alheias mais uma tentativa de humilhar o anterior primeiro-ministro, mostrando mais uma vez ao país que a mesquinhez é um dos traços relevantes do seu carácter. Só estranho como Sócrates ainda não teve a coragem e desassombro políticos de declarar publicamente que não aceitará qualquer condecoração das mãos do actual Presidente da República. Ficava-lhe tão bem como o actual silêncio lhe fica mal.

Já agora, não será estranho ver, num futuro muito próximo, Cavaco Silva, o governo e os partidos da actual maioria bastante empenhados na candidatura de António Guterres a um qualquer alto cargo internacional, tentando afastá-lo de uma candidatura a Belém. Só se não puderem.

segunda-feira, novembro 03, 2014

O "Gato Maltês" e os Championships 2015

Acabei de enviar para o All England Lawn Tennis & Croquet Club a minha inscrição para o "ballot" dos bilhetes para os Wimbledon Championships 2015. Agora é esperar até Março, fazer muitas "figas" e pensar que me pode calhar um "bilhetito" (que até nem são excessivamente caros) no rateio. É bem menos difícil e faria bem mais a minha felicidade do que o Audi da ministra Maria Luís. Caso não me calhe agora em sorte, continuarei a enviar enquanto tiver "saúdinha" e o governo (este ou futuros) não tiver "ideias" quanto à minha reforma. 

Billboard #1s by British Artists - 1962/70 (33)

The Beatles - "All You Need Is Love" (19 de Agosto de 1967)

"Back in business" depois de uns dias "holandeses"

Tinha estado a última e única vez em Amesterdão já lá vão 41 anos; depois disso, tanto a minha vida profissional como a pessoal levaram-me a outros rumos e, por uma ou outra razão, acabei por nunca voltar. Até agora.

Em 1973, Amesterdão era uma cidade libertária e libertina, os "provos" tinham sido eleitos há poucos anos para o Conselho Municipal e a cidade era ainda refúgio de hippies tardios. Para mim, na casa dos vinte anos, a viver sob uma ditadura ultra-conservadora e recentemente saído do serviço militar obrigatório, claro que a cidade foi uma revelação, um "happening", isto apesar de já ter estado em Paris e Londres (Espanha não contava para estas coisas), ter uma família com raízes estrangeiras e um pai que, para a época, viajava regularmente e ia contando do que via.

Passados 40 anos, o espírito libertário desapareceu e o carácter libertino da cidade transformou-se em comércio rasca para o turismo de massas: as sex-shops confundem-se com as lojas de "souvenirs" para turistas, as raparigas das montras mais parecem figurantes pagas pelo município para manter artificialmente o tal espírito libertino e na Damplein e ruas próximas pululam restaurante rascas, pseudo-étnicos. Mas alguns canais, principalmente o Egelantiersgracht, mantêm o seu encanto, alguns cafés e bares também valem o nosso tempo, o Rijksmuseum e o bairro dos museus valem sempre uma visita demorada (também o museu Van Gogh, para os apreciadores - não sou) e até se pode ter a sorte de haver algo que valha a pena ouvir e ver no  Concertgebouw. Ah!, e na Amsterdam Centraal há excelentes comboios que nos levam a Utreque, Haia (Den Haag), Leiden, etc. E essas, sim, valem bem a pena.