sábado, junho 29, 2013

Documentário de sábado (12 - b)

"In The Highest Tradition" (2/6)
"First transmitted in 1989, this is the second in a six-part series which delves into the world of regimental tradition. This film includes the story of Millie the Mule and just why a rose is still eaten, raw, in one battalion's mess. It also features the 'White Helmets' a team of motor cycle stunt riders. One team of retired soldiers has an average age of 74 years but they still meet up to perform stunts in front of their successors."

O "déficit" da Cavaco

Ao afirmar que "acredita a meta anual do "déficit" vai ser cumprida" e ao desvalorizar os números reais do primeiro trimestre mesmo que eles não possam ser directamente extrapolados para o total do ano - e não podem, Cavaco Silva liga uma vez mais o seu destino e o desempenho da função presidencial aos do governo ao qual, vá lá saber-se porquê, resolveu um dia colar-se, abdicando de valorizar qualquer autonomia política que lhe possibilitasse vir a desempenhar um qualquer outro papel. Caso, como parece ser bem provável, o governo venha a falhar o cumprimento dos objectivos anuais do "déficit", Cavaco Silva não deixará assim de vir a ser considerado como um dos principais responsáveis por tal falhanço nas justas críticas que então se farão ouvir. Espero não vir o sofrer as consequências do que vou dizer de seguida, mas, francamente, já me parece estupidez a mais.

sexta-feira, junho 28, 2013

Friday midnight movie (48) - Grindhouse/Slasher (VIII)


"Happy Birthday To Me", de J. Lee Thompson (1981)
Filme completo c/ legendas em castelhano

Regimental Ties (23)

The South Wales Borderers Regimental Tie


The South Wales Borderers Quick March - "March Of The Men Of Harlech"

"When I Woke Up This Morning" - original blues classics (33)

Darby & Tarlton - "Slow Wicked Blues"

Daniel Bessa na "Quadratura do Círculo"

Deixemos de lado a greve geral, não por falta de importância ou de matéria, muito menos por desconsideração, mas porque, um pouco por todo o lado, já se disse tudo ou quase tudo sobre o assunto. E deixando de lado a greve geral e os golos de Bruma (amigos "lagartos", vão ver-se "à rasca" para o segurar até que consiga render-lhes bom dinheiro) o momento do dia foi a passagem de Daniel Bessa, economista, professor catedrático e ministro da Economia do governo de António Guterres, pela "Quadratura do Círculo". E porquê? Porque foi não só exemplo acabado de um académico prestigiado(?) que mais não fez do que alinhavar, num discurso, aliás, confuso e incoerente, alguma da vulgata mais primária do ultra-liberalismo, incapaz de um qualquer raciocínio político inteligente e mais aprofundado sobre a actualidade europeia e nacional, como se sujeitou, desse modo, a ser literalmente humilhado (é o termo), quase achincalhado, pela profundidade e capacidade de análise política de José Pacheco Pereira e também, embora em menor grau, de António Costa - que, aliás, até pareciam manifestamente incomodados com a situação gerada. Direi que em função do "curriculum" do convidado foi dos momentos mais penosos a que me foi dado assistir em televisão nos últimos tempos.

Mas a questão não se fica por aqui. Daniel Bessa foi ministro da Economia de um governo socialista, na segunda metade dos anos noventa. E das duas uma: ou mudou desde esse tempo, de forma radical e talvez demasiado rapidamente, a sua visão do mundo e da vida, ou o Partido Socialista tem muito pouco cuidado na escolha dos seus governantes. Isto, claro está, não querendo acreditar que a triste imagem transmitida ontem por Daniel Bessa seja o espelho do estado a que o PS chegou. Não quero mesmo.

quinta-feira, junho 27, 2013

História(s) da Música Popular (212)

The Crystals - "Da Doo Ron Ron"

Phil Spector (X)

Gravado também em Março de 1963 e composto, com Spector também a dar uma "ajudinha", pela mais do que célebre parceria Ellie Greenwich - Jeff Barry, cujos temas mais conhecidos aqui pelo "rectâgulo" talvez sejam "River Deep, Mountain High", de Ike & Tina Turner, e "Doo Wah Diddy Diddy", na versão dos Manfred Mann, "Da Doo Ron Ron", apesar de nunca ter chegado a #1 (ficou-se por #3 nos USA e #5 no UK e foi uma sorte), é seguramente dos temas mais conhecidos da música popular e das Crystals "verdadeiras" (uma confusão, não é? Não admira a vida de Spector tenha acabado também na maior das confusões). Os arranjos, claro, são mais uma vez de Jack Nitzsche.

Bom, que mais há a dizer? Segundo aqui o meu "calhamaço" de "Back to Mono", parece que no final da gravação Spector terá perguntado a Sonny Bono (esse mesmo): "Is it dumb enough"?, ou seja - palavras de Sonny Bono - "Is everybody going to get the simplicity of this"? Ao que Sonny Bonno terá respondido: "Man, that sure is dumb enough". Spector, que gostava sempre de ter a última palavra, terá retorquido: "No Sonny, that's gold!" "Solid gold coming out of thar speaker". 

Porque foi importante a vitória de Michelle Brito

Para os que acham o resultado de ontem de Michelle Brito foi apenas uma vitória na segunda ronda do torneio de Wimbledon, aqui vai um conjunto de razões que pretendem demonstrar foi muito mais do que isso:
  1. Michelle Brito não se limitou a ganhar à nº 3 do mundo. Ganhou em apenas dois "sets" a Maria Sharapova, vencedora de todos os torneios do "Grand Slam" (Wimbledon 2004, US Open 2006, Open da Austrália 2008 e Rolland Garros 2012), finalista de Wimbledon no ano passado e a jogadora mais mediática do mundo.
  2. E não o fez num torneio qualquer. Wimbledon, pela sua tradição e rituais, por se jogar em relva, é o mais importante torneio do "Grand Slam", um dos eventos desportivos de maior relevo do ano.
  3. O encontro teve larga cobertura mediática e transmissão televisiva para todo o mundo, à qual devem ter assistido largos milhões de espectadores.
  4. Foi o primeiro resultado de efectivo destaque do ténis português.
  5. Foi um resultado desportivo conseguido numa modalidade que, para o bem e para o mal, tem uma tradição de elitismo, mas é, hoje em dia, das mais importantes e mediáticas a nível mundial (os seus principais jogadores são autênticos ídolos e "pop stars" em todo o mundo) e na qual não se entende muito bem como um país desenvolvido como Portugal não consegue ter 1/2 dúzia de jogadores/jogadoras consistentemente entre os/as cinquenta primeiro(a)s do "ranking.
  6. Foi um resultado conseguido por uma jogadora que muito prometeu enquanto adolescente, mas passou nos últimos anos por um largo período de obscuridade. Uma vitória que pode assim constituir um excelente incentivo para o relançamento da sua carreira.
  7. Muito jovem, simpática e com "um palminho de cara", este pode ser o resultado de que Michelle Brito precisa para atrair para si o interesse de alguns patrocinadores nacionais, permitindo-lhe maior desafogo financeiro e gerir melhor a sua carreira.
  8. Por acréscimo, atraiu para o ténis português uma pouco habitual notoriedade mediática, da qual este desporto pode bem vir a beneficiar. Esperemos que sim.

terça-feira, junho 25, 2013

Professores e ministério: um caso exemplar

Concorde-se ou não com ela, a greve dos professores tinha objectivos concretos e bem definidos: lutar contra o chamado regime de mobilidade especial e as 40 horas de trabalho semanal. Estávamos, portanto, perante uma negociação que colocava em cima da mesa questões de ordem laboral, e não perante objectivos, digamos assim, "macro-políticos" (demissão do ministro ou do governo, etc, etc) ou de ordem mais geral e abstracta (contra a "austeridade", a "troika", etc). A greve foi, portanto, e neste caso, uma arma utilizada no sentido de dar mais força à posição negocial dos professores, fragilizando a posição do ministério de Nuno Crato e obrigando-o a maiores cedências. Tal como, aliás, e do lado do ministério, o foi o recurso à convocação de todos os professores para o dia da realização do exame de Português. 

Não negando aos portugueses, como é óbvio, a legitimidade de fazerem greves por razões "macro políticas" ou de carácter mais abstracto, desde que respeitando a legalidade, penso que o acordo agora alcançado entre sindicatos e ministério da Educação é o corolário lógico de um processo negocial difícil mas exemplar, que prova a negociação, mesmo que nela ambas as partes possam recorrer por vezes a posições mais extremadas para fazerem valer as suas posições, acaba, na maioria das vezes, por compensar. Claro que o facto de estarmos neste caso perante dirigentes sindicais e um ministro ambos com larga experiência e sólidos conhecimentos e formação política só pode ter ajudado, mas até por isso mesmo estamos perante um caso que, no seu desenvolvimento e conclusão, pode ser visto como exemplar e que a democracia só pode saudar.

Nota final: que dirão agora Marcelo Rebelo de Sousa e Miguel Sousa Tavares, que consideraram a greve dos professores se saldou por uma derrota dos sindicatos?    

Adriano Correia de Oliveira e Manuel Alegre (7)

"Capa Negra, Rosa Negra" (Manuel Alegre - António Portugal/Adriano Correia de Oliveira)
Do EP "Trova do Vento que Passa" - 1963

Governo: à beira do fim?

Qualquer governo, qualquer poder mesmo que não democrático, tem que possuir uma "base social de apoio", isto é, tem de ter na sua base um conjunto de classes e grupos sociais que nele, nas suas acções e no modo como governa e exerce o poder, se reconheçam, dele directa ou indirectamente beneficiem ou esse apoio seja concedido apenas - ou fundamentalmente - por razões de natureza ideológica. Isso aconteceu, por exemplo, com a ditadura salazarista, que depois de conseguir, nos seus primeiros anos, congregar uma relativamente ampla base de apoio social - que, no fundo, apenas excluía uma boa parte do operariado industrial e agrícola e alguma burguesia liberal urbana - a foi perdendo a partir do final dos anos 50 do século XX, até cair, sem base de sustentação que se visse, em 1974, quando até uma parte significativa da grande burguesia industrial e financeira clamava por reformas profundas e abertura democrática.

Lembrei-me disto ao ler hoje estas declarações das confederações patronais, que mais parecem um verdadeiro toque a finados por um governo que, como verdadeira vanguarda que se assume, já não consegue congregar apoio significativo em lado algum. Ou melhor, talvez encontre a sua base social de apoio, a sua razão de ser e as razões que o sustentam, fora das fronteiras do país, agindo e comportando-se assim como um qualquer governo de uma qualquer potência ocupante. Que as afirmações de CIP, CAP e CCP revelem mais do que apenas alguma identidade de pontos de vista com as últimas declarações de Paulo Portas/Pires de Lima e com as ideias que têm vindo a ser repetidamente expressas por António José Seguro, é bastante mais do que pura coincidência. Direi mesmo que é premonitório de novos tempos que se avizinham.

domingo, junho 23, 2013

Grand Prix (7) - Boavista (I)


Matiné de Domingo (31)


"Springtime in the Rockies", de Irving Cummings (1942)
Filme completo c/ legendas em português

Autárquicas: os problemas do PS

Embora me pareça que só teria a ganhar se fosse um pouco mais discreto, compreende-se o afã do PS ao querer transformar as eleições autárquicas num verdadeiro plebiscito ao actual governo. Mas ao manifestar de modo tão evidente esse seu desejo, o PS está também a subir a sua própria fasquia, e só um resultado que se traduza numa votação esmagadora para o partido lhe permitirá apresentar-se como uma forte alternativa governamental. Ora para o conseguir o partido enfrenta desafios complicados:
  1. As eleições autárquicas são fundamentalmente eleições locais, principalmente nas zonas rurais e pequenos aglomerados urbanos, onde, para além da questão partidária ser muitas vezes subalternizada, concorrem muitas listas apartidárias, de cidadãos. Numa conjuntura em que a imagem dos partidos "está pela hora da morte", não custa a crer tais listas possam vir a recolher votação significativa, reduzindo o resultado global do PS.
  2. Muitos dos candidatos apresentados pelo PS, mesmo em zonas urbanas tão importantes como Porto, Matosinhos e Cascais (há outros), estão longe, para não dizer muito longe, de serem minimamente entusiasmantes, mesmo para o eleitorado local mais fiel do próprio partido.
  3. Uma forte abstenção é previsível, o que aumenta o risco de resultados inesperados.
  4. Mostram as sondagens que os socialistas, globalmente, e embora liderando, estão longe de entusiasmarem o eleitorado, o que pode também vir a ter reflexo nos resultados dos principais centros urbanos.
  5. Por último, o PS, ao transformar as eleições autárquicas em nacionais, não só está a passar um género de atestado de incompetência aos seus candidatos, quase os acusando de não serem, por si sós, capazes de mobilizarem o eleitorado, como, em alguma medida, parece passar igual atestado aos cidadãos, sugerindo que talvez estes não sejam capazes de discernir com justeza quais os melhores autarcas para dirigirem o seu concelho ou freguesia.
Digamos que para os objectivos do PS seria bem melhor a ordem das eleições fosse trocada e, assim sendo, o que viria agora mesmo a calhar seriam as europeias. Talvez seja mesmo por isso que o partido mostre tantas dificuldades em se adaptar.

sábado, junho 22, 2013

Documentário de sábado (12)

"In The Highest Tradition" (1/6)
"First transmitted in 1989, this is the first episode in a six-part series which delves into the world of regimental tradition. This programme includes looks at the origins of Emperor Joseph Bonaparte's chamber pot, a druid oration and the story of goat who escaped being eaten to become a regimental mascot."

sexta-feira, junho 21, 2013

Friday midnight movie (47) - Giallo (VIII)

"Phenomena", de Dario Argento (1985) 
Filme completo c/ legendas em português

O "Gato Maltês" recomenda

O novo livro de Pedro Adão e Silva

Uma vez mais os "subsídios"

Quem viu ontem a "Quadratura do Círculo" facilmente chega à conclusão que, do ponto de vista contabalístico/matemático, António Lobo Xavier tem razão: se o governo optasse por pagar agora a totalidade do subsídio de férias a funcionários públicos e pensionistas, uma vez que já pagou em duodécimos metade do valor do subsídio de Natal, estes ficariam a ganhar quando comparada a situação com um ano "normal", isto é, com ambos os meses-extra de vencimento recebidos em Junho e Novembro, como era regra. O problema é que, em primeiro lugar, esta argumentação tem todo o ar de ter sido construída "a posteriori" (foi Lobo Xavier, que até nem é membro do governo, a primeira personalidade da área da "maioria" a explicitá-la) e, em segundo lugar, a questão não se limita, nem é na sua essência contabilística, é política, e sendo o governo um orgão de Estado a quem compete fazer política, acabou por se demitir desta sua função essencial dando azo a um sem número de contra argumentações, estas sim, de ordem política, desde o querer "vingar-se" do Tribunal Constitucional, à intenção de chegar a Novembro e, de um ou outro modo, não pagar, passando pelo objectivo bem claro de contrair ainda mais a procura interna (útil ouvir e ler o que Pedro Lains tem dito e escrito sobre o assunto). Pelo caminho indispôs cerca de três milhões de portugueses e colocou a nu as contradições entre vários organismos de Estado, principalmente entre governo e um número não negligenciável de autarquias.

Digamos que politicamente foi um desastre, mas que serve pelo menos para demonstrar de forma clara, agora dito pela voz de Lobo Xavier, a tese dos que defendem, como eu, que é vantajoso para todos - Estado, empregados e empregadores - integrar os chamados 13º e 14º mês no salário anual e pagar este em doze prestações. Existindo aqui base para um consenso (António Costa demonstrou ontem não se opor à ideia e os portugueses não são estúpidos, perceberiam dos benefícios), e até podendo ser deixada a opção às empresas privadas, confesso não entendo as hesitações.

quinta-feira, junho 20, 2013

Zarzuela (7)

"Luisa Fernanda", de Federico Moreno Torroba Início

Intérpretes: Plácido Domingo. Nancy Herrera. José Bros. Mariola Cantarero. 
Dirección escénica: Emilio Sagi.
Coro y Orquesta del Teatro Real de Madrid (Coro y Orquesta Sinfónica de Madrid). Director: Jesús López Cobos. 
Coreografía: Nuria Castejón.
Producción del Teatro Real, Madrid 2006.

Cinema e Rock & Roll (nº extra)

"Velvet Goldmine", de Todd Haynes (1998)
Filme completo c/ legendas em castelhano

Subsídios e duodécimos

A propósito da polémica sobre os impropriamente chamados "subsídios", um "post" publicado neste "blog" no dia 19 de Novembro de 2012.

"Na explicitação dos "prós e contras" sobre o recebimento de um ou mais dos chamados subsídios de férias e Natal em duodécimos, existe uma questão que ainda não vi ser levantada. Independentemente de, na realidade, o que existe ser um ordenado anual que, por razões históricas, é pago em catorze prestações, duas delas coincidindo com o Natal e as férias do trabalhador, de facto, a sua diluição mensal constitui sempre um benefício para o trabalhador. Pouca gente se apercebe que um empregado, pago mensalmente, adianta sempre dias de trabalho ao seu empregador, de um a trinta, só recebendo a sua retribuição no final de um mês de trabalho. Se em períodos de baixa inflação tal não é muito penalizador, em épocas de inflação elevada traduz-se, de facto, numa perda de valor para quem recebe um salário mensal. Durante a hiper-inflação de Weimar, por exemplo, os trabalhadores chegaram a ser pagos duas vezes ao dia para que o seu salário, ao fim de um ou poucos dias, não perdesse todo o valor. No Reino Unido, o pagamento "à semana" foi durante muito tempo prática generalizada. Ora sendo o impropriamente chamado subsídio de Natal parte integrante do vencimento e sendo pago obrigatoriamente apenas em Dezembro (normalmente tal acontece com o ordenado do mês de Novembro), quem recebe um ordenado acaba por adiantar quase todo um ano de trabalho em troca de uma parte da sua retribuição (o tal "subsídio de Natal) diferida no tempo e que poderia, entretanto, ter aplicado financeiramente ou gasto em condições mais vantajosas, isto é, sem ter ainda sofrido qualquer desgaste inflacionista, mesmo que diminuto. Idêntico raciocínio, com as devidas adaptações, se poderá fazer em relação ao subsídio de férias.

Claro que existem hábitos desde há muito enraizados e a integração dos subsídios nos recebimentos mensais requer adaptações do lado das famílias, pelo que um período mais ou menos longo de transição seria bem-vindo. Também me parece não ser despropositado que sendo o pagamento em duodécimos, em termos gerais, também favorável às empresas, por questões de tesouraria, alguma liberdade negocial fosse deixada a empregadores e empregados. Mas pelo que tentei explicar não me parece possam existir sérias objecções de fundo, de qualquer das partes, à implementação da medida. E, last but not least, deixariam tais "subsídios" de ser vistos quase como uma "benesse", passando a ser definitivamente encarados como aquilo que efectivamente são: parte integrante e inalienável do salário dos trabalhadores."

quarta-feira, junho 19, 2013

4ªs feiras, 18.15h (39) - "Noir" (IV)


"Suddenly", de Lewis Allen (1954)
Filme completo c/ legendas em francês

Miguel Poiares Maduro: "ai mi gabardine"!



Nos meus tempos de juventude chamar-se-ia a isto um discurso "à Cantinflas", evocando os célebres e confusos monólogos do actor Mário Moreno, ao estilo de pequeno mas simpático vigarista, que acabavam invariavelmente com a expressão "ai mi gabardine!"

Confesso me custa a entender porque razão este governo, tendo desde sempre uma ideia clara sobre o que pretendia do Estado, incluindo a possibilidade de redução do número de funcionários públicos, não o assumiu desde o início e se deixou enredar num discurso confuso na aparência, com laivos de "cantinflinesco" ou de pequeno aldrabão de feira, que parece querer fazer dos portugueses estúpidos. E as pessoas podem perdoar muita coisa, mas que façam de si estúpidos não me parece seja uma delas. 

terça-feira, junho 18, 2013

Jan & Dean - os outros "rapazes da praia" (3)

"Dead Man's Curve" (Jan Berry-Brian Wilson-Roger Christian-Artie Kornfeld) 

Greve dos professores: uma questão moral ou política?

Nos últimos dias, tenho visto e ouvido demasiadas vezes a greve dos professores ser analisada de um ponto de vista estritamente moral, isto é, culpando-se sindicatos e ministério por ser moralmente condenável sujeitar os alunos às consequências de uma greve em dia de exames. É, quanto a mim, um ponto de partida errado para se analisar a questão. Estamos, isso sim, perante uma questão eminentemente política, que opõe governo e sindicatos dos professores em torno de uma visão antagónica do que deve ser o país em questões tão fundamentais como o horário de trabalho, salários e emprego, e é como tal que ela deve ser analisada. E deste ponto de vista, devo dizer que, partindo de uma posição bastante frágil já que bastava uma percentagem relativamente baixa de professores não aderir à greve para que os exames se realizassem com alguma normalidade (sempre pensei, por isso mesmo, a Fenprof acabasse por aceitar um acordo de última hora - mas enganei-me), os sindicatos averbaram uma confortável vitória: cerca de 1/3 dos exames não se realizou e, dando de barato a alegada questão das "irregularidades", que estão por comprovar, o caos foi mais ou menos instalado no dia do exame e estará ou não para durar em torno do problema das "desigualdades". O ministro e o ministério foram, pois, colocados em sérias dificuldades, e esse era o objectivo político. Acresce que ficou mais ou menos provado que existiam datas alternativas, o que comprova também, da parte de Nuno Crato, a assunção do carácter político do confronto.

Certo, dir-me-ão, mas os portugueses vão acabar por se virar contra os professores e desse modo conceder um novo fôlego ao governo. Enfim, estou longe de acreditar tal venha a ser o resultado. Em primeiro lugar por razões da história recente: mesmo lutando por objectivos meramente corporativos, no pior sentido do termo, em que não se lhes assistia qualquer razão e me parece colhiam a antipatia de uma maioria dos portugueses, as greves e manifestações de professores durante o primeiro governo de José Sócrates, que estava longe dos níveis de impopularidade do governo actual, acabaram por ser o ponto de partida para a perda da maioria absoluta e levaram mesmo à substituição da ministra Maria de Lurdes Rodrigues por uma profissional de "relações públicas" (Isabel Alçada). Em segundo lugar, e para além da impopularidade extrema do actual governo (e grande parte das pessoas acaba sempre por penalizar - e correctamente - quem governa pelos problemas do país), estamos perante uma luta contra o aumento do horário de trabalho, os cortes de salários e os despedimentos, problemas que não afectam apenas os professores, mas toda a função pública, reformados, pensionistas e os portugueses em geral, mesmo os que trabalham no sector privado como empregados ou empregadores. No fundo, uma luta contra a política recessiva e de empobrecimento, o que digamos faz toda a diferença. 

segunda-feira, junho 17, 2013

Chansons historiques de France (5)

Marcelle Bordas (1897-1968) - "Ah, que la France est belle!" (1941) 
Letra: Pierre Bayle, Música: G.Gabaroche e Jacque-Simonot.

"Chanson dans le ton de la "rénovation nationale" voulu par le maréchal Pétain après la défaite de Juin 40" 

Victor Palla (10)

 Capa do volume dedicado a Somerset Maugham na colecção "Antologia do Conto Moderno"
Atlântida Livraria Editora (1947)

Seguro e os seus silêncios

António José Seguro foi um dos que cavalgou a onda anti-socrática para chegar ao poder; primeiro no partido e depois no país, uma vez findo, em 2015 ou antes disso, o prazo de validade do governo que ajudou a eleger. E para esse seu exercício de "surf" escolheu o silêncio, atitude esta que esteve também presente quando os professores e os seus sindicatos representativos, dessa vez sem razão, atacaram algumas reformas (aulas de substituição, avaliações credíveis, reforma das carreiras) que a ministra Maria de Lurdes Rodrigues, embora por vezes com alguma inabilidade política, tentava implementar para melhoria da escola pública. Foi também por esse silêncio que Seguro optou - qual período da História que, à boa maneira "estalinista", se pretende ver apagado - face ao período de governação de José Sócrates e tem sido quase também esse silêncio, aqui e ali quebrado a medo, quase em surdina, por uma ou outra crítica suave, a estratégia seguida por Seguro no relacionamento do seu partido com o Presidente da República, mesmo quando este não se coíbe de lhe bater "forte e feio". Digamos que um silêncio não comprometedor perante as questões concretas se transformou na sua "marca de água", preferindo optar por posições mais claras apenas em princípios de natureza suficientemente vaga e genérica e que, nas circunstâncias actuais, sabe pouco ou muito pouco dependem de qualquer governo de Portugal.

Claro que, prisioneiro que se tornou do seu silêncio, gostaria Seguro de o ter mantido face à greve dos professores, mas, instado a pronunciar-se, fê-lo igualmente pelo silêncio das palavras, optando por um inócuo apelo ao bom-senso e permitindo que o partido que dirige tivesse quase tantas posições face ao assunto como o número dos seus dirigentes com voz mediática, desde o "contra" radical do palavroso Assis, à simpatia da chamada ala socrática, passando pelo oportunismo e tremendo erro político de António Correia de Campos ao afirmar que os portugueses se iriam em massa revoltar contra os professores fortalecendo assim o governo. 

É provável, é mesmo mais do que provável, que o silêncio leve António José Seguro ao lugar de primeiro-ministro. Mas para os que, como eu, acreditando na democracia liberal e representativa, se assumem como adversários do actual governo, ter como opção votar no silêncio de Seguro é quase suficiente para transformar qualquer sonho em pesadelo. Enfim, talvez entretanto acorde e se dê um não esperado milagre.

"Shame on you", ministro Crato

Está instalada a "salganhada" nas escolas perante o silêncio de um Ministério que, envergonhado, deixa o espaço mediático "todinho" à mercê dos sindicatos e dos alunos. Estes, claro, com um Mário Nogueira exultante à cabeça, aproveitam a "graça concedida". Se prova adicional do amadorismo e do radicalismo voluntarista de quem nos governa fosse necessária (não é), ela estaria aqui bem à vista. "Shame on you", ministro Nuno Crato e lembre-se que logo à noite pode vir dizer o que quiser, pois independentemente de tudo o que possa vir a afirmar, já perdeu a sua batalha hoje de manhã. É que entre governar e "mandar uns palpites" mais ou menos populistas em qualquer Plano Inclinado vai uma grande distância, sabia? 

domingo, junho 16, 2013

A greve, os professores e a greve dos professores

Ora vamos lá deixar-nos de hipocrisias que é coisa que me põe doido. Sempre que trabalhadores decidem levar a cabo uma greve, e para que esta seja eficaz, o seu interesse é causar o maior dano possível à "outra parte", isto é, ao lado contra o qual a greve é produzida, normalmente a sua entidade patronal. Assim, e falando do sector privado, sempre que possível os trabalhadores tenderão a marcar a sua greve num período correspondente a um "pico" de vendas e consumo dos produtos ou serviços produzidos pela sua entidade empregadora, Para dar um exemplo, e se estivermos a falar das gasolineiras, o ideal para si será a greve tenha lugar no período de férias dos cidadãos, quando o consumo de combustíveis é mais elevado. Se (outro exemplo) estivermos na presença de uma greve do comércio a retalho, das grandes superfícies comerciais, já o período preferencial para levar a cabo a greve será possivelmente o Natal. E assim sucessivamente. Fácil de perceber que causando assim maiores danos à entidade empregadora, também causará transtornos acrescidos à generalidade dos cidadãos, que se verão assim impedidos de partirem para uma férias há muito marcadas e pagas ou de comprarem o que precisam para a consoada e ofertas de Natal. Haveria muitos mais exemplos, mas deixo a cada um o exercício.

Se agora falarmos da função pública e empresas do Estado, o objectivo será o mesmo e, mantendo-se o raciocínio, os trabalhadores do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (é mais um exemplo) marcarão a sua greve para o Verão, os dos transportes públicos urbanos nunca o fazem para os fins de semana, os das Finanças, possivelmente, pensarão fazer greve no período em que os contribuintes terão de declarar os seus rendimentos e os professores... claro, para o período de exames. Aliás, é exactamente para precaver danos que não podem ir além de certos limites que, para certos serviços, está estipulada a garantia de existência de serviços mínimos: alguns cidadãos têm sempre de se deslocar, terá de existir sempre um "stock" de gasolina para quem se desloca em situação de emergência, etc, etc. Devo no entanto dizer que, não sendo jurista, e não entrando por isso mesmo numa análise jurídico-legal da questão, tenho sérias dúvidas tais serviços mínimos se possam aplicar no caso da greve dos professores de amanhã, uma vez que os exames podem sempre ser, pura e simplesmente, transferidos para um outro dia sem grande prejuízo para pais e alunos, desde que tal seja feito atempadamente e de forma organizada.

Significa isto que estou de acordo com a greve marcada para amanhã? Bom, estive, nos últimos anos, frequentemente em desacordo com as reivindicações dos professores, mormente em questões como as "avaliações", o modo como se processa a progressão nas carreiras, as aulas de substituição e por aí fora. Aliás, difícil é estar ou ter estado de acordo com o funcionamento e a orgânica que presidem ao modo como está estruturado o ensino público em Portugal, apesar da indesmentível e evidente melhoria de resultados obtidos pelos alunos nos últimos anos. E não mudo sequer uma vírgula a essa minha opinião por, entretanto, ter mudado o governo. Mas como também não parto do princípio "besta uma vez, besta para sempre" - e como também nada me move de visceral contra os professores enquanto classe profissional - devo também dizer que no caso do aumento do horário de trabalho para as 40 horas semanais e no sistemático e enorme  corte de salários a que têm sido sujeitos os professores,  tal como os restantes funcionários públicos, estão cheios de razão. Aliás, vou até um pouco mais longe: não só considero ilegal qualquer corte unilateral de salários (estamos em presença de um contrato incumprido por decisão de uma das partes), como não percebo porque todos os funcionários públicos (há excepções, como sabemos, por razões muito específicas), incluindo os professores, são obrigados a cumprir o mesmo número de horas de trabalho semanais independentemente das funções que ocupam e tipo de trabalho que executam, não sendo, dentro de certos limites legalmente estabelecidos, deixada qualquer margem de manobra a direcções gerais, escolas, serviços, etc, etc. Tal parece-me um disparate e mostra bem que a intenção que preside ao aumento do horário de trabalho é apenas a de colmatar, de modo fácil, lugares deixados em aberto por futuros despedimentos, sem qualquer preocupação com reorganização de métodos de trabalho, procedimentos, eficácia e questões do mesmo tipo que poderiam vir, essas sim, a favorecer a qualidade dos serviços prestados e até o bem-estar dos servidores do Estado. Tenho mesmo para mim que o que vai acontecer será exactamente o contrário: uma diminuição da produtividade e da eficácia da maioria dos serviços públicos. Mas o modo e as razões que estão na base dos futuros despedimentos na função pública -  e não sendo eu, por princípio e em termos gerais e abstractos, contrário a que tal aconteça, desde que justificado e tendo na sua base princípios de racionalidade - é por si só uma aberração e daria direito a um enorme capítulo. A realidade o escreverá.

Matiné de Domingo (30)

"Aguirre, der Zorn Gottes", de Werner Herzog (1972)
Filme completo c/ legendas em castelhano

sábado, junho 15, 2013

Documentário de sábado (11)

"Black Music" - Des chaines de fer aux chaines en or
Documentário de Marc-Aurèle Vecchione
Co-produção Canal ARTE, PROGRAM 33 (2008)

Pergunta aos professores e Ministério da Educação

Seria assim tão anómalo e/ou complicado se cada escola ou agrupamento de escolas, de acordo com as suas necessidades e especificidades, pudesse definir, entre um máximo e um mínimo estabelecidos pelo ministério, o número de horas de trabalho dos seus docentes e tal fosse reflectido no respectivo salário? Claro que para que tal acontecesse muito teria de mudar na organização e funcionamento da escola pública, mas não o fazer apenas levará ao seu enfraquecimento e ao do papel essencial que deve e tem de desempenhar na formação dos cidadãos e no esbatimento das desigualdades.

sexta-feira, junho 14, 2013

Friday midnight movie (46) - Jean Rollin (II)

Filme completo c/ legendas em inglês

Passos Coelho: um CEO medíocre e inseguro

O discurso de Pedro Passos Coelho na abertura do debate quinzenal de hoje na Assembleia da República é um bom exemplo da linguagem, do tom e do léxico adoptados oficialmente por este governo e que derivam directamente do pensamento dominante nas mais importantes escolas de gestão (não consegui o link, infelizmente). Estamos perante um subalternização da linguagem e do raciocínio políticos, dos movimentos sociais, da História e da ideologia em favor de uma linguagem aparentemente tecnocrática em que tudo se reduz a "modelos", "fluxos", "valorizações" e "desvalorizações", "oportunidades" e "operações", hermetismo que mais não faz do que camuflar e suportar, na sua aparente tecnicidade, o pensamento político único, radical à direita, do "não existe alternativa.

Digamos que a retórica tradicional dos parlamentos tem também a sua responsabilidade neste "estado de coisas", pois foi o inquestionável esgotamento desse tipo de linguagem que acabou por abrir caminho a esta espécie de "novilíngua" agora dominante. Hoje, o discurso de Pedro Passos Coelho, que não frequentou nenhuma das grandes escolas de gestão, não exerceu funções de responsabilidade em nenhuma empresa de topo e, por isso, de Borges e Moedas apenas conseguiu captar o jargão e ser assim, de qualquer deles, uma espécie de sombra chinesa - algo que quer parecer mas não é - mais parecia uma má comunicação de um medíocre e inseguro CEO a uma assembleia geral de accionistas do que um discurso de um verdadeiro primeiro-ministro ao parlamento do país. No fundo, tratou-se de mais uma manifestação de desprezo pelos portugueses. Lamentável.

quinta-feira, junho 13, 2013

Jan & Dean - os outros "rapazes da praia" (2)

"Ride The Wild Surf" (Jan Berry - Brian Wilson - Roger Christian)
Do filme homónimo (1963)

Fenprof: o derradeiro confronto?

José Pacheco Pereira tem razão. E também me parece se prepara para a próxima 2ª feira um embate decisivo, a partir do qual nada ficará como dantes. Talvez mesmo os sindicatos, e especialmente a Fenprof e Mário Nogueira, venham a ter no próximo dia 17 de enfrentar a sua derradeira prova de força. Não tenho certezas, mas conhecendo o PCP, a "sua" CGTP e o modo como funcionam, não me espantaria, perante o esticar de corda do governo, tentassem tudo para conseguir um acordo que evitasse um confronto que pode ser decisivo e de cujo sucesso não estarão assim tão certos. No fim de contas, nem o PCP é a ala esquerda do Labour, nem Mário Nogueira aspira a ser um Arthur Scargill. Entretanto, e para ajudar na decisão,  deve estar em curso o habitual contar de espingardas.

quarta-feira, junho 12, 2013

Santos Populares (3)


4ªs feiras, 18.15h (38) - "Western" (I)


"Vengeance Valley", de Richard Thorpe (1951)
Filme completo c/ legendas em francês

Jan & Dean - os outros "rapazes da praia" (1)

"Fun , Fun, Fun" (Brian Wilson - Mike Love)

FCP e Futebol Clube Paços de Ferreira: uma história simples

Para garantir a conquista do título, o FCP precisava de ganhar o último jogo do campeonato, em Paços de Ferreira, contra o já garantido terceiro classificado da Liga. Nada de muito complicado, dadas as circunstâncias, mas nunca se sabe. O FCP ganhou o jogo e para isso beneficiou de um "penalty" inexistente (não contesto a falta e a expulsão) e de um segundo golo no qual o seu marcador sai de posição de "fora de jogo". Passado um par de semanas, ficamos a saber que o Paços de Ferreira disputará o seu jogo em "casa" relativo ao "play off" da Champions League no estádio do FCP e este contrata ao primeiro, não só o seu melhor jogador (Josué), como o respectivo treinador, a troco de uma indemnização. Independentemente das muito interessantes declarações de Mano Menezes sobre as suas negociações como FCP, uns dias mais tarde somos igualmente informados de que um treinador do "círculo" do FCP (Costinha), rompendo com a lógica de continuidade contida nos perfis de ex-treinadores do Futebol Clube Paços de Ferreira (Paulo Fonseca, Rui Vitória, Ulisses Morais, etc), e um seu adjunto inexperiente, também ele ex-jogador do clube das Antas (Maniche), irão orientar o clube da capital do móvel na próxima época. Claro que se seguirão os habituais empréstimos de jogadores, mas disso já tenho dito. 

Nada disto é aparentemente ilegal, embora talvez merecesse maior atenção dos "media", mas diz-nos pelo menos que se o SLB ou qualquer outro clube quiserem ser campeões nacionais não terão outra alternativa senão obter vantagem nos jogos contra o FCP. Porque em função do que acima se pode ler, esperar que este perca pontos nos jogos com terceiros já me parece bem mais complicado.  

O subsídio de férias e a "legalidade revolucionária"

Ao dar indicações de não-pagamento em Junho do chamado subsídio de férias (de facto, 1/14 do ordenado anual) aos funcionários públicos, o governo faz mais do que continuar o seu braço de ferro com o Tribunal Constitucional e assim desafiar a legalidade. Utilizando como argumentação o facto do orçamento de Estado não prever "os meios necessários e suficientes para o garantir", o governo não só passa um atestado de incompetência a si próprio, pois deveria ter previsto uma verba em "contingência" para o caso de "chumbo" da sua proposta pelos juízes do Palácio Ratton, o que até nem era difícil de prever, como, pior ainda, insiste em contrapor uma espécie de legalidade revolucionária, aquela que deriva do estado de "excepção e necessidade" ditado pelo seu entendimento do que é o cumprimento do MoU, que reiteradamente invoca, à legalidade constitucional, ao Estado de Direito e à separação de poderes. Não custa perceber tal disparate - do qual não se percebe o governo possa vir a tirar qualquer proveito pois acabará por efectuar o respectivo pagamento a breve prazo - tenha tido origem no eixo mais radical do governo (Gaspar, Borges, Passos Coelho) e ainda custa menos a perceber quem terá soprado para os "media" a decisão do Conselho de Ministros. No fundo, o governo limitou-se a deitar mais gasolina para a fogueira onde, com maior ou menor sofrimento de todos, acabará por arder. Masoquismo? Nada disso: diz-nos a História que as "revoluções" e os "revolucionários" estão cheios de actos de voluntarismo semelhantes dos quais, cedo ou tarde, acabam por sofrer as consequências. 

terça-feira, junho 11, 2013

"ab origine" - esses originais (quase) desconhecidos (43)

 "Take Me For What I'm Worth" - o original de P. F. Sloan incluído no álbum Songs Of Our Times (1965)

A bem conhecida versão dos Searchers editada em "single" (1965)

Os "ic" do SLB

Não conheço e acho nunca vi jogar (pelo menos com "olhos de ver") qualquer os jogadores sérvios que o SLB acaba de contratar. Portanto, sobre a sua capacidade para integrarem o plantel do clube e serem bem sucedidos não me pronuncio e dou o benefício da minha confiança na direcção e equipa técnica que dirige o clube. Por princípio, os jogadores da ex-Jugoslávia são tecnicamente evoluídos, têm "escola", planta físico-atlética e capacidade de adaptação rápida, muito embora com o pequeno senão de um seu número significativo pecar por alguma macieza competitiva. Mas confesso tenho sempre alguma desconfiança sobre estes "autocarros" de jogadores com uma só origem/nacionalidade e com ar de terem sido contratados quase como se tivessem um qualquer desconto de quantidade. Porventura, estarei a ser injusto, e espero bem todos venham a ser bem sucedidos. Mas para começar gostaria de saber um pouco mais sobre o(s) negócio(s) em causa e, principalmente, seria clarificador que a imprensa desportiva (ou lá o que é) divulgasse quem é ou são os empresário(s) envolvido(s) no(s) respectivo(s) negócio(s). É o mínimo que sócios, adeptos e accionistas minoritários podem e devem de exigir.

domingo, junho 09, 2013

Matiné de Domingo (29)


"My Fair Lady", de George Cukor (1964)
Filme completo c/ legendas em inglês

A desonestidade intelectual de Helena Matos

Podemos gostar ou não da Álvaro Cunhal e do PCP, comungar ou não das suas ideias e ideais (não comungo), estar até de acordo ou em desacordo com as opções da CML para a toponímia "alfacinha", mas gostaria de lembrar a Helena Matos algo que sei ela não desconhece mas com total desonestidade intelectual opta por varrer do seu conhecimento: Álvaro Cunhal e o PCP são parte estruturante da nossa história democrática e do regime, também ele democrático, em que vivemos; lutaram contra a ditadura e pelo seu derrube e, além de tudo o mais, o país viveu 48 anos sob a ditadura de António Oliveira Salazar, continuada por Marcelo Caetano, e não sob qualquer regime autoritário ou totalitário dirigido pelo Partido Comunista Português e por Álvaro Cunhal.  Digamos que o actual regime democrático homenageia assim um dos seus, mesmo que a maioria dele tenha quase sempre discordado, e isso faz toda a diferença e só demonstra a sua superioridade. Assim sendo, é bom que Helena Matos deixe de tentar rescrever a História e perceba, apesar dos percalços do PREC, que o actual regime se implantou e edificou contra a ditadura do Estado Novo, e não contra quem poderia dar mais jeito a si e aos seus correlegionários para mais facilmente poderem moldar o país e os portugueses aos seus novos "amanhãs que cantam".

10 perguntas a um futuro governo PS

Dez perguntas muito simples e concretas a que o PS deveria responder (com clareza, como gosta de dizer o seu secretário-geral) antes de ser governo, comprometendo-se perante os eleitores a garantir a execução, em prazos bem definidos, do conteúdo das respectivas respostas. 
  1. Que vai o PS fazer com o horário de 40h na função pública? Revogá-lo? Mantê-lo?
  2. E com os cortes de salários (os 13º e 14º mês fazem parte do salário) na funções pública e a pensionistas e reformados?
  3. O que vai fazer com a tal mobilidade especial (ou lá o que é)? Vai acabar com o disparate e finalmente levar a cabo um verdadeiro estudo sobre a Administração Pública e respectiva reforma, coisa que já leva um atraso de dez ou quinze anos?
  4. Vai manter o exame do 4º ano?
  5. Vai dar maior autonomia às escolas, incluindo na contratação de docentes e na gestão dos recursos de cada uma, avaliar seriamente os professores e todo o restante pessoal (com quotas, pois claro) e acabar com disparates como ser exclusivamente o Ministério a nomear os professores, a nota de curso prevalecer durante toda a carreira, o salário ser absolutamente idêntico em cada escalão e as universidades serem consideradas todas iguais em termos do valor de uma licenciatura?
  6. O partido tem um projecto a prazo para a evolução do salário mínimo nacional? Qual?
  7. Vai insistir em efectuar aquilo que são verdadeiros cortes com valor retroactivo no valor das reformas já recebidas pelos pensionistas da Caixa Geral de Aposentações ou vai abandonar a ideia?
  8. Compromete-se a não implementar qualquer sistema de co-pagamentos no Serviço Nacional de Saúde?
  9. Qual o seu projecto para a ligação Lisboa-Madrid em alta-velocidade?
  10. Qual a opinião do partido sobre a adopção de crianças por casais homossexuais e o que se propõe fazer neste campo?
Enfim, poderão juntar-se mais um punhado, desde que igualmente simples e de resposta concreta para se evitarem as habituais retórica e manifestação de intenções ao estilo do "analisar", "propor", "estudar", etc. Vale?

sexta-feira, junho 07, 2013

Friday midnight movie (45) - Grindhouse/Slasher (VII)

"SuperVixens", de Russ Meyer (1975)
Filme completo c/ legendas em francês

Os treinadores do FCP

Que linha de continuidade existe entre Luigi Del Neri, José Couceiro, Victor Fernandez, Co Adriaanse, Jesualdo Ferreira, André Villas-Boas, Vítor Pereira e Paulo Fonseca? Posso estar errado, mas acho que de comum têm apenas o facto de terem sido treinadores do FCP entre 2004 e 2013. Mas esta é a pergunta que ninguém faz a Pinto da Costa, e todos sabemos porquê: porque também todos sabem é arriscado fazer perguntas incómodas aos dirigentes do FCP e, além de tudo o mais, o "respeitinho" é e sempre foi muito bonito quando falamos de gente que não olha a meios.

No fundo, o que o presidente do FCP pretende provar com esta sucessão de técnicos onde não se vislumbra qualquer lógica de continuidade é que o seu clube não depende da capacidade de um treinador para ser campeão. Uns dirão que isso revela a capacidade da tal "estrutura". Eu preferia chamar-lhe outra coisa. À bon entendeur... 

Ainda bem que sou "alfacinha"...

Luís Filipe Menezes, Manuel Pizarro, Rui Moreira, José Soeiro, Nuno Cardoso, Pedro Carvalho. Repito, por outra ordem, já que a dita dos factores é arbitrária: Rui Moreira, José Soeiro, Manuel Pizarro, Nuno Cardoso, Luís Filipe Menezes e Pedro Carvalho. Esta é a lista de candidatos à Câmara Municipal do Porto. Se tinha muitas e boas razão para me congratular por ter nascido "alfacinha" e não "tripeiro", a vida deu-me agora mais uma. Repito: José Soeiro, Nuno Cardoso, uff... 

Depois? Depois perguntem porque os cidadãos têm a opinião que têm sobre os políticos, porque se afastam da vida democrática, porque estão indiferentes a tudo e assim provavelmente continuariam se por aí viesse uma ditadura e assim sucessivamente. "Alfacinha" que sou, sempre vou tendo o Costa. Não é assim grande coisa? Enfim.... Vai sendo o melhor que se arranja, e pelo menos não me envergonho de ir lá "deitar o papel" nele.

quinta-feira, junho 06, 2013

Dance Craze (6)

The Diamonds - "The Stroll" (1957)

O FCP e o treinador Paulo Fonseca

E se, por exemplo, FIFA e UEFA impusessem um período de nojo a treinadores impedindo-os de se transferirem na época imediatamente a seguir para clubes que tivessem disputado na época anterior a mesma competição que o clube de onde eram originários? Difícil? Sim, reconheço-o, mas comportamento semelhante no campo das incompatibilidades é já exigido em muitas outras áreas e actividades profissionais (na política, por exemplo) sem que ninguém (e bem) se escandalize com isso, antes o incentive. Além disso, o(s) treinador(es) em questão poderiam sempre transferir-se para clubes de outras divisões ou Ligas estrangeiras e, caso o não fizessem, a Liga profissional de cada país poderia sempre estabelecer uma qualquer forma de compensação por esse ano sabático. 

Claro que me lembrei disto a propósito da transferência de Paulo Fonseca para o FCP (aquele abraço de transferência de poderes a Vítor Pereira poderia pelo menos ter sido evitado) e do alegado aliciamento de Pinto da Costa a Jorge Jesus (sou "lampião" mas não sou estúpido). Mas muitos outros casos, em Portugal e no estrangeiro, se poderiam invocar em defesa do que proponho e da credibilidade de uma indústria que movimenta milhões e se organiza de forma ainda demasiado amadora, permitindo toda a espécie de "espertezas". Neste caso, o que Pinto da Costa parece querer dizer, com todo o desplante, é apenas isto: "vejam, essa coisa dos árbitros, da "fruta" e do "chocolate", acabou, pertence à pré-história do FCP. Agora os meus métodos são outros, legais e mais refinados". 

Nada de novo: assim foi evoluindo também a Máfia, a verdadeira.

História(s) da Música Popular (211)

Darlene Love - "(Today I Met) The Boy I'm Gonna Marry"

Phil Spector (IX)

Segundo tema da parceria Ellie Greenwich-Tony Powers para Spector, "(Today I Met) The Boy I'm Gonna Marry" foi gravado por Darlene Love (a tal das "falsas" Crystals e também membro de Bob B. Soxx And The Blue Jeans)  em Março de 1963, como seu primeiro "single" a solo, e tem arranjos musicais de Jack Nitzsche. 

quarta-feira, junho 05, 2013

Algumas perguntas sobre a gestão escola pública

Um "post" publicado neste "blog" no dia 19 de Maio de 2009 e que me parece vir agora, em tempo de luta sindical de professores, bem a propósito recuperar por quem, como eu, defende a escola pública.

  • "Alguém me explica porque não é de esquerda pretender que os professores sejam avaliados pelos orgãos de gestão das escola e progridam na carreira de acordo com o seu desempenho medido por essa avaliação?
  • Alguém me explica porque não é de esquerda pretender que os professores, dentro de certos parâmetros, ganhem em função do seu efectivo desempenho, mediante avaliação pela hierarquia competente?
  • Alguém me explica porque não é de esquerda pretender que a nota de um curso, muitas vezes completado há 20, 30 ou 40 anos, juntamente com a antiguidade não sejam os únicos ou fundamentais critérios para a colocação de um professor?
  • Alguém me explica porque não é de esquerda pretender que o valor das licenciaturas dos professores não seja todo ele idêntico, para uma mesma nota final de curso, mas ponderado em função do prestígio e grau de exigência da universidade onde se obteve essa licenciatura?
  • Alguém me explica porque não é de esquerda pretender que um professor colocado numa escola em zona problemática ou responsável por uma turma com mais dificuldades de aprendizagem seja melhor remunerado do que um outro colocado numa zona urbana privilegiada ou leccionando turmas compostas maioritariamente por alunos oriundos da classe média?
  • Alguém me explica porque um professor de matemática, português ou inglês, disciplinas básicas na formação de um aluno e que normalmente exigem maior esforço didáctico e mais empenho, não possa ter melhores condições de remuneração do que um outro leccionando “Trabalhos Oficinais ou “Estudo do Meio”?
  • Alguém me explica porque se convencionou não ser de esquerda conceder maior autonomia às escolas na sua organização e na contratação dos seus docentes, desde que cumpridos certos padrões universais?
  • Alguém me explica porque não é de esquerda pretender que, dentro de certos limites definidos pelo ministério da educação, uma escola, se o pretender, não possa ter um certo grau de liberdade na gestão do seu orçamento, inclusivamente remunerar ou formar melhor os seus recursos humanos ?
  • Alguém me explica porque não é de esquerda exigir que um professor, para além das suas funções pedagógicas (preparar e dar as aulas), tenha o seu papel obrigatório na melhoria da organização e desenvolvimento da estrutura escolar, incluindo ligação à comunidade e angariação de fundos junto desta de modo a permitir melhorar as condições oferecidas aos alunos?
  • Enfim, alguém me explica porque todas estas medidas, essenciais à melhoria da escola pública, objectivo que defendo e é suposto a esquerda também defender, são atacadas por sindicatos e partidos que se dizem de esquerda? Serão mesmo de esquerda?"

4ªs feiras, 18.15h (37) - "Sword & Sandals" (IV)

"Ercole al Centro della Terra" (aka "Hercules in the Centre of the Earth"), de Mario Bava e Franco Prosperi (1961)
Filme completo c/ legendas em português

Adriano Correia de Oliveira e Manuel Alegre (6)

"Trova do Vento que Passa" (Manuel Alegre - Adriano Correia de Oliveira/António Portugal) - 1963

terça-feira, junho 04, 2013

BBC "House of Cards" (4/4)

Finalmente! Com legendas em castelhano, o "Gato Maltês" apresenta (devia dizer "orgulha-se de apresentar") a 1ª parte da trilogia, produzida pela BBC, "House of Cards" (1990)"To Play the King""The Final Cut", baseada no romance de Michael Dobbs. Sem dúvida uma das melhores séries de TV de sempre. A não perder e a ver e rever.

The Satellite/Stax records story (18)

The Mar-Keys - "Pop-Eye Stroll" (1962)

segunda-feira, junho 03, 2013

Santos populares (2)


Skiffle (7)

The Vipers Skiffle Group - "Pay Me My Money Down"

João César das Neves propõe o regresso ao século XIX


Deixemos de lado o apelo implícito de César das Neves para que voltemos ao século XIX e à despesa pública correspondendo a cerca de 5% do PIB, isto é, a um país sem Estado Social, saúde e ensino públicos, segurança social ausente, hospitais entregues às instituições religiosas e à caridade e as comunicações reduzidas a estradas de terra batida e comboio de Lisboa ao Carregado. Convém não se dê demasiada importância aos "tontinhos da aldeia" ou aos "bobos da corte". Mas segue César das Neves dizendo que, como estamos a falar de uma despesa pública de cerca de 50% do PIB, "existe muita gente a viver do dinheiro alheio". Como disse? Que eu saiba, esse dinheiro não é alheio a ninguém, não nasceu nas árvores plantadas por alguns proprietários: é de todos e é exactamente por isso que é ao Estado, eleito por todos os cidadãos, que compete a respectiva gestão. E é também por esse mesmo motivo que compete a esses mesmos cidadãos pedir contas ao Estado sobre o destino dado a esse dinheiro - que é de todos - o que fazem usando a sua liberdade de expressão, manifestação e capacidade eleitoral. Em última análise, e sempre que tal se justifique, também com o recurso aos tribunais, ou seja, recorrendo a todos os mecanismos que o Estado Democrático põe à sua disposição.

Mas continua César da Neves com o seu chorrilho populista de mentiras: "um padeiro sabe que depende daquilo que produz". Não é verdade. Depende disso, claro, mas o que produz depende também da capacidade da sociedade para comprar o pão que esse padeiro fabrica; da possibilidade de ter serviços de saúde que assegurem o seu bem-estar, para que possa trabalhar mais dias com maior eficácia; do Estado que lhe assegurou a formação escolar e profissional (talvez mesmo o ajudou a recorrer a financiamento com condições mais favoráveis) e, por último, da existência de caminhos públicos que lhe permitam distribuir o pão que produz ou aos compradores deslocarem-se até à sua padaria. É nisto - e em muito mais - que se traduz a complexidade dos estados e das sociedades contemporâneas civilizadas e que, pretendendo voltar ao século XIX, César das Neves não quer, quanto a mim de forma pouco honesta, compreender.

Mais à frente afirma ainda o professor (pobres alunos...) da Universidade Católica: "Um médico de um grande hospital, mesmo privado, receita exames e tratamentos que omitiria se ele ou o doente tivessem que pagar a conta". Eu, por mim, diria que ainda bem que assim é. Claro que existem demasiadas vezes exageros das prescrições médicas. Sem dúvida. Mas deixando de lado o facto do doente em causa ter contribuído para o custo desses tratamentos com o pagamento dos impostos que o Estado em devido tempo lhe exigiu, aqui está todo um programa político: tem direito a aceder à saúde quem, no momento em que se realiza o acto médico, tiver dinheiro para o pagar. Assim mesmo, de forma nua e crua. 

No fundo, estas afirmações de João César das Neves, ás quais muitos responderão com o encolher de ombros destinado a quem não se pode levar muito a sério, acabam por sintetizar na perfeição o pensamento da direita ultraliberal actualmente dominante na Europa e no país. É bom que se levem mesmo a sério e tenhamos bem consciência do perigo que representam.