sexta-feira, junho 29, 2012

Ex-votos (7)


Os Jogos Olímpicos e a participação portuguesa

Agora que estão para aí a chegar os Jogos Olímpicos, eis o que escrevi há quatro anos, quando dos jogos de Pequim, neste "blog". Penso que mantém toda a actualidade.

  • Não me parece fazer qualquer sentido seleccionar para os JO quem apenas conseguiu obter os mínimos com demasiada dificuldade e em provas realizadas em condições muito específicas, “desenhadas” especificamente para o efeito. Claro que depois de ultrapassado esse “pico” de forma, que deveria ser programado para acontecer durante os Jogos e não para alcançar o “mínimo”, e em condições longe das ideais, mesmo em termos de “pressão” competitiva, o atleta, sabendo que se irá arrastar pelos últimos lugares e sem qualquer possibilidade de lhes fugir, não terá qualquer incentivo a continuar a sua preparação e concentração, preferindo o “turismo” e o “convívio”.
  • A selecção deveria, para além dos mínimos, basear-se também em outros parâmetros, tais como a evolução recente e frequência dos resultados dos atletas, as classificações e marcas obtidos anteriormente em grandes competições, a margem de progressão existente, capacidade psicológica demostrada, etc. Por exemplo, não faz qualquer sentido seleccionar para uma grande competição quem, já ultrapassado o auge da sua carreira e sem margem de progressão evidente, nunca tenha alcançado qualquer lugar ou resultado, no mínimo, dentro da média de uma grande competição.
  • Também não me parece ser defensável continuar a investir em Federações desportivas cuja evolução de resultados o não justifica, sem que estas apresentem um plano estratégico coerente que prove a sua capacidade para inverter essa tendência, sempre tendo também em atenção que, em condições idênticas, acções semelhantes geram necessariamente os mesmos resultados. Será este o caso da Federação Portuguesa de Natação. Os investimentos devem, isso sim, ser canalizados para onde mostrem ser rentáveis. O mesmo se passa em relação a atletas e treinadores.
  • Deve ser seleccionado um conjunto de modalidades (poucas) nas quais, historicamente, o país tenha demonstrado capacidade para obter resultados consistentes (vela, atletismo, judo e mais uma ou outra por razões de conjuntura), ou ainda algumas outras, emergentes, nas quais as potencialidades sejam evidentes, tanto pelo facto de terem atletas ganhadores já com provas dadas, como por estarem em franco desenvolvimento (v.g. triatlo, canoagem). Nessas modalidades e atletas deve ser concentrado o investimento.

Paco Ibañez En el Olympia (2)

"La Mala Reputación"

Angela Merkel: racionalidade e emoções


Não tem razão Francisco Teixeira ao fazer esta afirmação no quase sempre interessante "União de Facto". Independentemente do que pensemos sobre a actuação política de Angela Merkel (e eu estou muito longe de ser um entusiasta), é exactamente o futebol, e não a política, o terreno de eleição para expressarmos emoções. Preocupado ficaria se, independentemente das suas emoções futebolísticas e dos golos de Balotelli que a fizeram chorar, a chanceler alemã governasse sem ter como critério prioritário e fundamental a racionalidade. E digamos que é exactamente da primazia dada por Merkel a esses critérios de racionalidade política que por vezes me permito duvidar.

quinta-feira, junho 28, 2012

"Les uns par les autres" - os melhores "covers" de temas tornados famosos pelos seus autores (12)

Buddy Holly e o seu tema original "Words Of Love" (Abril de 1957) pelos...

...Beatles - gravação de Outubro de 1964 editada no álbum "Beatles For Sale" (Dezembro de 1964)

Um pouco mais sobre o jogo de ontem...

  1. Justa vitória de Espanha. Foi sempre a equipa dominante (o que é diferente de ser dominadora ou controlar o jogo), em função de cuja ideia de jogo, e para a tentar contrariar, a selecção portuguesa se organizou. No prolongamento "abafou" o adversário, teve as melhores oportunidades e podia ter aí ganho o jogo. Teve sempre mais e melhores soluções no "banco", apesar do notório erro de "casting" que consistiu na titularidade de Negredo.
  2. Portugal tentou contrariar a selecção de Espanha jogando no campo todo, mas dificilmente conseguiu desse modo roubar bolas e iniciar as transições em zonas "altas" do campo: a segurança de posse e circulação de bola da "roja" raramente o permitem. Estoirada por correr atrás de "rato", acabou, no prolongamento, por se ver constrangida a colocar o "autocarro" e esperar os "penalties", um pouco como tinha aqui previsto. E como teve de jogar mais atrás, Cristiano apareceu menos. Mas 43% de posse de bola contra a selecção de Espanha é motivo para louvor e não me lembro de ver Espanha em tantas dificuldades num jogo decisivo.
  3. Já tive de ouvir quem dissesse que não se entendia o porquê da selecção portuguesa ter recuado tanto no prolongamento, já que tinha mais dois dias de descanso. Simples: não tinha no "banco" jogadores com a qualidade de Fábregas, Pedro ou Navas (e sobraram muitos mais e até faltou o decisivo Villa), que vieram dar o segundo fôlego a Espanha, e o "tiki taka" é bem menos desgastante que o futebol de "sprints" e bolas longas da equipa portuguesa.
  4. Como se viu, ridículo todo o estardalhaço feito à volta do árbitro. "Old habits die hard".
  5. Os "penalties" não são uma lotaria. Digamos que "sorte e "azar" contam talvez um pouco mais do que no resto do jogo, mas quem chega a esse momento em melhor condição física e psicológica, "por cima" no jogo, tem sempre maiores probabilidades de ganhar.
  6. Se formos ver, Alemanha, Itália, Espanha e França são as equipas europeias dominantes em Europeus e Mundiais. As excepções são Holanda, Dinamarca (mesmo assim países bem mais "ricos" e desenvolvidos que Portugal) e Grécia (a excepção, mas que no conjunto de resultados é bem pior que Portugal), todas com um título europeu. É a isto que me refiro quando digo que "falta país" para a selecção portuguesa poder dar o "salto". 

Portugal no EURO 2012: um resumo

Falta qualquer coisa ao futebol português para conseguir que a sua selecção principal passe de uma boa equipa, frequentadora habitual de fases finais, quartos e meias finais de grandes competições, a uma equipa ganhadora desses mesmos campeonatos em que participa. Umas vezes terá faltado organização, rigor e planeamento; outras, treinador; em outros casos, ainda (e será mais esta a situação actual), jogadores de qualidade acima da média em número suficiente. No fundo, se olharmos para a lista de vencedores e finalistas habituais dessas mesmas grandes competições, tem faltado e faltará sempre país, o que, aqui e ali, a selecção tem conseguido disfarçar com a qualidade, competência e o profissionalismo de alguns poucos. Foi este o caso actual. 

quarta-feira, junho 27, 2012

Tartans (2)


Abercrombie Tartan

Como irá jogar a selecção?

Confesso que a minha maior curiosidade em relação ao jogo de hoje é saber como vai jogar Portugal, se com um bloco baixo, linhas muito juntas e tentando a partir daí explorar o habitual jogo vertical da equipa, em transições rápidas ou passes longos para os flancos, onde Hugo Almeida também sabe aparecer (ao contrário do que a sua morfologia sugere, tem razoável mobilidade e sabe embalar de trás), ou tentando pressionar alto e roubar a bola aos jogadores da selecção de Espanha na chamada "primeira fase de construção", não "autorizando" explanem o seu habitual "tiki-taki" perto da área portuguesa com desmarcações rápidas no limite do "fora de jogo". Digamos que a opção não depende só da lição que trouxerem estudada, mas muito mais da capacidade para a porem em execução.

Quanto a mim, vou adiantando que nunca vi ninguém conseguir ser bem sucedido contra Barça ou Espanha (certo, esta não tem Messi nem Daniel Alves, o que facilita um pouco as coisas) sem o bom e velho "autocarro", "double decker" de preferência, explorando a partir daí as transições rápidas e as bolas longas. E a selecção portuguesa, embora lhe falte um Benzema, tem gente para o fazer. Veremos...

Cinema e Rock n' Roll (II série - 2)

"Rock, Rock, Rock", de Will Price (1956)
Filme completo. Versão original sem legendas.

Alan Freed dá a entrada aos artistas convidados, como Chuck Berry, LaVern Baker, Johnny Burnette, The Moonglows, The Flamingos, Frankie Lymon & The Teenagers e ainda a voz de Connie Francis. É mesmo de aguçar o apetite...

O regresso do "PBX"?

Alguma esquerda democrática, normalmente designada de modo simplista como "a esquerda do PS", ainda não entendeu que não conseguirá construir qualquer alternativa sólida e credível, autónoma e social-democrata, às propostas da direita e centro-direita, de PSD e CDS, ao seu domínio ideológico e político, enquanto não conseguir reduzir drasticamente a importância eleitoral de BE e PCP e não lograr autonomizar-se da influência ideológica das "frentes populares" anti-fascistas dos anos 30 do século passado. Isto significa que não pode ser algum PS a aproximar-se das posições do BE e de alguns elementos considerados menos "ortodoxos" do PCP, mas que tem de partir do PS, como um todo, a apresentação de uma linha política e ideológica, de um programa político suficientemente reformista e autónomo face à direita conservadora ou ultra-liberal para atrair muitos dos que se revêm actualmente, mesmo que apenas no voto, no radicalismo anti-capitalista e anti-europeu de "Bloco" e PCP.

Ora este Congresso Democrático das Alternativas, cujo nome ressoa demasiado a um misto de Congresso da Oposição Democrática de Aveiro (1973) e "Fórum de Porto Alegre", vai exactamente no sentido contrário, constituindo mais uma oportunidade para BE, PCP e "compagnons de route" se afirmarem politicamente e ressuscitarem o mito do velho e "relho" PBX ("partido berdadeiramente xucialista"), tão caro ao PCP e que parece tardar em morrer.

terça-feira, junho 26, 2012

Seguro põe o dedo na ferida

Embrenhados em questões de natureza económico-financeira tais como taxas de juro, crescimentos do PIB, "déficit" público, dívida, financiamento dos Bancos e "ofícios correlativos", esta afirmação de António José Seguro corre o risco de ter notoriedade efémera e até de parecer deslocada, mas ela é chave para a resolução da crise política (é bem disso que se trata, como Seguro afirma) da UE e é sobre ela que deveríamos centrar a nossa atenção. Se a indispensável e inadiável democratização das estruturas de poder e governo da União Europeia, de que fala Seguro, passa pela eleição directa do Presidente da Comissão, se ele e o seu governo devem sair de um Parlamento Europeu com poderes alargados e efectivos de controle ou se a eleição de uma segunda câmara paritária deve ser também considerada, serão por certo questões a discutir. Mas continuar a entregar a direcção dos destinos da União, com poderes cada vez mais alargados, como agora Van Rompuy vem propor, a gente que não mandatámos, ao bom e velho estilo "despotismo iluminado", só pode dar mau resultado. Como deu até aqui.   

Hammer (7)


"The Reptile", de John Gilling (1966)

Joguem mas é à bola!...

A contestação da imprensa portuguesa (com todo o ar de "encomendada") à nomeação do árbitro Cuneyt Çakir, mesmo que a possamos integrar nos chamados "mind games", é atitude de perdedor, de "Portugal pequenino", de desculpa antecipada para uma muito possível derrota num jogo em que a selecção portuguesa está longe de ser favorita. Tratem mas é de jogar à bola, pois já provaram o sabem fazer.

"The day the music died"* (2)

*Buddy Holly - "Rave On"

segunda-feira, junho 25, 2012

Aprender com o EURO 2012 (4b) - Espanha


A Guerra Civil de Espanha - A Batalha do Ebro (II)

O exemplo da AutoEuropa

E pronto! A maior contestação à política de um governo que acha que aumentar a competitividade significa trabalhar mais horas, eliminar feriados e dias de férias e assim sucessivamente vem... da AutoEuropa, exactamente uma empresa alemã, exemplo de produtividade no seio do grupo VW, que prefere que os seus trabalhadores interrompam a produção para ver o Portugal-Espanha do que tê-los descontentes, aumentar o absentismo ou vê-los durante noventa ou mais minutos de "cornos no ar" ("honni soit qui mal y pense") a ouvir o relato ou a espreitar sorrateiramente onde quer que exista uma televisão. Não, não se trata da chamada "bofetada de luva branca", mas de um bom e valente murro desferido em pleno estômago do Governo português e de muitos empresários aprendizes aqui do rectângulo. Exemplo presente para memória futura, pois claro.

EURO 2012: o fim das identidades nacionais e a histeria anti-Alemanha

  1. Para mim, o EURO 2012 marca o culminar de um processo de descaracterização dos "futebóis" nacionais, tal como até há pouco tempo eram identificados. A Espanha já há uns anos substituiu a tradicional "fúria" pelo sonolento "tiki taki" barcelonista; Portugal pôs de parte o sacrossanto "10", a posse de bola e a herança do futebol improfícuo e sem balizas idealizado por José Maria Pedroto, um dos maiores mitos do futebol português, e foi vê-lo a jogar contra a nórdica Dinamarca em transições rápidas, bolas longas a solicitar a corrida dos alas, a intervenção do "ponta de lança" e até a marcar um golo de cabeça de um pontapé de canto; a Alemanha já se esqueceu daquele género de atletismo com bola e, ironia das ironias, vimos ontem a Itália, com a sua defesa colocada na linha de meio-campo, jogar um futebol de ataque contra uma Inglaterra encolhida numa espécie de "catenaccio". No fundo, trata-se de um processo iniciado com a emigração dos anos 60 do século passado, que fez com muitos jogadores actuais das grandes selecções sejam imigrantes de segunda geração, prosseguido com a livre circulação na UE e a lei Bosman, incluindo o intercâmbio de treinadores, e consolidado com a transformação do futebol num espectáculo televisivo global. As identidades nacionais transformaram-se em identidades de equipa, em função das ideias dos respectivos treinadores e das características dos jogadores. Não sou saudosista, e quanto a mim a competitividade aumentou e os jogos tornaram-se bem mais abertos e interessantes.
  2. Confesso estar demasiado farto dos que fazem da derrota da selecção alemã um ponto de honra, alinhando as suas preferências no EURO 2012 pela sua posição face à política europeia de Angela Merkel. Não porque seja um entusiasta dessa política (não o sou) ou alinhe pela opinião dos que separam política do desporto ou espectáculo: nunca estiveram nem estarão separados. Mas o problema é que fazer da derrota da selecção alemã - que até joga um futebol atractivo - um ponto de honra se me assemelha demasiado a um género de vingança dos impotentes, servindo de fraca compensação para a incapacidade de todos nós - portugueses, espanhóis, italianos, gregos, etc - conseguirmos fazer vingar os nossos pontos de vista políticos nos locais próprios e através dos mecanismos adequados. Acresce que a Alemanha é uma democracia e Angela Merkel a sua legítima chefe de governo, e se já assistimos por vezes a perigosas identificações entre regimes políticos e acontecimentos desportivos (o exemplo talvez mais próximo terá sido o Mundial de 78 e a ditadura argentina de Videla), não vejo onde, directa ou indirectamente, se possa associar a política europeia da Alemanha ao EURO 2012 ou à selecção alemã. Por último, a selecção alemã, com Boateng, Podolski, Klose, Özil e Kehdira, é até um bom exemplo de integração, do qual todos nós, europeus, nos devíamos orgulhar. Portanto, não contem comigo para engrossar o ruído anti-Alemanha do futebol.

domingo, junho 24, 2012

A ERC e a sua autonomia

O problema da Entidade Reguladora Para A Comunicação Social é o facto de quatro (na prática, cinco, já que os primeiros cooptam o 5º elemento) dos membros do seu Conselho Regulador serem nomeados pela Assembleia da República, isto é, pelos partidos políticos? Enfim, não deveria ser e não vejo melhor opção, já que em democracia são os partidos que asseguram - e assim deve ser - a representação das diversas correntes políticas e ideológicas. O problema é bem mais do modo como funcionam os partidos e as estruturas de poder em Portugal, bem reflectido no facto de a pelo menos três desses membros não se lhes reconhecer, em termos curriculares, qualquer autonomia face ao poder e ao seu modelo de funcionamento, o que é bem diferente de não terem ou assumirem uma opção política ou ideológica. Um pouco como aconteceu com a recente nomeação dos juízes para o Tribunal constitucional, onde finalmente parece ter prevalecido algum bom-senso, a minha optimista esperança é que com a ânsia de se apoderarem dos "ovos", PS e PSD não acabem por matar a galinha, ou seja, na tentativa de colherem para si benefícios de curto-prazo, não se esqueçam a sua vida acaba no preciso momento em que deixa de haver democracia. Deveria ser esta a moral da história, se é que todas as histórias devam obrigatoriamente ter uma - do que duvido. 

Aprender com o EURO 2012 (4a) - Espanha


A Guerra Civil de Espanha - A Batalha do Ebro (I)

Portugal - Espanha

Um Portugal-Espanha já não é como antigamente e eu não tenho saudades. E o "antigamente" era o tempo do "hóquei patriótico", em que frente a frente, tal como nos ensinavam (erradamente) na escola com aqueles mapas com bandeirinhas da república portuguesa e da monarquia espanhola a assinalar as batalhas, estavam dois exércitos, como em Aljubarrota ou nos Atoleiros, já não cobertos de poeira e sangue mas de algum suor, outro tanto esforço e muitas lágrimas nas derrotas. De um lado, Zabalia (ou era já o Largo?), Orpinell, Boronat, Puigbó e Roca; do outro, Moreira, Vaz Guedes, Adrião, Velasco e Bouçós, quatro moçambicanos (todos brancos, claro) e um "ricaço" que isso de ter dinheiro para patins e tempo para praticar não era para os "matarruanos" do futebol. Claro que a ditadura salazarista sonegava que a modalidade tinha expressão quase exclusivamente confinada a duas cidades (Lisboa e Barcelona), centros de lazer e veraneio (a "linha" - com Sintra para animar, as praias catalãs, Montreux, Herne Bay e Monza) e o suave viver da Lourenço Marques branca e colonial; mas isso que importava se éramos os "melhores do mundo"?

Bom, entretanto começámos a descobrir que Aljubarrota foi quase uma guerra civil e também pouco mais do que um episódio da Guerra dos Cem Anos, não demasiado diferente de Poitiers, Crécy ou Azincourt; que D. João subiu ao trono por meio de um Golpe de Estado, o rei Filipe II era mesmo o herdeiro legítimo do trono português (era neto do "Venturoso", caramba!) e Espanha até tem um rei que fala português e cresceu e fez velhas amizades por cá. Hoje, Portugal e Espanha  partilham a mesma moeda e, em muitos campos, sentem dificuldades idênticas; muitos portugueses trabalham aqui ao lado e muitas das empresas para as quais trabalham, portuguesas ou espanholas, têm a sua sede ou instalações  em Madrid ou Barcelona; descobrimos que Catalunha, Galiza e País Basco são nações como Portugal que, ao contrário deste, por vicissitudes históricas não ascenderam à independência e, "last but not least", já não vamos a Espanha apenas para comprar caramelos a Badajoz, nem a maioria dos espanhóis vem a Portugal apenas para comprar café ou roupa de cama. E, claro, "amantes espanholas" são mesmo coisa de histórias contadas à lareira lembrando antepassados alentejanos de há muito. Se virmos bem, na próxima quarta-feira um grupo de amigos e companheiros de trabalho, muitos alinhando em lados opostos aos que costumam ser os seus e reforçados por alguns convidados para dar mais brilho à festa, encontram-se para um jogo de futebol onde vão discutir quem pode vir a ser, desta vez num desporto a sério, o melhor da Europa. Como vêem, esta é uma excelente oportunidade para recordar aqui como todos progredimos. Viva este Portugal-Espanha. 

sexta-feira, junho 22, 2012

Les Belles Anglaises (63)




 Jaguar XJ13 (1966)

"The day the music died"* (1)

* Ritchie Valens - "Come On Let's Go"

A selecção portuguesa em 5 pontos 5

  1. Pela primeira vez desde Eusébio, a selecção portuguesa tem no seu jogador de maior classe, autêntico "fora-de-série", também um goleador. Por uma ou outra razão, nas anteriores fases finais com Cristiano Ronaldo tal não aconteceu. Ora isso faz toda a diferença.
  2. Esta é também a selecção que melhor futebol pratica desde 66 (era eu adolescente e apesar de ver futebol quase desde que nasci, ou ter nascido a vê-lo, assumo ainda via o jogo com outros olhos). O futebol mudou demasiado para se poderem fazer comparações, mas vê-se que a equipa tem um plano de jogo definido, sabe o que fazer em cada circunstância, assume o jogo e joga no campo todo e sabe esperar, com a confiança das grandes equipas, o seu momento. Provavelmente isso ainda não chegará para ganhar à França, Espanha, Itália ou Alemanha, mas isso é já outra conversa.
  3. Paulo Bento foi até agora o único seleccionador capaz de potenciar na equipa nacional as qualidades de Cristiano. Sem Deco ou Rui Costa a equipa passou a jogar menos "em posse" e mais em transições rápidas ou passes longos; sem a "invenção" de Pepe a "6" também uns bons dez metros mais à frente e a vocação ofensiva de Coentrão e João Pereira permite que Ronaldo apareça no meio sem a equipa perder largura. Bem simples, mas Paulo Bento é homem inteligente e por isso de processos simples.
  4. Pepe, Coentrão e Cristiano têm sido decisivos e um verdadeiro esteio desta equipa (sem desprimor para qualquer dos outros). A "linha directa" entre Paulo Bento e José Mourinho parece estar a funcionar em pleno. Quando duas pessoas são competentes e têm grande confiança em si próprias nunca se importam de trocar ideias, quer isso tenha acontecido ou não.
  5. Como se verifica, competência e seriedade dispensam os terceiro-mundistas beijos na bandeira dos tempos de António Oliveira ou o populismo "peronista" da dupla Scolari/Rebelo de Sousa, sem que isso signifique menosprezo ou ausência de reconhecimento pela capacidade de liderança de "Filipão", personalidade indispensável depois do aventureirismo que caracterizou todo o período "oliveirinha".

quinta-feira, junho 21, 2012

A moção do PCP

A moção de censura ao governo apresentada pelo PCP é um exemplo típico daquela frase que víamos escrita nas passagens de nível de antigamente: "atenção, um comboio pode esconder outro".  Ou seja, sob a capa da "censura ao governo", o que o PCP pretende, de facto, é, aproveitando o mau momento do BE e a derrota do Syriza que o "Bloco" quis transformar numa espécie de "vitória moral", ganhar vantagem sobre o partido ainda dirigido por Louçã, o único que tem alguma coisa a perder na circunstância. De facto, ao abster-se (a única posição possível), o PS tem possibilidade de vincar mais uma vez o seu "posicionamento" como "oposição responsável", que não se deixa "seduzir" por radicalismos, ao mesmo tempo que ao governo PSD/CDS é dada de "mão beijada" a oportunidade de demonstrar que só a extrema-esquerda se lhe opõe de modo radical. Perdida assim a iniciativa, ficam pois Louçã e o "Bloco" com a "criança nos braços", obrigados a jogar o jogo de um partido do qual, em termos práticos e pese embora o esforço e a imagem de alguns dos seus militantes mais mediáticos, como Daniel Oliveira, cada vez menos se distinguem.

Tartans (1)




quarta-feira, junho 20, 2012

As capas de Cândido Costa Pinto (80)

Capa de CCP para "Maigret em Nova Iorque", nº 111 da "Colecção Vampiro"

Aprender com o EURO 2012 (3c) - República Checa

O assassinato de Heydrich e o massacre de Lidice

II. partes 10, 11, 12, 13 e 14 (última)

A propósito do Ucrânia-Inglaterra: futebol e novas tecnologias

A propósito do "golo" de ontem no Ucrânia-Inglaterra, que afinal não valeu, e da utilização das novas tecnologias no futebol, deixo este meu "post" sobre o assunto escrito durante o último Mundial (28 de Junho de 2010). Não adiciono nem retiro uma vírgula.

"O passado é um país estrangeiro"

Entrei há pouco, para uma compra rápida, num daqueles cafés "de muita gente e ainda mais barulho" e de relance vi que a televisão transmitia um daqueles programas para "donas de casa" e viúvas com mais de oitenta anos. Não sei qual o canal, mas pareceu-me ver Manuel Luís Goucha. Pela "nota de rodapé" percebi também se discutia o "ensino de hoje e o de ontem", o que teve como consequência saísse ainda mais apressado. 

Dei por mim a pensar porque não se comparam com igual frequência, exaltando os mesmos valores do passado, a medicina de hoje e de ontem, a ciência "idem, idem", a qualidade de vida das crianças de hoje e no tempo da "revolução industrial, o saneamento básico nas cidades de hoje e no tempo do "lá vai água", etc, etc. Talvez porque nada evoque tanto a nossa juventude como a escola; talvez porque, no fundo, quem faz normalmente este tipo de comparações nas áreas do ensino, filtradas pelo olhar benigno com que se olha sempre a juventude, seja quem "no seu tempo" já tinha acesso aos seus escalões mais elevados, olhando com igual desvelo e culto para um passado privilegiado retratado nas séries de época da BBC onde se evidencia sempre o "glamour". Francamente, também sinto por vezes igual nostalgia por um colégio onde nos tratávamos pelos apelidos e as professoras da primária eram "senhoras donas"; um passado onde as "criadas" tratavam as "patroas" por "minha senhora" e traziam galinhas e coelhos da terra. Mas quando resvalo demasiado para a visão  nostálgica de um qualquer passado, próprio ou alheio, vivido ou imaginado, faço logo um esforço para me lembrar, como certeira e metaforicamente disse Woody Allen no seu "Midnight in Paris", que não existiam antibióticos. Pois...

terça-feira, junho 19, 2012

Cinema e Rock n' Roll (II série - 1)

"The Girl Can't Help It", de Frank Tashlin (1956)
Filme completo - versão original sem legendas

Tanto quanto possível, isto é, à medida que os for encontrando por aí na "net", o "Gato Maltês" irá colocar aqui no "blog", esperemos que ao ritmo de um por semana, alguns dos filmes que trouxeram o "rock & roll" ao cinema, contribuindo para a sua popularização e para a formação de uma cultura jovem, irreverente e contestatária, nos anos do pós-guerra; uma cultura e uma forma de vida que mudaram mesmo o mundo. Alguns dos filmes, em virtude da sua temática muitas vezes violenta e focada na chamada "deliquência juvenil", nunca foram exibidos no Portugal da ditadura. Outros lá foram conseguindo passar as malhas da censura, pela sua temática ser mais ligeira ou por os coronéis estarem distraídos - e felizmente distraiam-se por vezes.

Mas vou começar por uma comédia ligeira, que me lembre o primeiro filme que vi em que o "rock & roll" assumia um papel determinante. E - lembro-me bem - vi-o em férias, na Costa de Caparica (ainda se ia de férias para a Caparica, imaginem...), já em reposição e no agora há muito extinto Cine-Copacabana, teria eu talvez por aí uns onze ou doze anos (o filme estreou em Portugal em Março de 1957 e de certeza na data não saberia o que era o "rock & roll" nem conseguiria convencer o porteiro de que teria doze anos). A "historieta" não importa muito, mas o que importa mesmo, para além da "bombástica" Jane Mansfield, é que esta era a única possibilidade de ver nomes como Fats Domino, Gene Vincent, Eddie Cochran, Little Richard e ainda os não tão entusiasmantes Platters, mas na altura talvez os mais conhecidos do chamado "grande público". E eu, sortudo, a todos eles já tinha sido "apresentado" (via discos, claro) pelos meus primos mais velhos: um luxo!

Ora pois divirtam-se!

Aprender com o EURO 2012 (3b) - República Checa

 O assassinato de Heydrich e o massacre de Lidice

II. Partes 5, 6, 7, 8, e 9 (de 14)

segunda-feira, junho 18, 2012

A Grécia do Syriza e a "vingança punitiva"

Reconheço para os gregos a tentação seria grande, tal como também para muitos de nós, cidadãos europeus, que nos angustiamos dia a dia por duvidarmos a actual estratégia política possa levar a União a bom porto. Mas temos de concluir que uma vitória do Syriza conteria em si algo de infantil vingança punitiva sobre a Alemanha e a actual direcção política europeia, aquela punição que tanto criticamos por parecer estar incluída nos planos de austeridade impostos aos países sob resgate, um pouco ao estilo "impõem-nos a pobreza, a destruição da economia e da coesão social, do futuro - pelo menos o próximo - mas não caímos sozinhos, arrastaremos todos e a União connosco para a incerteza e o possível caos". Digamos que a política tem de ser um pouco mais do que uma luta entre concepções morais do mundo e da vida, embora tal, desde George W. Bush, pareça estar cada vez mais a servir de pretexto para encobrir e fazer passar mensagens ideológicas extremadas.  

Nas eleições gregas, enfim, prevaleceu algum bom-senso, claro, mas - e digo-o sem demasiada esperança -  seria bom que a Alemanha e a actual direcção da UE entendem-se o recado e não recusassem a mão salvadora que os gregos lhe estenderam. E, claro, esperando tal não fosse para nos enviarem, agora a todos, para o abismo de onde os nossos concidadãos gregos, para já, nos parecem ter posto a salvo.

Recado a Cristiano depois da "jogatana" de ontem...

Faz-me um favor, Cristiano, a mim e a todos os que gostam de "bola": para a próxima compra um carro de um milhão de euros. Pode ser?

Aprender com o EURO 2012 (3) - República Checa

O assassinato de Heydrich e o massacre de Lidice

I. Partes 1, 2, 3  e 4 (de 14)

Specialty records (10)

Jerry Byrne - "Carry On"

Gilberto Madaíl, pois, uma questão de justiça


Em Portugal (e não só) existe o vício de avaliarmos as pessoas que exercem cargos públicos demasiado em função de empatias ou simpatias pessoais, e não, como deveria ser, colocando em primeiro lugar os resultados obtidos; em função dos objectivos alcançados e não por termos ou não com elas identificações de carácter, personalidade, imagem, etc. No futebol, terreno por excelência de emoções mas onde os interesses e o valor da imagem estão cada vez mais presentes, isso não escapa à regra e tem vindo mesmo a ocupar espaço cada vez mais importante. No momento em que a selecção portuguesa de futebol já ultrapassou as expectativas no EURO 2012, convém lembrar que Gilberto Madaíl, depois de ter deixado a FPF financeiramente saneada e com o melhor conjunto de resultados de sempre obtidos pela sua principal equipa representativa, ainda teve tempo e discernimento para contratar Paulo Bento, o principal obreiro da qualificação para a fase final da competição e do apuramento para os 1/4 de final. Madaíl nunca seria pessoa das minhas relações próximas, muito menos meu amigo. Mas tal não me impede o elogio e de dizer que é bom que se faça justiça e não se tenha a memória curta.  

domingo, junho 17, 2012

Lucy in the Sky with Diamonds (32)


Jorge Jesus e mais uma vez a Champions League

Vejo com demasiada frequência treinadores e dirigentes desportivos estabelecerem como objectivo para as suas equipas e atletas "irem o mais longe possível". Ora "ir o mais longe possível" tanto significa ser primeiro classificado numa prova ou chegar a uma final e ganhá-la (é o mais longe onde se pode chegar), como ficar em último ou na 1ª eliminatória, porque "foi até onde foi possível ir", em função de fraquezas próprias, forças alheias e outros imponderáveis de uma competição desportiva. Significa isto, portanto, que ao estabelecermos como objectivo "ir o mais longe possível", não estamos, na realidade, a definir qualquer tipo de meta, mas a deixar tudo ao dia a dia ou aos imponderáveis do destino. Um objectivo deve ser, pois, quantificável, claro, suficientemente ambicioso para exigir esforço e ser recompensador quando alcançado, mas também não demasiado irrealista para gerar desânimo ou desistência precoces, prejudicando mesmo, eventualmente, se alcancem outras metas bem mais realistas. 

Lembrei-me disto ao ler hoje a entrevista de Jorge Jesus ao "Record" e ao verificar a sua reiterada insistência na conquista da Champions League, a ponto de - diz ele - tal ter acabado por prejudicar as prestações da equipa no campeonato. Partindo do princípio (do qual não estou nem nunca estive inteiramente convencido) de que terá sido a participação nos oitavos e quartos-de-final da CL a responsável pela medíocre segunda-volta da equipa, Jorge Jesus demonstra uma vez mais a naïveté que já constitui sua imagem de marca, pois ganhar a Champions League, salvo cataclismo, será hoje objectivo inalcançável para qualquer equipa portuguesa. Exactamente por isso, alguém no clube já deveria ter tido o bom-senso de o chamar à realidade e lhe dar um forte e doloroso puxão de orelhas.

Grindhouse Effect (14)


sexta-feira, junho 15, 2012

O EURO 2012 e as pronúncias

Claro que não exijo aos comentadores e relatores dos jogos de EURO 2012 que pronunciem o nome dos jogadores estrangeiros com rigor correspondente àquele com que Fernando Pessa, no seu impecável "received english", pronunciava o nome de Winston Churchill. Mas convenhamos que demonstraria algum profissionalismo tentarem qualquer coisa que não se afastasse demasiado de como a palavra soa no original, já que não ficaremos com certeza muito felizes se ouvirmos chamar "Iuzibio" ao velho Eusébio ou "Rônaldô" ao Cristiano. E, acresce, hoje em dia com a "internet" até não é muito difícil obter a pronúncia correcta, ou pelo menos aproximada, de qualquer jogador sueco, russo, croata ou até... espanhol, sem que tal trabalho tome sequer demasiado tempo a quem a ele por dever de ofício se abalance. Por exemplo, confesso que estou farto de me irritar quando oiço chamar "Kórluka" a "Tchôrluka" e Kranikar a "Kranichar" (a transcrição é aproximada, claro), tal como hoje ao ouvir chamar "Kim Kállstrom" ao sueco "kɪm ˈɕɛl.ˈstrœm". Muitos outros haverá, com certeza, e não estou a pedir mais do que algum profissionalismo a quem deveria ser obrigado a tal. E olhem que não dói nada, até porque, ao fim de muitos anos, vejo terem ficado felizes quando finalmente descobriram que (Dirk) Kuyt se pronuncia qualquer coisa de mais parecido com Kaut. Vale?

Walter Trier's "Lilliput" (6)


Peculiaridades...

Não, não vou utilizar a estafada expressão "só neste país", mas devo confessar, não sendo tal um exclusivo, este país tem mesmo algumas peculiaridades engraçadas. Ora vejamos.
  1. Parece que a Direcção Geral de Saúde terá manifestado intenção de verificar (certamente por amostragem) se crianças até quatro anos teriam em suas casas condições de segurança para minimizar eventuais acidentes (afinal parece que é só "a pedido"). Confesso - e disse-o - não só não considero tal atitude demasiado intrusiva, pelo menos de modo a pôr em causa direitos, liberdades e garantias de qualquer espécie - dependendo, claro está, do modo como fosse implementada a medida - como penso ser mesmo um indicador de civilização e desenvolvimento. Mas "aqui d'el rei", da esquerda à direita (confesso que me fez alguma confusão ver António Costa embarcar neste jogo - ontem na "Quadratura do Círculo), porque a liberdade de cada um e talvez a de alguns deixarem os filhos morrer de acidente estava a ser posta em causa. O problema, o problema é que no preciso momento tal viesse a acontecer, que uma criança bebesse lixívia, se queimasse com acido sulfúrico, caísse da janela ou espetasse um vidro nos olhos (ou pior, fosse vítima de maus tratos), malandro do Estado, da Direcção Geral de Saúde, da Segurança Social ou da Junta de Freguesia, pagos com os nossos impostos, que deveriam saber das condições em que a criança vivia e nunca tinham ido ver nem ligado coisa nenhuma. Estaria criado um caldo de cultura semelhante ao dos "idosos que morrem abandonados nas suas residências", que preencheria "manchetes" do Correio da Manhã. Digamos que a perspectiva não seria "brilhante".
  2. O conceito utilizador/pagador não é ideologicamente neutro. Quando falamos de serviços públicos, digamos que em termos gerais e abstractos, de modo mesmo um pouco simplista e genérico, poderemos considerá-lo mais próximo dos valores liberais e mais afastado dos que põem a tónica na solidariedade e no esforço colectivo, sejam estes socialistas, sociais-democratas ou de raiz democrata ou social-cristã. Digamos que, na maioria dos casos, me inclino mais para esta concepção, mas não tenho uma posição dogmática, de princípio, e aceito a solução utilizador/pagador em muitos casos. Por exemplo, no caso das autoestradas elas são pagas pelos impostos do conjunto dos cidadãos em países como a Alemanha, a Áustria e a Suíça (são apenas três casos que cito), partindo do princípio que a sua existência constitui um benefício directo e indirecto para todo o país e não apenas para os que as utilizam, enquanto outros optaram pelo conceito utilizador/pagador e ainda outros por soluções diferenciadas, caso a caso. Em Portugal, não me escandalizaria nada que a Ponte 25 de Abril tivesse um preço de portagem mais elevado, o mesmo acontecendo com a A5, e que o IC19, onde existe um comboio alternativo, fosse objecto de pagamento de portagem. Já pagar portagem na CREL, destinada a descongestionar o trânsito da cidade, me parece um perfeito disparate, tal como - outro exemplo - na chamada Via do Infante. E por aí fora, consoante os casos. Mas vem tudo isto a propósito de ver (ou melhor, ler) um socialista como Vital Moreira defender como princípio geral para as autoestradas o conceito "utilizador/pagador". Sim, eu conheço a conjuntura financeira do país, o conceito de "realismo político" também não me é de todo estranho, e por aí fora. Mas um socialista ou social-democrata, como penso o seja Vital Moreira, defender, como princípio universal, o conceito "utilizador/pagador", digamos que enfim... mas nos tempos que vão correndo, não ousarei dizer "só neste país".

Vai uma rapidinha? - classic uptempo doo wop (9)

The Silhouettes - "Get a Job" (1957)

quinta-feira, junho 14, 2012

Frivolidades ou "coisas de gajo": "dress codes" (18) - Henley Shirts

Como peça de roupa para uso quotidiano, são um clássico relativamente recente. Mas as suas raízes são bem antigas, já que devem o seu nome à famosa Henley Royal Regatta, um dos acontecimentos desportivos mais tradicionais de Inglaterra, e às camisas tradicionalmente usadas pelos remadores. No fundo, trata-se de um "polo" com "meia-gola", de algodão, mas na sua fabricação não recorrendo normalmente ao chamado "piqué", comum nas "polos", mas ao tipo de textura das vulgares "t-shirts", embora quase sempre de maior gramagem. E tal como as "polos", as Henley Shirts podem ser de manga curta ou comprida, mas, diferentemente delas, utilizam, não dois, mas mais botões, normalmente quatro ou até cinco. Em Portugal não é ainda muito fácil encontrá-las, mas com algum esforço lá se vai conseguindo, a preços normalmente inferiores a €50.

Podem ser usadas com "chinos" ou "jeans", mas como acho vão mesmo bem é com bermudas e as já célebres alpergatas. E se for para manter a forma com umas "remadelas", tanto melhor, mesmo que não se passe do lago do Campo Grande.

Liberais de pacotilha

Que a Direcção Geral de Saúde pretenda certificar-se das condições de salubridade e segurança em que vivem as crianças mais jovens e aconselhar nos cuidados a tomar deveria ser considerado como sintoma de civilização: em muitos países mais desenvolvidos, e penso também em Portugal, pelo menos em alguns casos, a Segurança Social visita periodicamente as casas onde vivem crianças e jovens para se assegurarem do modo como são tratadas e cuidadas. Mas, infelizmente, em Portugal não é assim que pensam alguns liberais de pacotilha, muitos deles vindos directamente do totalitarismo marxista-leninista "sem passarem pela casa da partida e sem receberem os dois contos", assustados com o que chamam "o abuso a interferência do Estado na vida dos cidadãos". Devem achar assim afastam e exorcizam um passado que parece teimar em ensombrar as suas vidas. Mas sugiro um "shrink", mezinha individual, talvez fosse remédio bem mais adequado a tanto liberalismo mal assimilado, em vez de continuarem a tentar impor à sociedade a sua visão totalitária de sempre.

"ab origine" - esses originais (quase) desconhecidos (35)


Billie Davies e a versão original de "Angel Of The Morning" (Chip Taylor) 1967


A primeira versão a obter algum sucesso: a da americana Merrilee Rush, em Fevereiro de 1968 (#7 nos USA)


A versão de P. P. Arnold, a melhor sucedida na Europa (#29 no UK em Agosto de 1968) e em Portugal, é também a minha preferida, menos "melodiosa" do que a de Merrilee, mas com uma "pujança" bem mais dramática; mais uma mistura de"black & white soul" e um pouco como se fora uma Dusty Springfield negra. Mas, claro,  admito contestação. 
Mas isto digo eu, um fã de P. P. Arnold que entra no rol das minhas favoritas. A produção é de Andrew Loog Oldham (por si só, uma garantia) e, curiosa mas não surpreendentemente, já que começou a sua carreira como "backing vocalist", P. P. Arnold participou na gravação do original de Billie Davies.

quarta-feira, junho 13, 2012

Um dia de Euro 2012

Ora vamos lá ver:
  1. A selecção portuguesa já cumpriu os serviços mínimos, o que lhe seria exigível: ganhou à Dinamarca, o jogo que tinha obrigação de ganhar. Tudo o que vier a mais é ganho.
  2. Eu sei que toda a gente vai falar dos falhanços de Cristiano. Ok, mais um a dizê-lo não vale a pena. A questão essencial é outra: a permeabilidade da equipa portuguesa pelas faixas laterais em virtude do "déficit" defensivo de Cristiano e Nani. Hoje, os dois golos sofridos vieram daí (independentemente de João Pereira estar a dormir "na forma" no primeiro) e foi notório, durante toda a segunda parte, Coentrão ter de se ver sozinho com todos os dinamarqueses que pelo seu lado apareciam (e foram muitos). O problema é agravado por a equipa "não saber ter bola" (não passa por aí o seu modelo de jogo, tudo bem) e os laterais terem mentalidade ofensiva, o que também faz parte do modelo de jogo da equipa. Esta será uma das razões - imagino - porque Paulo Bento não opta por um médio defensivo mais posicional (Custódio), pois precisa de gente do meio que ajude nas laterais. No Real Madrid, por exemplo, Di Maria é mais agressivo defensivamente e Arbeloa raramente se adianta. Além disso existem dois "pivots" defensivos (Khedira e Alonso) que se encarregam do "servicinho". Não sou treinador de bancada e considero Paulo Bento suficientemente competente: ele saberá como minorar o problema, se houver como fazê-lo.
  3. Pepe deu hoje uma lição aos que contestam jogadores que não tenham tido sempre a nacionalidade portuguesa joguem na selecção. E deu essa lição da melhor forma possível: não com "patrioteirismos" bacocos, mas mostrando um profissionalismo exemplar na defesa da equipa que integrava, que para o caso era a selecção portuguesa. Ser profissional e competente naquilo que se faz e sentir-mo-nos bem com aqueles que estão connosco é bem mais importante do que o amor a qualquer pátria. 
  4. Paulo Bento deu uma lição aos treinadores de bancada: no modo como defendeu o grupo e os jogadores mais criticados, no escalonamento para o jogo, como o preparou e geriu. Teve a sorte de o criticado Postiga ter marcado e de Varela se ter redimido do apregoado "falhanço" (não o considero bem assim) contra a Alemanha. Mas que competência e trabalho estiveram na base dessa sorte de Paulo Bento!...
  5. Do que já vi, a Alemanha é a principal candidata ao título. Porquê? É a mais equilibrada e a que apresenta maior segurança de jogo, isto é, a que melhor sabe o que fazer em todas as situações, comete menos erros e opta mais vezes pelas melhores soluções. E tem um Özil que põe tudo a mexer.
  6. A Holanda, com um ataque cheio de gente "de algo", só hoje conseguiu marcar um "golito" e sabe-se lá com que dificuldade. Um recado para os muitos que pensam que basta ter muito bons jogadores atacantes para marcar golos e ganhar jogos. O futebol é um jogo de equilíbrios (e desequilíbrios), movimentações colectivas e inteligência. Ter os melhores jogadores ajuda muito, mas bem mais num clube que treina todos os dias do que numa selecção que tem pouco tempo para afinar o colectivo. E, entregues a si próprios, Sneijder e Robben escolhem demasiadas vezes as piores soluções. Tal como Cristiano Ronaldo, claro.

A mulher de César (ou de Hollande)

A propósito deste "post", acho que a Ana Matos Pires tem razão num ponto e está fora dela em dois. Tem razão quando diz que não percebe como o "twitter de Valerie Trierweiler não pode ser entendido apenas como "duas cabeças (ela e a de Hollande) que pensam de modo diferente". Seria normal e desejável que assim fosse e em condições normais assim deveria ser. Mas... Não tem razão, primeiro, quando diz, criticando, que "gaja que é gaja defende ou fica calada quando o namorado tem determinada posição". E não o tem porque a questão de género não é para aqui chamada, isto é, se fosse ao contrário, "gaja" político e "gajo" cônjuge (ou gaja/gaja ou gajo/gajo, tanto faz), nada leva a crer a questão também não fosse levantada de modo semelhante. Em segundo lugar, também não tem razão porque sendo Ségolène Royal a anterior mulher de Hollande e Valerie a seguinte, o caso não pode deixar de dar lugar a interpretações que não terão muito a ver com a política. Correcta ou incorrectamente é o que menos importa, pois trata-se de uma mera questão de facto. E é exactamente por isso, e não por qualquer outra razão de género ou de autonomia intelectual, que mandaria o bom senso Valérie Trierweiler tivesse sido bem mais discreta no legítimo apoio político concedido ao adversário da ex-mulher de Hollande.

terça-feira, junho 12, 2012

Nursery Rhymes (8)


E se, pura e simplesmente, os outros jogam melhor?

Uma pergunta aos comentadores, jornalistas desportivos e "povo da SIC" que manda palpites, para o caso da selecção portuguesa não conseguir o apuramento: já se lhes ocorreu pensar que, em vez de tal poder vir a acontecer por não jogar o Nelson Oliveira, jogar o Postiga, o Paulo Bento ser "teimoso", a selecção jogar à defesa, não jogar ao ataque, ser pouco "ousada", o Cristiano mudar de penteado, o Nani dever jogar no apoio ao "ponta de lança" e o Eusébio já ter 70 anos, talvez isso possa acontecer pelo simples facto de as selecções da Alemanha, Holanda e/ou Dinamarca, todas nos dez primeiros lugares do "ranking", poderem ter melhores jogadores do que a selecção portuguesa, no global e em lugares-chave, e jogadores que permitem outro tipo de opções, como, por exemplo, um "ponta de lança" capaz de desencantar um golo do "quase-nada", como aconteceu com Mário Gomez??? É que talvez não fosse mau começar por aí...

Aprender com o EURO 2012 (2) - Polónia

segunda-feira, junho 11, 2012

Aprender com o EURO 2012 (1) - Ucrânia

EURO 2012, patrocinadores e "media": a tempestade perfeita

Para os mais distraídos: são os patrocinadores da FPF e da selecção que permitem, através das receitas desses patrocínios, que aquela e as suas congéneres da formação se preparem melhor para as competições em que participam; que permitem à FPF contratar melhores equipas técnicas, entre elas uma ex-campeã do mundo; que permitem que as várias selecções alcancem melhores resultados, prestigiando o país; que permitem o fomento do futebol jovem; que permitem oferecer melhores prémios aos jogadores, evitando casos como o de Saltillo; que permitem a melhoria das infraestruturas para a prática do futebol, etc e muitos mais eteceteras. Digamos que sem patrocinadores estaríamos ainda nos tempos da "bola quadrada" e das "balizas às costas".

Mas como não há almoços grátis, existem contrapartidas, e não só directas, nos painéis publicitários colocados por detrás dos jogadores durante as conferências de imprensa ou nas camisolas de treino da selecção: o retorno do patrocínio é tanto maior quanto maior for o número de pessoas que se interesse e acompanhe a equipa e os seus jogos, no fundo, que adira ao evento. Daí toda esta histeria, este ruído infindável, este bruáá, esta lavagem cerebral que ocupa tempo e espaço mediático sem fim quando nada há dizer: fazer crescer e vender o evento, valorizar e tornar o EURO 2012 e a participação da selecção no "acontecimento", angariando cada vez mais gente para o respectivo culto. Mesmo quando o "logo" da marca não está directamente presente, este é o objectivo principal. Ganham os patrocinadores, aumentando o valor do respectivo retorno, e ganham os "media", vendendo espaço e tempo dos seus programas que envolvam o EURO 2012 e a participação da selecção a esses mesmos patrocinadores. Estou mesmo quase a dizer que se trata de uma tempestade perfeita. 

domingo, junho 10, 2012

"The History of the Blues" (4/4)



Portugal-Alemanha

  1. A Alemanha jogou ontem como devem jogar os candidatos ao título no primeiro jogo das fases finais de europeus e mundiais, mais a mais já sabendo da derrota da Holanda: com segurança, eficácia, esquecendo a exibição, esperando "crescer com o campeonato" e tendo como objectivo principal não perder esse primeiro jogo, o que, quando acontece, nestes torneios curtos, é sempre um problema. Acabou por conseguir ganhar e só perdeu algum controle do jogo nos últimos 15'. 
  2. Ter um "ponta de lança" dá muito jeito. Ontem, Mário Gomez fez um golo surgido do quase nada, melhor, de um cruzamento quase inofensivo mesmo depois do ligeiro desvio que traiu os centrais portugueses. Fez o que os jogadores portugueses não conseguiram num par de oportunidades bem mais evidentes. Gomez joga na Alemanha: faz toda a diferença. 
  3. Portugal poderia ter obtido outro resultado se tivesse optado por uma atitude mais pro-activa desde o início do jogo? Digamos que é um "suponhamos", pois com essa opção sujeitava-se mais às transições rápidas alemãs (a selecção portuguesa, ao recuar as suas linhas e jogando com uma mentalidade "em primeiro lugar defender", pretendeu acima de tudo evitá-las) e, assim, também poderia ter sofrido um ou mais golos mais cedo. Também, claro, poderia ter tido mais tempo para recuperar de uma eventual desvantagem ou marcado primeiro. Acima de tudo, teria sido outro jogo, e é inútil especular sobre o que aconteceria em tal caso.

O 2º dia do EURO 2012

Confesso o jogo entre a selecção portuguesa e a alemã foi até agora o que segui com menor atenção, entre umas excelentes ameijoas e um não menos equiparável e "mineral" branco "Parus", da Herdade da Comporta. Portugal poderia ter ganho? Podia. Empatado? Também. Mas, digamos, se a selecção portuguesa jogou com cabeça, a diferença de potencial entre as duas equipas é grande e a vitória por 1-0 da Alemanha é, digamos assim, o resultado natural em função do que vi do jogo. Devo mesmo dizer que raramente vi um jogo em que o resultado se ajustasse tão bem ao que as equipas fizeram e em que pouco ou nada mais haverá a dizer. Cada uma fez o que pôde e como pôde e a Alemanha pôde e pode mais. Ponto!

Já agora: apesar da espectacularidade da Rússia (vamos ver até onde lhes dura o lastro, pois já vi coisas parecidas em muitas equipas que se ficaram pelos 1/4 de final), Grécia e Dinamarca impressionaram-me como as equipas que melhor souberam pensar e interpretar o sentido colectivo do jogo nas suas diversas fases. Muito bem.

sexta-feira, junho 08, 2012

EURO 2012: primeiras impressões

  1. Cada vez mais um espectáculo total, em que a actuação do público, a decoração dos estádios e até o grafismo para as televisões tendem a formar um todo. Muito bem a UEFA, que o compreendeu.
  2. Uma coisa é atletismo e outra, bem diferente, futebol. Enquanto a Grécia deixou que o jogo se discutisse na área do atletismo, a Polónia dominou. Quando conseguiu que passasse a ser a ciência de jogo a ditar leis, a Polónia desapareceu e a Grécia esteve muito perto de ganhar. Saber jogar à bola, mesmo que apenas razoavelmente, ainda compensa. Dedo de Fernando Santos, um treinador competente.
  3. Com a generalização da chamada "pressão alta", com as equipas a defenderem mais à frente com mais jogadores, perder a bola no início da transição ofensiva, momento em que a equipa está mais desequilibrada e descompensada defensivamente, é quase sempre fatal: há sempre mais gente para chegar ao golo. A Polónia marcou assim. 

Mozart e Jos van Immerseel* (4)


Marjan de Haer (harpa)
Frank Theuns (flauta)
Anima Eterna dirigida por Jos van Immerseel*

quinta-feira, junho 07, 2012

FPF, selecção e patrocinadores

Confesso não entender - nem muito bem, nem muito mal - qual o problema por, em tempos, um patrocinador da selecção portuguesa de futebol ter sugerido um dos jogadores a incluir no lote final dos 23 fosse designado por votação popular. Os contratos entre FPF e patrocinadores são negociados previamente, no seu valor e contrapartidas, e, por conseguinte, qualquer patrocinador tonto até poderia exigir, no limite, um dos 23 fosse... a Soraia Chaves, competindo à FPF recusar tal disparate. Portanto, um patrocinador querer impor aquilo que acha mais favorável para rentabilizar o seu investimento deve ser encarado como absolutamente normal. Escandaloso seria a FPF não zelar pelos seus interesses e não ter recusado liminarmente qualquer proposta que os pudesse lesar. Como recusou - e muito bem - o tal disparate da votação popular, não chego a perceber onde está o problema. A não ser na cabeça dos jornalistas e comentadores da "bola", claro.   

Mentalidades...

A mentalidade dos que pensam que o estágio de desportistas profissionais é assim uma coisa para se viver em clausura, em regime militar ou prisional, com treinos de manhã à noite, é a mesma dos que propõem o corte nas férias e nos feriados, o aumento do número de horas de trabalho para se resolverem os problemas de produtividade da economia portuguesa. É a mesma dos que têm uma visão moral de um país e de um mundo  onde devemos expiar os pecados (gula? luxúria?) supostamente cometidos. Excepto, claro, a inveja, de cujo exercício essa gente não abdica.

Está em causa a mesma tacanhez, a mesma mentalidade mesquinha de gente "pequenina" e que apenas sabe pensar a essa sua dimensão. Fujam deles...

"O Oriente é Vermelho" (Final)

quarta-feira, junho 06, 2012

Vichy (5)


Paco Ibañez En el Olympia (1)

"España en Marcha"

As duas faces do populismo no EURO 2012

Está dado o mote, criado o "caldo de cultura" populista para o "aftermath" do jogo da selecção portuguesa de futebol com a Alemanha. Se a selecção fizer um "bom resultado" (leia-se, ganhar ou empatar) lá teremos mais uma vez a história dos "portuguesinhos" valentes, pobres mas lutadores, que vergaram a poderosa e arrogante Alemanha (pouco faltará para lhe chamarem "nazi"). Tudo isto, claro, potenciado por afirmações de alguns responsáveis da selecção alemã que não dão Portugal como favorito e ridicularizam os golos sofridos no jogo com a Turquia, bem como pela estratégia política europeia da CDU de Angela Merkel. Esquecem-se que a selecção portuguesa está mesmo longe de ser favorita, que dois dos golos sofridos contra a Turquia foram mesmo ridículos, que a tradicional e tão enaltecida "humildade" portuguesa nada mais é do que a arrogância dos fracos e que a estratégia de Merkel e da CDU alemã, da qual discordo, nada mais representa do que a sua interpretação, mesmo que errada, do que entendem ser o interesse nacional. Será a versão pós-moderna do discurso pedrotiano e de "A Bola" de antanho, do futebol "matreiro e malandro", da valorização da esperteza e "desenrascanso" nacionais contra a "força bruta" e os "panzers" alemães. Só de ter de o escrever me dá vómitos e sabemos onde tal nos levou. 

Se a selecção portuguesa perder, já existe "bode expiatório", certificado e autenticado, despoletado por afirmações de dois treinadores ressabiados pelo seu afastamento da selecção (Manuel José quase chegou a ter contrato assinado e foi "trocado" por Scolari) e que nunca obtiveram qualquer sucesso no primeiro-mundo do futebol adulto. E o tal "bode expiatório", agitado por quem pouco ou nada percebe de metodologia de treino e liderança, será o "circo", o dinheiro gasto na preparação, o "descanso" (o que seria bom era mesmo serem tratados como presidiários...), os carros dos jogadores, o que ganham e, por último - e uma vez mais -, os estafados apelos ao proteccionismo na defesa dos jogadores portugueses. Para além de "media" e "povo da SIC colocarem em segundo-plano o facto de Manuel José e Carlos Queiroz (já agora, porque é constantemente tratado por "professor" e Mourinho não?) terem um contencioso com a FPF, o que nada atesta em favor a independência das suas análises, esquecem-se que, em função dos adversários, o não-apuramento para os 1/4 de final será o resultado natural (digamos assim), a preparação não terá sido muito diferente de anos anteriores, que o jogadores são livres de gastarem como quiserem o muito dinheiro que legitimamente ganham (e ter um carro de €200 000 não significa qualquer falta de profissionalismo), que os melhores resultados da selecção portuguesa foram conseguidos com uma maioria de jogadores a actuarem nos melhores campeonatos europeus e que o dinheiro gasto com estágios e treinos é recebido de patrocinadores, da venda de direitos televisivos e da UEFA. E, claro, que boas exibições e resultados da equipa terão óbvias repercussões na valorização dos próprios jogadores, pelo que estes serão os primeiros interessados em ganhar.

No fundo, estamos perante duas faces da mesma moeda, que revelam a falta de seriedade e rigor com que estes assuntos são analisados pela comunicação social, fruto, também elas, da mesma ausência de cultura e rigor, do subdesenvolvimento ainda demasiado evidente na sociedade portuguesa e da impreparação de muito do jornalismo desportivo (há excepções, felizmente) para a profissão que exercem. Uma lástima.

Vítor Gaspar e a sondagem da "Católica"

Continuando a falar da última sondagem do CESPOP para o DN/JN/TP e Antena 1, é no mínimo curioso, para não dizer extraordinário, o facto de ser o ministro Vítor Gaspar - o "rosto da austeridade" - a conseguir a melhor avaliação entre os membros do governo (9.2), o que pode mesmo parecer um contra-senso. Seria interessante a sondagem ter aprofundado esta questão, mas o que me parece evidente é que os portugueses dão mais importância à imagem projectada de seriedade e rigor, àquilo que se convencionou a "posse Estado", corresponda ela ou não à realidade, do que às medidas governamentais em si mesmas. No fundo, tendem a valorizar mais questões de ordem "moral" do que "política", o que acaba por ser confirmado pelo baixíssimo "score" de Miguel Relvas (5.6), "embrulhado" na trapalhada das "secretas" mas cuja influência directa nas medidas que definem o "bem-estar" dos cidadãos é bem menos evidente.

Preocupante? Sim, sem dúvida, porque além de revelarem a despolitização dos portugueses, o seu relativo atraso cultural e subdesenvolvimento, a atracção ainda sentida por um "mood & tone" discursivo com demasiadas ressonâncias salazarento-seminaristas, lembra-nos que as questões morais, "justicialistas", relacionadas com o "carácter", estão sempre demasiado presentes na génese e na justificação das ditaduras ou, no mínimo, dos populismos de rosto mais ou menos democrático.

terça-feira, junho 05, 2012

O "empate técnico"

Na actual conjuntura recessiva e com o desemprego a atingir números nunca sonhados, o principal papel do PS, enquanto único partido da oposição situado dentro daquilo que se convencionou chamar o "arco governamental", seja, partido que aceita a democracia liberal, o primado da livre iniciativa e a integração na UE, deveria ser concentrar em si o descontentamento mais do que natural com a actuação do governo, propondo, tanto quanto possível, uma alternativa clara, credível e europeia à actual "estratégia de empobrecimento" proposta por FMI, BCE e UE. O que nos mostra o último barómetro realizado pela Católica para o DN/JN/RTPe Antena1 é a dificuldade demonstrada pelo PS em assumir esse seu papel, deixando "deslizar" para a esquerda comunista e radical o natural descontentamento de muitos cidadãos. Pese embora o "empate técnico" verificado (digamos que, apesar de tudo, um "empate técnico" favorável a PSD/CDS), não me parece António José Seguro tenha especiais razões para festejar. O país também não...

As capas de Cândido Costa Pinto (79)

Capa de CCP para "O Revolver de Maigret", de Georges Simenon, nº 104 da "Colecção Vampiro"