segunda-feira, maio 31, 2010

Cavaco Silva não se pronuncia...

Cavaco Silva tem todo direito de não se pronunciar sobre o apoio do PS à candidatura de Manuel Alegre. Acho, mesmo, não o deve fazer, para além de palavras inócuas de circunstância: Cavaco Silva ainda não assumiu a recandidatura e é Presidente da República em exercício, sendo necessário, enquanto estas circunstâncias se não alterarem, que mantenha alguma imparcialidade e discrição sobre o assunto.

O que não pode fazer é, como ouvi há pouco no Telejornal (RTP1), basear essa sua escusa no facto de “o país ter dificuldades de financiamento, as empresas portuguesas estarem em situação difícil e existirem mais de 10% de desempregados” (cito de memória). Em primeiro lugar, porque convém alguém lembrar-lhe que é Presidente da República e não ministro das finanças. Em segundo lugar, porque o país não se reduz às questões da economia e qualquer decisão ou abordagem de um tema é sempre baseada em questões, essencialmente, de ordem política. Em segundo lugar, porque não está a ser coerente, já que, até agora, nas três vezes em que se dirigiu ao país nunca o fez por questões essenciais da vida política, pese embora a indiscutível relevância do Estatuto dos Açores e do casamento entre pessoas do mesmo sexo.

Que revela assim Cavaco Silva? Nada de novo: o incómodo que sempre sentiu quando a política assume o “posto de comando”, característica que já foi bem visível quando ocupou o cargo de primeiro-ministro e foi responsável por ter transformado esses anos numa oportunidade perdida.

Lamentável...

Bom, vamos lá admitir (e eu admito-o) que os militares israelitas foram recebidos com hostilidade, e até com alguma violência, quando interceptaram as tais embarcações que levavam ajuda humanitária à Faixa de Gaza. Vamos mesmo admitir (e eu, que já deixei há muito de ser ingénuo, não me custa nada fazê-lo) que no meio da tal ajuda humanitária se escondia, bem dissimulado, algum material militar. Por fim, lá vamos aceitar que os tripulantes dos tais barcos, cujas guarnições seriam compostas por simpatizantes da causa palestiniana e, até, das suas facções mais extremistas, montaram uma provocação para dela tirarem esperados benefícios propagandísticos. Mas pergunto: sendo a marinha israelita composta por profissionais altamente treinados e suponho que bem comandados, não saberia já ao que ia e não conheceria muito bem o que a esperava e como deveria reagir? Isto é, que deveria evitar cair em qualquer eventual esparrela, muito fácil de prever, e agir com o profissionalismo que lhe era exigido em face da sua superior preparação e poder militar?

Bom, eu, que não sou ingénuo, acho que sim e acho também que se a marinha israelita não o fez é porque o Estado de Israel e o seu governo esperam, de algum modo, tirar proveito político do incidente. Lamentável.

"Out of Africa" (5)



"King Solomon's Mines", de Compton Bennett e Andrew Marton (1950)

domingo, maio 30, 2010

Elvis Presley, 75 anos - original SUN recordings (10)

"Mystery Train", um original de Junior Parker e Sam Phillips. Interpretações de Little Junior's Blue Flames e Elvis Presley.
"B" side do seu 5º "single" editado a 6 de Agosto de 1955

sábado, maio 29, 2010

Notas de sábado à noite (2)

Ninguém acredita na imprensa desportiva, claro. Por isso mesmo penso não terá qualquer credibilidade a notícia de hoje na primeira página de “A Bola” sobre o possível convite de Luís Filipe Vieira ao guarda-redes Quim para a renovação do seu contrato. É que depois de Jorge Jesus ter declarado publicamente que não conta com Quim como jogador do SLB na próxima época, nada mais resta a LFV senão dar o seu acordo à decisão, considere-a boa ou má. Caso não o faça está a desautorizar o seu treinador e, consequentemente, a arriscar um enorme 31.

Notas de sábado à noite (1)

A promulgação da lei sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo é apenas o pretexto, o leit-motiv ideológico e potencialmente mobilizador que, talvez conjunturalmente como aconteceu com a aliança que deu origem ao 28 de Maio, une alguma direita católica ultra-conservadora e o radicalismo “Medina-Carreirista” na reivindicação da presidencialização do regime. É a janela de oportunidade para forçar Cavaco Silva a uma maior intervenção, mesmo que nas margens ou até para além da constitucionalidade. Sintomático que seja Santana Lopes, que nunca perdoou a Cavaco o episódio da má moeda e a Sampaio o “despedimento”, uma das personalidades em maior evidência. Não nos enganemos: o que está em causa é mesmo o regime.

sexta-feira, maio 28, 2010

Para ler e meditar...

“... o que em muitos casos era um direito tornou-se um abuso. Como o da idade da reforma dos ferroviários franceses, fixada aos 55 anos numa era em que muitos começavam a colocar carvão nas fornalhas aos 13, mas que se manteve até esta época em que a profissão se exerce nas sofisticadas cabinas dos TGV...”

O exemplo poderá ser alargado a muitas outras profissões e actividades (digo eu) e a citação não é a de um qualquer reaccionário ou ultra-liberal mas sim de Tony Judt, um defensor da social-democracia e do Estado-providência, adversário do neo-liberalismo e autor do livro “Ill Fares the Land”, citado no Ípsilon de hoje por Manuel Carvalho.

Gilbert & Sullivan (10)

Gilbert & Sullivan - "The Pirates of Penzance"
"I Am the Very Model of a Modern Major-General"

CDS: Programa Comum de Esquerda ou "neo-poujadisme"?

Enternecedor, enternecedor mesmo, é ver o CDS (ou será o PP?) defender acaloradamente as PMEs (não sei se também as “micro”...), conceito cuja origem remonta à estratégia frentista dos partidos comunistas europeus dos anos 60 e 70 do século passado, mormente ao Programa Comum da esquerda francesa. Ou será que os apelos em favor das tais PMEs, juntamente com a “lavoura”, os pescadores, o comércio tradicional (também os artesãos?), não são mais do que o suporte de uma estratégia que poderíamos chamar de “neo-poujadiste” adaptada ao “bom povo português”? Pois, Jean Marie Le Pen até foi deputado “poujadiste” em 1956. Mas se alguma vez, nessa altura, se passeou pelas feiras é algo que desconheço...

quinta-feira, maio 27, 2010

As capas de Cândido Costa Pinto (65)

Capa de CCP para "O Assassinato de Roger Ackroyd", de Agatha Christie, nº 7 da "Colecção Vampiro"

"Sword & Sandals" (10)


"The Giant of Marathon", de Jacques Tourneur e Mario Bava (1959)

Nº de habitantes, nº de deputados, demagogia e populismo

Sim, eu sei que é puro masoquismo ouvir os fóruns de opinião, algo onde a estupidez e o populismo mais rasteiro costumam andar de mãos dadas. Mas hoje abri uma excepção e ouvi um pouco do “Fórum TSF”, principalmente por o tema ser mesmo dos mais dados a esses desbragados populismo e demagogia (daí o masoquismo!), mas também porque me interessou saber o que pensavam sobre o assunto em debate (redução do número de deputados) alguns especialistas em ciência política. As minha expectativas – confesso – não foram goradas e se da parte de políticos e especialistas como André Freire ou António Costa Pinto as naturais reticências e reservas foram o mote, da parte do “povo da SIC”, profissional destas coisas, lá veio o tradicional relambório contra os políticos que me escuso de citar.

Bom, mas porque venho aqui falar de tal coisa, assunto que é sempre, e felizmente, um nado-morto? Apenas porque, durante o tempo que consegui resistir, na sua santa ignorância um dos ouvintes lá veio focar o caso de Portugal ter um “ratio” habitantes/deputado mais favorável do que a Espanha e Alemanha. Pois vamos lá esclarecer...

De facto, se dividirmos o nº de habitantes pelo nº de deputados (10MM/230), em Portugal obtemos um quociente de 43 000, inferior aos de Espanha (46MM/609 membros das duas câmaras = 75 500) e da Alemanha (82MM/658 – idem = 125 000). No entanto, nestas coisas convém sempre ver os dois lados da questão e não nos ficarmos pela metade ou deixarmos iludir pelas aparências. Que quero dizer com isto? Pura e simplesmente, que se efectuarmos esta análise para países de menor população, como o são, por exemplo, a Holanda, a República Checa e o Luxemburgo, chegaremos a conclusões bem diversas. Assim, se a Holanda, com 16MM de habitantes, tem um total de 225 deputados distribuídos pelas suas duas câmaras (“ratio” de 71 000), já na República Checa, tal como Portugal com cerca de 10MM de habitantes, esse “ratio” é de 35 587 (inferior ao português) e no pequeno Luxemburgo, com meio milhão de habitantes e 60 deputados, de 8 333. Podíamos continuar, claro (a Áustria, por exemplo, com pouco mais de 8MM de habitantes, tem 245 representantes distribuídos pelas duas câmaras), mas parece-me inútil.

E porque é assim, isto é, porque não existe uma proporcionalidade perfeita entre cidadãos e seus representantes nas democracias modernas? Pura e simplesmente, porque o nº de deputados não é apenas determinado pelo work load dos parlamentos e a necessidade de lhe dar resposta em termos de mão-de-obra, digamos assim, muito menos pelo dinheiro que custam ao erário público. Nas democracias, esse número é também, e fundamentalmente, determinado pela necessidade de assegurar a representatividade política suficiente do maior número possível de cidadãos, integrando-os no sistema. Na sua ausência, isto é, quando essa representatividade não é assegurada, e assegurá-la subentende a existência de um número de representantes eleitos suficiente e um sistema eleitoral que o permita, a democracia empobrece-se e pode mesmo correr sérios riscos de disfunção e desagregação. O Reino Unido, por exemplo, para que isso não aconteça e por pressão dos Lib-Dem, irá provavelmente, a breve prazo, rever o seu sistema eleitoral no sentido de assegurar uma representação mais proporcional. No caso português, se fosse decidido efectuar um corte no nº de deputados sem que correcções adicionais fossem implementadas (e mesmo assim...) a representação parlamentar dos partidos mais pequenos (PP, PCP e BE) seria gravemente afectada, com enorme prejuízo da democracia e talvez até da governabilidade pelo risco de colocar grupos sociais significativos fora da mediação parlamentar.

Pois é, a democracia custa dinheiro e ceder ao populismo e à demagogia dá sempre muito maus resultados. Esperemos prevaleça o bom-senso e tal não aconteça. Até porque, mesmo dentro da Assembleia da República, não será difícil encontrar outras áreas onde reduzir custos sem prejudicar a qualidade da democracia.

quarta-feira, maio 26, 2010

Carlos Queiroz: importa-se de não dizer disparates?

Confesso que o meu interesse pela selecção nacional de futebol não é muito e que prefiro os Europeus aos Mundiais. Em relação á selecção, por ora apenas digo que, em termos individuais (o que vale o que vale), este grupo de jogadores portugueses é inferior ao dos últimos dez anos (sim, mesmo ao do campeonato Coreia/Japão), talvez só comparável ao europeu de 1996. Mas deixo um conselho a Carlos Queiroz: pare de dizer disparates como “agora é que o estágio vai começar” e outros dislates do mesmo género. É que não abonam nada em favor da sua inteligência e, com a sua experiência – que a tem -, bem pode substituir tais “boutades” por algo um pouco mais consistente e motivador. O quê? Por exemplo, que a Itália (bem sei que no tempo dos dois pontos por vitória) já passou “à rasca”, com três empates, a fase de grupos e foi campeã do mundo, que a Dinamarca passou de repescada a campeã europeia ou que equipas que começam por encantar acabam normalmente nos oitavos ou quartos de final. Talvez assim, e não com o ar "lost in translation" que tem aparentado, consiga motivar melhor os jogadores e ganhar mais eficazmente entre os portugueses o benefício da dúvida.

Gene Vincent & Eddie Cochran (4)

Eddie Cochran - "Jeannie, Jeannie, Jeannie"

O PS do Porto e a candidatura de Alegre

As afirmações de Renato Sampaio, líder da Federação do PS do Porto, sobre a candidatura de Manuel Alegre, são bem o espelho do que é demasiadas vezes a vida partidária e valores pelos quais esta se rege. Ao exprimir as suas reticências à candidatura de Alegre baseando-se no facto de esta “aprisionar” o PS, Sampaio não deixa de ter razão, mas, como tantas vezes acontece em Portugal, esquece ou tem dificuldade em isolar e focar o essencial: se a candidatura de Alegre aprisiona o PS e tem sido instrumento fundamental na estratégia de divisão deste partido protagonizada pelo Bloco de Esquerda, e não digo isso não deva ser tido em conta, a questão fundamental, chave, é de ordem política e não “clubística” ou partidária, no sentido restrito, podendo sintetizar-se na seguinte pergunta: se, neste momento, a contradição política essencial em Portugal é entre os que se reconhecem na democracia liberal (PS, PSD e PP) baseada nos direitos, liberdades e garantias, na livre iniciativa e no projecto europeu consubstanciado na UE, e os que se lhe opõem (PCP e BE) propondo um projecto de sociedade alternativo, pode o PS apoiar um candidato partilhado com o BE? Mais a mais tendo-se este vindo a opor, conjuntural e sistematicamente, a opções políticas tão essenciais do governo e do Partido Socialista (diria do regime e do país) como o são o orçamento, o PEC e as chamadas “medidas de austeridade”? A minha resposta é “não”: por razões essenciais de ordem política e independentemente de quaisquer outros motivos adicionais, mas acessórios, não o pode fazer. Mas como geriu mal todo processo - com os pés -, vai ter que acabar por o fazer da pior forma possível: também com os pés. Um pé dentro e outro fora, claro! Lamentável!

terça-feira, maio 25, 2010

Parece que o PCP e "Os Verdes" decidiram entrar no capital da Sonae...

Parece que o PCP, através da sua subsidiária que dá pelo nomes de “Os Verdes”, quer obrigar as grandes superfícies comerciais (porquê só as grandes? Então e as “micro, pequenas e médias”?) “a terem produtos nacionais disponíveis para os consumidores”. Digamos que seria interessante, e entre o produto A ao preço X, importado, e o produto B ao preço X+n, nacional, seria curioso ver qual a preferência dos consumidores. Isto já não falando das previsíveis diferenças de qualidade em grande parte dos casos. Talvez se acabasse de vez com mais este mito do “que é nacional é bom”.

Bom, mas se PCP e “Verdes” querem levar o projecto por diante, sugiro comecem já, e rapidamente, a comprar acções da Sonae, Jerónimo Martins, Lidl, Intermarché, Makro e por aí fora, para já não falar de quotas nas mercearias dos Srs. António e Joaquim, em quantidade suficiente para terem assento e voz activa nos respectivos conselhos de administração, único modo – parece-me - de levarem por diante tal iniciativa. “Bute” lá, meus caros? Que tal levarem o assunto até ás últimas consequências? É que brincar com o dinheiro dos outros é fantástico, não é?

Les Belles Anglaises (XLI)








Talbot 105 (1926-1935)

Uma canseira!

Pois parece que neste país vamos estando assim: quem acha que, para defesa da legalidade, as escutas do “ Face Oculta” não podem ser divulgadas é um desprezível “sócretino”; quem acha que, para defesa dos Estado de Direito Democrático, a polícia não pode abater a tiro qualquer assaltante de Banco, excepto em casos muitos extremos, é um perigoso esquerdista radical, quiçá defensor do terrorismo. Quem acha que a professora Bruna Real pós -“Playboy” não tem de momento, na situação real e concreta, condições para leccionar só pode ser um empedernido conservador; quem acha que escolas podem depender das autarquias atira-me logo com este exemplo para demonstrar de tal coisa os malefícios. Quem acha que Cavaco Silva tem sido um péssimo Presidente da República é de esquerda e quem acha que Manuel Alegre não tem condições para ser o candidato do PS é de direita. Quem, como eu, concorda com Mourinho quando este diz que nem com Cristiano a “mil à hora” Portugal será campeão do mundo comete crime de lesa pátria; mas quem acha – e eu também acho - que o empate de ontem da selecção portuguesa pouco ou nada quer dizer é um suspeito defensor de Queiroz. Podia continuar, a lista é infindável...

O problema, o verdadeiro problema é que entre familiares e amigos mais chegados há sempre pelo menos um que discorda de mim em qualquer destes pontos, ou mesmo em outros, e lá vem mais uma polémica. Uff!, uma canseira! Salutar, mas uma canseira...

De qualquer modo, muito obrigado por discordarem!

domingo, maio 23, 2010

C. L. final: notas breves no "aftermath"

  1. Se Deus existisse, fosse um computador e criasse equipas de futebol à sua imagem e semelhança, estas seriam as equipas de José Mourinho. Tudo é perfeito, está previsto e não falha: os intérpretes ligados como elementos de uma estrutura coerente. Claro que não é o “ballet” de Pep Guardiola, uma sinfonia de Mozart ou uma área das “Bodas de Fígaro” que fica no nosso ouvido; é algo mais aproximado ao drama Wagneriano e que, portanto, exige ao espectador uma entrega e concentração totais; a abstracção de um mundo, durante uma horas, para que se possa dar entrada num outro. Quem não o consegue fazer acha o espectáculo enfadonho e retira-se ao fim dos primeiros dez minutos; os outros entram num reino que é pertença do divino. Depois de FCP, Chelsea e Inter, no Real Madrid José Mourinho, qual Richard Wagner, prepara a quarta parte do seu “Anel”, da sua tetralogia.
  2. Milito, com a sua técnica, flexibilidade e também poder atlético, nas doses certas, fez o que quis de dois centrais com um futebol estilo “estivador”. Ainda por cima, Sneijder, Pandev e Eto’o insistiam, de vez em quando, em aparecer por ali. A “rabeta” de Milito a Van Buyten, no segundo golo, entra para a História das finais da Champions League. Foi penoso.
  3. No seu percurso, Mourinho foi sempre passando, duradouramente, por clubes com uma característica comum: gestão centrada, e centralizada, em presidentes “todo-poderosos” (Pinto da Costa, Abramovich, Moratti e, no futuro, Florentino Perez). Nos três últimos casos, estamos também perante clubes que tinham, ou têm, andado arredados das grandes vitórias, ou nunca as tiveram (Chelsea). Ser criterioso ou estar em posição de poder escolher os projectos que melhor se adaptam a cada um também constitui um valioso activo.
  4. Cambiasso e Zanetti fora da selecção? Custa a crer, embora reconheça que, em termos puramente individuais, a Argentina bate aos pontos toda a concorrência (sim, mesmo o Brasil!). Para equilibrar as coisas, talvez tenha o pior dos 32 treinadores. Sim, claro, o Maradona jogador – confesso – nunca foi a minha “chávena de chá”, muito menos o Maradona “tudo o resto”.
  5. Um jogador que me custa ver: Schweinsteiger. Lembro-me de o ver despontar num Torneio de Toulon e ver nele um desequilibrador nato, um jogador capaz de fazer a diferença no futebol alemão e internacional. Penso que foi chamado à selecção principal ainda nesse mesmo ano, acho que 2004 no Europeu disputado em Portugal. Que é feito “desse” Schweinsteiger?
  6. Gomez? Klose? Onde estão os grandes goleadores do futebol alemão, ao nível de um Uwe Seeler, Gerd Müller, Fritz Walter, Klinsmann? Para o Mundial de 2010 a Mannschaft, nos 30 pré-convocados, e para além daqueles dois, recorreu a um tal Claudemir Jerónimo Barreto, aka “Cacau”...
  7. O MVP da final? José Mourinho, pois claro. Oh, desculpem, enganei-me. Um tal Diego Milito, não foi?
  8. Júlio César. Só se dá por ele quando é preciso e, como o Inter defende melhor do que bem, é preciso poucas vezes. Mas quando é... sabe-se que não existem grandes preocupações. Já agora, do outro lado Hans-Jorg Butt foi suplente do “meu” SLB. Não será fantástico, mas quando olho pelos que têm por lá passado como titulares...
  9. Principal conclusão desta Champions League: bola? Ter a bola? Mas para que raio serve tal coisa?
  10. Terminar com José Mourinho, pois claro. Dizendo que o português é, finalmente, a quase impossível síntese entre dois dos mais notáveis generais da WWII: o carisma, a ousadia, o "panache" e o sentido de liderança de George Patton e a competência, capacidade de trabalho e sentido da responsabilidade de Omar Bradley.

sábado, maio 22, 2010

C. L. final - fotos recebidas directamente de Santiago Bernabéu


C. L. Final - do adepto do Inter que assiste ao jogo com o enviado-especial do "Gato Maltês"

"La vittoria piú pulita nell'anno piú bello. Grazie ragazzi, grazie Mou. Forza Inter!"

C. L. final - do enviado especial do "Gato Maltês"

Grande jogo... grande emoção. Mourinho sempre a ser filmado nos écrans do estádio. Está uma loucura. Um Bayern muito fraco a depender de rasgos de um ausente Robben. Milito o herói, Sneijder a construir jogo

C. L. final (ao intervalo)

"Il principe Milito colora di nerazzurro la notte magica di Madrid. La Coppa á a soli 45 minuti." Ass: di vostro corrispondente italiano al Benabéu.

C. L final. Do enviado-especial do "Gato Maltês"

"Adeptos do Bayern ainda não pararam de cantar e "Mou" ainda não se sentou".!

C. L. final. Do adepto do Inter que assiste ao encontro c/ o correspondente do "Gato Maltês"

"Stadio al completo. Serenata ideale, con temperatura perfetta. É la notte che l'Inter aspettava da 47 anni. Ass: dal vostro corrispondente italiano al Bernabéu."

Champions League final. Do enviado-especial do "Gato Maltês"

Por telemóvel: "Ainda fora do estádio... Grande ambiente! Rivaliza com o clássico Madrid-Barça."

Ainda o "caso" Bruna Real

No "Público" de hoje:

"Pedro Vasconcelos, sociólogo, professor na Universidade de Lisboa, considera que a própria dimensão mediática do caso prejudica a sua análise em profundidade. "A comunicação social tendeu a ver isto a preto e branco: liberdade individual vs. represálias moralistas. Estas componentes até podem estar lá, mas convém não exagerar. Assiste-se a um extremar de posições, quando devia haver sensatez. A avaliação não pode ser excessivamente politizada, ideológica; o caso mediático faz esconder a realidade concreta, de um sítio concreto, num contexto concreto."
Muito bem, acrescento.

Champions League final

Do enviado-especial do "Gato Maltês" para fazer inveja aos invejosos de José Mourinho

E se elegessem o Rato Mickey?

Apesar do maior (escutas) ou menor (Açores) desastre por que se saldaram as suas três comunicações ao país e da alguma inépcia política que, sem surpresa, tem demonstrado no exercício das suas funções presidenciais, Cavaco Silva continua a apresentar o saldo positivo mais elevado entre opiniões favoráveis e desfavoráveis (23.5%), segundo os últimos números da Eurosondagem.

Caso para dizer que os portugueses valorizam mais o cargo do que a forma como ele é exercido. Se assim é, que tal elegerem o Rato Mickey?

Champions League: no dia do jogo do ano

Georg Friedrich Händel - "Zadok the Priest", Coronation Anthem
Foi com o Inter a primeira final da antiga Taça dos Campeões europeus que vi ao vivo, no estádio do Jamor. Estava no final da adolescência e a bancada central no estádio terá servido de palco à primeira vez em que terei bebido whisky sem água ou gelo, oferecido generosamente pelos milhares de adeptos do Celtic que no final beijaram a relva e a transportaram aos pedaços para a sua velha Glasgow. Talvez assim a cidade mais feia da bela Escócia tenha espantado um pouco da sua fealdade.

Eu, que consegui acabar o jogo sóbrio, torci então pelo Celtic, por simpatia para com aqueles animados e generosos escoceses, porque era a equipa mais fraca e porque torço sempre pelos britânicos, talvez com a única excepção de quando estes resolvem chatear os pobres dos irlandeses. Mas o Celtic, soube-o nesse dia, também era um pouco irlandês, o que justificava ainda mais a opção que então tomei. Fiquei para sempre com uma pequena costela do clube, apesar de equipar com as cores e riscas do “meu” rival Sporting, e nem aquele malfadado jogo da “moeda ao ar”, em 1969, abalou demasiado estas minhas convicções.

Mas hoje, ao contrário do que então aconteceu no Jamor, opto pelo F. C. Internazionale, apesar de Munique ser uma das minhas cidades europeias favoritas e, certamente, talvez a mais bonita e opulenta que conheço na Alemanha. Por patriotismo?, por José Mourinho ser português? Nada disso: antes pelo contrário. Por José Mourinho condensar em si todas as características que sintetizam a antítese de tudo aquilo que tradicionalmente atribuímos à personalidade do português típico: é arrogante em vez de humilde, afirma-se pela positiva sem pedir desculpa a ninguém por existir, é cosmopolita em vez de provinciano, prefere as rupturas ao consenso, é directo e opta pelo confronto, pragmático sem se importar de jogar feio, opta sempre por defender os seus.

Por isso, tem Mourinho toda a razão quando diz que as suas vitórias não são as do futebol português ou as dos portugueses, ambos, genericamente, demasiado mesquinhos e invejosos para o merecerem. As suas vitórias são, de facto, dele mesmo e dos que com ele partilham a mesma visão do futebol e do mundo. Pois que ganhe hoje, mais uma vez, José Mourinho! E obrigado pela lição que dá a esta gente!

sexta-feira, maio 21, 2010

O "Gato Maltês" e a final da Champions League


Como não poderia deixar de acontecer, o "Gato Maltês" terá amanhã o seu enviado-especial no Santiago Bérnabeu, em Madrid, para assistir e enviar reportagem sobre a final da Champions League. Espera também o "Gato Maltês", nessa reportagem, contar com a colaboração de um adepto italiano do F. C. Internazionale. Desde já, os agradecimentos pela colaboração.

O verdadeiro Major Alvega (3)

quinta-feira, maio 20, 2010

JPP e as escutas: o alvo será apenas José Sócrates?

Quer-me parecer que ao insistir, contra tudo e todos, na utilização das escutas do processo “Face Oculta” na Comissão de Inquérito do caso PT/TVI, na Assembleia da República, José Pacheco Pereira não visa apenas José Sócrates. Pretenderá também, para além de salvar a face e como a vingança se serve fria, visar Pedro Passos Coelho, forçando este último, após as suas últimas declarações e caso se prove o primeiro-ministro mentiu, a cumprir o prometido levando o assunto até ás últimas consequências políticas (leia-se, apresentar uma “moção de censura”).

Sobre estas declarações de Passos Coelho apenas um comentário: ou é politicamente ingénuo - o que não acredito - ou estará suficientemente seguro de que as conclusões da referida comissão não serão totalmente conclusivas e incontroversas.

À atenção da RTP

Prisioneiros portugueses após a invasão do "Estado da Índia"

Completam-se no próximo ano (Dezembro 2011) cinquenta anos sobre a Operação Vijay, a invasão do chamado Estado Português da Índia. Seria bastante interessante que o serviço público de televisão aproveitasse a efeméride para, na sequência da série “A Guerra”, realizar e emitir uma série de programas alusivos a um acontecimento tão controverso que chegou mesmo a causar dissensões no seio da ditadura de Salazar e é praticamente coincidente com algumas das acções mais espectaculares contra o regime levadas a cabo pela oposição democrática no período subsequente às eleições presidenciais de 1958 (desvio do “Santa Maria”, assalto ao quartel de Beja e revolta da Sé).

Povo que não conhece bem o seu passado não pode aspirar a melhor futuro...

"Empty Bed Blues" - Best of good time mommas (1)

Lucille Bogan - "Skin Game Blues"

Ah!, grande Helena!

"Nós os jornalistas fazemos as perguntas mais inesperadas em busca de demissões, julgamentos do que já passou e frases bombásticas quando todos ainda estamos na fase de saber como vão ser concretizadas as medidas de austeridade, se é preciso mais, qual a amplitude do acordo com o PSD, o que poderemos ter de fazer mais para se garantir a vida ao euro, se o euro está em risco"

Helena Garrido no "Visto da Economia"

quarta-feira, maio 19, 2010

A ler sem falta

Concorde-se ou não com ela integralmente (e eu concordo, digamos, em 85%), esta é a melhor leitura política da entrevista de José Sócrates que me foi dado ler ou ouvir até ao momento. Um suspiro de alívio por a política ter finalmente "tomado o poder" no PSD.

História(s) da Música Popular (160)

1910 Fruitgum Company - "1,2,3 Red Light"
Bubblegum (XI)
Como era aquela história dos meus tempos de adolescência sobre as meninas mais ou menos bem comportadas? Acho rezava mais ou menos assim: se diziam “não” queriam dizer “talvez”, se diziam “talvez” queriam dizer “sim” e se diziam “sim” eram umas p....

Bom, passe o exagero da frase (si non é vero è bene trovato...), o tema ("1,2,3 Red Light”) que encerra a secção de “bubblegum” dedicada aos 1910 Fruitgum Company reflecte um pouco o que era o comportamento de muitas “donzelas” nas festas de garagem da minha adolescência, pelo menos face às primeiras “investidas”: “Everytime I try to prove I love you - 1, 2, 3 red light stops me”. Depois, logo se veria...


Mas o que bem se viu foi o sucesso dos 1910 Fruitgum Company com este tema que assentava que nem uma luva aos tempos púdicos de então, mas, subrepticiamente, os tentava subverter mostrando como eram absurdos. Por isso mesmo, chegou a # 5 dos US charts e vendeu mais de um milhão de cópias, o que, nos tempos de então, era coisa de monta. “Essa é que é essa!”

Judite Sousa, José Alberto Carvalho e "a" entrevista

E pronto! Os meus mais fundos receios tornaram-se realidade e, em vez de se colocar o primeiro-ministro perante o futuro que pode esperar os portugueses – estes ou os vindouros – depois das actuais medidas de austeridade - em nome de quê elas são indispensáveis - preferiu-se remexer na petite politique, na política politiqueira, na pequenez de, em tom inquisitorial que faria corar de vergonha qualquer aprendiz de Torquemada, tentar apanhar José Sócrates em contradição ou forçá-lo a confessar que se tinha enganado ou tinha mentido deliberadamente, que tinha na manga mais “medidas” (todos sabemos que as haverá se e quando Berlim achar necessário), que tinha recuado, talvez que fosse arrogante por não ter sentido a necessidade de pedir desculpa. Bullshit, desculpem lá!

Mas o problema, o maior problema, é que este tipo de entrevista, a que se seguem intermináveis análises em tom psicanalítico por parte de comentadores e “ofícios correlativos”, acaba por definir os padrões do modo de pensar e fazer política em Portugal, reproduzindo-se e entranhando-se entre cidadãos, comentadores, politólogos e os próprios políticos. Vá lá que, felizmente, quase não houve tempo suficiente para a novela PT/TVI (uff!...).

Mas querem um exemplo concreto do modo como se confrontou (mal) José Sócrates com um assunto incómodo para si e para o seu partido? Em vez dos entrevistadores terem perguntado como poderia estar o PS a equacionar o seu apoio a um candidato presidencial (Manuel Alegre) já apoiado por um partido (o BE) que vai votar favoravelmente uma moção de censura ao governo apresentada pelo PCP e cujos dirigentes e militantes irão apoiar e por certo desfilar na próxima manifestação da CGTP contra a política governamental (o que seria a pergunta política “de fundo, digamos assim), partidos que não perdem oportunidade de manifestarem a sua oposição à UE em período tão sensível para a existência e aprofundamento desta, preferiram centrar a sua pergunta numa, politicamente quase irrelevante, questão de “timing”. É esta a comunicação social que temos – infelizmente – avessa ao aprofundamento político, mas que não hesita a vir para jornais e telejornais agitar demagogicamennte os fantasmas mais caros ao “povo da SIC”.

É que, infelizmente, uma desgraça (maus políticos) nunca vem só (ainda pior comunicação social).

terça-feira, maio 18, 2010

Um "quase-recado" a Judite Sousa

O primeiro-ministro vai ser hoje entrevistado por Judite Sousa. Ok, certo: existem motivos mais do que suficientes para justificar a actualidade de tal entrevista. Espero, no entanto, que em vez de andar às voltas com a questão das chamadas “medidas de austeridade”, já completamente dissecadas nos últimas dez dias, ou, muito menos, com a inenarrável novela da PT/TVI, a entrevistadora tenha a inteligência suficiente para focar o seu trabalho naquilo que efectivamente interessa: o futuro, isto é, que reformas estruturais pensa o governo implementar (por exemplo, na reorganização da Administração e na diminuição da despesa pública, mas também em outras áreas que, directa ou indirectamente, contribuam para tornar o país mais competitivo) para evitar ou diminuir drasticamente a probabilidade de repetição do que aconteceu. Wishful thinking? Veremos… embora a esperança não seja muita.

O "déficit" na constituição?

Curioso que aqueles, politicamente situados à direita, costumam achar a constituição demasiado programática (e eu também acho, apesar de não me preocupar muito com tal coisa), quando não serve os seus interesses, queiram agora incluir no respectivo texto um limite para o “déficit” e para a dívida. Parece que, neste país, a coerência política se esgota no PCP: pelo menos esse, se existe governo que não seja o seu, é contra.

Anglophilia (75)






"Created in 1902 and taking its name from Blenheim Palace the seat of one of England’s most respected bloodlines, Blenheim Bouquet is a bracing mix of citrus oils, spices and woods. Inhaling Blenheim Bouquet today it is hard to imagine it was created over one hundred years ago. It is a fragrance that has continually adapted to every twist and turn of its existence. Blenheim Bouquet is discreet, sensual and immaculately turned out with a flash of heritage flourish."

A "classe média"

É comum ler e ouvir por aí que a chamada “classe média” (deixo de lado a falta de rigor da definição) tem sido a grande sacrificada pelas políticas dos últimos anos. Nada mais enganador. Em primeiro lugar porque essa mesma classe média é algo de muito recente, nascida, fundamentalmente, do desenvolvimento dos serviços gerado pelo “boom” económico dos anos 60, pelo turismo nos anos 70 e pelos serviços prestados pelo estado social (saúde, educação, desenvolvimento autárquico) dos pós-25 de Abril. Antes disso, a classe média era quase inexistente enquanto tal, sem, digamos, uma autonomia e “consciência de classe” próprias, limitando-se a pouco mais do que uma reduzida pequena burguesia lisboeta ligada ao comércio e às repartições estatais, em rendimento e modo de vida muito proletarizada pelo salazarismo, e às profissões liberais. Em segundo lugar porque é com a adesão de Portugal à então CEE, com o dinheiro fácil dos “fundos estruturais” e a “engorda” do estado ""cavaquista, e com os juros baixos e crédito fácil da “moeda única” que essa mesma classe se fortalece economicamente e passa a ter acesso fácil aos bens importados, até aí praticamente só acessíveis a quem viajava – e viajar era caro quando o escudo era a moeda dos portugueses. Estes passam finalmente a deslocar-se ao estrangeiro em férias e o parque automóvel local passa a pouco ou nada diferir do que era comum encontrar na Europa mais desenvolvida dos anos 90. Em terceiro lugar porque, com a consolidação e desenvolvimento democráticos, é na classe média (e, frequentemente, na classe média-baixa, de província) que passam a ser recrutados grande parte os quadros políticos do regime, o que contribui para lhe dar uma “voz política”. Por fim, com a democratização mediática das duas últimas décadas (televisões privadas, rádios locais, revistas “cor de rosa”, imprensa on-line, “blogosfera”, “fóruns de opinião”, etc) a “classe média” passa a ter uma voz própria, adquirindo maior consciência do seu poder e expressando-o de modo reivindicativo.

Mas sendo, como se vê, uma classe média de formação recente, é ainda pouco preparada, cultural e educacionalmente, demasiado dependente, na sua afirmação, qual novo-rico que exprime o seu estatuto através da bagagem Louis Vuitton e do Ferrari ou emigrante que constrói a sua “maison” bem à beira da estrada, das “badge brands”, do “BM”, do “plasma”, das viagens “à república” ou das férias de Inverno na Sierra Nevada. Tendo o passado recente bem presente na sua própria memória, ou na que lhe é transmitida por pais e avós (por vezes pela própria presença destes), e muitas vezes resumindo e identificando o seu estatuto apenas com esses mesmos “gadgets” e “badge brands”, esta “classe média” vive no pavor e convive mal com o fantasma de um improvável “regresso ás origens” e à perda de uma identidade construída na areia. Uma parte dela, ligada os Estado e, mais especificamente, ao ensino, cresceu de modo seguro e com pouco esforço à sombra dos direitos adquiridos e da ausência de competitividade, por isso não reconhecendo uma outra vida e um mundo muito diferente daquele onde nasceu e cresceu. A "classe média" tornou-se egoísta e reaccionária, pouco ou nada solidária, “tropa de choque” do conservadorismo corporativo. No fundo, tendo consciência de como construiu o seu estatuto em terreno pouco sólido, é inimiga do reformismo e de qualquer mudança que ponha em causa, mesmo que com benefício geral ou dos mais pobres, uma parcela, por ínfima que seja, do que alcançou.

segunda-feira, maio 17, 2010

A comunicação ao país do Presidente da República

  1. Na sua comunicação de hoje ao país, o Presidente da República, ao assumir, de forma tão clara e evidente, que as limitações constitucionais ao exercício do cargo tornam a função pouco mais do que irrelevante, vem, por isso mesmo, dar razão aos que, como eu, há longo tempo defendem a evolução do país no sentido do parlamentarismo como a opção mais democrática e politicamente clarificadora. Também a que melhor identifica o país com as mais antigas e progressivas democracias europeias.
  2. Portugal é a partir de hoje um país mais livre, moderno e civilizado, o que, pela raridade dos momentos em que nos é permitido afirmar tal coisa, é sempre motivo de enorme congratulação.

Country Life (3)







Blenheim Palace (birthplace and ancestral home of Winston Churchill)

"Into the Storm"

Uma certa desilusão com “Into the Storm”, a crónica ficcionada da vida de Churchill nos tempos da WWII que a Sony TV exibiu ontem. Uma narrativa demasiado fraccionada, focada em “clichés”, com saltos temporais demasiado bruscos e sem tempo para se deter numa construção mais estruturada das personagens que, no fundo, se reduzem apenas a breves esboços de Winston Churchill e sua mulher, Clementine. Penso que o tema, Winston Churchill e a Inglaterra desse período mereceriam uma série de dez ou doze episódios que bem permitiria ir um pouco mais longe e eliminar os defeitos apontados.

Quanto ao resto, Brendan Gleeson compõe um Churchill dentro do tom esperado, pelo menos para os não-britânicos, e fica-nos apenas um vislumbre da excelente actriz que é Janet McTeer, algo bem patente em “Portrait of a Marriage”, uma das minhas séries de culto e que por aqui já tive oportunidade de passar na íntegra.

Fiquei com vontade de rever “The Gathering Storm” (2002) - que me pareceu bem melhor - a crónica do casal Churchill nos anos pré-WWII, que passou aqui há uns anos na TV (não me lembro em que canal), com dois ícones do teatro e cinema britânicos: Albert Finney e Vanessa Redgrave

Desabafo de um defensor do parlamentarismo...

Se não estou em erro (corrijam-me se estiver), é a terceira vez que Cavaco Silva, enquanto Presidente da República, se dirige formalmente ao país. A primeira foi sobre o Estatuto dos Açores, a segunda sobra aquela história das alegadas escutas e a terceira será sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Boa?!

sábado, maio 15, 2010

O Bruno e a professora Bruna...

Bruno Sena Martins, que não conheço nem sei quem seja, insurge-se no "Arrastão" contra o facto da educadora de Mirandela que posou nua para a “Playboy” ter sido afastada de actividades lectivas e também contra as afirmações do vereador com o pelouro da educação sobre a incompatibilidade desse acto com a “função de professora e educadora”. Eu, que votei a favor da IVG, defendi neste “blogue” o direito ao casamento dos homossexuais, leio ou folheio com gosto, por vezes, a “Playboy” e outras revistas de “gajas nuas”, que coloco aqui ao lado como sendo dos meus “blogues” favoritos o “E Deus Criou a Mulher”, até já vi, uma ou outra vez, o antigo canal 18 e não tenho quaisquer tipo de preconceitos morais (ou moralistas) desse género, também acho que, de facto, posar nua para uma revista como a “Playboy” é incompatível com a função de educadora e professora de crianças e adolescentes. Manda o mais elementar bom-senso e por isso mesmo me solidarizo com a decisão.

Mas ainda acho mais: acho que ao assumir esta e outras posições semelhantes, a esquerda que Bruno Sena Martins parece representar não faz mais do que fomentar o conservadorismo e puritanismo mais radicais e, assim, condenar-se a si mesma a ser considerada por muitos como a mais estúpida do mundo.

Por último, e depois de ter visto as fotografias, proponho que, para nosso prazer e deleite, Bruna Real continue a optar por esta sua carreira de modelo. Terá, porventura, bem maior sucesso do que como professora e, aqui, um admirador atento.

Nota a posteriori e para que não restem dúvidas: a incompatibilidade que aqui afirmo nada tem a ver, como me parece óbvio, com quaisquer questões de ordem e natureza moral, mas sim com a perturbação e disfuncionalidade que um acontecimento deste tipo tende necessariamente a gerar naquela que deve ser, numa escola, a normal e saudável relação entre professores, alunos, pais e comunidade local (stakeholders), baseada em princípios tacitamente aceites que incluem, penso eu, uma certa reserva de intimidade necessária a um correcto desempenho profissional, muito especialmente numa área tão sensível e onde é necessário conviver e fazer-se respeitar por pessoas de tão variadas origens e personalidades como é o ensino público. Do mesmo modo que é incompatível para com essa relação, por exemplo, que professores, pais e alunos se desrespeitem entre si, estes últimos utilizem telemóveis dentro das salas de aula, se apresentem vestidos de modo impróprio (por exemplo, de capuz na cabeça dentro das salas de aula) ou pratiquem sexo dentro da escola. Entendido?

JPP e os "avisos" de Cavaco Silva e Ferreira Leite

José Pacheco Pereira brada hoje em artigo no “Público” que Cavaco Silva e Ferreira Leite tinham alertado em tempo devido para o “desastre” (sic) actual. Bom, deixemos por agora Cavaco Silva que foi o iniciador do modelo de desenvolvimento que nos conduziu ao actual estado de coisas e que governos seguintes não tiveram coragem política para inflectir. Deixemos também de lado o facto de o Presidente da República ter andado a entreter o país com pseudo-escutas, em vez de focar a sua atenção no essencial, e centremo-nos em Ferreira Leite. A pergunta é: se Ferreira Leite preveniu o país a tempo - e não deixa de ser verdade que lançou alguns avisos - porque continuou a fazer da “verdade” e da “asfixia democrática”, da criação de um clima de crispação que impossibilitava os necessários entendimentos entre PS e PSD o verdadeiro foco da sua acção política em vez de a centrar nas questões candentes de natureza económica e financeira? Porque, como no caso dos professores – mas não só -, apoiou soluções que contribuíam para um efectivo agravamento da despesa pública? Porque afastou assim do PSD, com este tipo de comportamentos e com um conservadorismo ultramontano, muitos cidadãos e eleitores que, de outro modo e como provam as sondagens actuais, se poderiam rever no partido se este assumisse outro tipo de opções? E, já agora, porque deu Cavaco Silva, de facto e contrariando algumas das suas proclamações apelando ao consenso, aval a estes procedimentos do seu partido de origem em vez de o incentivar na procura de outro tipo de soluções? A resposta é só uma, o que no caso de Ferreira Leite e Cavaco Silva peca por não constituir novidade: menoridade e incapacidade políticas da parte de quem sempre viu na política um “fardo” e não uma actividade nobre e gratificante.

No próximo domingo, 16 de Maio, na Sony TV (21.45h)

sexta-feira, maio 14, 2010

Ouvir e ler quem vale a pena...

Há pessoas que vale sempre a pena ler e escutar. Hoje desapareceu uma delas (José Luís Saldanha Sanches): foi a pior notícia da semana. A melhor homenagem que lhe posso prestar será propor que se leia uma outra que, felizmente, ainda está entre nós, activa e sempre interveniente (José da Silva Lopes). Dois bons exemplos de cidadania.

"Out of Africa" (4)


"Panther Girl of the Kongo", de Franklin Adreon (1955)

IVA, "pobrezinhos" e demagogia...

A demagogia é como o inferno: por vezes faz caminho transmitida por quem parece estar cheio de boas intenções. Por vezes está mesmo, apenas, na sua incapacidade ou falta de hábito de pensar, toldando-lhes o raciocínio.

Depois de ter visto repetido mil vezes em telejornais e afins, por estupidez, ignorância ou ambos, que seria mais justo manter os níveis do IVA dos bens de primeira necessidade como medida de justiça social (e lá vem sempre a história do leite e do pão a apelar ao sentimento...), foi preciso ouvir, quando já desesperava, Miguel Beleza declarar na SIC Notícias, em defesa da medida agora adoptada, que os problemas das famílias mais necessitadas não se resolvem com um IVA reduzido, financiando indiferentemente ricos e pobres, mas com transferências sociais destinadas a aumentar o rendimento disponível dessas mesmas famílias.

Fazendo contas, seria bem mais justo e mais favorável para o Estado subir a taxa do IVA desses produtos para os normais 21% e compensar, pela diferença, as famílias de mais baixos rendimentos.

quinta-feira, maio 13, 2010

Mundial 2010

O próximo Campeonato do Mundo de Futebol apresenta uma curiosidade: será pela primeira vez disputado num país africano. Conhecendo como as coisas funcionam ou funcionaram no passado, é provável vermos uma ou duas equipas desse continente chegarem aos 1/8 ou ¼ de final. No entanto, as restantes condições favorecerão, em princípio, as equipas europeias: inexistência de problemas de "jet-lag" e um clima que, embora com variações de cidade para cidade, não será assim tão diferente daquele que encontrariam se este Mundial fosse jogado na Europa. Veremos se, na realidade, assim será.

Cinema e Rock n' Roll (22)


"Mrs. Brown You've Got a Lovely Daughter", de Saul Swimmer (1968)

Estrutura do nível de instrução de empregados e empregadores em Portugal, Espanha e UE, 2008 (%)


(clicar na imagem para ampliar)
Sem mais comentários...

quarta-feira, maio 12, 2010

Fabian & Freddy Cannon (5)

Fabian - "Turn Me Loose"

Uma boa notícia!...

Por vezes recebemos boas notícias. Tão boas, que fora eu crente, diria a boa nova só poderia ter chegado por via divina, trazida por Bento XVI.

Pois parece que os orçamentos dos diversos estados-membros da UE vão passar a necessitar de visto de Bruxelas (leia-se, Berlim) antes da sua aprovação. Ainda bem: primeiro, porque é sempre positivo ter alguém de fora que governe (principalmente se for alemão) os países que provaram não se saber governar; segundo, porque parece que, finalmente, a crise terá obrigado alguém na UE a começar a perceber, mesmo que ainda de forma muito pouco consistente, que só lhe resta um caminho se não quiser seja posto em causa um projecto de 60 anos: reforçar a sua coesão económica e financeira e caminhar sem hesitações no sentido do federalismo.

Wishful thinking? Espero que não, até porque, não sendo crente, sou pouco ou nada dado às questões da fé.

terça-feira, maio 11, 2010

Poupem-me!

Já deu para perceber que a televisão pública se transformou durante três dias e com o aval de um Estado nominalmente laico num gigantesco “tempo de antena” da Igreja Católica, organizado assim ao estilo e com o conteúdo semelhante a um gigantesco "show" popularucho de Fátima Lopes. Só me faltou ouvir dizer aos comentadores da RTP - mas não faltou muito - que a tão característica “luz de Lisboa” teria porventura origem divina. Poupem-me a tal coisa e ao oportunismo de ocasião do primeiro-ministro.

1ª Liga: orçamentos vs classificação final

Conforme prometido e repetindo o que foi feito no final da 1º volta, aqui fica a comparação entre orçamentos e classificação final para os clubes da 1ª Liga portuguesa.

Classificação vs. "ranking" orçamental (milhões de euros e pontos conquistados)
A verde os clubes acima do "ranking" orçamental; a azul os que obtêm classificação idêntica; a encarnado os que se classificaram em lugares abaixo do respectivo orçamento


1º FCP - 40M
SLB - 76p
2º SLB – 30M
2º SCB - 71p
3º SCP – 22.5M
3º FCP - 68 p
4º SC Braga – 9M
4º SCP - 48p
5º Marítimo – 7M
5º Marítimo - 41p
6º V. Guimarães – 6.9M
6º V. Guimarães - 41p
7º Nacional – 5M
7º Nacional - 41p
8º Rio Ave – 4M
8º Naval 1º Maio - 36p
9º União Leiria – 4M
9º União Leiria - 35p
10ºCFB – 3.7M
10º P. de Ferreira - 35p
11º AAC - 3.6M
11º AAC - 33p
12º P. de Ferreira – 2.5M
12º Rio Ave - 31p
13º V. Setúbal – 2.5M
13º Olhanense - 29p
14º Naval 1º Maio – 2.4M
14º V. Setúbal - 25p
15º Leixões – 2M
15º CFB 23p
16º Olhanense – 1.2M
16º Leixões 21p

Principais notas:
  • A classificação dos quatro primeiros mostra uma alteração total face aos orçamentos apresentados: FCP passa de 1º para 3º; SLB de 2º para 1º; SCB de 4º para 2º e SCP de 3º para 4º. Isto significa que FCP tem a pior “performance” e SCB a melhor. SLB sobe um lugar em comparação com o seu orçamento e é campeão e SCP desce um lugar. Convém, no entanto destacar o seguinte:
  • Tendo no seu plantel muitos jogadores emprestados, cujos salários não estarão incluídos, na sua totalidade, na folha de pagamentos do clube, o baixo orçamento do SCB poderá dever-se a uma partilha de responsabilidades, com outros clubes, nos pagamentos efectuados a esses jogadores.
  • Apesar de apenas baixar um lugar (de 3º para 4º) na comparação entre orçamento e classificação, o SCP fica a 20 pontos do terceiro classificado (FCP), com um orçamento que inferior em 50% ao do FCP e cerca de 2.5 vezes superior ao do SCB, salvaguardando a questão assinalada no ponto anterior.
  • Com apenas o 14º orçamento a Naval 1º de Maio consegue obter um excelente 8º lugar.
  • Em sentido inverso se apresentam Rio Ave (8º orçamento e 12º lugar) e CFB (10º orçamento e 15º lugar). São as verdadeiras “colheres de pau” deste campeonato.
  • Olhanense, com o último lugar em termos de orçamento, consegue um 13º lugar na classificação e, logo, a manutenção. Uma boa “performance”, tal como o P. de Ferreira (12º para 10º).
  • Os candidatos à Liga Europa (clubes da Madeira e V. Guimarães) podiam ter feito um acordo e dispensarem o esforço dispendido durante o campeonato: acabam exactamente como começaram.
  • Por último, “much ado about nothing” no caso de André Villas-Boas: a AAC acaba como começou, no 11º lugar.

E para o ano há mais...

O sistema eleitoral do Reino Unido e o caso português

Por pressão dos Liberais-Democratas, o Reino Unido prepara-se para ser obrigado a rever um iníquo sistema eleitoral que grosseiramente distorce a representação parlamentar e, na prática, tende a afastar o terceiro partido, neste caso os Lib-Dem, do exercício do poder. Não sei até que ponto poderá ir essa revisão e de que ele modo poderá vir a ser corrigido no sentido pretendido mantendo, na sua essência, a não-proporcionalidade tradicional. É que, convém lembrar, na sua base está um sistema de círculos uninominais onde, ao contrário do que acontece em França, por exemplo, nem sequer existe a possibilidade de uma segunda volta, sendo automaticamente eleito o candidato com maioria relativa.

Vem isto a propósito das criticas que têm sido repetidamente feitas, principalmente por académicos da área das ciências sociais arvorando algum pedantismo oxfordiano, ao sistema proporcional, baseado em círculos plurinominais, vigente em Portugal. Terá muitos defeitos, entre os quais emerge a entrega da composição das listas quase exclusivamente aos directórios partidários, mas tem permitido, até aqui, uma saudável e desejada integração de minorias radicais mais significativas, se não no regime, pelo menos no sistema.

No momento em que se avizinham medidas duras de contenção do consumo e da despesa pública e quando, consequentemente, se pode esperar alguma contestação social, talvez seja o tempo de nos congratularmos por essa previsível contestação poder ser enquadrada por partidos e sindicatos que uma lei eleitoral, apesar de tudo, sábia, possibilitou integrar no “sistema”.

Gene Vincent & Eddie Cochran (3)

Gene Vincent - "Race With The Devil"

segunda-feira, maio 10, 2010

Les Belles Anglaises (XLI)










TVR Grantura (1958-1967)

Dez notas sobre um título de campeão

  1. Custa a perceber como um clube com o historial, dimensão e apoio popular nacional (e não só) como o SLB apenas consegue ser campeão nacional por três vezes nos últimos 15 anos. Péssima gestão é o mínimo que se pode dizer das sucessivas gestões. Culpa nossa, sócios e adeptos.
  2. Por falar em gestão... Se o presidente, enquanto topo de uma pirâmide, é sempre o responsável máximo por sucessos e insucessos, Luís Filipe Vieira tem indiscutível mérito neste título. Até porque, finalmente, soube adoptar um discurso mais racional e consentâneo com a filosofia e cultura do clube: popular não se confunde com populismo. Mas Domingos Soares de Oliveira, CFO da SAD, tem também uma razoável quota parte de responsabilidade. Ontem ninguém falou dele. Foi pena.
  3. Jorge Jesus teve o mérito de perceber como sempre tinham jogado as grandes equipas do SLB do passado, regressando à cultura de clube e filosofia de jogo que construíram a sua grandeza: futebol de ataque, baseado em transições rápidas, utilizando um “poste” de área e um “pivot” defensivo único que equilibre a equipa nas transições defensivas. Foi assim com Maniche e Stromberg, Mats Magnusson e Jonas Thern e, até, salvaguardadas as devidas distâncias para o futebol do passado, com José Águas e o velho Torres, na frente, e Neto, Mário João e o grande capitão Mário Esteves Coluna nas suas costas. Ou com Toni e os vários pontas de lança que passaram pelo clube no seu tempo.
  4. Assim sendo, é Jorge Jesus um grande treinador? Apenas um bom treinador: falta-lhe uma melhor capacidade de domínio do discurso e da comunicação (convém lembrar que quando fala nas conferências de imprensa não o faz apenas para os “media” mas também para o seu grupo de trabalho) e, essencialmente, o self-control, a confiança serena e o sentido de grandeza e liderança que, projectando-se na equipa, fazem com que esta se afirme nas grandes ocasiões e não se deixe intimidar quando, como aconteceu em Braga, Olhão e no Porto, os adversários tentam arrastar o jogo para um clima de guerrilha e crispação. Apesar do que aconteceu há uma semana, não me parece alguma vez o SLB se tenha defrontado com um “clima” tão adverso nas Antas como em 1990/91, com Eriksson. Precisava de um empate e ganhou categoricamente por 2-0. É esta a diferença.
  5. Um dos problemas que o SLB tem tido na contratação de jogadores é o facto de, ao contrário do FCP, não jogar a Champions League com regularidade, o que diminui a sua capacidade para os atrair e valorizar. Foi assim que perdeu, este ano, Falcao e Álvaro Pereira. Inverteram-se os papéis, espero que sustentadamente.
  6. Di Maria e David Luiz foram as duas estrelas da equipa. Sem dúvida. Mas atenção: têm ainda arestas a limar se quiserem jogar, com sucesso, no “grande futebol”. Di Maria é um desequilibrador nato, um pouco ao estilo de um Arjen Robben, mas tem de escolher mais vezes a melhor opção para terminar a jogada e, principalmente, executar melhor a opção escolhida. Enfim, tem de ganhar consistência. Já David Luiz é rápido, tem raça e executa bem. Mas tem de evitar alguns excessos de impetuosidade e, principalmente, ser mais seguro quando inicia ele próprio as transições ofensivas, algo que faz parte dos princípios de jogo deste SLB: por vezes, arrisca demasiado no “um para um” perdendo a bola em condições comprometedoras para o equilíbrio defensivo da equipa. Contra o Leixões ou o Paços de Ferreira, com Javi nas costas, a “coisa” passa; mas noutro futebol...
  7. O futuro? Se Di Maria sair, o SLB vai ter, provavelmente, de contratar um... defesa-esquerdo. A não ser que encontre um outro Di Maria (nem todos os dias é Natal...), mais vale adiantar Coentrão, que é um valor seguro, não sendo César Peixoto jogador para o SLB. Para além disso é melhor encontrar quanto antes um guarda-redes indiscutível (não o são Quim nem o tão falado Eduardo), já que para reforçar o lugar do frágil Aimar e do intermitente Carlos Martins parece ter encontrado Gaitán. Como Urreta irá regressar (ontem tinha dado um jeitão...), veremos ainda se Kardec pode dar conta do recado no caso de uma lesão de Cardozo (no caso de este ficar). Mas com as vagas de Nuno Gomes e Mantorras é preciso mais um, até porque Kardec é ainda uma incógnita e Saviola, nas suas características, “filho único”.
  8. Falando de Mantorras... Contrariamente ao que já vi por aí escrito (os portugueses são uns sentimentalões), Jorge Jesus e Rui Costa fizeram bem em afastá-lo. O histerismo que caracterizava a sua ligação com os sócios e a insistência na manutenção na equipa de um jogador futebolisticamente acabado, nada de positivo poderia trazer (em tempo disse-o neste “blogue”). Antes pelo contrário: ambas as situações eram símbolo de um clube derrotado, mantendo no seu seio um elemento destabilizador e, na sua relação com os adeptos, fazendo apelo a um sebastianismo irracional e não a uma confiante dinâmica de vitória.
  9. Pode pedir-se a Dunga o especial favor de não convocar Ramires? É que o homem não tem férias há dois anos e, por isso mesmo, tem-se mostrado mais pelo que promete quando puder descansar do que pelo seu efectivo contributo à equipa. Vá lá, não custa nada, tamanha é a abundância.
  10. Por último: as “sturmabteilung” do FCP não poderiam renegar a sua essência, e lá se fizeram notar ontem no Porto e em Braga, aqui parece que disfarçadas de adeptos minhotos. Ou será que eram mesmo adeptos do S.C. Braga e a aliança entre os dois clubes já chegou também a esta área? Para os mais distraídos, existe uma delegação “tripeira” em Lisboa, na Avenida da República. Alguém ouviu falar em problemas por isso?

domingo, maio 09, 2010

Sem palavras...


Até já!...

TGV ou, com mais rigor, bitola europeia?

Parece-me estar errado o Eduardo Pitta. O que vai ser construído entre o Poceirão e Caia, com ligação à rede de Espanha, não é propriamente o TGV: é uma linha em bitola europeia, que permitirá a alta-velocidade com comboios do tipo AVE e TGV, mas se integra também no projecto de movimentação e transporte de mercadorias que inclui o porto de Sines e a plataforma logística do Poceirão. Claro que a sua rentabilização e total aproveitamento num futuro próximo tornam indispensáveis a terceira travessia do Tejo e o transporte de passageiros Lisboa-Madrid (sooner the better), mas, entretanto e apesar do adiamento destes, o projecto parece-me, mesmo assim, dotado de alguma autonomia.

sábado, maio 08, 2010

Às vezes, nem tudo está bem quando parece querer acabar bem

José Sócrates projectou desde sempre a imagem de um homem obstinado e de convicções, o que, em Portugal, é muitas vezes confundido com teimosia e arrogância. Não é verdadeira essa confusão: obstinação e convicções baseiam-se na racionalidade e, como tal, são reveladores de inteligência; teimosia e arrogância advêm da sua ausência. Ao decidir, contra todas as evidências e racionalidade, não reequacionar, em devido tempo, algumas das obras públicas sobre cuja contribuição para o aumento da competitividade do país (logo, do crescimento sustentado da sua economia) têm desde sempre existido sérias dúvidas (falo essencialmente do perfil da nova linha Lisboa-Porto-Vigo, concepção do novo aeroporto enquanto grande hub aeroportuário e novas auto-estradas), fazendo-o apenas agora perante a pressão da opinião pública e das instâncias internacionais, José Sócrates parece querer provar a razão dos que teimavam em lhe atribuír esse tal perfil de teimosia e arrogância.

Mais vale ter decidido tarde do que insistir no erro? Sim, mas agora colar-se-lhe-á para sempre essa tal imagem - de teimosia e arrogância -, que sempre pretendeu afastar e é que apanágio dos politicamente fracos, daqueles em que as convicções estão ausentes.

Nota: saúda-se a descida de um ponto no “déficit” para este ano. Sem dúvida. Mas trata-se de algo, digamos, quase virtual. Desde sempre o “déficit” de 2009 me pareceu (escrevi-o) ter sido artificialmente inflacionado para permitir, sem grande dificuldade, o objectivo de 8.3% este ano e, assim, a “surpresa” final de 7.3%. Esta, em condições normais, seria apenas anunciada, como grande “feito”, no final do ano. Por isso mesmo, “mais coisa menos coisa” (leia-se, “mais décima menos décima”), trata-se apenas da antecipação de um anúncio.

"Bad Lieutenant" e Johnny Ace


"Bad Lieutenant", de Abel Ferrara (1992)


Johnny Ace - "Pledging My Love"

A vida é assim, a televisão também e por vezes há surpresas. Ontem, um dos canais TVCine surpreendeu com a exibição de “Bad Lieutenant”, um quase filme de culto de Abel Ferrara que não via desde a sua estreia no King, já lá vão quase 20 anos. Confesso não me impressionou tanto agora, já sem a surpresa inicial, muito cinema e vida passados e com a ausência de écran e sala escura. mas continuei a venerar “Pledging My Love”, o tema de Ferdinand Washington e Don Robey, de 1954, no filme interpretado por Johnny Ace na sua versão mais famosa e, também, mais plangente, editada após a morte de Ace num jogo de “roleta russa” por álcool em excesso. Muito adequado à personagem interpretada por Harvey Keitel...

Ainda vi mais uma ou outra coisa de Ferrara (“The Funeral”, por exemplo), mas perdi-lhe o estado de graça. Esse ficou por “Bad Lieutenant” e “Pledging My Love”. Também por Johnny Ace. Razão para repetir. Sempre.

Regimental Ties (7)

1st The Queen's Dragoon Guards

"1st The Queen's Dragoon Guards (QDG) is a cavalry regiment of the British Army. It was formed in 1959 by the amalgamation of 1st King's Dragoon Guards and the Queen's Bays (2nd Dragoon Guards).Nicknamed The Welsh Cavalry the regiment recruits from Wales, Herefordshire, and Shropshire, and is the senior Heavy Cavalry Regiment, and therefore senior Cavalry Regiment of the Line. The regiment is part of the Royal Armoured Corps.The regiment currently operates in the formation reconnaissance role and is equipped with vehicles from the CVR(T) family. These include the Scimitar armoured reconnaissance vehicle; the Sultan command vehicle and Samaritan ambulance; the Spartan armoured personnel carrier and the Samson armoured recovery vehicle.The regiment is currently serving in Germany, having recently returned from Iraq on Operation Telic, its third tour to the region in three years. The regiment's cap badge is the Habsburg double headed eagle, which Emperor Franz Joseph of Austria allowed the 1st King’s Dragoon Guards to wear when he become their Colonel-in-Chief in 1896."

sexta-feira, maio 07, 2010

German military war songs (2)

Ich hatt einen Kameraden

O S.C. Braga e Mesquita Machado

Tenho visto e ouvido (demasiado) por aí, em elogios rasgados ao S.C. Braga, que este clube tem um projecto de desenvolvimento sustentado e que, assim sendo, quaisquer semelhanças com o percurso do Boavista F. C. são completamente despropositadas. Certo: embora não me lembre dos “media” alguma vez terem contribuído para a descodificação do que se passava no Boavista F.C. (antes pelo contrário), este sempre foi um pequeno clube de bairro, até bem menos importante e popular do que o S.C. Salgueiros, e o S.C. Braga é o principal emblema daquela que é, hoje, a terceira cidade do país, centro de uma região densamente povoada, mas em crise, embora o seu principal clube tenha sempre sido, e continue a ser, o Vitória S. C. Estas são as diferenças.

Semelhanças? Se o Boavista F.C. sempre foi a ponta do "iceberg" de um projecto de poder e enriquecimento pessoal de Valentim Loureiro, projecto esse alavancado pela sua presença como dirigente do PSD, Câmara de Gondomar, LPFP e estruturas do futebol indígena, o actual S.C. Braga corresponde também, e muito, a um projecto de poder do Presidente da Câmara da cidade, Mesquita Machado, em aliança com quem, nos últimos anos, tem dominado o futebol português (FCP), ao qual o PS dá suporte político e integrando uma teia de interesses económicos e empresariais, de início locais, mas hoje em dia estendendo-se já muito para além dos limites concelhios.

O que afirmo tira mérito ao que o S.C. Braga alcançou com um orçamento bem inferior ao dos três grandes? Nada disso, como também não estabelece demasiadas identificações com o caso do Boavista F.C.: apenas alerta para factos, clarifica situações e define os limites e enquadramentos necessários a uma sua melhor análise e compreensão.

O amadorismo do deputado Ricardo...

O deputado Ricardo Rodrigues não será alguém especialmente conhecido pela sua grande experiência de relacionamento com os “media”. Menos, ainda, um político especialmente notado pela sua intuição política ou conteúdo estruturado das suas ideias nesta área: bem mais um daqueles burocratas “leal servidor de quem manda” em que o país político é demasiado fértil. Pior, trata-se de alguém que, ao que parece, tem visto o seu passado político e de cidadão, independentemente das razões, ser objecto de devassa e especulação.

Assim sendo, nada aconselharia que se disponibilizasse para conceder uma entrevista à “Sábado” (que não é propriamente um orgão de informação “amigo” do governo e do PS) e, tendo-o feito, que não a tivesse preparado com todo o rigor, até ao mais ínfimo pormenor, com a ajuda e aconselhamento da sua assessoria de comunicação, colocando mesmo, se necessário, algumas condições à partida. Pelos vistos não o fez, ou a assessoria funcionou demasiado mal, caindo o deputado Ricardo Rodrigues com estrondo, ao mais desastrado estilo burlesco “pé no balde e bolo na cara”, na armadilha que os jornalistas da Sábado, que estão longe de ser “meninos de coro”, lhe tinham preparado. Obrigou assim o líder do seu grupo parlamentar, que já tem mais em que pensar, a vir a público em sua defesa, chamuscando-se, e fez cair o seu partido e caiu ele próprio no mais profundo ridículo.

Amadorismo, puro e simples...

quarta-feira, maio 05, 2010

Tretas...

Peço desculpa pelo plebeísmo, mas deixemo-nos de tretas, de brincar às virgens ofendidas... O que é menos importante no caso da candidatura de Manuel Alegre é se as suas posições políticas dos últimos tempos se têm oposto, normalmente, às do PS; se o candidato está mais perto do “Bloco de Esquerda”; como é que Louçã e José Sócrates poderão estar lado a lado no apoio ao mesmo candidato; como é que o partido do governo apoia um candidato que critica o PEC e etc, etc.

O que é efectivamente importante e o PS vai ter que determinar é se, e de que modo, a candidatura de Alegre serve ou não, neste momento específico e num futuro próximo, maioritariamente, os interesses do partido. Se o partido concluir pela positiva, e como desde Maquiavel a moral pouco ou nada tem a ver com a política, haverá sempre uns sapos bem conhecidos, quais tenras coxinhas de rã, prontos a serem deglutidos. Essa é que é essa!

"The Classic Era of American Pulp Magazines" (60)

Capa de Hannes Bok para "Weird Tales" (Novembro de 1941)

Futilidades...

Nada melhor do que os concertos da Gulbenkian ou do CCB para encontrar ex-governantes. Aqui há umas semanas couberam-me em sorte dois ex-secretários de estado, sentados mesmo ao meu lado; ontem, lá me cruzei com dois ex-ministros. E todos eles “ex” de recente condição, não se vá pensar em alguém que goza melómana reforma.

Dirão as más-línguas (haverá boas?...) que gozam imerecidas férias entre o governo e um futuro lugar na administração de uma empresa pública. Outras, igualmente más, que gostam de passar por cultos e entendidos melómanos... Eu, que sem desdizer algumas das afirmações anteriores gosto sempre da ingénua da fita, acrescentarei: pobres ex-governantes, que não se podem limitar a gostar de música como qualquer cidadão...

Mas ocorre-me uma última pergunta: alguma vez terão passado por esse verdadeiro “ultimate challenge” que é estar mais de seis horas na “bicha” do São Carlos apenas por um bilhetinho?

terça-feira, maio 04, 2010

German military war songs (1)

"Westerwald Lied"

No fundo, é mais ou menos assim...

Imaginem um jovem acabado de sair de uma universidade portuguesa; daquelas com prestígio e credibilidade no mercado de trabalho. Esse jovem arranja um emprego compatível e porque casou ou quer autonomizar-se dos pais pede um empréstimo bancário para comprar uma casa e um carro familiar. Sabe que o seu emprego e a relativa segurança concedida por uma licenciatura com uma nota acima da média e com valor de mercado lhe permitem, com algum controlo na gestão da sua vida diária, amortizar esse mesmo empréstimo, mesmo que se preveja a taxa de juro venha a subir no curto-prazo.

Entretanto, porque foi bom aluno e, no seu actual emprego, a sua capacidade profissional é bastante considerada, tem oportunidade, passado um par de anos, de frequentar, durante um ou dois anos, um MBA numa das universidades de referência dos USA; uma das normalmente classificadas no top ten, digamos assim. Mas como isso é bastante caro e não dispõe de fundos, terá que, com os pais e/ou a empresa funcionando como avalistas, pedir um novo empréstimo bancário para financiar essa pós-graduação, pois sabe que, mesmo ficando, de momento, sobreendividado, a mais valia que o MBA representa lhe irá abrir novos horizontes na sua carreira e lhe permitirá um futuro financeiramente bem mais desanuviado, em Portugal ou no estrangeiro, tornando perfeitamente possível não só a amortização de ambos os empréstimos como também ter uma vida mais desafogada. Que faz? Recusa a oportunidade? Claro que, sendo inteligente, a aproveita e, quando muito e no limite, analisará das possibilidades de ser esse o momento oportuno ou se poderá, sem hipóteses de perder essa possibilidade ou de sofrer um atraso irremediável na sua competitividade na empresa e no mercado de trabalho, diferi-la um ou dois anos no tempo.

Agora imaginem o mesmo jovem que não lhe surgindo a mesma oportunidade e não se prevendo uma grande evolução salarial na sua carreira opta igualmente por se sobreendividar porque quer dar a volta ao mundo, comprar um carro melhor ou uma casa de férias (ou tudo junto), algo que não contribuirá para o aumento da sua competitividade no mercado de trabalho e para uma melhoria significativa da sua situação financeira futura. Deve ou não fazê-lo, agora ou mais tarde? E, se o fizer, quais as consequências para o resto da sua vida?

No fundo, de um modo bastante simplificado e “contado às crianças e lembrado ao povo”, é este o dilema das chamadas grandes obras públicas que, como se pode ver, não podem, nem devem, ser todas metidas no mesmo saco e jogadas na barganha da demagogia ou na simplificação obscena do combate partidário.