terça-feira, junho 30, 2009

Uma "greve" da PSP?

Desde sempre pugnei pela “civilização” da PSP; isto é, para que deixasse de ser uma instituição militarizada, dirigida por oficiais do exército e um Comandante-Geral, sujeita a um regulamento ao estilo RDM, e passasse a ser uma polícia civil, com quadros próprios e dirigida por um Director Geral, tal como acontece na grande maioria dos países democráticos e civilizados. Felizmente, isso concretizou-se.

Também desde sempre defendi a liberdade de associação dos seus membros, apenas com as limitações de estatutos e direitos inerentes à especificidade da função enquanto força de segurança e de apoio aos cidadãos. Nessas limitações incluo, como não poderia deixar de ser, o direito à greve.

Espantosamente, vejo uma das associações da PSP (acho que a mais representativa) apelar, de facto, com recurso a um muito pouco dúbio "palavreado" do género “rabo escondido com gato quase todo de fora”, à efectivação de uma greve no próximo dia 2, quinta-feira, numa clara violação dos seus estatutos e deveres.

Fico a aguardar a única reacção possível da sua direcção e do governo: manter a legalidade democrática e punir os prevaricadores.

Les Belles Anglaises (XXX)








AC Bristol Ace (1953-1963)

SLB: a receita do costume

Depois de um exercício (08/09) em que a SAD do SLB se prepara para apresentar um prejuízo talvez superior a 20 milhões (caso não venda nenhum dos seus activos o que Vieira já declarou não querer fazer), e sendo o passivo do conjunto clube e empresas associadas certamente superior a 300 milhões, Luís Filipe Vieira prepara-se, num acto de gestão suicida, para aumentar o endividamento da SAD em mais uns tantos milhões (20? 25?). Tudo bem: o clube precisa de investir na sua equipa de futebol para esta se tornar competitiva, ganhadora, e para que, assim, a SAD e o clube possam fazer frente e prover às responsabilidades financeiras assumidas e gerar valor. O problema, o “pequeno” problema, é que a receita parece ser exactamente a mesma dos últimos anos; aquela que, sob a responsabilidade de LFV, conduziu o clube a um círculo vicioso de empobrecimento e endividamento cada vez mais acentuados.

Quem vier atrás que feche a porta e o último que apague a luz?

Desemprego ou endividamento? Competitividade!

No que diz respeito aos tão propalados manifesto e contra-manifesto, vamos lá tentar ser claros e ir directos ao essencial. O problema fundamental, o key issue, não é nem o endividamento nem o desemprego, por muito que isso possa chocar. São problemas importantes, claro, graves também, mas a questão essencial, essa, é a competitividade, pois só ela trará emprego sustentável e permitirá, a prazo, diminuir o endividamento.

Portanto, e no que diz respeito às tão faladas obras públicas, a questão essencial será: qual ou quais delas permitirão ao país tornar-se mais competitivo, aumentando o valor e a quantidade dos bens transaccionáveis no mercado internacional e atraindo mais investimento estrangeiro qualificado? Parece-me ser a resposta a esta tão simples pergunta determinante para uma decisão.

A minha opinião de cidadão não-técnico mas interessado nestas coisas? Francamente, e assim pela rama, não me parece uma linha de alta velocidade Lisboa-Porto, diminuindo em ½ hora o tempo de viagem (será bom lembrar que com alterações na linha o Alfa pode efectuar o percurso em 2 horas) contribua decisivamente para um aumento da competitividade do país. Tenho algumas (sérias) dúvidas sobre a capacidade de um hub aeroportuário para competir com Madrid ou Barcelona, ou mesmo sobre o modelo de desenvolvimento e de integração de Portugal na Península que ele pressupõe. Tenho menos dúvidas sobre a ligação de Portugal à rede ibérica de alta velocidade, na medida em que me parece pouco admissível para esse aumento de competitividade que o país possa vir a ser a única das nacionalidades peninsulares (e a sua mais importante porque país independente) a ficar “de fora” dessa rede, o que contribuiria para um agravamento da sua situação periférica.

Em função deste factor (competitividade) queiram pois fazer o favor de reavaliar.

Strawberries & Cream (Ano II - 10)

Mauresmo out (não é surpresa), Ana Ivanovic também out (por lesão, Oohhh!) e Murray suou até às dez da noite para passar aos 1/4s

segunda-feira, junho 29, 2009

A propósito de Wimbledon: o "Hawk Eye" e o futebol

Por princípio, nada tenho contra a utilização do sistema “Hawk Eye” no futebol, tendo como objectivo verificar se a bola entrou ou não na baliza. Por exemplo, na recente final da Taça das Confederações, o Brasil viu-lhe ser negado um golo aparente numa jogada em que a bola parece ter ultrapassado completamente a linha de golo.

Mas, já agora, um pouco de água na fervura. No ténis, o sistema só é utilizado nos grandes torneios e, mesmo assim, nem em todos os “courts”. Em Wimbledon, por exemplo, apenas nos jogos disputados nos "courts" central e nº 1, os mais importantes mas que recebem uma minoria dos jogos, tendo cada jogador direito a três verificações por “set” mais uma no caso de se disputar um “tie-break”. Mais água para a mesma fervura: num encontro de ténis as situações duvidosas são frequentes, na maioria deles obrigando ao recurso ao sistema o número máximo de vezes previsto nos regulamentos. Num jogo de futebol quantas vezes isso acontece? Melhor, num campeonato de 30 jornadas, disputado em 16 campos necessariamente equipados com o sistema, quantas vezes seria necessário a ele recorrer? Muito poucas, certamente (meia dúzia no total dos jogos, se tanto...), o que tornaria a relação custo/benefício completamente despropositada já que, segundo sei, e no caso do ténis, o custo do sistema é de $20 000 a 25 000 USD (€15 000 a 18 000, aproximadamente) por semana e por “court”. Alguém ainda acha que se justifica o investimento, talvez com a possível excepção das fases finais de europeus e mundiais?

Chega, talvez, de demagogia e populismo!

José Pacheco Pereira: "mullah" ou "guarda vermelho"?

José Pacheco Pereira há meses que se lançou numa cruzada pelo seu reconhecimento como Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé. Ou, se preferirem e acharem mais adequado ao seu passado político, como uma espécie de Jdanov da comunicação social. Para isso tem usado e abusado do seu “Abrupto”. Muito bem, é livre de o fazer e ainda bem que avisa ao que vem.

Agora conquistou o seu “Tempo de Antena” na SIC Notícias, onde, para além de continuar esta sua cruzada em versão grandiloquente e de audiência aumentada, aproveita para fazer publicidade encapotada ao livro de um seu correligionário, qual “guarda vermelho” ou "mullah" agitando o “Livro Vermelho” ou citando de cor o Corão onde toda a verdade está contida. Que uma estação de televisão de referência e uma personalidade como Francisco Pinto Balsemão a tal ditame se submetam é apenas um triste sinal dos tempos. É que, parafraseando livremente JPP, “os tempos estão mesmo maus para a liberdade de informação”. Só que, curiosamente, o maior perigo parece vir daqueles que o afirmam... Tenebroso.
Nota: João Gonçalves, autor do livro "recomendado", é uma espécie de alter ego de JPP: escreve aquilo que ele gostaria de escrever mas que a sua respeitabilidade de intelectual orgânico não permite.

Joseph Haydn e a Naxos contra a crise

Joseph Haydn (1732-1809)
Sinfonia nº 94 em Sol Maior "Surprise". 1º andamento: Adagio. Vivace assai
Capella Istropolitana dirigida por Barry Wordsworth
Muitas, talvez mesmo a maioria, das chamadas etiquetas discográficas de música erudita vendidas a baixo preço, aquelas normalmente designadas como “séries económicas, nada têm de recomendável. Contudo, existem excepções que valem bem a nossa atenção e nos permitem ter em casa excelentes interpretações e gravações de qualidade a preços muito convidativos, bem adequados a quem não pode ou não quer gastar muito dinheiro com a cultura em tempos de crise. Ou para aqueles para quem a música erudita “ainda morde” mas estão curiosos e se querem iniciar na sua fruição.

Já aqui falei na Naxos a propósito da integral de Chopin pela pianista turca Idil Biret, uma gravação de referência da obra do compositor franco-polaco. Publiquei mesmo um exemplo que pudesse aguçar o apetite de quem o ouviu. Também na altura tive oportunidade de recomendar as gravações das sinfonias de Mozart da mesma editora, interpretadas pela eslovaca Capella Istropolitana dirigida pelo bem inglês Barry Wordsworth. Também pela mesmíssima Capella Istropolitana, embora talvez um degrau abaixo das interpretações das sinfonias mozartianas, valerá a pena ouvir com alguma atenção as sinfonias de Joseph Haydn (1732-1809, lembramos este ano o 2º centenário da sua morte), um dos expoentes do classissismo vienense, das quais deixo aqui hoje um exemplo.

Convém dizer que a Naxos é uma etiqueta fundada em 1987 por um alemão residente em Hong Kong, Klaus Heymann. Começou por se tornar famosa através de gravações de agrupamentos da Europa de Leste (comprei os meus primeiros CDs da Naxos, em forints comprados no mercado negro muito abaixo do preço oficial, em Budapeste, no fim dos anos 80 e início dos anos 90 – uma pechincha!), principalmente do repertório barroco e clássico. Mais tarde estendeu essa sua actividade à edição de gravações históricas cujo ""copywright tinha caducado, mas também à edição de compositores menos conhecidos. Como prova a edição da integral de Chopin, o repertório romântico também não ficou esquecido nos tempos mais recentes. Um outro exemplo: uma das minhas gravações da ópera “O Navio Fantasma” (Der Fliegende Holländer”) de Richard Wagner (Wagner é um quase Deus!...) é uma muito bem cotada gravação de 1992 da Naxos, 2 CDs que me terão custado há cinco ou seis anos pouco mais de €17 na FNAC do Chiado.

Das edições da Naxos que tenho aqui por casa saliento ainda a “Täfelmusik” de Georg Philipp Telemann, também numa interpretação da Capella Istropolitana desta vez dirigida pelo austríaco Richard Edlinger. Ou os trios com piano de Beethoven pelo Stuttgart Piano Trio. Outros exemplos poderia dar, se quisesse ser exaustivo.

Não serão os grandes nomes do mundo da música erudita, as “pop stars” e as “prima donnas” desse universo. Mas é, sem qualquer espécie de dúvida, excelente música a preços que pouco excedem os €7 por cada CD.

Portanto, no excuses. Nem mesmo a crise, ou muito menos ela, de costas tão largas!

Strawberries & Cream (Ano II - 9)

Depois do tradicional 1º Domingo sem jogos, começa a
Atenção aos jogos que opõem Venus Williams a Ana Ivanovic e Federer a Soderling

domingo, junho 28, 2009

Gilbert & Sullivan (5)

Gilbert & Sullivan - "The Mikado"
Finale

"Juniores": o meu clube deu mais um triste espectáculo

Assim de repente, acho talvez não constituísse má decisão da Federação Portuguesa de Futebol não atribuir este ano o título de campeão nacional de juniores e Sporting e Benfica iniciarem o próximo campeonato da categoria com uma boa dúzia de pontos de penalização. Poderia ser que aprendessem algo.

Nota 1: as declarações de Rui Costa no final merecem-me inteiro e completo repúdio. Admito o Sporting não possa eximir-se a responsabilidades, mas o momento era tudo menos o adequado à manifestação de tal opinião. Seria, isso sim, ocasião para, em conjunto, os dois clubes pregarem uns bons tabefes (em sentido figurado, claro) àqueles energúmenos. Parece-me que Rui Costa anda a fazer tirocínio com quem não deve.

Nota 2: já agora, a PSP deteve alguns deles? Ou nenhum era brasileiro, cigano ou preto?

sábado, junho 27, 2009

Bernardo Marques (12)

Capa de Bernardo Marques para "Léah", de José Rodrigues Miguéis
Edição "Estúdios Cor", Abril de 1959

Saviola e a política de recursos humanos do SLB

Tenho por aqui já várias vezes chamado a atenção para a necessidade do meu clube (SLB) definir e implementar uma política de recursos humanos consequente. Volto ao tema a propósito da contratação de Saviola.

A questão é: pode o Sport Lisboa e Benfica basear essa sua política na contratação de jogadores do tipo “has been”, isto é, que nos últimos anos estiveram longe de corresponder ás expectativas geradas quando do seu despontar (Reyes, Saviola, até Miccoli), muitos deles a caminhar para o fim da carreira (Zahovic, Drulovic, Suazo, Aimar, etc) e que, por ambos os motivos, muito dificilmente se valorizarão enquanto activos do clube? Todos eles no “ataque”, repararam? Que, inclusivamente, por o saberem e por actuarem num campeonato periférico e pouco visível como o português, tenderão a aderir facilmente a um certo regime de “cruzeiro”, gerindo o seu esforço sem grande ambição?

Sim, eu sei que no caso de empréstimos o problema não é tão grave e que uma outra vertente adoptada é a de jogadores “valorizáveis” como Sidnei, David Luiz, Di Maria, Urreta e outros (aqui o problema é o clube os não saber valorizar mas isso são já “outros quinhentos”...). Mas parece-me que na base desta política está fundamentalmente o objectivo irrealista de querer ser campeão já e a qualquer custo, o que se tem revelado um erro impossibilitando que o clube domine a prazo o futebol português e assim valorize os seus activos.

Fica a chamada de atenção.

O "barómetro" Marktest

Que posso eu, cidadão que não é técnico de sondagens ou estudos de mercado (uma sondagem mais não do que um estudo do mercado eleitoral) mas que toda a vida aprendeu a lê-los, interpretá-los e a neles basear decisões estratégicas na sua profissão, dizer de relevante sobre o último “barómetro” Marktest?

  1. Bom, em primeiro lugar que penso para alguns (muitos ou poucos, não sei) cidadãos interrogados, as sondagens tenderão a ser um pouco como as eleições europeias: permitem-lhes expressar o que vai na alma sem que isso tenha grandes (neste caso, nenhumas) consequências. Por não existirem essas tais consequências, também alguns eleitores tenderão a definir o seu sentido de voto mais baseados em questões de natureza conjuntural ou nas suas antipatias ou embirrações pessoais de momento (como um castigo) do que em função dos seus desejos de escolha efectiva de um determinado governo para o país, isto é, baseados em questões de ordem eminentemente estrutural. Este é o primeiro cuidado a ter na análise destes resultados.
  2. Em segundo lugar, nota-se uma clara opção por declarar que se vota nos partidos que se reconhecem como vencedores, que estão, digamos assim, na “mó de cima”: PSD, que ganhou as “europeias”, e “Bloco de Esquerda”, que foi o outro vencedor conseguindo mais dois deputados quando o país perdeu igual número de mandatos. Se as urnas confirmarão tal coisa é algo que só a eleição efectiva dirá. Mas... segunda precaução a tomar, porque na privacidade da cabina de voto, quando o eleitor apenas se confronta com a sua própria consciência, esta motivação perde algum do seu valor.
  3. A soma das percentagens de votação nos partidos da direita (PSD e CDS) não é muito diferente da verificada nas europeias, o que pode indiciar alguma estabilidade no voto nesta área política. Apenas indiciar, entenda-se! Se levarmos em linha de conta a tradicional sub-avaliação do voto no CDS, e caso o fenómeno venha a repetir-se nas próximas legislativas (repito: se isso tornar a acontecer, o que está longe de ser um dado adquirido), isto pode significar que em eleições efectivas a percentagem de votantes no PSD pode descer para níveis inferiores aos do PS, já que a diferença entre ambos é no “barómetro inferior a 2% (1.3%). Isto significa que o “balanço” (distribuição) de votos à direita entre PSD e CDS pode decidir o vencedor das eleições e o primeiro-ministro e governo de Portugal.
  4. Existe uma boa hipótese do vencedor das eleições se vir a decidir na distribuição de votos entre o PSD e o CDS, por um lado, e o PS e o “Bloco”, por outro, o que não poderá deixar de condicionar as estratégias eleitorais dos partidos do chamado “bloco central”.
  5. Fora isto, e talvez o mais importante, verifica-se claramente a existência de uma dinâmica de recuperação por parte do PSD, qual corredor de fundo na recta final que tenta chegar-se e ultrapassar um adversário liderante mas agora desgastado. Melhor do que ninguém (???), José Sócrates e o PS saberão como é difícil contrariar qualquer dinâmica deste tipo.

Strawberries & Cream (Ano II - 9)

Resumo do 5º dia e antevisão do 6º

E hoje joga Ana Ivanovic!

sexta-feira, junho 26, 2009

Foyle's War (10)

"Foyle's War" - 11º episódio - "They Fought In The Fields" (Parte X de X)

A propósito da importância da beleza na política. Acham se fossem feios se tinham tornado ícones?



História(s) da Música Popular (135)

Bessie Banks - "Go Now"
The Moody Blues - "Go Now"
"Under The Influence" - The original songs of the "British Invasion" (XVIII)
Penso não arriscar muito ao dizer que existem dois “Moody Blues”, dois grupos no mesmo grupo: um com Denny Laine e outro já com Justin Hayward, que o substituiu em 1966; um com “melotron” e um sem “melotron”. O primeiro um excelente grupo R&B; o segundo autor e intérprete de mega-sucessos percursores do rock sinfónico, apoiados em letras rebuscadas e temas musicais pretensiosos e gongóricos. O primeiro, o que prefiro, os “meus” “Moody Blues”, foi o que popularizou “Go Now” (#1 em 1964 no UK e #10 nos USA), um excelente tema da autoria de Larry Banks e Milton Bennett gravado originalmente pela norte-americana Bessie Banks (mulher de Larry) e produzido por Jerry Leiber e Mike Stoller. Foram também os primeiros “Moody Blues” responsáveis por um dos melhores álbuns britânicos da “década prodigiosa”, “The Magnificent Moodies” (1965) , e por um pequeno EP (edição francesa) com temas como “This Is My House” e “Life’s Not Life”. Os segundos... Bom, os segundos toda a gente os conhece a partir de “Days of Future Passed” e estão longe, tal como todo o “rock sinfónico”, de ser a minha chávena de chá”.

Pois “Go Now”, um dos meus temas preferidos da “British Invasion”, não poderia por aqui faltar, tanto na interpretação original de Banks como dos “Magnificent Moodies” de Laine.

"Borregou"!...

Seguiu o meu conselho e “borregou” mesmo, limitando assim os estragos causados por uma batalha em que qualquer vitória seria mesmo a de Pirro. Fez bem, embora tivesse feito melhor em nunca ter avançado.

Duas notas, apenas:
  1. Não se pode acusar José Sócrates (leia-se, a PT ou o governo) de ter procedido mal ao avançar para o negócio e agora achar que fez mal em ter recuado. “Preso por ter cão e preso por não ter?”. Já me apercebi por aí da existência deste tipo de raciocínio, muito comum em quem quer saltar para novo autocarro que possa estar por aí a chegar. Não me parece seja honesto... (o raciocínio e o resto, entenda-se).
  2. Igual raciocínio se aplica à “interferência política”. Não se pode acusar (e bem, por poder prefigurar uma ameaça à liberdade de informação) o governo de ter intenções políticas ao caucionar o negócio e, agora, blasfemar contra ele por ter impedido, por questões meramente políticas, a PT de entrar numa área de negócio que poderia ser estrategicamente relevante para a empresa. Quando o Estado detém uma posição accionista relevante numa empresa, no mundo dos negócios, neste caso inclusivamente com direitos especiais, é porque vê nessa participação interesse político, frequentemente estratégico, e não meramente empresarial. É esse (a política) o seu “core business” e não, como diria o Francisco Louçã (neste caso, bem), “fabricar cerveja”.

Lesson to learn? Seria agora tempo, depois da poeira assentar e em função do que se passou e do plano de negócios da empresa, de Estado e restantes accionista avaliarem, em termos estratégicos, se é ou não conveniente a continuação da participação daquele, e em que moldes e com que direitos, no capital da empresa. Poderá bem concluir-se (ou não) que aquilo que terá sido durante muitos tempo indispensável possa ter passado (eventualmente) a empecilho.

Strawberries & Cream (Ano II - 8)

O que se passou ontem e prevê venha a passar-se hoje

Relevo para Andy Murray. Será que é desta? Duvido!

quinta-feira, junho 25, 2009

Foyle's War (9)

"Foyle's War" - 11º episódio - "They Fought In The Fields" (Parte IX de X)

24 de junho: o "dies horribilis" de José Sócrates (3)

A Manuela Ferreira Leite não se lhe reconhecem grandes qualidades políticas e foi governante medíocre. Com a agravante de essa mediocridade ter ficado demonstrada em pastas (finanças e educação) onde este governo tem algumas reformas e sucessos para mostrar. Ao criticar as grandes obras públicas num sentido puramente contabilístico/financeiro e não político, isto é, não integrando nessa crítica questões como a competitividade do país e uma análise ao modelo de desenvolvimento que elas subentendem, continua a demonstrar essa sua menoridade política e, mais ainda, abre a porta a uma mudança de ideias quando, eventualmente no governo, for de opinião que as condicionantes financeiras se alteraram.

Tendo dito isto, considero que a sua actuação na entrevista de ontem na SIC, esteve perto do muito bom. Porquê? Porque reconhecendo estas suas fraquezas e também os pontos fortes e fracos do seu oponente eleitoral José Sócrates, soube retirar o foco da sua comunicação do terreno da política “pura e dura” e colocá-lo no campo que mais a favorece: a “honestidade”, os “princípios”, o “rigor”, a “verdade”, a “seriedade”, valores que os portugueses dificilmente reconhecerão, com ou sem razão pouco importa (lá está: “o que parece é”), no actual primeiro-ministro, mais identificado como um político com todos os vícios que os portugueses lhes atribuem. E, convenhamos, não só Manuela Ferreira Leite, ao contrário do que acontece com o seu percurso político, terá no seu trajecto pessoal o “supporting evidence” necessário para apoiar esta sua imagem, que evidencia e transpira autenticidade, como também sabemos que o povo português é normalmente sensível a este tipo de perfis. Sintoma do seu atraso, evidentemente, mas é o povo - que, ao contrário do que se diz, não é inteligente nem sábio - que numa democracia elege os seus governantes. E pouco importa se Ferreira Leite mostrou insuficiências aqui e ali, fez análises incorrectas acolá. Claro que fez. Mas numa entrevista longa de uma hora, pouco mais os eleitores apreendem do que uma ou duas ideias-força, ficando a “descodificação” a cargo dos comentadores com níveis de audiência inferiores e escuta normalmente reservada aos já iniciados.

José Sócrates terá visto a entrevista e os seus assessores com ela (a entrevista) devem ter dormido ontem. Para já, João Tiago Silveira mostrou insegurança na análise, não sei se por ser a sua estreia na ingrata missão de “porta-voz”. Mas a entrevista foi, seguramente, a terceira má notícia do dia para o primeiro-ministro. Curiosamente, todas elas na área mediática, terreno onde o PS e José Sócrates há muito perderam a iniciativa e a hegemonia que com o “caso” Prisa tentam agora reconquistar. Aos encontrões. Mau sinal; muito mau sinal...

24 de junho. o "dies horribilis" de José Sócrates (2)

“Em política o que parece é”.

A frase é normalmente atribuída ao ditador de Santa Comba, mas não sei se alguma vez terá Salazar tido imaginação para tal coisa. O que é facto é que a terá levado à letra, e parece que “charmeur de dames” entre muros terá vendido a imagem de noivo da pátria fora deles. “Vícios privados, públicas virtudes”, como se isso de ser "charmeur de dames" fosse necessariamente um vício e casar com a pátria que nunca o não pôde escolher uma virtude rara. Adiante.

O que é facto é que, apesar de ditador e eventual usurpador da frase, tinha razão, que esta – a razão – por vezes não escolhe só boas companhias. Devia ter entendido isso José Sócrates, pois não me parece nem ele nem ninguém por ele consigam vir a terreiro explicar, bem explicadinho, aquele negócio da Prisa. Não sabia o governo? Faz figura de marido enganado (olhe que não é nada de que se possa orgulhar!) quando detém uma “golden share” mais umas quantas (muitas) acções por participação da “Caixa”. E alguém acredita mesmo que o estado seja “corno”? Livra-nos da Moura Guedes e o ar torna-se mais respirável? Mas quem lhe disse que nos queremos mesmo ver livres dela? Eu, por mim, e penso que muitos outros portugueses comigo, prefiro poder escolher e evitar tão má frequência. Escolher!, meu caro José Sócrates, para isso precisando de concorrência, o que pressupõe não ter o Estado dois canais em três embora considere, ao contrário do Torquemada/JPP, que a informação da RTP até tem qualidade. Mas isto das bruxas... elas “andem” por aí e surgem quando menos se espera. Por isso, prefiro que continuem a andar por aí que bem saberei como evitá-las.

Olhe, acho que com esta história mal contada já perdeu uns votos; e mostrou que está "à rasca" e o povo não gosta de votar em quem assim está. Mas, vá lá, “borregue” enquanto é tempo, isto é, enquanto não perde mais. Porque da imagem de “públicos vícios, privadas virtudes (vá lá saber-se!)” já dificilmente se pode livrar. E a sua adversária vem aí, pela anunciada rua das virtudes como lhe vou explicar de seguida.

24 de junho: o "dies horribilis" de José Sócrates (1)

Há uns anos, quando a escola era mesmo risonha e franca usasse ou não o professor longas barbas brancas, uma sentença judicial ilibando um jornalista face a uma queixa do poder seria sempre uma boa notícia. Nem precisávamos de saber os porquês, porque o nosso partido estava tomado. À partida.

Hoje, face ao que por aí vai de desbragamento “mediático” (ao ler as notícias de “A Bola” sobre Moniz envergonhei-me de alguma vez ter comprado tal “jornal”, já que a TVI nunca fez parte das minhas escolhas e o “Jornal do Crime” também não) as certezas já não serão assim tão certezas, mas a memória ou o instinto não deixam de nos provocar uma reacção inicial positiva, confirmada ou não por posterior verificação. É este o caso do processo movido contra João Miguel Tavares por José Sócrates (já agora: não percebo porque Cicciolina também não processou o JMT; talvez porque ninguém lhe tenha feito o favor de lhe aportar tal escrito!), em que um certo alívio inicial é comprovado por leitura mais profunda. Francamente, não sei bem o que terá passado pela cabeça do primeiro-ministro ou dos seus assessores para, em vez de darem uma enorme e valente gargalhada pelo exercício de estilo (é disso apenas que se trata: de uma alegoria bem disposta), optarem pela via judicial para dirimirem conflito(?) que uma boa gargalhada, e resposta igualmente bem disposta, por certo resolveria. Estamos conversados: no século XIX o pobre do JMT talvez estivesse neste momento a curar ferida de espada ou sarar buraco de bala. Alegre-se ("honni soit qui mal y pense!"), homem, que eu, seu ”escutador” regular no bem disposto “governo sombra”, não deixarei de consigo me regozijar. Quanto a Cicciolina, olhe, é lá consigo, mas eu não perderia muito tempo com tal ruim senhora : há-as aí de bem melhor qualidade.

Quanto a José Sócrates... Olhe, caro primeiro-ministro, resta-lhe mudar de assessores, escutar melhor os que tem e manifestem opiniões contrárias ou, pura e simplesmente, quando lhe der vontade de fazer disparate, esperar um pouco a ver se passa. Quer ganhar as eleições, não quer? Pode perdê-las – é a vida em democracia – mas isso será sempre bem melhor do que perder o sentido de humor! Ria-se, homem, ria-se!

Strawberries & Cream (Ano II - 7)

Antevisão do 4º dia e resumo do 3º

E Maria Sharapova em destaque, claro, embora pelas menos boas razões!

quarta-feira, junho 24, 2009

Zinemmann, Cooper e Tex Ritter

Tex Ritter - "Do Not Forsake Me, Oh My Darling"

"High Noon", de Fred Zinemmann (1952)
Será talvez o mais político dos "westerns" clássicos, apesar de por certo me irem recordar Liberty Valance (um filme que não é muito das minhas simpatias por achar ser, acima de tudo, pequeno-burguês e anti-política). Um libelo contra o Macartismo, vindo de um Carl Foreman em tempos membro do partido comunista americano, autor do guião, e um dos perseguidos pelo tristemente célebre senador McCarthy. Mas também, e no caso muito bem, um filme anti-pacifista na actuação final de Grace Kelly (“que raio de mulher és tu”, diz-lhe Katy Jurado numa frase que num "western" só poderia ser dita por uma mestiça despeitada, de convicções e poucas convenções), no filme uma quaker e noiva de Gary Cooper com quem consta manteve um caso durante as filmagens (habitual em Kelly, esta queda para se envolver com quem contracenava).

Zinnemann era um austríaco, como muitos outros cineastas americanos fugido ao nazismo, mas que, uma vez nos USA, nunca tomou posições políticas militantemente relevantes. Em “Julia” (1977), contudo, não deixará de abordar o tema do anti-nazismo, tendo por companhia duas reconhecidas “liberais” (Vanessa Redgrave e Jane Fonda). Posições políticas, e contra “High Noon”, ficaram a cargo do suspeito do costume, o ultra-conservador John Wayne acolitado por alguns oportunistas de ocasião. Mas, para além dessa carga política “liberal” e anti-pacifista, o filme ficou também famoso por outras igualmente boas razões: o facto de a duração do filme corresponder à duração real da acção (aquele relógio de parede omnipresente!) e pelo oscarizado tema musical de Dimitri Tiomkin, “Do Not Forsake Me , Oh My Darling”, no filme interpretado por Tex Ritter mas que conhecemos melhor, mas pior sem o despojamento da versão de Ritter, na interpretação de Frankie Laine. Cooper também ganhou um Oscar, não sei bem se pelo seu papel no filme se por ser ele, Gary Cooper. Qualquer que fosse a razão, bem merecido!

Vi o filme no cinema, que me lembre, duas vezes. A primeira ainda pré-adolescente (talvez no ano da morte de Cooper, 1961), no cinema Império mas já em reposição (o filme é de 1952 e nessa altura ainda nem ler sabia); mais tarde na Cinemateca, há bem poucos anos. Pelo meio ficaram umas quantas “visões” em vídeo, as suficientes para poder dizer que talvez não me reconheça tanto em qualquer outro dos "westerns" clássicos. Pelo seu liberalismo (tome-se no seu significado americano), também pelo seu individualismo, por Gary Cooper, por Kelly (uma das “loiras frias” de Hitchcock), pelo seu lado "thriller", pelo tema de Tiomkin.

Strawberries & Cream (Ano II - 6)

Foyle's War (8)

"Foyle's War" - 11º episódio - "They Fought In The Fields" (Parte VIII de X)

terça-feira, junho 23, 2009

A culpa é da ASAE?

Ao fim de muitos anos, “obrigado” por uma qualquer leitura da imprensa de fim de semana ou algo do género, voltei à gelataria da Avenida da Igreja, que juntamente com o Santini fez as delícias da minha infância. Devo dizer os gelados continuam muito bons. Mas confesso me faz alguma confusão o facto de quem serve os gelados efectuar e receber também pagamentos - “mexer no dinheiro” - numa promiscuidade que me parece longe dos mínimos higiénicos aceitáveis no século XXI. Não seria possível evitá-lo?

Depois digam que a culpa é da ASAE...

Porquê mil milhões de euros?

A aparentemente extravagante cláusula de rescisão de mil milhões de euros do contrato de Cristiano Ronaldo com o Real Madrid nada mais é do que apenas um elemento adicional na construção de um modelo de negócio consistente que só desse modo pode ter qualquer hipótese de vir a ser bem sucedido. Gostemos ou não gostemos, estamos aqui perante algo de muito semelhante ao chamado “efeito-ostentação”: quanto mais elevados os valores pagos ou atribuídos ao jogador, maiores receitas irá gerar e mais rentável será o negócio.

Depois do ruído: a táctica de José Sócrates, Vladimir Ulianov ou "Um Passo em Frente, Dois Passos Atrás"

Passado o ruído mais ensurdecedor e alguma da poeira já assente, que dizer da já tão celebrada e hipotética “mudança de personalidade” do primeiro-ministro? Fundamentalmente, que os nossos jornalistas e comentadores pouco ou nada percebem da diferença entre estratégia e táctica e não leram, ou leram mal, Vladimir Ilitch Ulianov, como se dizia no tempo da censura para ver se a citação “passava”. Como qualquer equipa de futebol cujo modelo de jogo se estrutura, essencialmente, nos passes longos e transições rápidas, mas que a 5’ do fim se encontra a ganhar por um a zero, a equipa de José Sócrates tenta, num modelo contra-natura e de forma conjuntural, fazer circular a bola retirando a iniciativa de jogo ao adversário, evitando que este a continue a pressionar e a obrigar a cometer erros. Uma nuance táctica - “Um Passo em Frente, Dois Passos Atrás” – apenas suficiente para distrair os “media” durante uns tempos, centrando a análise de comentadores sobre ele próprio (José Sócrates) mas no terreno por si escolhido.

Resultou? Tacticamente talvez sim, pois não só conseguiu retirar o foco das atenções mediáticas de onde ele deveria estar centrado (o PSD, vencedor das eleições europeias), desviando-o para si, como, em certa medida, tentou, com a sua táctica defensiva baseada na criação de uma imagem mais low profile e aberta a compromissos, diminuir a eficácia dos ataques da oposição, demasiado centrados na “arrogância” da sua personalidade e nas “grandes obras públicas”. Aliás, desde a demissão de Correia de Campos que José Sócratres demonstrou que reage sempre defensivamente – cedendo - às pressões da rua, o que é bem revelador das diferenças existentes entre um político (mesmo que bom) e um estadista.

E estrategicamente? Obterá resultados? O povo português o dirá, lá mais para o Outono (esta é uma das vantagens da democracia), mas coloco sérias dúvidas a que o tal povo esteja já apto, apesar dos progressos registados nos últimos 35 anos, a lidar com tamanha e tão complexa sofisticação de processos.

De qualquer forma, como qualquer marca líder com um “posicionamento” claro e que baseia o seu êxito numa estratégia de vendas e de publicidade agressivas, mas que se vê, esporadicamente, obrigada a retirar o produto do mercado e a suspender a publicidade por se terem detectado, pontualmente, algumas embalagens deterioradas, pedindo desculpa ao consumidor pelo incómodo, voltará em breve e em força, depois de um período de acalmia, com a estratégia que fez de si marca de êxito e líder de mercado. Ai de si se isso não acontecer...

Strawberries & Cream (Ano II - 5)

Foyle's War (7)

"Foyle's War" - 11º episódio - "They Fought In The Fields" (Parte VII de X)

segunda-feira, junho 22, 2009

Strawberries & Cream (Ano II - 4)

"Highlights" Serena Williams - Neuza Silva
(2-0: 6-1 e 7-5)

22 de Junho de 1969, a Academia de Coimbra, a "bola" e a ditadura

Precisamente há 40 anos, em período de enorme contestação e luta estudantil na Academia de Coimbra, a equipa de futebol da Associação Académica da cidade e o Sport Lisboa e Benfica disputaram no Estádio Nacional a final da Taça de Portugal (1-2), dando azo a que se tivesse aproveitado o evento para uma significativa manifestação contra a ditadura. O “Público” de hoje refere-se ao acontecimento e o meu amigo LT não deixa também de o fazer. Várias notas:
  1. Ao contrário do que se diz, não se tratou da maior manifestação de sempre contra o regime e o que se passou no Estádio Nacional (estive lá) não teve grande repercussão no país. Penso que as maiores manifestações e comícios contra o regime terão sido, pelo que li, me contaram e lembro (era criança), as verificadas quando da campanha eleitoral de Humberto Delgado, até porque abarcaram todo o país (ou uma sua parte significativa) e quase todas as classes sociais. Também porque beneficiaram de um certo abrandamento da censura, habitual nos períodos “eleitorais”. Houve confrontos com a GNR e tanques nas ruas.
  2. A crise académica de 69 (eu era estudante universitário na altura), ao contrário da de 62, não teve repercussão muito significativa na Academia de Lisboa. Podemos dizer, isso sim, que ela funcionou mais como “pontapé de saída” para o pico da contestação estudantil do início dos anos 70, que terá culminado com a morte de Ribeiro Santos, quando as estruturas ligadas ao PCP começaram a perder a direcção da luta estudantil em favor das correntes maoístas e radicais.
  3. Curiosamente, estando José Hermano Saraiva, enquanto ministro da educação, ligado à repressão da contestação estudantil, devo dizer que guardava dele, enquanto reitor do Liceu D. João de Castro onde fui aluno nos antigos 6º e 7º ano, uma imagem liberal. De facto, e ao contrário do que acontecia no Camões dirigido com mão de ferro pelo tristemente célebre Sérvulo Correia (autenticamente, a expressão mais ultra da ditadura a nível escolar), no D. João de Castro de José Hermano Saraiva, até por se tratar de um intelectual, respirava-se um ambiente de maior modernidade e liberdade, mais “distendido”, numa escola onde o aluno, a sua personalidade, opinião e também responsabilidade eram tidas em conta. Raro nos tempos de então. Tendo-o por um “liberal” do regime, a sua actuação surpreendeu-me; mas admito estivesse muito condicionado.
  4. Ironicamente, a Associação Académica de Coimbra era uma equipa de futebol, de certo modo, protegida pelo regime (muitos dos seus responsáveis tinham sido estudantes da sua Universidade). Apenas conseguia alcançar níveis significativos de competitividade (chegou a ser vice-campeã e só não foi campeã porque no SLB jogava Eusébio), e a democracia veio a prová-lo, graças a duas leis iníquas que a favoreciam impedindo a livre transferência dos profissionais de futebol. A famigerada “lei da opção” e a “lei escolar”. Apesar disso, não conseguiu – e ainda bem -, embora de modo algo discreto, passar ao lado do ambiente de contestação estudantil que então se vivia em Coimbra.
  5. Estou em profundo desacordo com o LT quando ele afirma que a crise de 69 foi o Maio 68 português. Não me parece, embora possa ter apresentado um ou outro traço. Até porque tenho por opinião não poder ser o Maio 68 de Paris “isolável” de todas as mudanças que ocorrem no mundo desde o início do “rock and roll”, em 54, até a Woodstock, em 69. Num país periférico, atrasado e conservador, governado por uma ditadura, tivemos que esperar até 74 para que um terramoto que juntou o ambiente da libertação de Paris, o “rock and roll”, a luta pelos direitos cívicos, os “mods e os rockers”, a Primavera de Praga, o movimento "hippie", o Maio 68 e sabe-se lá mais o quê, abanasse o país de alto a baixo e o fizesse, embora aos solavancos e com vários encontrões pelo meio, entrar finalmente no caminho da modernidade.

Strawberries & Cream (Ano II - 3)

(onde se fala de Neuza Silva - a propósito de Serena Williams, claro está)

Foyle's War (6)

"Foyle's War" - 11º episódio - "They Fought In The Fields" (Parte VI de X)

domingo, junho 21, 2009

Strawberries & Cream (Ano II - 2)


Veja aqui o resumo de Wimbledon 2008, a antevisão de 2009 e golden moments de anos anteriores.

Absolut album covers (2)

A não-candidatura de Moniz

Pondo de parte teorias de conspiração mais ou menos credíveis veiculadas por grupos de comunicação concorrentes da Prisa - muitas delas tendo por base a importante questão dos direitos televisivos –, bem como a tradicional bisbilhotice da imprensa cor de rosa, José Eduardo Moniz fez bem em “não ir às urnas” - por falta de condições, tal como se dizia no tempo da oposição democrática. Na realidade, e como aqui afirmei, o movimento “Benfica, Vencer Vencer” é demasiado heterogéneo para que, em todas as suas tendências, pudesse dar origem, em tão curto espaço de tempo, a uma ideia para o clube, um projecto e uma lista com a indispensável consistência “ideológica” – digamos assim. O que é aceitável num movimento amplo, não o pode ser quando passamos a falar de algo com características mais “executivas, como uma candidatura, um projecto de gestão para o clube, e de atitudes voluntaristas e projectos meramente taticistas, como os que presidiram, bem sei que em circunstâncias muito gravosas, à eleição de Vilarinho, tem o SLB má experiência que baste.

Para além disso, e partindo do princípio da necessidade de José Veiga fazer parte da lista a apresentar a sufrágio (incompreensivelmente – deve-se a ele, por exemplo, o ruinoso negócio da troca de Marchena por Zahovic - recolhe grandes apoios entre os associados benfiquistas), a existência de um projecto sólido, na base de objectivos bem definidos e pessoas credíveis, será uma das condições necessárias para o controle das ambições (desmedidas?) de Veiga, não permitindo, de modo algum, que se possa vir a tornar no Luís Filipe Vieira da lista de Moniz.

Como também afirmei, passa a partir deste momento a existir um esboço de projecto institucional alternativo para o clube, e não mais o vazio ou apenas as ambições individuais, mais ou menos folclóricas, de alguns. Ironicamente, o clube fica a devê-lo a Luís Filipe Vieira, talvez o seu derradeiro serviço prestado ao clube: se não tivesse demitido Quique Flores, nas condições em que o fez, e levado a efeito o “golpe de estado estatutário” da antecipação das eleições, talvez, infelizmente, tudo tivesse continuado como dantes, no marasmo do costume.

O "Gato Maltês" e a Autoeuropa

Mais uma vez o “Gato Maltês” tem razões para “fishing for compliments”. Basta ler este “post”, da passada 5ª feira, sobre a Autoeuropa e depois comparar com notícias bem posteriores do “Expresso” de sábado (última página) e da RTP. O que me espanta é que, não sendo o caso virgem e não dispondo este "blog" de informação privilegiada, como puderam ser os “media” tradicionais tão lentos a analisar a questão. Ou será que o PCP ainda lhes merece um certa atitude de temor reverencial?

sábado, junho 20, 2009

"Pop Gear" (5)

"Pop Gear" - um conjunto de vídeo-clips de Frederic Goode (1965)
1. Billie Davis - "Watcha Gonna Do"
2. The Spencer Davies Group - "My Babe"
3. The Nashville Teens - "Tobacco Road"

sexta-feira, junho 19, 2009

Foyle's War (5)

"Foyle's War" - 11º episódio - "They Fought In The Fields" (Parte V de X)

História(s) da Música Popular (134)


The Top Notes - "Twist And Shout"
The Isley Brothers - "Twist And Shout"
"Under the Influence" - The original songs of the "British Invasion" (XVII)
Ora ele há dias em que, sem estar à espera, se aprendem coisas novas nesta vida. Estava eu convencido que “Twist And Shout”, tema de Bert Berns e Phil Medley (no relation com o Bill dos Righteous Brothers) tornado famoso pelos Beatles, era um original dos Isley Brothers (Cincinatti - Ohio, formado em 1957) quando, de repente, percebi que afinal estava enganado: a primeira gravação é de um ignorado grupo chamado The Top Notes (1961) e a versão dos Isley Brothers (1962), que eu pensava original, apenas o seu primeiro cover bem sucedido.

O que é um facto é que três grandes produtores da música popular estão ligados ao tema. Phil Spector (de génio e louco...), que produziu o original, o próprio Berns, produtor da versão dos Isley Brothers, e George Martin, claro está, produtor dos Beatles e do seu primeiro álbum, “Please Please Me” (1963), onde o grupo de Liverpool fez incluir o tema. Um terceto de (muito) respeito!

Uma boa razão para incluir aqui as duas primeiras versões, de Top Notes/Spector e de Isley Brothers/Berns, já que a dos Beatles e Martin, baseada na dos Isley Brothers, é de todos bem conhecida. Mas, devo dizer, vale também bem a pena ouvir a tão diferente versão dos Mamas & The Papas.

Nota:
peço desculpa pela má qualidade de som da versão dos Isley Brothers, mas a ZON informou-me que por motivos técnicos a minha página pessoal, onde poderia guardar um ficheiro retirado de um CD, com melhor qualidade de som, se encontra indisponível. É a vida!!!

Calendário eleitoral

O que é essencial para a marcação do próximo calendário eleitoral? Claramente, definir uma data o mais próxima possível para as eleições legislativas. Porquê? Porque embora não estando o actual governo ferido de qualquer tipo de legitimidade, encontra-se, de facto, após as europeias, enfraquecido politicamente, o que limitará certamente a sua eficácia governativa. Em plena crise, acrescente-se. Assim sendo, seria de esperar que estas eleições pudessem ter lugar no último domingo de Setembro, dia 27, se não estou em erro, com a campanha a começar a 14 quando quase toda a gente já regressou de férias.

Devem coincidir com as autárquicas? Quanto a mim, não. Por causa de quase irrelevantes questões de custos ou de improvável confusão dos eleitores com os boletins de voto no acto eleitoral? Ou por questões burocráticas relacionadas com a organização das mesas e contagem dos votos, como também já ouvi? Também não: num caso estaríamos a chamar burros aos cidadãos e no outro passar um atestado de incapacidade organizativa a nós próprios. A questão está ligada, isso sim, a razões de ordem puramente política, e são estas que se devem colocar em primeiro lugar numa democracia: a simultaneidade das campanhas eleitorais tenderia a menosprezar, principalmente em tempo e espaço mediáticos, as eleições autárquicas. Não nas pequenas freguesias e concelhos rurais, onde a campanha autárquica se faz quase “porta a porta” ou “bouche à l’oreille”. Mas nos grandes concelhos e freguesias urbanas. Acresce que nada indicia a urgência das autárquicas, pelo que poderão e deverão ser marcadas para o final do prazo legalmente admissível.

quinta-feira, junho 18, 2009

PSD e alta velocidade

Penso ninguém consciente terá dúvidas de que, no caso de vitória nas legislativas, um partido de base autárquica e com forte implantação na região norte, como o PSD, consiga ou tenha algum interesse em resistir às pressões que já existem e se vão suceder para a construção da linha de alta velocidade Lisboa-Porto. Ora essa linha não fará qualquer sentido por si só, isto é, se não se integrar na rede ibérica respectiva através da projectada – e essa sim, essencial para a competitividade do país – linha Lisboa-Badajoz. Não me parece valha a pena acrescentar mais nada sobre qual será a decisão de um eventual futuro governo que integre o PSD como partido maioritário

"Foyle's War" (4)

"Foyle's War" - 11º episódio - "They Fought In The Fields" (Parte IV de X)

O PCP e a Autoeuropa

O que se passa na Autoeuropa não representa mais, em última instância e na sua essência, do que a enésima tentativa das estruturas ligadas ao PCP para, na sequência de outras anteriores, combater e boicotar o mais significativo - talvez único - exemplo de sindicalismo responsável e reformista existente em Portugal ao nível das empresas industriais, também tornado possível por uma gestão moderna e “aberta” da parte dos responsáveis do grupo VW. Se surtir efeito, a Autoeuropa transformar-se-á a prazo num foco de instabilidade empresarial com o consequente aumento do desemprego, possível deslocalização da produção, destruição de um “cluster” de excelência e boas práticas industriais, diminuição das exportações e aumento do déficit externo. Mais ainda, um “excelente” exemplo negativo a ser apontado a qualquer possível futuro investimento estrangeiro em Portugal. O cenário ideal, está visto, para um “reforço da votação na CDU”, que poderá então bradar contra os malefícios do grande capital e das multinacionais, as políticas de direita do governo, o agravamento do desemprego e a “destruição do sector produtivo” e das conquistas dos trabalhadores”. “Viva la Muerte!”

quarta-feira, junho 17, 2009

terça-feira, junho 16, 2009

Positivos e negativos da apresentação do movimento "Benfica, Vencer Vencer"

O que gostei mais (+) e menos (-) na apresentação do movimento “Benfica, Vencer Vencer”:

+++++ O facto de a questão-chave (a gestão de LFV) estar claramente definida e analisados os seus pontos negativos, sendo esse o foco claro do movimento.

+++++ A ausência de qualquer vislumbre de demagogia e populismo num campo onde eles proliferam, inclusivamente com um apelo a uma dimensão ética que saúdo.

++++ Um excelente discurso de abertura de Varandas Fernandes, escorreito, bem estruturado e organizado, focando com clareza os pontos essenciais.

++++ O facto de me reconhecer em Varandas Fernandes e Rui Rangel, de ambos falarem uma linguagem e utilizarem uma argumentação que eu entendo, que, discordando umas vezes e concordando outras, é a também a minha.

+++Rever glórias benfiquistas como Mozer, António Veloso e, principalmente, José Augusto integrarem o projecto é sempre gratificante, pese embora a oportunidade de emprego que muitas vezes se esconde na presença de alguns.

+++ O facto de a partir de agora a alternativa a LFV não mais ser A ou B mas um movimento estruturado e institucional que como tal pode intervir.

++ Importante a presença do mediático Rui Rangel, embora o seu discurso confuso e repetitivo, mal preparado ou mal treinado, tenha ficado aquém das minhas expectativas.

+ A presença de um leque muito alargado de personalidades benfiquistas pode ser, nesta fase, uma necessidade, mas confesso que essa “unidade de todos os benfiquistas honrados(?)”, um pouco do tipo “unidade democrática e antifascista” me deixa preocupado.

- As linhas gerais apresentadas são ainda demasiado genéricas e generalistas, pouco rigorosas e deficientemente estruturadas, com demasiados lugares comuns onde quase tudo cabe. Há que trabalhar bastante este aspecto essencial para a credibilidade institucional do movimento e para não cair no taticismo e no albergue espanhol que foi a candidatura de Manuel Vilarinho.

-- Não gostei de ver por lá Manuel Damásio, um dos piores presidentes de sempre do Sport Lisboa e Benfica.

--- Percebo a importância de José Veiga neste momento. Mas, apesar do título de campeão que considero perfeitamente casuístico e não sustentado, Veiga representa o pior do SLB populista e rasca dos últimos anos. Incompatível com a dimensão ética que ouvi de Varandas Fernandes e Rangel. Preocupante... e com um certo ar de déjà vu.

A seguir com esperança e expectativa, claro, e algum entusiasmo benfiquista.

O "Gato Maltês" e o Movimento "Benfica, Vencer Vencer"

O “Gato Maltês” vai estar hoje no Hotel Sheraton, pelas 19.30h, na apresentação do movimento “Benfica, Vencer Vencer” pelo Juiz Desembargador Rui Rangel (tiveram a atenção de me falar ontem à noite solicitando a minha comparência, o que agradeço). Este facto não significa qualquer apoio ao movimento, até porque quer afirmar desde já que porque põe sérias reservas à participação de juizes e membros de outros orgãos de soberania neste tipo de iniciativas. Mas, enquanto benfiquista opositor de longa data da gestão desportiva de Luís Filipe Vieira, não pode o editor deste "blog" deixar de seguir com atenção as propostas alternativas que possam surgir com um mínimo de possibilidades de se virem a tornar globalmente consistentes e credíveis. Devo isso ao meu clube. Do que me for dado ver e ouvir aqui mesmo darei conta.

"Foyle's War" (2)

"Foyle's War" - 11º episódio - "They Fought In The Fields" (Parte II de X)

Regimental Ties (2)


Royal Army Service Corps

segunda-feira, junho 15, 2009

O que muita gente ainda não entendeu sobre a transferência de Cristiano Ronaldo

Muita gente ainda não entendeu bem algumas das questões que envolvem e estão na base da transferência de Cristiano Ronaldo para o Real Madrid. Em primeiro lugar que só e apenas o mercado pode definir o valor da transferência e que, portanto, tudo o que se diga fora disso sobre o assunto tem tanto de rigoroso como (já que está na moda) as previsões da astróloga Maya. Pode até envolver questões morais que nos choquem , eventualmente, mais ou menos interessantes opiniões pessoais de políticos, treinadores, etc, em busca de popularidade fácil. Mas nada disso é relevante para a análise “pura e dura” do negócio. Se o Real Madrid de Florentino Perez pagou esse valor, mais o que se propõe pagar em salários e outras regalias ao longo de um contrato de seis anos, é porque, certamente, tem a expectativa de rentabilizar o negócio em função de análise previamente efectuada. O mercado – e apenas ele - dirá, pois, se essa expectativa se confirma e, consequentemente, se era esse o valor real do jogador.

Em segundo lugar, Cristiano Ronaldo não é apenas - ao contrário de Messi, por exemplo - um jogador de futebol. É uma pop star, uma vedeta do espectáculo e, enquanto tal e como tantas outras, o seu “modelo de negócio” não se restringe a que jogue bem futebol, mas exige e passa necessariamente por uma transferência deste tipo (a mais cara de sempre), pois isso é fundamental para manter e acentuar o “hip” que o lança para as páginas dos jornais, das revistas cor-de-rosa, das objectivas dos paparazzi, para os braços de todas as Paris Hilton deste mundo. Por muito que nos custe admiti-lo, se deixar de “aparecer” e ser notícia por essas razões e se limitar a jogar futebol o seu valor de mercado decrescerá vertiginosamente.

Por último, para o “modelo de negócio” do Real Madrid de Perez estas contratações milionárias de jogadores de futebol que sejam também vedetas do espectáculo são também elas indispensáveis, porque também são elas e o “glamour assim criado que estão na base das expectativas de rentabilização do negócio através das acções de merchandising, dos direitos de imagem, do incremento da facturação do clube através dos espectáculos e acções que promove. Sem os Ronaldos e Kakás deste mundo, contratados a preços que são notícia de primeira página e ousam escandalizar, o seu “modelo de negócio” não teria qualquer reason for beeing, qualquer suporte "ideológico".
Um casamento de conveniência, portanto, uma conjugação de interesses que mutuamente se apoiam.

TGV ou o "Gato Maltês" "fishing for compliments"

Do "Público":

"A prioridade da futura rede portuguesa de alta velocidade deve ser a ligação entre Lisboa e Madrid e “tudo o resto deve ser adiado”, defendeu hoje Fernando Nunes da Silva, professor na área de engenharia do Instituto Superior Técnico, durante um colóquio na Assembleia da República."
"O docente universitário considera também que Portugal não tem cidades com dimensão populacional suficiente para justificar um TGV a nível interno, mas tem necessidade de estar ligado a outras grandes cidades europeias por meio da rede de alta velocidade europeia."
Deixem-me "puxar a brasa à minha sardinha" e entrar numa de "fishing for compliments", se fazem favor. Cliquem na etiqueta TGV, substituam rede de alta velocidade "europeia" por ibérica" e vejam o que por aqui se tem escrito.
Muito obrigado.

Que deve fazer o PS?

Nada mais se poderia esperar de José Sócrates na ressaca da derrota eleitoral do PS do que a afirmação de que o governo se iria manter fiel à sua linha política. Afirmar ou mesmo sugerir o contrário seria assumir o erro das políticas implementadas até então pelo governo, ou concordar com os que, na oposição, afirmaram a importância e reflexos “legislativos” (vamos chamar-lhe assim) destas eleições europeias. Mas ficamos não só sem saber a que “linha política” se queria referir José Sócrates nessa noite (se a de antes ou depois da demissão de Correia de Campos), como também qual será a distância que vai das palavras (ou seja, desta declaração) aos actos. Resta-nos aguardar, claro está.

Mas que podem e devem fazer o PS e governo? Bom, em primeiro lugar pedirem aos altos céus que o tempo passe depressa até ao Outono, os portugueses tenham boas férias, o Benfica e o Cristiano Ronaldo forneçam temas para os “media”, Portugal não vá ao Mundial porque o árbitro marcou um "penalty" inexistente contra nós no último minuto, os números do desemprego não aumentem (o incremento sazonal da actividade económica pode dar aqui uma pequena ajuda) e as previsões económicas permitam pensar que a luz ao fundo do túnel não é a do combóio no sentido contrário. Também que as vagas de incêndios, de criminalidade e tudo o que possa contribuir para que o governo não tenha de sair de uma espécie de hibernação onde sugiro, tanto quanto possível, se mantenha não façam a sua triunfante entrada no Verão português. E isto porquê? Porque no estado actual das coisas o ideal seria o governo desaparecer mesmo por uns tempos, já que ao seu primeiro movimento menos consensual “aqui d’el rei” que está a ser populista - quando e se ousar distribuir benesses - que “não pode tomar decisões a médio e longo-prazo”, ou “lá está ele a afrontar os professores, juizes, polícias, etc”. Ou seja: se mexe, pode estar certo que leva!

Por isso, sugiro tome umas decisões mais ou menos consensuais para mostrar apenas que (ainda) existe, finja que decide sobre o TGV sem na realidade o fazer, pergunte a Mário Soares como se conquista a imprensa, ponha os seus militantes a telefonar para os fóruns, arranje um escândalozinho a envolver o PSD assegurando-se previamente que ninguém lhe entra pela porta das traseiras (cuidado, muito cuidado!), aproveite bem as férias escolares para dizer que vai consolidar as reformas feitas no sector, ou seja, que está quieto. Mas diga sempre que vai manter-se fiel ao programa do governo, pois sabe que o “povo da SIC” mais depressa vota num qualquer tipo honesto que governe contra ele do que num trafulha seu amigo. E depois? Bom, para além de ser talvez o momento ideal para José Sócrates se casar, espere que os abstencionistas de agora voltem ao redil em Setembro e que o temor de uma vitória PSD/CDS faça o seu papel junto dos que votaram PCP e, principalmente, “Bloco” nas europeias (entre as duas coisas pode ganhar umas centenas de milhar de votos bem contados). Mas, por favor, não acene demais com a governabilidade, pois o tal “povo da SIC” não gosta lá muito de chantagens e pode virar-se o feitiço contra o feiticeiro.

É arriscado?, já que governo e PS não poderão controlar a maioria das variáveis? Pois é, pois é. Mas, como dizem os políticos quando se querem dar ares de dialogantes mas já decidiram tudo antes disso, aceito de bom grado melhores sugestões!

"Foyle's War" (1)

"Foyle's War" - 11º episódio - "They Fought In The Fields" (Parte I de X)
No dia 21 de Outubro de 2007 publiquei o seguinte texto neste "blog":

“A RTP tem destas coisas na sua (des)programação. Quando menos se espera e a horas impróprias, acaba por passar algo de bem interessante e sem que nada para isso nos chame a atenção. Está neste caso esta "Foyle's War", aos sábados atirada lá para a uma e meia da manhã. Consegui ver dois episódios, não mais do que por acaso, e penso a RTP não está a seguir a ordem original. O suficiente para já me ter tornado intímo do "Detective Chief Superintendent" Cristopher Foyle, tão discreto, tímido e contido como a série (o que não é defeito, neste caso) e da sua atrapalhada motorista Samantha Stewart. Também da Inglaterra de 1940, da guerra na home front, onde também há lugar para crimes e homicídios, espiões falsos ou verdadeiros e criminosos sem castigo por isso ser contrário ao esforço de guerra. E a vida que continua, no sul de Inglaterra.”

Mais tarde, acrescentei o seguinte:

“Tenho procurado, aqui pelo “Gato Maltês”, chamar a atenção para algumas excelentes séries de televisão, na sua maioria de origem britânica, que têm passado quase despercebidas, umas, ou mereceriam repetição, outras. Uma das últimas que mencionei chama-se “Foyle’s War” (rating 9.0 em 10 na IMDB) e tem sido exibida autenticamente à “trouxe-mouche” pela RTP 1, numa rubrica de cinema chamada “última sessão” nunca exibida antes da uma e trinta da madrugada. Que eu desse por isso – digo-o assim porque na programação até o título da série é omitido, sendo apenas mencionados os nomes dos episódios – foram exibidos 2 episódios, e se o primeiro (pelo menos dos que eu vi) correspondia, de facto, ao também primeiro na ordem original da série, do segundo já não direi tal: era o primeiro episódio da chamada 2ª “temporada”, como agora se diz. Pelo meio terão ficado 3 episódios, perdidos, sabe-se lá, nas brumas do East Sussex, lugar onde tudo se passa.”

Entretanto, posso confirmar que a série passou integralmente, nos seus 19 episódios, no canal MOV, estando, segundo julgo saber, novos episódios abrangendo o período pós-guerra em preparação.

Pois o “Gato Maltês” vai, a partir de hoje e nos próximos dias, exibir integralmente um dos episódios da série, mais propriamente o seu 11º episódio, “They Fought In The Fields”, um dos meus favoritos. E sem legendas, infelizmente, mas foi o que se arranjou. De qualquer modo, penso o suficiente para que possam avaliar da excelente qualidade da série, que posso informar estar disponível na Amazon com legendas em inglês - o que sempre ajuda.

domingo, junho 14, 2009

Strawberries & Cream (Ano II-1)

Começa amanhã o qualifying de Wimbledon 2009. Tal como no ano passado, espero vir a incluír aqui no "Gato Maltês", a partir de dia 22, quando se inicia o "quadro principal", o link para o acesso aos vídeos com os resumos de cada dia de provas, bem como as previsões para o dia seguinte. Entretanto, passo a incluir, a partir de agora e até ao fim do torneio, na lista de blogs aqui ao lado, o link para o "Wimbledon blog", onde podem encontrar toda a informação actualizada sobre o que se vai passando no All England Lawn Tennis & Croquet Club.

"Shotgun Stories"

Embora Jeff Nichols tenha afirmado que o seu cinema está menos do lado da poesia de Terence Malick e mais de Martin Ritt ou Stuart Rosenberg; embora sem essa tal poesia e fôlego com que Malick filma as suas figures in the landscape que tanto o aproximam por vezes da pintura de Edward Hopper, não pude deixar de me lembrar dos primeiros filmes de Malick (“Badlands” e “Days of Heaven”) ao ver “Shotgun Stories”, uma das (raras) boas surpresas deste ano. Talvez porque os meus olhos e memória tenham visto e recordado menos Ritt ou Rosenberg. Injustamente? Acho que não... apesar do melhor Rosenberg de Newman e Woodward.

"Os melhores jogadores do mundo"...

Cristiano Ronaldo foi contratado pelo Real Madrid ao Manchester United por 96 milhões de Euros? É verdade. Mas parece ser essa a enorme árvores que esconde a floresta de muitos fracassos de jogadores portugueses nas principais ligas europeias. Hugo Viana e Miguel estão na lista de dispensas do Valência; Nuno Valente sai do Everton e Makukula nunca se afirmou no Bolton, Deco quer sair do Chelsea por fraca utilização após a saída de Scolari, dando razão a Pep Guardiola; Ricardo Carvalho fez uma época medíocre (si, eu sei, muito por culpa de lesões, mas depois disso não voltou à titularidade); Ricardo Rocha é dispensado pelos Spurs (há quanto tempo não jogava?); Tiago lá conseguiu por fim ser titular em alguns jogos; Pelé desapareceu do mapa europeu; Ricardo e Nelson desceram de divisão; Maniche nunca se impôs fora de portas; Nani fez época medíocre; Pepe resolveu disparatar em grande estilo e Quaresma... lembram-se dele?, “the next big thing”?

Que me lembre, restam Simão e Bosingwa, um pouco Hugo Almeida, sabendo nós que Eliseu, Zé Castro, Pedro Mendes, Dany e mais umas centenas que ganham a “vidinha” entre a Roménia e Chipre são contas de outro rosário.

A ter em conta, antes de se afirmar levianamente que “temos” os melhores jogadores do mundo.

Songs of the WW II (10)

U-Boat Lied

sexta-feira, junho 12, 2009

As entrevistas de Rui Costa

As entrevistas de Rui Costa a “A Bola” e RTPN são apenas um conjunto de lugares comuns, um enunciado de frases politicamente correctas que nada adiantam para a compreensão da gestão do futebol profissional do clube. O seu único objectivo é anunciar o apoio do actual director desportivo e administrador da SAD a Luís Filipe Vieira, deste modo condicionando a oposição e alguns notáveis, dada a popularidade de Rui Costa junto dos sócios do clube, na apresentação de qualquer alternativa credível no próximo acto eleitoral.

Perante o que se avizinha, e apesar do golpe de estado estatutário que constitui a antecipação das eleições, a oposição benfiquista tem bem aquilo que merece, pois não se compreende que, em face da desastrosa gestão desportiva dos últimos anos (muito mais de uma década), os sócios e adeptos do SLB se tenham mostrado como que anestesiados, apenas se conseguindo mobilizar, com eficácia, contra a gestão de Vale e Azevedo (vá lá!) e, mesmo assim, apresentando um projecto sem ideias consubstanciado num candidato presidencial (Manuel Vilarinho) medíocre. Ou então agitando de modo sebastiânico o nome de um ex-empresário de jogadores sem passado no clube e de passado mais do que duvidoso fora dele (José Veiga).

Começo a estar de acordo com Bagão Félix quando afirma que será preferível deixar LFV concorrer sozinho a confrontá-lo com alternativas tão pobres que só o podem fortalecer no seu desvario. Mas apetece-me perguntar: por onde tem andado estes anos todos o seu benfiquismo, prezado António Bagão Félix? Com a sua ausência, e de outros ilustres benfiquistas, perdeu o clube, perdemos todos nós.

História(s) da Música Popular (133)

The Rolling Stones - "Cry To Me" (Bert Berns)

Solomon Burke - "Cry To Me" (Bert Berns)
"Under the Influence" - The original songs of the "British Invasion" (XVI)
Claro que esta rubrica não poderia deixar passar em claro Solomon Burke, não só por ele próprio me merecer especial veneração como por ser o intérprete original de “Cry To Me”, da autoria de Bert Berns (1929-1967) sob o nome de Bert Russell, um dos meus temas favoritos da também minha banda favorita da “British Invasion” - Rolling Stones, quem mais houvera de ser?

O original de Burke é de 1962 e o cover dos Stones foi incluído no seu álbum “Out Of Our Heads”, de 1965, 3º da ordem cronológica no UK e 4º nos USA. Quanto a Berns, já aqui foi mencionado enquanto autor, de parceria com Jerry Ragovoy, de “Piece Of My Heart”, um original de Erma Franklin, a menos famosa das “manas” Franklin, tema tornado famoso por Janis Joplin enquanto vocalista da Big Brother and the Holding Company. Voltaremos a Berns, que bem o merece, a propósito de “Twist And Shout”, assinalando para já que foi também autor de “Here Comes The Night”, de Lulu e dos Them, outra das minhas bandas favoritas desta mesma “British Invasion”, mas também de “Tell Him”, dos Exciters, e de “Hang on Sloopy”, tema dos McCoys incontornável em qualquer História da Música Popular digna desse nome.

Quanto a Burke, um outro tema seu deu alegria a muitos dos seguidores dos Stones, nos quais me incluo: Everybody Needs Somebody To Love”, incluído no EP “Got Live If You Want It”, um disco que é um dos meus objectos de culto musicais – e não só.

O "Bloco de Esquerda" e a beleza feminina

Cheguei a esta entrevista de Ana Drago – indiscutivelmente uma mulher bonita –, ao JN, através do “E Deus Criou A Mulher”. Nela, Ana Drago refuta liminarmente os atributos de beleza que lhe são atribuídos, afirmando “A beleza não é atributo que possa ser-me consignado”.

Devo dizer que este incómodo manifestado pelas militantes da esquerda radical perante a sua própria beleza (aliás, atributo tradicionalmente raro nessa área política) me incomoda tanto ou mais quanto o facto de Berlusconi preferir escolher mulheres-objecto como candidatas eleitorais, pois enquanto Berlusconi assume clara e até alarvemente essa sua escolha, à esquerda parece-me sempre existir alguma dificuldade em considerar a beleza feminina das suas militantes como uma característica a colocar no campo dos “activos”.

Claro que sei que a estética e o gosto têm, elas próprias, uma “natureza de classe” e que sendo a burguesia a classe dominante é esse o padrão de avaliação prevalecente - e não aquele que exaltava as antigas heroínas soviéticas do trabalho, por exemplo - o que bem pode estar na base do modo como a esquerda radical encara o assunto. Também sei que a beleza está mais ligada ao nascimento do que à conquista, mais ao indivíduo do que ao trabalho colectivo. Mas, para além do "Bloco" não ser o PCP, parece-me existir sempre alguma dose de hipocrisia nessa sua recusa da concepção burguesa da beleza femininina, tão semelhante ao pudor com que os católicos mais radicais e virgens empedernidas encaram desejo e prazer sexual.

Seria pois um verdadeiro sintoma da pós-modernidade de que o “Bloco de Esquerda” se reclama que as suas mais bonitas dirigentes, como Ana Drago, Joana Amaral Dias ou Marisa Matias, assumissem o seu padrão de beleza com naturalidade e como uma contribuição para a identidade do partido a que pertencem, considerando-a mesmo um dos seus importantes activos e não uma pequena "traição" reveladora da sua origem de classe não proletária, cabendo a elas próprias provar, na sua actividade política, que também não desmerecem os atributos intelectuais e de militância que lhes são reconhecidos, certamente principais responsáveis pelos sucessos políticos alcançados.

quinta-feira, junho 11, 2009

Florentino e os seus jogadores amestrados

Florentino Perez prepara-se, mais uma vez, para transformar o Real Madrid numa “troupe” de circo, uma espécie de Harlem Globetrotters do futebol em que cada um mostra as suas habilidades em espectáculos de demonstração contra “sparring partners” contratados. Mais do que um treinador, irá precisar de um “régisseur” para dar a entrada aos artistas, assim ao género do senhor François França do Coliseu dos Recreios da minha infância.

Michel Platini, com o qual estou frequentemente em desacordo, já viu bem o problema e fez diagnóstico correcto, esperando eu tenha um dia a coragem e os apoios suficientes para prescrever a cura: mais cedo ou mais tarde (espero bem que mais cedo), a UEFA terá que estabelecer regras sérias e de alguma equidade para a transferência e salários dos jogadores, evitando não só que milionários excêntricos levem alguns clubes à bancarrota, como também que a indústria e espectáculo futebolísticos percam a actual capacidade de atracção e degenerem fruto de demasiados desequilíbrios e de alguma falta de credibilidade assim gerada.

Vivamente, aconselha-se à UEFA uma leitura dos regulamentos da NBA.

Regimental Ties (1)


Royal Corps of Signals

quarta-feira, junho 10, 2009

A "estratégia a médio e longo prazo"

O Presidente da República declarou hoje algo que é óbvio e deve presidir a qualquer actividade humana inteligente, sem a qual só casualmente se podem alcançar objectivos de modo sustentado: “a necessidade de uma estratégia a médio e longo prazo”, neste caso para o país. A mim, espantam-me três coisas: que Cavaco Silva tenha sentido necessidade de o afirmar; tenha usado momento solene para dizer algo tão óbvio; que os "media" tenham dado destaque desproporcionado a declaração tão comezinha. Retrato de um país, pois claro.

Tati e Alain Romans

Alain Romans - "Quel Temps Fait-Il À Paris", tema do filme "Les Vacances de Monsieur Hulot", de Jacques Tati (1953)

"Les Vacances de Monsieur Hulot" (trailer)
Vi “Les Vacances de Monsieur Hulot” (1953), o meu primeiro Tati (só mais tarde vi “Jour de Fête”), jovem adolescente, por sugestão do meu pai, no cinema Alvalade onde o filme repunha numas férias de Verão, a época das ditas reposições. Depois disso, terei visto o filme, entre cinema e TV, uma boa meia dúzia de vezes, senão mesmo mais, e, posso dizê-lo, sempre com igual agrado e cada vez mais com ponta de nostalgia acrescida por um tipo de férias “que já não há”, quando se ia para a praia de manhã, dormia a sesta à tarde, nos vestíamos de ”ponto em branco” para ir depois das 5 da tarde ao pinhal e à noite era tempo de camisola de lã.

Com nostalgia ou sem ela, ficou-me para sempre a música que só mais tarde soube de Alain Romans (1905-1988), um francês de origem polaca (como tantos outros imigrantes do princípio do século XX - o célebre futebolista Raymond Kopa, por exemplo), compositor de jazz que trabalhou com Josephine Baker e Django Reinhardt. O tema chama-se “Quel Temps Fait-Il À Paris" e Romans também compôs o tema de um outro filme de Tati, “Mon Oncle”, que se seguiu na ordem cronológica. Mas, de todos eles e talvez por ter sido o meu primeiro, “Les Vacances de Monsieur Hulot” é o meu favorito e Tati, por muitos acusado de algum reaccionarismo (é claramente nos seus valores, no elogio de uma França do bairro, da aldeia, anti-cosmopolita e que confunde identidade com passado um cineasta da França que se irá rever em De Gaulle), alguém ao qual volto sempre com o entusiasmo da primeira vez. Talvez com a nostalgia de reviver aquilo que era a França da minha avó: de Poulidor, do Renault 4CV, do Marie Brizard e do Cointreau, do Paris Match e dos Gauloises. Mas será que essa França existiu mesmo?