segunda-feira, junho 30, 2008

30 de Junho de 1934 - "Nacht der langen Messer"

O “Público” publica hoje no seu caderno P2 um chorrilho de disparates, deturpações, confusões e omissões sobre um dos acontecimentos históricos mais importantes do século XX e que levou à consolidação efectiva do regime nazi na Alemanha: a “Noite dos Facas Longas” (“Nacht der langen Messer”). Para ser sucinto, o que está efectivamente em causa neste acontecimento histórico (30 de Junho de 1934) é o desenlace de uma luta que se vinha travando no seio do NSDAP (Nationalsozialistische Deutsche Arbeiterpartei - Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães) entre a sua origem pequeno-burguesa, anti-capitalista e anti-comunista, personificada pelas SA (Sturmabteilung), as milícias do partido, dirigidas por Ernst Röhm e que na fase de implantação do regime tinham tido um papel fundamental nas acções de rua e crescido por via disso, e, por um lado, o exército (Wehrmacht), de origem maioritariamente aristocrática e prussiana, que manteve com o nazismo e com Hitler sempre uma relação com alguma conflitualidade, e, por outro, a grande indústria e a alta finança, das quais Hitler precisava para a consolidação do regime e que, com alguma simplificação, admito, podemos dizer teriam uma implantação e influência relevantes nas altas esferas das SS (Schutzstaffel). A acção foi fundamentalmente desencadeada pelas SS e, como seu resultado, as SA, cuja acção centrada nas arruaças de rua se tornara desnecessária na fase de consolidação do regime, são virtualmente eliminadas na sua força e importância. Hitler ultrapassa assim algumas desconfianças que a força então crescente das milícias do partido e da sua inserção e ideologia pequeno-burguesa tinham gerado junto da Wehrmacht e da aristocracia prussiana, que maioritariamente a compunha, e fortalece as SS (durante a WWII formaram-se mesmo várias divisões de combate SS, as chamadas Waffen SS) que usará para manter a Wehrmacht em respeito quando isso se torna necessário. Muito simplificadamente, esta é a história, no seu fundamental. O resto é História... Com H grande, pois claro.

Purple and Green - Hoje ganhou e já está nos 1/4 de final

Nicole Vaidisova

Espanha...

Segundo a (neste caso) insuspeita "Marca", madrilena, madrilista e castelhana, mais de 10 000 pessoas comemoraram em Barcelona o título europeu da Espanha. Convém lembrar que na cidade vive 1 milhão e meio de habitantes e na área metropolitana 3 milhões... Como eu disse, um punhado de corajosos castelhanos e afins. Espanha...

Bernardo Marques (5)

Capa de Bernardo Marques para o Magazine "Civilização" (Julho de 1930)

O professor Marcelo e o ministro

Confesso nada entender de agricultura; a minha ligação ao mundo rural é nula e tenho a maior dificuldade em identificar e distinguir espécies vegetais que fujam ao “trivial-croquete”. Quando, um dia e para identificar uma estrada que teria de seguir, me indicaram um carvalho como ponto de referência só me salvei lembrando-me do formato das folhas do dito que ornamentam algumas fardas de oficiais de alta patente. Valeu-me ter feito a “tropa” e a família da minha mãe ser de militares ilustres. "Idem" no que refere às pescas; nunca ninguém na família foi pescador, mesmo que de fim de semana e no molhe da marginal, mas, neste caso, pelo menos consigo identificar a maioria das espécies presentes na banca da peixeira ou do supermercado. Devo-o à minha mãe, que em criança à “praça” me levava. E por aí me fico.

Por isso, não sei se o ministro Jaime Silva é competente ou incompetente e, também por isso, não me pronuncio sobre o seu desempenho. Admito a minha ignorância e, logo, qualquer das avaliações, se me explicarem os quês e os porquês, claro está. Mas ora aí mesmo é que está o busílis! Ao fazer estas afirmações sobre o ministro da agricultura, sem nos desvendar um racional que o justifique, um nexo causa/efeito, Marcelo Rebelo de Sousa passou do comentário político ao insulto, da análise à afirmação gratuita. Caro professor: fazendo jus ao seu título académico e à fama das suas qualidades didácticas, importa-se de explicar? É que nunca é tarde para aprender e, no caso da agricultura e pescas e sendo eu um urbano incorrigível, bem gostava de quem me desse uma ajudinha... “Bute lá”, professor?

Faits-divers de uma final

  • Momento do Europeu: quando Iker Casillas deu dois beijinhos á Rainha Sofia, que, aliás, ganhou em 2004 (é grega de nascimento - a propósito e para aqueles que acham que Deco e Pepe não deveriam jogar por Portugal por não terem nascido portugueses: por ter nascido grega e apenas ter adquirido a nacionalidade espanhola pelo casamento, Sofia da Grécia deveria poder ser Rainha de Espanha?) e em 2008. Também quando, ao festejar o golo, a Rainha ajeitou a saia para não se descompor.
  • Nunca vi tantas bandeiras de Espanha juntas, nem nas manifestações de extrema-direita. Mesmo quando Fernando Alonso foi campeão do mundo, durante largos minutos só vi bandeiras do Principado das Astúrias. Depois, a custo e como que envergonhada, lá apareceu uma bandeira de Espanha. No “Tour”, nas etapas dos Pirinéus, aí só aparecem Ikurriñas.
  • Ganhou um país cuja selecção não equipa com as cores nacionais, mas com as cores da sua federação, o que é bem mais correcto já que as selecções não representam os países mas as federações respectivas. Curiosamente, as cores do equipamento da selecção de Espanha são as cores da república. No caso da Alemanha, nem as cores do país nem da Federação respectiva (verde). Herança prussiana, acho, no preto e branco.
  • Foi preciso a polémica recente com a questão da letra para a “Marcha Real” (o hino de Espanha) para não ver os comentadores atrapalhados com o facto de o hino não ter letra. Na realidade tem várias, mas pouco adequadas a serem cantadas em ocasiões solenes e em público.
  • Angela Merkel faz a festa, deita os foguetes e apanha as canas. Ainda bem. Mas podia ter sido menos gélida quando cumprimentou Iker Casillas.
  • O melhor jogador de Espanha no Euro 2008 foi um brasileiro de nascimento, tal como o de Portugal. Neste caso, o único do meio-campo português que teria lugar em sector idêntico da “roja”.
  • Sérgio Ramos lá se enrolou na bandeira andaluza. Se fosse basco ou catalão, ou até galego, o que não teria sido dito.
  • Ainda não consegui ver na TV imagens do País Basco ou da Catalunha. Nesta ainda acredito haja alguns espanhóis (entenda-se: castelhanos e afins) a comemorar. No País Basco, mesmo que tenham vontade não acredito ousem. Mas talvez esteja enganado.
  • Exceptuando Pepe, talvez Ricardo Carvalho, Deco e Cristiano e, vamos lá, Nani como suplente, digam lá que outro jogador português teria lugar “de caras” nesta selecção de Espanha. Já perceberam, então, porque Portugal não ganhou o Europeu?

domingo, junho 29, 2008

Os países do Euro 2008 e a música - Turquia

Buhurizade Mustafa Itri Efendi (1640?-1711) - Neva Kâr

História(s) da Música Popular (93)

The Drifters - "Save The Last Dance For Me" (Doc Pomus-Mort Shuman)


Ike & Tina Turner - "Save The Last Dance For Me" (Doc Pomus-Mort Shuman)
Doc Pomus & Mort Shuman (IV)
“Save The Last Dance For Me” (1960) foi o outro bem sucedido tema de Doc Pomus e Mort Shuman gravado pelos Drifters ainda com Ben E. King como vocalista (#1 nos USA e #2 no UK). De seguida, Ben E. King daria lugar a Rudy Lewis e mais dois êxitos de Pomus e Shuman se seguiriam: “Sweets For My Sweet” (em Portugal mais conhecido pelo cover dos Searchers) e “I Count The Tears”. Mas isso é já outra conversa, que fica para mais tarde.

Em relação a “Save The Last Dance For Me” (curiosidade: Doc Pomus tinha tido poliomielite e isso não lhe permitia dançar, embora a sua mulher fosse bailarina e actriz na Broadway), e a propósito de uma mini-polémica no Ié-Ié sobre Ike e Tina Turner (ou Tina sem Ike), opto por passar aqui também a versão do duo, produzida, claro está, por Phil Spector, para além da original dos Drifters com Ben E. King. É só comparar!

Pergunta de "pé-rguntar"

A propósito: que aconteceu à tão propalada operação a um pé de Cristiano Ronaldo, anunciada em parangonas após a eliminação da selecção portuguesa do Euro 2008?

Rui Costa, "so far"

Segundo julgo saber – corrijam-me se estou enganado –, uma das vantagens que justificam a existência de um director desportivo num clube de futebol é autorizar uma maior autonomia da respectiva política desportiva (princípios e modelo de jogo, contratações, etc) face à sempre, pelo menos nos clubes continentais - i.e, de fora das ilhas britânicas –, alta rotatividade dos treinadores, com as suas diferentes concepções e modelos de gestão das equipas. Também um maior conhecimento do futebol, se comparado com os respectivos presidentes - e, por isso, o lugar é normalmente preenchido por antigos jogadores - mas essa não é razão final mas apenas um meio necessário para a execução dessa política desportiva própria e autónoma. Por alguma razão, nos clubes britânicos essa figura não existe e é ao treinador respectivo, tradicionalmente mantendo-se no clube durante alguns anos e com as alargadas funções de “manager” (gestor de todo o futebol do clube), que competem essas funções.

Ora se bem interpreto, não é isso que parece estar a acontecer no meu “Benfica”, onde a autonomia de Rui Costa para definir uma política, um “modelo” e efectuar contratações de acordo com ele, incluindo a do treinador, parece estar a defrontar-se com dois problemas sérios: em primeiro lugar, a pouca atractividade do campeonato português, em geral, e do SLB, em particular (não vai jogar a "Champions League"), para possibilitar a contratação do treinador com o perfil indicado e dos jogadores desejados, independentemente de questões financeiras; em segundo lugar, esta situação inverte um pouco a relação “director desportivo/treinador” e deixa a este maior poder para impor as suas ideias e os “seus” jogadores, já que, assim, o seu nome passa a ser, por vezes, o argumento definitivo para atrair os jogadores A, B ou C. Isto, claro está, é independente da capacidade manifestada por Rui Costa para lidar com os "media" e da fluência e racionalidade do seu discurso, que são inquestionáveis e podem ser apontados como exemplo raro no mundo da “bola”.

Mas fica, desde já, prometida uma análise mais fundamentada para quando o ruído das manchetes (a propósito: 15 milhões e mais Tiago por Miguel Veloso? Meus caros amigos sportinguistas, se for verdade é o negócio do século: ficam a ganhar com a troca de jogadores e ainda recebem muito dinheiro! Go for it!) der lugar a algo de mais concreto na formação dos plantéis.

sábado, junho 28, 2008

As Capas de Cândido Costa Pinto (44)

Capa de CCP para "Mortalha Por Medida" de Keley Roos, nº 72 da "Colecção Vampiro"

Os países do Euro 2008 e a música - Suiça

Arthur Honegger (1892-1955) - Concertino para piano e orquestra
Ilana Vered (piano) e a Swiss Radio Symphony Orchestra dirigida por Matthias Bamert

Wimbledon: Ivanovic e Sharapova eliminadas? Ainda resta alguma esperança...

Nicole Vaidisova

Coimbra e Faro: duas cidades pouco acolhedoras

Por questões profissionais tive de me deslocar esta semana a Coimbra e Faro, apenas com o intervalo de um dia. Penso que a Coimbra teria ido pela última vez há uns quatro ou cinco anos, num dia de Agosto em que a principal preocupação foi de como fugir aos 42º reinantes. No caso de Faro, desde que a “Via do Infante” me poupou ao sacrifício que por lá não passava, acho. Confesso nunca simpatizei com Coimbra e com o espírito coimbrão (LT, toda a gente tem defeitos, mas este não considero um dos meus – sorry – e há excepções na vida) e, para além de assistir por lá a alguns jogos do “glorioso”, só me lembro de a atravessar de passagem ou, uma ou outra vez, de por lá perder um par de horas para mostrar aos meus filhos o salazarento “Portugal dos Pequenitos”.

Pois confesso que esta visita me assustou um pouco (muito). Faro parece uma continuação, em versão urbana, da EN 125, arquitetonicamente desordenada e caótica com um estádio em adiantado estado de putrefacção plantado lá bem no meio da cidade (Christo não o pode embrulhar?). Na “baixa” de Coimbra, mal cuidada, com edifícios sujos e a caminhar para a ruína, juntam-se gente e carros a mais e um comércio entre o popular e o fora de moda, estilo “Armazéns Conde-Barão”. O resto da cidade, nada a distingue de um qualquer subúrbio de Lisboa: Amadora ou Porcalhota, Nova Oeiras ou Odivelas. Aqui, ao contrário do que acontece em Faro, salva-se o estádio onde a Académica (ou melhor, o seu presidente) quer deixar de jogar, um bom exemplo de integração urbana de um grande estádio de futebol.

São, hoje em dia, duas cidades pouco acolhedoras; dois (maus) exemplos de desordenamento e desagregação da paisagem urbana num país modificado por autarquias governadas, na sua maioria, por gente gananciosa e mal preparada, muitas vezes sem escrúpulos. Sempre de mau gosto. Enfim, um país cada vez mais feio.

Um governo chantageado e politicamente cobarde

Confesso o meu mais profundo desprezo pelos profissionais das “queixas”, da “falta de condições”, da “desmotivação”. Talvez porque desde cedo me ensinaram que, logo que nascemos, os deveres suplantam em muito os direitos, tanto mais quanto com mais privilégios viemos a este mundo; talvez porque sempre ache que os bons profissionais, os que “valem a pena”, se distinguem exactamente por serem capazes do melhor nas piores condições, criando eles próprios a capacidade de as modificar, agindo e reagindo sobre e a elas; talvez porque seja de opinião que a motivação se encontra sempre, de modo suficiente, na tarefa que temos para cumprir, e que, independentemente de salário, pagamento ou condições, o objectivo é, em si mesmo, incentivo suficiente, mesmo que, aqui e ali, um sentimento fugaz de desespero, logo ultrapassado, teime em nos sobressaltar. Pior, muito pior, quando essas “queixas” e “desmotivação” vêm de orgãos de soberania (que deviam dar o exemplo), como é o caso da magistratura; muito mau, ainda, quando a sua origem está nas forças de segurança, que têm por função proteger o cidadãos e as instituições de acordo com a lei democrática e o bom senso (acrescento o bom senso porque este tantas vezes falta para que a lei democrática seja aplicada com probidade). E querem ainda pior? Pois quando o poder político se verga e acobarda perante as “queixas” e a “desmotivação” deste tipo de instituições, alterando objectivos e estratégia, rumos e opções, dando o dito por não dito em troca de um prato de lentilhas, um punhado de votos e um período de acalmia que, tal como o governo de “Acalmação” do Sr. D. Manuel, acaba apenas por prenunciar o fim. Parece que chamam a isto diálogo, mas não é assim que o entendo. Chamo-lhe chantagem, não tendo medo do termo, e incluídos no acto estarão sempre o chantageador (normalmente a corporação) e o chantageado (por norma o governo). Diálogo será bem outra coisa, podendo dar como exemplo os processos de negociação com vista a acordos entre empregadores e empregados (o caso Auto-Europa e o processo de concertação social dão dois bons exemplos), ou quaisquer outros em que as partes, sem deixarem de esgrimir argumentos ou abdicarem de mostrar o seu poder negocial, tenham como objectivo claro o acordo possível, atingível ou não no final.

Claro que tudo isto vem a propósito dos juízes e do tribunal da Feira, dos agricultores e do ministro dos ditos (que raio! Jaime Silva limitou-se a dizer algo que todos sabemos: que a CNA tem fortes ligações ao PCP e a CAP à direita conservadora – onde está o politicamente inconveniente ou incorrecto perante a má educação geral com que as corporações se apresentam?); do modo (no mínimo) deselegante e, aqui sim, politicamente incorrecto, como José Sócrates reagiu às declarações do seu ministro, suficiente desleal para que muitos se recusassem a com ele trabalhar; do subsídio das fardas da polícia e o que mais adiante estará para vir. Ao reagir do modo como o está a fazer, José Sócrates, para além de levar o seu governo por perigosos caminhos de fraqueza e abdicação da sua personalidade e estratégia políticas, está ainda a comunicar aos cidadãos sinais perigosos do que entende por norma política e social aceitável, num país já ele próprio minado pelo tráfico de influências e pela fraqueza endémica do Estado: só a chantagem é Deus e a cobardia política o seu profeta. O resultado, esse, não poderá deixar de ser catastrófico.


Nota: a propósito das fardas da polícia e dos respectivos subsídios. Foram compradas novas pistolas para a PSP. A pergunta será: seria mesmo este o investimento a fazer? Quantas vezes na vida um polícia tem efectiva necessidade de usar a sua arma (e muitas vezes, infelizmente, usa-a mal, de forma inadequada e indigna de uma polícia civil e democrática). Ela não funciona, fundamentalmente, como um elemento dissuasor? Não é verdade que existem Polícias, em países de maior criminalidade, que nem sequer andam armados? Não teria sido melhor investir em outras áreas (fardamento, treino, desenvolvimento de técnicas de investigação, melhoria de policiamento, etc) em vez de num novo “brinquedo”? Fica a pergunta. Será que alguma vez algum decisor a fez?

quinta-feira, junho 26, 2008

"Que floresçam mil flores" (20)

Zhao Dawu, 1973
Unite to achieve an even greater victory!
Publisher: People's Fine Arts Publishing House(Offset, 106x77 cm., inv.nr. BG G1/962)
"A group of workers on Tian'anmen Square in Beijing, with the Great Hall of the People in the background. They are probably gathering for the Fourth National People's Congress"

Umas notas despretenciosas sobre o Código de Trabalho

Não sou dos que consideram as leis do trabalho em vigor em Portugal grande “empecilho” ao desenvolvimento empresarial. As empresas mais estruturadas não têm grande problema em viver com elas, muito menos as multinacionais ou o investimento directo estrangeiro, neste caso, e ao contrário do que por aí se diz, não constituindo essas leis qualquer entrave relevante para a competitividade portuguesa (os entraves são bem outros e, infelizmente, também mais difíceis de vencer). Aparentemente a questão só será relevante do ponto de vista da luta ideológica, de instrumento de combate para a obtenção de outras cedências, ou para as empresas pouco organizadas e estruturadas, de baixíssimo valor acrescentado e, por isso, com destino mais ou menos certo, ou incerto, no médio prazo.
Posto isto, vamos passar um pouco a “voo de pássaro” sobre um ou outro ponto em relação aos quais arrisco dar opinião.

Parece-me bem relevante a flexibilidade obtida com a possibilidade de estender até às 12h o tempo de trabalho diário. Do ponto de vista dos empregadores e da sociedade em geral já se disse tudo (ou quase). Mas, alto aí, também, pelo menos em certa medida (já lá iremos), me parece em princípio favorável para os empregados, que assim podem adquirir uma maior liberdade para o gozo dos seus tempos livres, quaisquer que eles sejam, inclusivamente podendo com maior facilidade tratar de assuntos relevantes, extra-trabalho, nessas horas e dias assim libertos. Vou ser claro: por mim, preferiria trabalhar durante uma semana (por exemplo) 10 ou 12 horas diárias e ser depois compensado em horas e dias pelos créditos adquiridos, trabalhando menos horas ou tendo assim ganho o direito a dias inteiramente livres. Mas, claro está, também existem problemas: a sociedade está maioritariamente estruturada em função do horário de trabalho "9 to 5" e, por vezes, será difícil a um empregado sujeito a um regime não fixo resolver alguns problemas práticos da sua vida familiar (escola dos filhos, por exemplo), bem como do seu tempo de lazer (a telenovela ou o futebol da noite, para não ir mais longe). Acresce que as chamadas “horas extraordinárias” se tornaram frequentemente, pela sua regularidade, um complemento “ordinário” do salário, por vezes demasiado baixo, modelo que a flexibilidade vem pôr em causa. O mesmo se passa com as dispensas por este ou aquele motivo, normalmente tempo retirado ao normal horário de trabalho e que, em parte, uma maior flexibilidade de horários pode deixar sem justificação. Percebo, por isso, e para além da habitual algazarra do PCP e da CGTP, que, mesmo para as almas mais puras e bem intencionadas, a questão não seja muito pacífica e levante alguns problemas, resolúveis no médio prazo mas de abordagem difícil no imediato. Mas é uma inevitabilidade a que a sociedade terá que se ir adaptando. Sooner the better.

Já me parece perfeitamente justificado que o governo tenha abandonado a peregrina ideia do despedimento por inadaptação ao posto de trabalho (como prová-lo?). Quem conhecer um pouco da realidade empresarial portuguesa sabe que existe uma multitude de organizações que admitem sem qualquer cuidado ou rigor, não têm quaisquer planos de formação de e para os seus colaboradores, nenhuma estratégia ou plano de negócio estruturado e em que tudo está entregue ao livre arbítrio de um “patrão”, muitas vezes ignorante, “chico-esperto” e mal preparado. Admitir o despedimento por “inadaptação” seria, no fundo, premiar este tipo de situações - a ineficiência - e, mais ainda, elevar em algumas empresas o “hire and fire” a modelo preferencial de gestão, assim como quem faz do recurso ao aborto não a excepção, em último caso, mas o método anti-conceptivo por excelência. Nas empresas mais estruturadas questões deste tipo são excepção e não regra e, na maioria dos casos, resolvidas sem grandes tumultos ou tempestades.

Para concluir: em termos globais não me parece o resultado justifique o esforço despendido. Seria bem mais importante, por exemplo, que tal esforço fosse aplicado em outras áreas de urgência bem mais premente. Só para dar um exemplo, que tal a reforma da Administração Pública? Pois é, mas daqui a um ano há eleições... Uma chatice!

Uma "não notícia" que encobre a verdadeira

A notícia sobre a possível perda de seis pontos pelo SLB é, obviamente, uma não notícia. Ou melhor, seria uma notícia se. Ou, melhor ainda, poderia ter sido uma notícia. Assim, com todo o ar de encomenda qual rabo escondido com gato todo de fora (ainda se fossem 10 pontos, 2 pontos, 3.827 pontos... Mas 6 pontos, 6? Hum...), não passa de algo que cobre de ridículo quem lhe deu destaque, mostrando até que ponto desceu o jornalismo que se pratica em Portugal, sempre pronto para quem lhe ofereça um prato de lentilhas ou tenha voz grossa e poder, mesmo que apenas aparente.

Mas o mais interessante é que, qual matrioshka ao contrário, em que a menor esconde a maior, esta “não notícia” encobre de facto aquela que é a verdadeira notícia: que a FIFA atribui uma penalização de 6 pontos a quem deve uma ninharia de cento e picos mil euros, a mesma (pasme-se!) com que a nossa Liga de Futebol Profissional (disse “profissional”?) penaliza acções de “corrupção sob a forma tentada”, isto é (e vamos lá falar português) alguém que comprovadamente tentou corromper outrém no sentido de alterar a verdade desportiva.

Conclusões? Bom, não posso pedir à LPFP que core de vergonha porque ninguém pode receber de um outro algo que ele não tem. Mas, o assunto dá ainda para tirar uma outra conclusão: que lá para os lados das Antas a esperteza saloia continua a progredir na razão inversa da inteligência. Valha-lhes que, infelizmente, não estão sós: é que na presidência do meu clube as coisa não irão muito melhor.

terça-feira, junho 24, 2008

Os países do Euro 2008 e a música - Roménia

George Enescu (1881-1955) - Balada pentru vioara

Vale e Azevedo qual Arsène Lupin

Enquanto presidente do Benfica, Vale e Azevedo terá cometido umas tantas "trafulhices" e, comprovadamente, outras tantas ilegalidades. Não terá sido o primeiro e, infelizmente, temo não venha a ser o último. Mas terá sido pouco inteligente, demasiado ostensivo, não cultivando as amizades certas e criando as inimizades erradas. Ou, pura e simplesmente, para além disso estava no lugar errado à hora ainda mais errada. Também acontece. Mais ainda, perdeu (as eleições), o que é sempre uma chatice e não dá jeito nenhum.

Pelas trafulhices criou fama e pelas ilegalidades foi condenado e cumpriu pena. Agora, foi novamente condenado, mas, para meu descanso e de todos os benfiquistas, parece o clube nada tem a ver com o assunto. Entretanto, qual Arsène Lupin que bem se assume, passeia-se em Londres de Bentley, entre dois torneios de ténis, o que, embora isto de Bentleys já não seja bem o que era (já chegaram aos jogadores de futebol), sempre vai dando para um certo panache, um certo “estilo” tão arredio dos hábitos portugueses. Provavelmente vai mesmo regressar à cadeia, mas, entretanto... pelo estilo merece bem uma chapelada! E que tal a Royal Enclosure?

domingo, junho 22, 2008

Acreditar nas palvras...???

Tenho por hábito dizer que há que não dar demasiado crédito àquilo que as pessoas dizem e, isso sim, àquilo que fazem, ao modo como agem. Parece óbvio, mas nem sempre isso é tido em devida conta, talvez por ser demasiado cru e nem sempre fácil de enfrentar. Algo que fui aprendendo ao longo da vida, pois claro.

Vem isto a propósito das afirmações de Manuela Ferreira Leite sobre os investimentos do governo PS em obras públicas, que MFL considera poderem ser um erro. Tem toda a razão, são-no certamente. Mas, mais uma vez, é fácil fazer afirmações como esta quando se está na oposição e não se tem por isso responsabilidades governativas. Vale pois a pena fazer a seguinte pergunta: se ou quando o PSD tiver responsabilidades de governo, perante uma economia em fase de fraquíssimo crescimento, o desemprego em alta e a pressão das empresas do sector e das autarquias, serão o PSD e Ferreira Leite, por muita honesta que esta seja – e não tenho razões para duvidar – e incapaz de falar nas “entrelinhas”, capazes de resistir à tentação? Por muito que MFL mereça – e merece - credibilidade, permito-me, infelizmente, duvidar. É que o passado, a vida vivida até aqui, também me isso ensinaram, tanto como a credibilizar muito mais os actos do que as palavras, por muito que estas nos confortem e gostemos de as ouvir.

Os países do Euro 2008 e a música - Portugal

Carlos Seixas (1704-1742) - Concerto para cravo em Lá Maior

sábado, junho 21, 2008

Os países do Euro 2008 e a música - Polónia

Frédéric Chopin (1810-1849) - Nocturno Op. 9 nº 2. Interpretação de Yundi Li

Ainda o Portugal-Alemanha - agora vamos lá à táctica

Tenho lido e ouvido por aí que a Alemanha terá surpreendido Portugal ao optar por um duplo pivot defensivo, tentando anular o jogo “entre-linhas” de Portugal, e por dois alas abertos num 4x2x3x1 que, em vez do 4x4x2 habitual, que se arriscava a bater onde Portugal era mais forte (os centrais), atingia a selecção portuguesa nos seus pontos mais vulneráveis: as laterais, tentando simultaneamente desposicionar Petit. Certo, o que só demonstra a inteligência de Joachim Löw (a propósito, lê-se como “love” – o trema fecha o “o” e o W vale “v” – e não outras barbaridades que tenho ouvido) qual general antes da batalha. Independentemente da pouca flexibilidade táctica de Scolari e tendência para a sobrevalorização das questões tácticas em Portugal, expressão prática da esperteza saloia (por um acaso, li hoje no “Público” uma frase de Sun Tzu que vem mesmo a propósito: “táctica sem estratégia é o ruído antes da derrota”), não me parece, de tão óbvia, a alteração alemã tenha sido uma inteira surpresa nem deva ser assim tão valorizada. A questão será bem outra. Perante essa opção, para a qual Löw tinha opções fiáveis, que poderia fazer Scolari? Muito pouco, ou até mesmo quase nada.

Vejamos. Scolari recuou Simão e colocou-o a jogar na esquerda, onde rende menos do ponto de vista atacante, para tapar as investidas de Lahm e ajudar Bosingwa, o mais atacante dos laterais portugueses e o menos experiente em competições de topo. Certíssimo. Que mais alternativas tinha? Nenhuma, claro está: não existiam no “banco” laterais mais fiáveis nem alas mais consistentes a “fechar”, do ponto de vista táctico. Quaresma e Nani não seriam, assim, opções a ter em conta de início para responder à táctica alemã. Em relação ao duplo pivot defensivo alemão Portugal até arranjou rapidamente solução, criando perigo e marcando dois golos, pois se no ataque a flexibilidade e classe dos executantes, assim como as opções no “banco”, se iam revelando suficientes para resolver os problemas, nas laterais elas eram escassas ou nulas.

Que tento provar com isto? Pura e simplesmente que, apesar da táctica não ser um dos pontos fortes de Scolari não deve ser sobrevalorizada (no fundo, rendeu apenas um golo aos alemães enão evitou que sofressem dois), mas também que, e ao contrário do que por aí se diz , não existem bons generais sem bons soldados e Portugal não tinha, de facto, os melhores soldados. Tinha-os, de sobra, para algumas posições, mas faltavam claramente soluções credíveis e diferenciadas em outras áreas (defesas laterais e pivots defensivos, por exemplo – para além do guarda-redes e centímetros em toda a equipa que permitissem melhorar o jogo aéreo, o que já é estratégia), que possibilitassem mesmo, no limite, a adopção de um sistema de jogo alternativo quando necessário (que também nunca foi treinado, diga-se). Nada que já não se soubesse e aqui não tenha sido em devido tempo referido, mas que a demagogia e o populismo trataram de fazer esquecer. Mas, no fundo, no fundo, o que faltou foi a Croácia: Portugal, muito provavelmente, estaria nas meias-finais e nada disto tinha razão de ser.

JPP acha os países devem ser todos iguais quando isso lhe convém e desiguais idem idem.

José Pacheco Pereira no "Abrupto": "Quando do “não” na Holanda e na França ninguém disse aos dois países para não empecilharem a Europa e saírem pela porta da rua da União." Pois não, JPP, claro que não. Mas também o poder nuclear de Israel não é necessariamente igual ao eventual, futuro, do Irão. Ou será? Para si sei que não é e, para mim, apesar de estar longe de ser tão entusiasta como v. das políticas do Estado de Israel, também não sou tão estúpido ao ponto de pensar que o seja. Assim sendo, os países não são então todos iguais? Claro que não, mas é melhor não assumir isso apenas quando convém, isto é, aceitar o axioma quando falamos do Médio-Oriente e esquecê-lo rapidamente quando é a UE que está em causa. É uma questão de honestidade intelectual, não é assim?

sexta-feira, junho 20, 2008

O Mundo em Guerra (47)

Germany
"This is another WWII production poster from the winter of 1940-1941. The text translates as: "You are the front!"

Os países do Euro 2008 e a música - Itália

Antonio Vivaldi (1678-1741) - Concerto "Grosso Mogul", 1º andamento (allegro)
Academia Montis Regalis - Enrico Onofri, violino.

Portugal perdeu com a Alemanha? Mas onde está a anormalidade?

Vamos lá a ver:

A selecção portuguesa perder 3-2 com a Alemanha, tri-campeã mundial e idem europeia, é a coisa mais natural do mundo; só não o será para a megalomania de alguns comentadores e jornalistas. Nunca Portugal ganhou quando ambas as equipas necessitavam de o fazer: ganhou 1-0 num jogo particular, 1-0 quando a Alemanha já estava apurada (qualificação do Mundial 86), 3-0 quando para Portugal era indiferente o resultado (Euro 2000) e isso permitia que entrasse descontraído, com a segunda equipa.

O poder físico-atlético (altura, peso, potência muscular, velocidade – por exemplo, Rooney e Tevez não sendo altos possuem elevado poder físico-atlético), por muito que Luís Freitas Lobo diga que com a bola “rente á relva” são todos iguais – não são -, ditou, como seria de esperar, a sorte do jogo: só isso permite a Podolski “cavalgar a linha” e centrar perante a passividade de Bosingwa e Pepe, no 1º golo, e a Schweinsteiger aparecer mais rápido que Paulo Ferreira a marcar, com a convicção de um ¾ perante a área de validação contrária. Idem para as bolas paradas (já agora, viram como a Alemanha não fez uma única falta em zona central, perigosa para a sua baliza, face ao perigo que Cristiano e Simão poderiam representar nesses lances?), mas vejamos: independentemente de questões mais técnicas, do tipo marcação “zona” ou “homem a homem”, a equipa portuguesa é demasiado baixa, e ninguém consegue ser campeão, hoje em dia, com uma equipa de tão baixa estatura, mais a mais com um guarda-redes com enormes deficiências nas saídas às bolas altas. Aliás, esse era também o problema, por exemplo, do tão elogiado Manuel Bento, tão visível nas competições europeias contra equipas que faziam dos cruzamentos para a área uma constante do seu jogo (Liverpool e Ian Rush são lembranças sempre presentes). No campeonato português não se joga assim, mas em contra-ataque, e, por isso, privilegiam-se guarda redes rápidos a saírem às bolas rasteiras. Por outro lado, o “pivot defensivo” e o "ponta de lança" são normalmente elementos essenciais no auxílio á defesa nas bolas paradas (Cardozo faz isso bem no Benfica). Ora a selecção portuguesa não o pode fazer com jogadores como Petit e Nuno Gomes. A equipa precisa pois, urgentemente, de crescer em altura e em poder físico-atlético fora do sector defensivo (Meira, Pelé e Hugo Almeida? Manuel Fernandes se finalmente ganhar a consistência de jogo que lhe tem faltado?), sem perder demasiado os seus princípios e modelo de jogo, e de arranjar um guarda-redes que preencha os requisitos mínimos para este tipo de competições a alto nível. Mas desde quando o não tem, apesar do sobrevalorizado Baía? Desde os tempos do apogeu de Vítor Damas?

Bom, apesar de tudo isto a selecção portuguesa, no Europeu, atingiu os ¼ de final em 96, as ½ finais em 2000, a final em 2004 e os ¼ de final este ano, para além das ½ finais no mundial de 2006. Na Europa, para além da Alemanha, França e Itália, conhecem alguém, nos últimos anos, consistentemente, melhor? Ou preferem a estrela cadente Grécia? Já se interrogaram, num intervalo da megalomania ou quando esta cede, mesmo que fugazmente, lugar à inteligência, se a selecção de um país como Portugal não terá atingindo os seus limites, o seu Princípio de Peter? É bom que o façam quanto antes, para que o desgosto os não mate.

quarta-feira, junho 18, 2008

Os países do Euro 2008 e a música - Holanda

Jan Pieterszoon Sweelinck (1562-1621) - "Ballo del Granduca". Interpretação, no cravo, de Bob van Asperan

História(s) da Música Popular (92)

The Drifters (c/ Ben E. King) - "This Magic Moment" (Doc Pomus - Mort Shuman)
Doc Pomus & Mort Shuman (III)
Ora vamos lá então àquilo que existe de mais interessante na carreira de Doc Pomus e Mort Shuman, isto é, a sua colaboração com os Drifters, os norte-americanos e não aquele grupo instrumental que acompanhava o britânico Cliff Richard e que mudou o seu nome para Shadows exactamente por causa dos Drifters, os verdadeiros e originais, nascidos nos USA (NY) nos idos de 1953. Pois há quem goste de incluir os Drifters na “etiqueta” (será que poderia dizer “fileira”, como agora por aí se diz a propósito de temas económicos?) "Doo Wop" (ver posts do “Gato Maltês” dedicados a este movimento da música popular), algo que me parece um pouco redutor e pecando por alguma imprecisão. Não desmerecendo as influências, são muito mais do que um grupo street corner, agregando também muito do "soul" e do "gospel", o que os torna incontornáveis e percursores na história do "rock and roll" e da música popular.

Pois o grupo teve uma história algo atribulada de idas e vindas dos elementos que o integravam, mas ficou literalmente ligado a dois dos seus vocalistas: Clyde McPhatter e o mais conhecido Ben E. King, o primeiro de modo episódico (entre 1953 e 1954) e o segundo, também episodicamente, a partir de 1959, antes de, no final de 1960, também ele abandonar em troco de uma carreira a solo que lhe renderia dinheiro e êxitos: “Stand By Me” e “Spanish Harlem”, este de Jerry Leiber e Phil Spector. O maior sucesso dos Drifters com Clyde McPhatter terá sido “Money Honey” (1953), mais tarde (bem) “recuperado” por Elvis Presley, mas o sucesso duradouro viria com a colaboração do grupo, já com Ben E. King, com o Brill Building: Leiber e Stoller, Goffin e King, Phil Spector e... Doc Pomus e Mort Shuman, que nunca trabalharam para a Aldon Music mas podem ser considerados membros honoris causa do nº 1619 da Broadway.

Pois um dos meus temas favoritos do grupo e de Pomus & Shuman será este “This Magic Moment”, #16 em 1960 e com Ben E. King como vocalista, pois claro. Comecemos por aqui, já que começaremos muito bem.

terça-feira, junho 17, 2008

Os países do Euro 2008 e a música - Grécia

Mikis Theodorakis (n. 1925) - Zorba, O Grego

Vamos lá escolher o novo seleccionador

Devo dizer que fico estarrecido com a facilidade com que jornalistas e comentadores lançam os nomes mais díspares para o cargo de seleccionador nacional de futebol sem que baseiem esse seu raciocínio, o que parece provar nestes anos nada aprenderam. Mais ainda, como discutem, nesta época de globalização, se deve ser português ou estrangeiro, marciano ou selenita. Porque não do “Triângulo das Bermudas”, para nele fazer desaparecer os adversários? Sejamos razoáveis e pensemos, em primeiro lugar, o que se pretende de um seleccionador e o que pode a FPF oferecer.

Em primeiro lugar, e face àquela característica de Scolari que é unanimemente reconhecida como positiva e estando na base do sucesso obtido – a sua capacidade de criar e “blindar” um grupo e não deixar os clubes interferirem no trabalho da selecção –, penso seria uma enorme estupidez e representaria a perda de um trabalho de anos, não contratar alguém capaz de dar continuidade a este modelo de gestão do grupo. Tendo dito isto, e a contestação que um modelo de gestão deste tipo necessariamente origina tal como aconteceu com alguma imprensa e comentadores em relação a LFS, manda a experiência anterior concluir que alguém com um curriculum indiscutível será, com certeza, capaz de gerar muito mais respeito e menor contestação. Portanto, temos aqui já duas exigência que podemos considerar indispensáveis. Continuando. A maioria dos jogadores portugueses “seleccionáveis” joga em grandes equipas estrangeiras e, alguns, nas 3 melhores equipas portuguesas, aquelas que disputam as competições da UEFA. Estão habituados a treinadores e organizações de topo, de primeira linha, e adquiriram com essa sua vivência ou contacto com o estrangeiro uma mentalidade já mais cosmopolita. Isto conduz-nos directamente a uma terceira exigência: alguém com experiência em clubes e/ou selecções da elite europeia, sendo que, em função do que atrás se disse, isto será bem mais importante do que o conhecimento do futebol português, já que o escolhido não irá treinar uma equipa de clube no campeonato interno, mas a selecção nacional em competições internacionais com um campo de recrutamento externo ou restrito aos 3 clubes portugueses que competem internacionalmente. Sendo que a questão da língua tem alguma importância, não me parece ser fundamental: a maioria dos jogadores já se faz entender razoavelmente em castelhano, inglês ou italiano e um treinador que domine o castelhano ou o italiano (por exemplo) rapidamente se fará entender em português ou algo parecido. Uma última questão. A selecção portuguesa irá, caso apurada, jogar a fase final do Mundial de 2010 e do Europeu de 2012. Por isso, seria também interessante que a pessoa admitida para o cargo reunisse alguma experiência anterior em fases finais de competições desse tipo, muito específicas. Em troca, claro, a FPF pode oferecer a oportunidade de treinar uma das melhores selecções europeias, mediática, com alguns jogadores de classe mundial, infra estruturas de bom nível, um país seguro e do primeiro mundo, um salário não de topo mas, digamos, ainda dentro do primeiro terço do mercado europeu e um clima ameno com peixe, marisco e vinho a condizer. Digamos que são condições bem razoáveis para atrair alguns nomes já com prestígio feito, na maturidade das suas carreiras. Caberá ainda à FPF definir um outro aspecto do "modelo": um seleccionador para a primeira equipa ou o topo de uma pirâmide que abarque toda a estrutura do futebol juvenil. Não sabendo qual a opção da FPF e isso não influenciando os outros requisitos, que se devem manter, passemos adiante.

E posto isto perguntar-me-ão, com esse irresistível impulso lusitano para a fulanização: “então e agora? E nomes”? Parece-me que este perfil exclui qualquer treinador português, excepto, claro, José Mourinho ou Carlos Queiroz. Mas aquele ainda não tem idade e este está “de esperanças” de Alex Ferguson. Estrangeiros? Digamos que domino mal o mercado, mas um nome me ocorre de imediato: Marcello Lippi. Que nem uma luva!

Onde se fala da regionalização, da descentralização, do Terreiro do Paço, da classe média e das competências

Quando do referendo sobre a regionalização, o meu primeiro argumento para o voto “não”, que convictamente assumi, aquele mais simples e que colocava sempre à frente de todos os outros, porventura mais complexos e elaborados, para explicar essa minha decisão era, invariavelmente, “não considerando que qualquer descentralização seja necessariamente, por definição, positiva e o seu contrário, a centralização, seja uma opção sempre negativa, tudo dependendo das circunstâncias e dos lugares, numa sociedade com uma classe média fraca em número e preparação, provinciana, quando passamos do “pico” para a base da pirâmide, isto é, das elites para as camadas mais populares a qualidade dos agentes políticos e económicos, já de si pouco elevada, decresce dramaticamente, em progressão geométrica. A um ritmo muito superior, claro, do que acontece em sociedades mais evoluídas. Por isso, antes governado pelo Terreiro do Paço, pelos Barrosos, Sócrates, Cavacos e Guterres, por muito medíocres que sejam, do que pelos Isaltinos, Valentims, Narcisos, Mendes Botas, Mesquitas Machados e tutti quanti.” O simples enunciar dos nomes parece provar, sem necessidade de demonstrações adicionais e de "irmos" à "obra feita", a bondade do argumento.

Lembrei-me disto nestes últimos tempos, quando, por via das crises de camionistas, pescadores, antes disso da saúde e outras mais que estarão para vir, deparei com a “qualidade” dos interlocutores associativos e corporativos que apareciam pelos media, “vedetas da TV, disco e K7 pirata”. Habituado a ouvir Francisco Van Zeller e Carvalho da Silva, concorde-se ou não com as posições defendidas pessoas preparadas e credíveis, depois de ouvir um tal Augusto Cymbron, o senhor Lidério da Anadia e outros que tais, até fiquei com saudades do professor Nogueira e do burocrata Picanço. “Prontos”, voltem. Estão perdoados

segunda-feira, junho 16, 2008

No país dos sovietes (6)

1920, autor desconhecido
Literacy is the path to communism
Publisher: Gosizdat, Moscow(Lithography, 72x54 cm., inv.nr. BG E11/746)
"In its first years, the communist regime organizes extensive campaigns to combat illiteracy. This poster uses the classical symbol of the winged horse Pegasus as distributor of knowledge. The text in the book reads 'Proletarians of all countries ..."

Os países do Euro 2008 e a música - França

Camille Saint-Saëns (1835-1921) - Danse Macabre

Suíça - Portugal: razões para uma derrota

Antes que se gastem resmas de papel, quilos ou litros de tinta, milhões de bytes e que Rui Santos desenvolva cinco mil oitocentas e vinte e sete teorias da conspiração sobre a derrota, a feijões, da 2ª selecção de Portugal com a Suíça, aqui vão as razões:

  • Ausência de um condutor de jogo a meio-campo, uma alternativa a Deco mesmo que um degrau abaixo.
  • Presença em lugares-chave de 2 jogadores claramente sobre-avaliados pela crítica ao longo da época, talvez pelo extremo interesse que a venda dos seus passes assumiria para os respectivos clubes: Miguel Veloso (uma 2ª edição de Hugo Viana?) e Ricardo Quaresma, a quem falta cérebro, ciência de jogo e a noção exacta do que é o futebol.
  • Uma arbitragem vista assim pela Marca, neste caso fonte independente: “Muy mal. Una competición como la Eurocopa no se puede permitir estos arbitrajes caseros, por mucho que no hubiese nada en juego. La UEFA pierde credibilidad. Se equivocó en un gol anulado y un penalti no pitado a Portugal. Y, con ese criterio, el penalti a favor de Suiza, no era."

Acho que é suficiente; o resto é perder tempo.

domingo, junho 15, 2008

Os países do Euro 2008 e a música - Espanha

Isaac Albéniz (1860-1909) por Andrés Segóvia (1893-1987) - "Astúrias"

Um país vulnerável ou sociedades vulneráveis?

O primeiro-ministro declarou no final da paralisação dos camionistas ter sentido o país vulnerável. É uma mera constatação que qualquer um pôde fazer. Mas de onde vem e onde nasce essa vulnerabilidade? É o país que está vulnerável ou isso acontece com todas as sociedades modernas em virtude da forma e do modo como se organizam e estruturam? Bom...

O PCP veio "a correr" afirmar que essa vulnerabilidade se devia à opção pelo transporte rodoviário em detrimento do ferroviário. Tem alguma razão, mas essa é apenas a parte que mais lhe interessa, já que o transporte ferroviário está, na maior parte das vezes, entregue a empresas públicas ou onde o Estado detém importantes poderes de controle. Mas, como disse, tem aí um ponto importante a seu favor, já que esse controle permite também aos governos prever, evitar e gerir melhor eventuais conflitos e, mesmo que essas empresas fossem maioritariamente privadas, é sempre mais fácil ter como interlocutor uma ou meia dúzia de grandes empresas estruturadas e dirigidas por gente mais preparada (o governo lá foi negociando com a ANTRAM) do que uma multitude de micro e pequenas empresas empresas entre o familiar e o quase, passando pelo "mais ou menos" e também pelo "assim-assim". Só que o problema é mais vasto, e o transporte ferroviário não só não faz o transporte door to door como, por isso e pelas necessidades logísticas das sociedades e empresas actuais, dificilmente pode preencher, por menor flexibilidade, todos os requisitos exigidos. Vamos um pouco atrás, aos tempos pré-históricos da 1ª metade do século XX.

Há 50 ou 60 anos, em Portugal, vivia-se maioritariamente no campo, uma boa parte da economia era de subsistência e de trocas locais e as pequenas vilas e pequeníssimas cidades eram, em grande parte, abastecidas por produtores locais. Mesmo as cidades como Lisboa ou Porto, sem as grandes áreas suburbanas de hoje em dia e onde as pessoas viviam maioritariamente perto do seu local de trabalho, eram abastecidas em frescos pelas zonas rurais circundantes (no caso de Lisboa, pela região saloia, por exemplo) e a composição da procura de produtos alimentares ou de higiene era muito menos segmentada e sofisticada do que hoje em dia, mesmo nas classes mais altas. A distribuição, essa, era assegurada por uma multidão de pontos de venda, pelo comércio tradicional que maioritariamente comprava a armazenistas e distribuidores que formavam stocks elevados, muitas vezes cobrindo várias semanas ou meses de necessidades de consumo. Por isso mesmo e pela pouca importância que então assumia o transporte individual privado, pela organização das empresas em que a interdependência era infinitamente menor obrigando a muito menos deslocações dos seus funcionários e pela quase ausência de viagens aéreas, as necessidades urgentes de combustível (gasolina e gasóleo) eram bem menores e menos prementes. Acresce que a internacionalização da empresas era fraca, a grande maioria sendo locais ou até mesmo regionais, e a existência de fronteiras e deficientes vias de comunicação obrigava as empresas internacionais a produzirem ou, pelo menos, "stockarem" localmente. Assim, e como o transporte de mercadorias raramente assumia foros de urgência extrema, o caminho de ferro podia, por conseguinte, assumir um papel bem mais relevante, Estávamos, portanto, perante um país muito menos vulnerável a interrupções de abastecimento e distribuição de produtos essenciais.

Escusado dizer como tudo isto mudou radicalmente, vulnerabilizando a sociedade a interrupções de fornecimento mesmo que de poucos dias. Portugal (e com ele a maioria dos países europeus) é, hoje em dia, uma sociedade terciarizada, com uma rede urbana e suburbana complexa e deslocações casa-trabalho de vários quilómetros, empresas que funcionam sem stocks (cuja existência teria hoje em dia custos insuportáveis), na base do "just in time", esses mesmos stocks centralizados em Espanha, Alemanha ou Polónia, por exemplo, por via da racionalização de custos permitida pela livre circulação, com empresas interdependentes obrigando a deslocações frequentes dos seus trabalhadores e gestores. Por sua vez, a distribuição é assegurada por hiper e supermercados, cash & carries, que não constituem stocks e compram frequentemente a fornecedores geograficamente situados em zonas longínquas. A procura segmentou-se e sofisticou-se e, simultaneamente, muitos dos fabricantes de produtos hoje em dia de primeira necessidade e quase desconhecidos há 50 ou 60 anos (basta olhar para as prateleiras de “higiene e limpeza”) centralizaram a sua produção em um ou dois países europeus. A agilização e flexibilização necessárias, do lado da distribuição, para prover a este tipo de requisitos é, muitas vezes, incompatível com uma maior rigidez do caminho de ferro quando comparada com o transporte rodoviário, em modernas e rápidas auto-estradas, com distribuição door to door, horários muito mais flexíveis e cargas menores. Isto não impede, claro está, um maior aproveitamento do combóio e um aumento da sua quota de mercado no transporte de mercadorias, mas é insensato pensar que ele resolverá maioritariamente o problema, já que a essência está, isso sim, na forma e no modo como se estruturam as sociedades e que nada tem a ver com o que se passava no passado. Isso torna-as mais vulneráveis? Sem dúvida, mas será bom também, pelo menos de vez em quando e se não se importam, dar uma espreitadela para o lado dos benefícios. Talvez isso nas torne um pouco mais felizes...

Os países do Euro 2008 e a música - Croácia.

Luka Sorkocevic (1734 - 1789) - Symphony in D major nº3
Arrangement for mandolin orchestra
Mandolin Orchestra "Sanctus Domnio" dirigida por Frane Kuss

sexta-feira, junho 13, 2008

Os países do Euro 2008 e a música - Áustria.

Wolfgang Amadeus Mozart (1756 - 1791) - Concerto para piano nº 20 K 466. 2º andamento (romance)
Mitsuko Uchida e Filarmónica de Berlim dirigida por Sir Simon Rattle

Para os irlandeses, com muito azedume

No final dos anos setenta do século XX, tinha então iniciado a minha vida profissional não há muito tempo, lembro-me de ter assistido em Lisboa a uma interessante conferência em que um irlandês (não me lembro o nome nem a que instituição pertencia, mas a conferência era organizada pelo então denominado Fundo de Fomento da Exportação) explicava como e por que razão a adesão à CEE, em 1973, estava a ser chave para que a Irlanda quebrasse a sua tradicional dependência económica, quase neo-colonial, do Reino Unido e, com essa integração, encetasse um processo de desenvolvimento mais interdependente e sustentado. Os resultados desse processo são hoje tangíveis e constituem um case study, sendo desnecessário, portanto, acrescentar o que quer que seja.

Ontem, uma aliança protofascista da extrema direita com o populismo mais desenfreado e o obscurantismo retrógrado ultra-católico, com o apoio dos habituais idiotas úteis da chamada extrema-esquerda, chumbou o referendo ao Tratado Reformador da União. Deveria ser possível pôr o filme a andar para trás, em rewind, e mandar os irlandeses de volta para onde, pelos vistos, nunca deveriam, nem mereceriam, ter saído.

Porquê Simão e não Quaresma

Parece que muita gente, incluindo alguns jornalistas, ainda não perceberam porque joga Simão na selecção em vez de Quaresma, este aparentemente com um futebol mais vistoso e desequilibrador. Que o “povo” diga os disparates habituais nos fóruns de opinião, nada de estranhar; que alguns jornalistas desportivos o façam... já dá que pensar. Mas vamos lá ver.

Um dos problemas da selecção portuguesa, e que até Cristiano Ronaldo já aflorou, são as demasiadas perdas de bola a meio-campo, fruto do futebol de risco de alguns dos seus jogadores, Deco e o próprio Cristiano à cabeça. Esse futebol de risco tem as suas vantagens (grandes) quando resulta, mas também os seus inconvenientes quando origina demasiadas perdas de bola em zonas vulneráveis, apanhando a equipa “desposicionada”, em “contra-pé”, até porque as chamadas “transições defensivas” estão longe de ser um dos seus pontos fortes. Quando isso acontece obriga inclusivamente a equipa (frequentemente os centrais) a cometer faltas em zonas perigosas, e quanto às bolas paradas estamos conversados. Certo? Ora a entrada de Quaresma para o lugar de Simão iria agravar esse problema, pois Quaresma é claramente um jogador que gosta mais e mais procura o risco e o “um para um”. Claro que Simão também o faz, mas apresenta um futebol um pouco mais seguro e, além disso, entende e integra-se melhor no colectivo, dominando melhor todas as acções da equipa e os diversos momentos do jogo: defensivos, ofensivos, “um para um”, circulação de bola e marcação de livres e grandes penalidades. Digamos que reequilibra um pouco mais a equipa, e o futebol começa por ser um jogo de equipa (de equilíbrios, diria, e bem, Luís Freitas Lobo). Quaresma parece ser, assim, uma opção para quando a selecção portuguesa estiver em condições, ou precisar, de assumir o risco. Caso contrário... Estamos entendidos? É que nada disto é ciência oculta: basta não ter preguiça e pensar apenas um “bocadinho”.

quinta-feira, junho 12, 2008

Os países do Euro 2008 e a música - Alemanha.

Richard Wagner (1813 - 1883) - Der Ring des Nibelungen: Götterdämmerung - Trauermarsch

Ferreira Leite, o PSD e os camionistas

Ao contrário do que por aí se diz, muito bem estiveram o PSD e Manuela Ferreira Leite na crise dos camionistas. Tendo o governo gerido e resolvido genericamente bem, embora no fio da navalha, a crise, Ferreira Leite optou por uma atitude discreta, dando o tempo necessário e suficiente ao governo e resistindo às actuações populistas e demagógicas do seu antecessor. Estou certo saberiam ter aparecido no momento certo caso a situação se agravasse por inépcia governamental. Demonstraram maturidade e sentido de estado e, assim, provaram ser oposição credível. Sejam bem-vindos.

Série "B" (14)

"The Unearthly", de Boris Petroff (1957)

Scolari e o "sobe & desce" do "Público"

Costumava dizer o meu pai que o pior defeito do mundo era a estupidez. Tinha razão. E, acrescento eu, quando colocada insidiosamente ao serviço dos interesses mais mesquinhos em conjugação com o ódio, essa estupidez torna-se ainda mais insidiosa e desprezível. Tudo isto vem a propósito da coluna “sobe e desce”, ou coisa do género, do “Público” de hoje (só para assinantes). Vejamos.

Scolari tem alguns defeitos e muitas virtudes, estas especialmente valiosas para um seleccionar, talvez não tanto para um treinador de clube (veremos como ultrapassa as suas tradicionais weaknesses no Chelsea). Já por aqui, num conjunto de três posts dedicados ao assunto, os tentei dissecar. Entre as virtudes podem contar-se o rigor e profissionalismo com que tem dirigido a selecção de futebol, definindo, logo à partida, quem mandava, sem margem para quaisquer dúvidas, percebendo (até por experiência anterior) como se abordava e preparava uma fase final de uma grande competição e blindando e dando coesão a um grupo de trabalho, transformando um “bando” numa equipa, ou seja, num grupo organizado e estruturado. Tudo isto já tem sido dito, mas parece que tende a ser esquecido - bem como os tempos de António Oliveira - pela acção das forças combinadas da estupidez e do interesse mesquinho, leia-se, para que não restem dúvidas, de quem efectivamente mandava no futebol português e a quem a contratação de Scolari terá feito perder algum do muito poder que detinha. Os resultados (vice-campeão da Europa, 4º classificado no Mundial e apuramento, como 1º classificado do seu grupo, para os ¼ de final do Europeu, precisando, para isso, apenas de 2 jogos) falam por si. Não ganhou nenhum título? Pois, mas, talvez tão ou mais importante do que isso, tornou-se um habitué, um membro do “pelotão da frente”, uma selecção já não capaz do melhor e do pior, mas regular e consistente, capaz de alcançar objectivos mesmo quando não joga bem, o que define as grandes equipas, as grandes instituições e as grandes empresas. Para quem anteriormente mandava, a semana parece não estar a correr nada bem e, por razões diversas, parece também não se perspectivar qualquer optimismo para que acabe melhor amanhã, quando a UEFA se pronunciar sobre o recurso do FCP.

Pois o “Público”, que tem sido, de uma maneira ou de outra, diga-se que de forma veladamente inteligente pois a grande maioria dos seus leitores não são estúpidos, porta voz dos interesses de quem mandava e deixou de o poder fazer (não é, Bruno Prata?), no dia seguinte à selecção portuguesa de futebol ter conseguido o tal apuramento para os ¼ de final com duas vitórias justíssimas contra selecções que estão muito longe do 3º mundo futebolístico, lá resolveu colocar Scolari “para baixo” por ter sido divulgado o seu contrato com o Chelsea onde será candidato a milionário a partir de 1 de Julho, esquecendo-se que o Chelsea deve também satisfações e informação aos seus adeptos e accionistas e que tanto Scolari como a sua equipa já revelaram profissionalismo e maturidade suficientes para que isso não seja um problema. Não contente com isso, o mesmo jornal afirma que esta selecção vale por si própria. Pelo método de redução ao absurdo, vamos concluir que sim, que alcançaria os mesmos resultados em autogestão. Que pena, então, não ter sido decidida essa autogestão nos tempos em que era dirigida por António Oliveira (esse prestigiado treinador depois disputado a peso de oiro pelas grandes equipas europeias), pela Olivedesportos e pelo FCP. Talvez então tivéssemos sido campeões no Mundial de 2002, de tão triste memória... Aquele (sabem?) em que Scolari foi campeão e Portugal perdeu com os USA e a Coreia!

quarta-feira, junho 11, 2008

O "Bloco" confunde o estado de direito com os direitos dos camionistas. E o governo? Arrisca-se a morrer de "overdose" de bom senso?

Se dúvidas houvesse sobre a concepção de democracia e estado de direito do “Bloco de Esquerda” bastaria ter ouvido ontem, na RTPN, João Teixeira Lopes afirmar, em debate com Carlos Abreu Amorim, a primazia dos direitos (inquestionáveis, acrescento eu) dos camionistas em greve por sobre todos os outros direitos, não menos inquestionáveis, em causa (a liberdade dos não-grevistas, a liberdade de circulação de pessoas e bens, etc) para ter ficado esclarecido. Será que em trinta e tal anos não aprenderam nada?

Nota: será este justo equilíbrio entre os diversos direitos em causa uma das razões a dificultar a acção do governo, que até agora tem demonstrado alguma dose de bom senso político, não se deixando embalar pelo canto da sereia da acção policial “pura e dura”. Mas, pelo caminho que as coisas estão a levar, devo também dizer que começo bem a temer se esteja a deixar paralizar ou morrer por overdose do dito...

terça-feira, junho 10, 2008

The Famous Five (1)

O Presidente da República e o 10 de Junho

Algo parece não andar lá muito bem para os lados da Presidência da República. Primeiro foi a triste visita à Madeira, com o desrespeito demonstrado para com a Assembleia Regional e o apoio implícito às atitudes mais grosseiras e menos democráticas de Alberto João Jardim. Pode doravante Cavaco Silva falar no prestígio e credibilidade das instituições sem ruborizar?

Agora, pior do que a gaffe da raça (a propósito: com tantos cruzamentos qual será a minha raça? Será que sou rafeiro? Confesso que, depois do que disse Cavaco, isso me começa a deixar preocupado), só mesmo um discurso retórico, cheio dos lugares comuns do costume sobre a “universalidade”, a “capacidade para o diálogo intercultural”, a ”língua portuguesa”, o “empreendorismo da diáspora” e outros do mesmo género que nada acrescentam, muito antes pelo contrário, e que deviam ser abolidos do léxico institucional. É que nem sequer faltou a citação de Eduardo Lourenço, esse Sigmund Freud da pátria!!!

Quando será que os portugueses deixam o “divã” e se decidem, finalmente, a olhar o seu futuro na Europa? Já agora, alguém explica também aos portugueses que essa miscegenação de culturas, enquanto os ingleses exportavam e impunham a sua, não é mais do que um sintoma de fraqueza civilizacional e cultural e não algo de que o país se deva particularmente orgulhar?

segunda-feira, junho 09, 2008

3 notas sobre o Holanda - Itália

  1. Será a selecção portuguesa capaz de jogar ao ritmo e com a intensidade competitiva que acabei de ver no Holanda - Itália? Tenho dúvidas, mas por certo me irão acusar desde já de desmancha-prazeres. Espero, pelo menos, que a visão do jogo sirva para pôr alguma água na fervura lusa.
  2. Claro que dá muito jeito ter um pivot defensivo como Andrea Pirlo, principalmente quando este tem a seu lado Ambrosini e, principalmente, aquele jogador-estivador (sem ofensa) que dá pelo nome de Gattuso, quando a equipa assenta o seu modelo de jogo numa defesa consistente e, logo e necessariamente, em rápidas transições ofensivas. O problema é quando há um azar (e a Itália teve dois: um árbitro distraído e um lesionado Cannavaro), se sofrem golos e, então, se precisa de alguém assim cá na frente que pegue no jogo, dirija a “banda” e não deixe o pobre do Luca Toni aos papéis. É uma chatice! Ou melhor: foi uma “chatice” para a Itália.
  3. Mas, diga-se, também era dia de sair tudo bem à Holanda. É que até podia ter jogado uma daquelas simpáticas holandesas de touca, tamancos e com a vaquinha pela arreata que acabaria por marcar um golo!

"Bleu, blanc et rouge"

Quando era criança e me comecei a interessar por estas coisas do futebol, uma das primeiras perguntas que fiz, como todas as crianças, foi sobre as cores do equipamento de cada uma das selecções ou clubes. Quando chegou a vez da França, certamente uma das primeiras, lembro-me o meu pai me ter respondido de imediato: “bleu, blanc et rouge”. Como na bandeira herdada da revolução cada cor ocupa exactamente um terço, mais tarde concluí, já passado mais de um século, a liberdade (azul da camisola) começava a levar bem vantagem sobre a igualdade dos calções brancos ou a fraternidade das meias encarnadas. Há pouco, ao ver a selecção francesa toda equipada de azul, apenas com os “toques” de encarnado e branco aqui e acolá, concluí finalmente a liberdade dominava sobre a igualdade e a fraternidade, o que não deixa claramente de estar “au goût du jour”.

Com pinças...

“Com pinças”, deve o governo conduzir a gestão da crise dos camionistas, entre a manutenção da ordem pública, dos direitos dos cidadãos numa paralisação que parece ter quase tudo de ilegal face à constituição e às leis do país, a não cedência, no essencial, ao necessário cumprimento de uma estratégia política onde a razão está, em traços gerais, do seu lado e a necessidade de evitar a todo o custo uma confrontação de rua, com recurso às forças policiais, o que se poderia tornar desastroso para o seu futuro político. Vamos ver se e em que medida será capaz de o fazer, num quadro em que, mais a mais, existe a dificuldade acrescida da organização representativa do sector estar em desacordo com a maioria dos manifestantes. É a capacidade e experiência políticas de Mário Lino, a sua habilidade negocial, que estão á prova, num sector em que um grande número de micro-empresas (daí o desacordo ANTRAM - manifestantes) não tem quaisquer possibilidades de sobrevivência. Dessa capacidade do ministro depende, neste momento, em boa parte o governo e o país.

História(s) da Música Popular (91)


Fabian - "Hound Dog Man" (Doc Pomus - Mort Shuman)

Doc Pomus e Mort Shuman (II)

No período de refluxo do "rock and roll", entre 1958 e a “british invasion”, a indústria tentou aproveitar da melhor maneira o mercado emergente dos baby boomers, da nova cultura adolescente, recorrendo aos chamados teenage idols, aproveitando o novo “estilo” lançado pelo "rock and roll" mas extirpando-o das suas origens mais populares, mais working class dos brancos pobres como Elvis Presley. Também menos próximo das suas origens negras, da sua faceta marginal, rebelde e contestatária, aproximando-o assim da classe média, das high schools dos brancos. O cinema ocupou nessa estratégia um lugar primordial, sendo por isso necessário que esses teenage idols tivessem um look bem comportado e bem parecido, de traços suaves, de preferência com cores de pele e de cabelo que os afastassem de quaisquer vestígios de afro-americanidade. Foi a época de Bobby Rydell, dos beach parties de Frankie Avalon e Annette Funicello (os italo-americanos também foram assim contemplados), dos pijama parties e, até, da emergência da nova cultura surfista californiana que nos haveria (imaginem!), contudo, de conduzir a uma nova categoria no "pop/rock" e no "rock" instrumental: a "surf music". No limite, a um álbum-chave da música e da cultura popular america e mundiais, "Pet Sounds".

Talvez o mais interessante desses teenage idols tenha sido Ricky Nelson (1940 – 1985), misturando em doses convenientes baladas xaroposas (“Hello, Mary Lou” e “Poor Little Fool” são canções das quais fujo quase tão depressa como de uma cobra – atenção, sofro de ofidiofobia) e temas mais próximos do "rock and roll" e até da cultura creola de New Orleans ("I’m Walking" de Fats Domino). Estará para os cinéfilos sempre ligado à personagem de Colorado naquele que seria para todo o sempre um western de referência (“Rio Bravo”, de Howard Hawks), onde também não se coibia de dar um ar da sua graça de intérprete canoro (o tema de Dean Martin no filme, “My Rifle, My Pony and Me, é, contudo, bem mais interessante).

Bom, mas esta história toda vem a propósito de quê? Ah, já sei, de outro dos teenage idols, Fabian (Filadélfia 1943), de seu nome Fabiano Forte, como diria o já desaparecido Alves dos Santos agora que estamos em época de futebol. Pois o tal Fabian (que também andou pelo cinema e até fez uma "perninha" no "Dia Mais Longo" - mas quem não fez?), para mim, é dos teenage idols aquele cujos temas mais próximos estariam do "rock and roll" original (com algum esforço, claro). “Tiger” foi o seu tema mais famoso (#3 em 1959, mas oiçam também "Turn Me Loose"), mas Doc Pomus e Mort Shuman escreveram para ele este “Hound Dog Man” (#9 no mesmo ano), muito à Presley de quando este ainda era coisa que se ouvisse. Querem ver como tenho razão?

sábado, junho 07, 2008

"Se as eleições fossem hoje..."

As sondagens, mormente as eleitorais, são instrumento político hoje em dia indispensável e insubstituível para a análise das tendências do eleitorado. Importante, assim, que se efectuem com periodicidade regular e seja comparado aquilo que é comparável, isto é, que se analisem comparativamente os resultados obtidos pelo mesmo instituto ou empresa de sondagens com técnicas e amostras idênticas. Não sendo, ao contrário de Pedro Magalhães, a quem temos todos ficado a dever ensinamentos preciosos sobre o tema, um especialista - mas apenas um utilizador frequente de estudos de mercado não-políticos -, por aqui me fico como intróito.
Mas isto vem a propósito, mais uma vez, da falta de rigor com que os "media" nos comunicam os respectivos resultados. Ou seja, especificando: ao contrário do que tenho visto afirmado, não se pode com rigor dizer que “se as eleições fossem hoje o PS perderia a maioria absoluta, ou o PSD estaria na fasquia dos 25% e o PCP e o Bloco acima dos 20%”. E porquê? Exactamente porque as eleições não são hoje, e isso faz com que eleitores e partidos se comportem de modo diverso do que acontece nos períodos eleitorais. Por exemplo: questões como o chamado “voto útil” são normalmente esquecidas pelos eleitores em sondagens efectuadas fora do período eleitoral, sobrevalorizando mais as questões emocionais, assim como em termos de ciclo político a actuação de governos e oposições (mais aqueles) são, também elas, claramente diferenciadas em função da proximidade ou afastamento das eleições que se seguem. São apenas dois exemplos – outros haverá, como a tendência para polarizar o voto nos vencedores, deixo-os aos especialistas -, mas que servem “às mil maravilhas” para ilustrar a falta de rigor mediático que por aí vai.

sexta-feira, junho 06, 2008

A Guerra Aqui (mesmo) Ao Lado (33)

Asturias, October 1934-1937.
Today, as yesterday, the Spanish Red Aid will take care of your families.
Signed: Tomás. Socorro Rojo de España.
Gráficas Valencia, Intervenido U.G.T. C.N.T. Lithograph, 3 colors; 100 x 69 cm.
"In this poster, the image of a fighting miner emerges from behind a hill inscribed with the word "Asturias". This refers to a region located along Spain's northern coast, on the Bay of Biscay. The fighter carries a rifle on his shoulder and prepares to throw a stick of dynamite. Behind him a mother cares for her two young children. The green color of the sinuous mountains evokes the greenery of a region known for its abundant rainfall.
The message under the image refers to events that occurred in Asturias in 1934 and in 1937, and also to the organization issuing this poster, the Socorro Rojo de España, or Spanish Red Aid. The Red Aid was founded by the Comintern in 1921; its activities in Spain had begun before the war, assisting in the revolutionary strike that was held in many parts of the country in the fall of 1934. This strike was most successful in Asturias, where it was led by a united front of miners of socialist, communist and anarchist persuasion; thus the initials
UHP in the cap worn by the miner in this poster, which stand for Unión de Hermanos Proletarios, or Union of Proletarian Brothers. After two weeks of revolution, the rebellion surrendered on October 18, 1934. The repression was conducted by military forces led by General Franco on orders from the Republican government. It is to these events that the inscription "October 1934" in this poster refers. The second date on the poster, 1937, refers to the Civil War. In the late summer of that year, military forces, this time in rebellion against the Republic, were set to attack Asturias. The region prepared for its defense, which was much publicized throughout the country. After intense fighting, Asturias finally fell to the Nationalist army on October 21. This poster shows the mythic dimension that the Asturias revolution of 1934 had acquired in Spain immediately before and during the war. The defense of Asturias in 1937 by revolutionary miners like the one represented in this image immediately evoked the earlier events and provided an ideal opportunity to rouse the passion of the masses anew.
The author of this scene, Tomás, designed other posters during the war, but he is not otherwise known. This poster must have been designed and printed at the time of the events it commemorates, in October 1937, presumably before the fall of Asturias to the Nationalist army on October 21."

Cristiano Ronaldo, o Real Madrid, os contratos e o futebol

O jogador Cristiano Ronaldo tem um contrato válido com o clube Manchester United, membro da Premier League e da FA e, através desta última, da UEFA e da FIFA - que, ao que se sabe, tem sido cumprido integralmente por ambas as partes. O referido contrato tem validade por mais umas épocas (não sei exactamente quantas, mas isso não é relevante). Portanto, não assistindo a qualquer das partes razões para a respectiva denúncia, ambas estão obrigadas ao seu cumprimento integral, o que inclui os deveres de lealdade, respeito e sigilo, para além de, no caso da entidade patronal, proporcionar ao jogador Cristiano Ronaldo todas as condições para que possa exercer na plenitude a profissão para a qual se encontra habilitado e, no caso do jogador, que este ponha ao serviço do clube toda a sua capacidade técnica, física e atlética. Acontece que me parece ter ultimamente o jogador, com as suas declarações pelo menos dúbias e eticamente reprováveis, colocado em causa os deveres de lealdade e respeito a que se deveria obrigar, pelo respectivo contrato, perante a sua entidade patronal. Também um outro clube, o Real Madrid, membro da Real Federação Espanhola de Futebol que, por sua vez, tal como o Man. United, também faz parte da UEFA e da FIFA, me parece ter incorrido em violação grave da ética e do comportamento que deve (ou deveria) presidir ao relacionamento entre membros dessas organizações e a uma concorrência saudável e leal. É para mim óbvio que esses deveres deveriam estar regulamentados e ser impostos pelas respectivas associações aos seus membros (Premier League, FA, RFEF, UEFA e FIFA) e que a sua violação por parte de qualquer ou quaisquer desses seus associados deveria dar origem a sanções adequadas, o que pelos vistos não acontece. Sendo assim, na situação actual dificilmente o futebol poderá alguma vez ser visto como uma actividade respeitável, bem como uma indústria séria e credível.

Grandes Séries (26)

"Paradise Postponed" (1986) e "Titmuss Regained" (1991)
O díptico – e, francamente, não me lembro se as duas partes se apenas uma delas - baseado num romance, também em duas partes, de John Mortimer, passou quase despercebido em Portugal, nos anos noventa sem que possa precisar exactamente quando (acho que aí por 1998), talvez na RTP2. Mas o suficiente para me ter ficado na memória (não o tornei a ver), embora não tivesse conseguido, penso que por uma questão de horários, vê-la então com a atenção que teria desejado. Como muitas das séries britânicas, é um olhar sarcástico e também nostálgico sobre a tão característica sociedade de classes inglesa, neste caso desde os anos 50 do século XX até ao Thatcherismo com o apogeu de todo um novo-riquismo emergente na controversa década de 80. Neste caso, centra-se na personagem de Leslie Titmuss e na sua ascensão política e social, desde as suas origens humildes - e os complexos e humilhações sofridas por via delas - até ao auge do seu poder e riqueza. Para além disso, e da qualidade habitual, a segunda parte ("Titmuss Regained") apresenta ainda a curiosidade de vermos uma, na altura, ainda quase desconhecida Kristin Scott Thomas (como dizia uma minha amiga, “melhor do que bonita”) no papel de Jenny Sidonia. Muito recomendável.

quinta-feira, junho 05, 2008

Exploitation (12)

"Flesh Gordon" de Michael Benveniste e Howard Ziehm (1974)

Alegre e Vitalino

O PS terá maioritariamente razão nas afirmações que faz sobre Manuel Alegre e o seu comportamento reiterado. O problema não é, portanto, a mensagem e o seu conteúdo. O problema é, isso sim, o “meio” escolhido, o mensageiro: Vitalino Canas. Dificilmente poderia o PS ter escolhido pior. E como, tantas vezes, o “meio” é ele próprio a mensagem...

A sanção aplicada ao FCP em nada prejudica o futebol português: antes pelo contrário

Mais uma vez, vamos lá tentar ser claros: a condenação do FCP pela UEFA, tal como a do mesmo clube, União de Leiria e Boavista internamente, não desprestigia nem mancha a imagem do futebol português, tal como a condenação de Al Capone não manchou a imagem dos Estados Unidos: prestigiou-a. O que manchava a imagem e o prestígio do futebol português era, isso sim, a verificação de uma suspeição (ou muito mais do que isso) permanente sem que fosse possível determinar, isolar e punir os culpados e responsáveis, tal como o que manchava a imagem dos Estados Unidos era a impunidade de que gozavam a Máfia e o gangsterismo e não a sua condenação e erradicação. O que mancha a imagem e prejudica o futebol português é um regulamento que não permite que se punam os prevaricadores com a justiça que seria proporcional ao delito, e a necessidade de essa mesma justiça proporcional apenas poder ser feita através de uma instância internacional. O que manchava e desprestigiava a imagem dos Estados Unidos eram os negócios “para-legais” dirigidos por Capone, Bugsy Siegel ou Lucky Luciano, e o que os prestigiava eram homens como Henry Ford ou Franklin Delano Roosevelt, tal como o que desprestigia o futebol português é a existência, enquanto seus dirigentes, de personalidades como Pinto da Costa, Valentim e João Loureiro ou Vale e Azevedo (para falar só dos já disciplinar ou criminalmente punidos). Portanto, a sua condenação e afastamento apenas poderão representar qualidade e valor acrescido, prestígio e um passo em frente. Triste, apenas, que isso se fique a dever maioritariamente à UEFA, tal como muitas outras realizações do país nos últimos tempos se ficam a dever à União Europeia.

O que é, de facto, mais importante para o futebol português, para o crescimento e sustentabilidade em bases sólidas de uma indústria em crise financeira e de espectadores por via da má qualidade dos espectáculos e descrédito no seu funcionamento: os possíveis pontos que o FCP deixará de conquistar nas competições europeias – onde competia por via de classificações internas obtidas, agora comprovadamente, de modo irregular - ou uma indústria a funcionar em bases competitivas de igualdade, credíveis e sérias? Deixemo-nos, pois, de hipocrisias e reacções eivadas de corporativismo “bacoco” – doenças endémicas deste país obsoleto - como as que tenho visto vindas da parte dos chamados “homens do futebol”. Fazer justiça pelos meios legais não desprestigia nada nem ninguém, antes pelo contrário: é expressão saudável do funcionamento de uma sociedade democrática e livre, civilizada e progressiva. Não o fazer, varrendo o lixo para debaixo do tapete, envergonhadamente, ou deixando-o á solta nas ruas, é, ele sim, sintoma de doença endémica que apenas leva ao definhamento e decadência. Que levou o futebol português, enquanto indústria, ao beco da bancarrota e dos salários em atraso de onde não consegue sair.
Ainda bem que existe a União Europeia; ainda bem que existe a UEFA!

quarta-feira, junho 04, 2008

"Lucy in the Sky with Diamonds" (17)

Cartaz de Bob Masse c/ a colaboração do fotógrafo Karl Ferris para o Farewell Concert dos Cream

Benfica, FCP, árbitros e poder político: dois casos mtº diferentes

Uma diferença significativa preside ao crescimento de FCP e Benfica nos seus períodos de maior êxito: enquanto foram os sucessos europeus, na altura um tanto ou quanto inesperados, fruto de um profissionalismo precocemente assumido, o motor e o sustentáculo do crescimento interno do Benfica nos anos 60 (nos anos 50 o Sporting dominava, o FCP tinha sido duas vezes campeão e o Benfica tinha o estádio com menor lotação entre os três grandes), no caso do FCP, nos anos seguintes ao 25 de Abril, o seu fortalecimento assentou em primeiro lugar nos êxitos internos, fruto de uma conjuntura política e economicamente favorável a norte que terá proporcionado as condições, suspeitas umas e insuspeitas outras, para a criação da massa crítica necessária ao seu posterior sucesso europeu.

Não faz pois qualquer sentido invocar e comparar o proteccionismo de que ambos os clubes terão usufruído nesses anos por parte da arbitragem e do poder político, já que se no caso do Benfica, a ter existido, ele terá sido fundamentalmente consequência e não causa do seu sucesso, em primeiro lugar conquistado internacionalmente, no caso do FCP, contrariamente, ele terá sido razão e causa fundamental e estruturante para a afirmação interna que o iria conduzir posteriormente aos sucessos europeus e ao crescimento sustentado.

Portugal...

Número de comentários on-line pelas 14h e 57' à notícia do "Público" sobre a exclusão do FCP das provas europeias: 218!