quinta-feira, novembro 29, 2007

História(s) da Música Popular (67)

The Animals - "We've Gotta Get Out Of This Place" (Barry Mann - Cynthia Weil)
The Brill Building (XVII)
Pois continuemos com Barry Mann e Cynthia Weil e agora com o tema "We’ve Gotta Get Out Of This Place" (#13 em 1965 nos USA e #2 no UK) dos britânicos Animals (Newcastle, 1963), de Alan Price e Eric Burdon, talvez o grupo mais importante da British Invasion depois dos intocáveis Beatles e Rolling Stones. Pelo menos, o único que eu vi ao vivo, numa primeira fila do antigo Teatro Monumental sob a vigilância apertada da polícia para que ninguém saísse da linha – era proibido ir dançar para as coxias – que isso era coisa a que a ditadura não se poderia permitir.

Bom, mas sobre os Animals falaremos depois com mais pormenor, quando falarmos da British Invasion, pois o grupo bem merece alguns posts e parágrafos bem extensos. Sobre “We’ve Gotta Get Out of This Place” podemos dizer que ele é um dos melhores exemplos das preocupações sociais presentes em muitos temas de Mann e Weil. Embora isso hoje pareça difícil de entender, foi inicialmente composto para os Righteous Brothers, mas acabou por ir parar ás mãos de Mickie Most, produtor do grupo de Newcastle, segundo consta com ligeiras alterações na letra original. Claro que foi rapidamente adoptada pelo exército americano no Vietnam... ou não fosse o refrão inteiramente apropriado.

Bom, mas musicalmente, para além da voz de Burdon – embora eu seja um admirador de Alan Price, o fundador e mentor do grupo que em Maio de 1965 o abandonou para formar o Alan Price Set e, mais tarde, interpretar um célebre (?) dueto (“Rosetta”) com Georgie Fame – é de salientar o papel do baixo de Chas Chandler na introdução. Ficamos por aqui e, pela 1ª vez, resolvemos incluir a “letra” para melhor ilustrar aquilo que aqui se disse sobre as suas preocupações sociais.
"In this dirty old part of the city where the sun refuse to shine
People tell me there ain't no use in trying
Now, my girl, you're so young and pretty
And one thing I know is true,
You'll be dead before your time is due, (I know)
Watch my daddy in bed and dying
Watch his hair been turning grey
He's been working and slaving his life away, (Oh yes I know)
He's been working so hard
I've been working too baby, (every night and day)
(Chorus)We've gotta get out of this placeif it's the last thing we ever do
We've gotta get out of this place
Girl there's a better life for me and you

Now my girl you're so young and pretty
And one thing I know is true
You'll be dead before your time is due, (I know it)
Watch my daddy in bed and dying
Watch his hair been turning grey
He's been working and slaving his life away (I know)
He's been working so hardI've been working too baby,
(Chorus)
Somewhere baby
Somehow I know it baby
(Chorus)
Believe me baby
I know it baby
You know it too

The Hammer Collection (8)

" Frankenstein Created Woman" de Terence Fisher (1967)

quarta-feira, novembro 28, 2007

Quatro "posts" de actualidade - 4. Novos investimentos na Autoeuropa

A decisão positiva sobre a produção do novo VW Polo na Autoeuropa e os novos investimentos que irão aí ser efectuados é, claro, uma excelente notícia. E não só pelo volume de negócios acrescido, pelo seu efeito multiplicador, o reflexo nas exportações e no número de postos de trabalho, directos e indirectos, qualificados, mantidos e/ou criados. É que a Autoeuropa é um exemplo a vários níveis, da gestão ao sindicalismo, que tem um efeito indutor; e no qual o país precisa de se rever e do qual necessita para progredir.

Quatro "posts" de actualidade - 3. A entrevista de Ana Lourenço a Miguel Sousa Tavares

Tenho respeito pelo percurso profissional de Ana Lourenço (AL) e Miguel Sousa Tavares (MST). Sou mesmo habitual leito deste último. Mas a entrevista de ontem, na SIC Notícias, de AL a MST não foi mais do que uma acção promocional, em prime time, integrada no lançamento do novo livro (“Rio das Flores”) de MST, da qual, aliás, não me parece nem MST nem a sua editora necessitarem. Ou tratou-se apenas de irritar o "Público" e "roubar", por momentos, a vedeta da concorrente TVI? Bom, no fim, depois de tanto charme despejado sobre MST, só faltou AL convidar este para jantar em “directo e ao vivo”. Senhora jornalista...

Quatro "posts" de actualidade - 2. O novo aeroporto e a ACP

A opção Portela +1 defendida pela Associação Comercial do Porto (e que este blog também tem defendido por razões que se não confundem e foram por aqui devidamente expressas e fundamentadas) não é, claro está, politicamente neutra: ela tem na sua base um modelo de desenvolvimento que, em poucas palavras, tenta evitar a polarização na área centro-sul, em torno de Lisboa, e valoriza uma maior autonomia do norte centrada na região galaico-duriense, transnacional. Claro que, vindo de onde vem, as suas conclusões são como a pescada: antes de o ser... Não é por isso inocente o destaque que o jornal “Público” e o seu director José Manuel Fernandes hoje lhe concedem. Não se poderá neste caso dizer “cherchez la femme”, mas nem sequer será preciso ser inteligente para procurar o “homem”. Enfim, embora seja a “minha” opção (sem TGV Lisboa-Porto, acrescento, o que certamente já não será defendido pela ACP) não será assim que se credibiliza a decisão a tomar.

Quatro "posts" de actualidade - 1. A deputada Luísa Mesquita

Ao contrário do que ela própria e outros afirmam (Jorge Coelho, por exemplo) a expulsão do PCP da deputada Luísa Mesquita está longe de se restringir a uma questão puramente administrativa: ela é, isso sim, política e ideologicamente determinada. Nos partidos comunistas, a subordinação do individual ao colectivo, e o primado deste, são parte integrante e fundamental (que está nos seus fundamentos e sem a qual não existem tal como os conhecemos) da sua ideologia, forjada na primeira e segunda vagas industriais, nas lutas pelos grandes contratos colectivos no tempo em que a organização industrial pressupunha enormes e pesadas estruturas hiper hierarquizadas e onde predominavam, a nível do operariado, as funções indiferenciadas, pouco qualificadas, repetitivas e, por isso, com salários idênticos. Onde a luta era muitas vezes desigual e difícil e efectuada em condições de risco elevado. É isto que está na base da matriz ideologica “colectivista” e anti-liberal (onde as liberdades individuais valem o que valem: pouco) dos partidos comunistas. Afastado este quadro - que apenas vai subsistindo com algumas dificuldades em alguns sectores da função pública - varrido pela globalização, pelas novas tecnologias e subsequentes novas formas organizativas empresariais, o PCP, tal como o conhecemos, tem dificuldade em subsistir, embora essa continue a ser esta a ideologia que lhe dá forma. Um pouco como acontece nas revoluções como a de Outubro, ex-libris do PCP: mesmo depois de destruído o aparelho de estado "burguês” “a mentalidade e comportamentos da antiga classe dominante continuarão a subsistir durante longos anos sendo necessário lutar contra ela de forma permanente para que não destrua a revolução”. Ironia, pois claro!

terça-feira, novembro 27, 2007

"Arte popular" no "Estado Novo" (8)

Capa de Almada Negreiros para a revista "Panorama" do SNI (1941)

O IGAI e o OSCOT - ou Clemente Lima vs Garcia Leandro

As afirmações do general Garcia Leandro, presidente do Observatório de Segurança, Criminalidade Organizada e Terrorismo, sobre a entrevista concedida ao “Expresso” pelo Inspector Geral da Administração Interna (uff!, denominações complicadas!), por alguma razão pondo em confronto um militar responsável pela segurança “pura e dura” e um civil, juiz, vêm mais uma vez pôr em evidência duas concepções diferentes, mesmo antagónicas e até inconciliáveis de país, de estado e de nação. Poderia dar-se o caso de reflectirem nada mais do que as funções conjunturais de cada um, mas são muito mais do que isso. De um lado, o de Clemente Lima (IGAI), vemos a ansiedade por um país mais europeu, uma sociedade mais aberta, mais plural e tolerante, mais cosmopolita, com níveis de educação em progresso, mais responsável e confiante na capacidade de iniciativa dos seus cidadãos, tanto a nível social como económico. Um país mais culto e confiante, que não hesita em olhar os seus problemas de frente, discuti-los com abertura e resolvê-los, porque os cidadão se querem menos dependentes da “segurança” do estado e das suas instituições. Que tenta ver ao longe. No outro, no de Garcia Leandro, revemos um pouco do Portugal do passado, autoritário q.b., provinciano e fechado sobre si próprio, pouco confiante na capacidade e espírito de iniciativa dos seus. Uma sociedade que gosta de ser ver tutelada e militarizada, de súbditos, de cultura retrógrada, governada pelas corporações para quem tudo está sempre bem excepto os meios sempre insuficientes que lhe são concedidos para que se calem e tudo fique na mesma.

No fundo, nada disto constitui novidade de maior e, mesmo que sobredeterminado por conflitos conjunturais, é algo que nos tem acompanhado durante, pelo menos, os últimos 200 anos. Também algo sobre o qual partidos e governo não deveriam ficar mudos e indiferentes. Ou apenas aproveitar a situação para chicana de oportunidade. É que é a isto que chamam política, sabiam?

segunda-feira, novembro 26, 2007

Cinema e Rock & Roll (14)

Adriano Celentano - "Ready Teddy" (in "La Dolce Vita" de Frederico Fellini - 1960)

Little Tony - "Che Tipo Rock" (in "I Teddy Boy Della Canzone" de Domenico Paolella- 1960)
Pois aqui, nesta ligação entre o cinema e o rock n’ roll nunca tinha a Itália passado. A explicação é bem simples: se em França o chamado movimento yé-yé ainda teve alguma importância e influência - questões de qualidade à parte, já se vê – e uma boa dose de imitadores aqui pelo “rectângulo”, em Itália a importância do rock terá sido bem mais diminuta, tanto quanto eu saiba, cedo silenciada pela proeminência internacional que o Festival de San Remo, com os seus Domenico Modugno, Gianni Morandi, Bobby Solo, Cinquetti e tutti quanti, conseguiu alcançar. Lembro-me, embora muito por influência de primos mais velhos, de duas excepções: Little Tony, que até era de S. Marino, e Adriano Celentano, ambos assim um pouco de Johnny Hallidays com um traço da comédia italiana dos anos sessenta de Sordi e Gassman.

Pois aqui ficam então dois exemplos: Celentano interpretando “Ready Teddy”, de Blackwell – Marascalco, no filme de... adivinhem lá, Frederico Fellini “La Dolce Vita” e Little Tony no filme de um tal Domenico Paolella chamado "I Teddy Boy Della Canzone" ambos de 1960. O ano de produção deve ser mesmo a única coincidência...

A selecção de Malta no grupo de Portugal e o autor deste "blog"

Como não poderia deixar de ser, este blog saúda e congratula-se com o facto da selecção nacional de futebol de Malta integrar o grupo de Portugal na qualificação para o Mundial de 2010. Integrar, disse bem, pois lutar pela qualificação é algo que seguramente não estará ao seu alcance. Mas, mais do que isso, o autor deste blog partilha ainda com a selecção maltesa algo mais do que um simples registo comum de antepassados e culturas: um dos “médios”, normalmente convocado e que fez parte do plantel no apuramento para o Euro 2008, ostenta, certamente com orgulho, o mesmo apelido, tão caracteristicamente maltês, que este que se assina. E, tanto quanto sei, até marcou um golo à Suécia, em jogo das selecções de sub – 21 disputado em 2005 que Malta perdeu por seis a zero. Pormenor: o golo foi na própria baliza, claro. Parentes afastados...

domingo, novembro 25, 2007

Em louvor do Inspector - Geral da Administração Interna

Pedra de toque importante na “civilidade” e qualidade de uma democracia é o modo como actuam e se comportam as suas polícias, a forma como se relacionam e interagem com os cidadãos e a sociedade, como se comportam no cumprimento dos seus deveres de combate à criminalidade e protecção dos cidadãos. O seu grau de profissionalismo e preparação, a adequação, em termos da proporção dos meios empregues, a cada uma das situações que enfrentam. Pela sua própria natureza e registo histórico, principalmente num país de larga tradição autoritária e de grau de educação abaixo de sofrível, a tendência para o autoritarismo, para a assunção fácil de uma política de intimidação e intolerância autistas em vez do objectivo de servir o cidadão, de arrogância para com alguém que até há bem pouco era “um seu igual” na modéstia, ou de vingança perante os que, por nascimento, educação ou dinheiro, sempre se habituou a invejar, são riscos enormes que só uma preparação de qualidade e um rigoroso controle permanente, sem transigências, permitem minimizar. Daí a extrema importância da entrevista ao “Expresso” do Inspector Geral da Administração Interna, Clemente Lima, que reputo de notável como exemplo de cidadania e empenhamento no caminho para um país mais civilizado, uma sociedade mais aberta e tolerante. Está lá tudo o que nos devia preocupar: a existência de uma polícia de carácter militar (para cidadãos de 2ª?) a par de uma outra civil; a desproporção dos meios muitas vezes utilizados contra delitos menores, inclusivamente o uso indiscriminado de armas de fogo; o desrespeito e a desconsideração pelo cidadão; a relativa impunidade dos agentes que prevaricam; o exibicionismo gratuito; os gastos inúteis e a falta de preparação técnica; a mentalidade obsoleta. Por fim, a proposta assumida de um futuro apenas com uma polícia, civil. É uma entrevista contra a corrente, quando o sentimento dominante na sociedade, mesmo dentro de uma esquerda normalmente mais liberal a anti-securitária (daí algum silêncio desta?), é no sentido de um reforço dos métodos e das práticas. Fez bem, o cidadão Clemente Lima: faz-nos acreditar no primado da inteligência e num país ainda com futuro. Respirável. Civilizado.

"When I woke up this morning" - original blues classics (17)

Alberta Hunter with Jack Jackson and His Orchestra - "Stars Fell On Alabama" (1935)

Alberta Hunter - "My Handy Man" (1981)

sábado, novembro 24, 2007

Aeroportos, ou um "post" simples de uma manhã de sábado

É comum os aeroportos guardarem o nome do local onde foram construídos (mesmo que seja o de uma pequena aldeia), ou então tomarem o nome de alguma personalidade política ou histórica do país onde se situam e, quando isso é possível, muitas vezes de um herói da aviação. É assim com Roissy – Charles de Gaule, Leonardo da Vinci – Fiumicino, NY – JFK, Washington – Foster Dulles, Francisco Sá Carneiro e Santos Dumont. Menos conhecidos serão os casos de La Guardia (NY), assim chamado em honra de um antigo mayor de NY com o mesmo nome, ou de Chigago O’ Hara (ou O’Hare), nome do aviador americano Edward O’ Hare, herói da WWII. Mais prosaicamente, temos os casos da Portela, Barajas, Orly e por aí fora.

Bom... mas a que propósito virá esta quase “lenga-lenga”? Muito simples. Ontem recebo uma mensagem via Skype enviada por um amigo que se encontrava em viagem dizendo que estava no aeroporto António Carlos Jobim. Sabendo que ele se desloca frequentemente pelo interior do Brasil, respondi, passados segundos, manifestando algum espanto (“onde raio fica isso?”), já que tendo eu viajado um par de vezes pelo país não me lembrava de qualquer aeroporto com tal nome, por muito que a música de Jobim me fosse familiar. Bom, talvez fosse um pequeno aeroporto da terra de naturalidade do homem, pensei, pois, sabendo-o “carioca” de vivência, poderia dar-se o caso de ter nascido casualmente em algum lugar ignoto. Mas não, desenganei-me segundos depois: o aeroporto António Carlos Jobim é agora, nem mais nem menos, o nome do “velho” Galeão "carioca"!

Bom, e que importância tem isto? Tem: não que o autor da “Garota de Ipanema” não mereça tal distinção (e muitas outras, claro), mas na próxima vez que me acusarem de politicamente incorrecto por dizer que brasileiro ou é tocador de samba ou futebolista – o que tem tanto de inocente e redutor como as anedotas que contamos dos alentejanos - que muito prezo - os franceses contam dos belgas, os ingleses dos irlandeses, os brasileiros dos portugueses e todos da tradicional – dizem - “forretice” de judeus e escoceses – poderei afirmar melhor a minha inocência. Para que a vingança seja completa, só espero - daqui a muitos anos, claro - ter ainda tempo de ver Congonhas ou Guarulhos, um deles, devidamente crismado de Aeroporto Edson Arantes do Nascimento, já que o homem até jogou no Santos que é ali "paredes meias". Que raio, Congonhas e Guarulhos sempre são nomes bem mais complicados de pronunciar do que Galeão e o genial Pelé será tão ou mais conhecido do que o também genial "Tom" Jobim!!!

sexta-feira, novembro 23, 2007

Fut(quê?)sal?

Há pouco, não resisti pela primeira vez a ver na televisão cerca de 2 minutos de um jogo de Futsal, o desporto suburbano por excelência. Portugal - Espanha, para o europeu do dito. Pareceu-me um misto de hóquei em patins sem stick e sem patins e de um campeonato de danças de salão sem o inerente kitsch, ou glamour de pechisbeque. Mas pelo entusiasmo com que o comentador (?) gritou um golo, parece-me temos por aí um potencial substituto do hóquei patriótico da minha infância. Será que alguém se terá esquecido de lhe explicar que o país já não é o mesmo?

Anglophilia (42)

Autumn's Covert Coat

quinta-feira, novembro 22, 2007

"Choque Ideológico"

“Choque Ideológico”, emitido pela RTPN, era o único programa regular interessante de debate político nas televisões portuguesas. E não por acaso: apesar de ideologicamente com posições bem definidas, a maioria dos participantes, para além de normalmente bem preparados, estava longe de quaisquer vínculos partidários demasiado definidos e castradores. Não sei se por isso mesmo, desapareceu, deixando o campo aberto e o monopólio ao inenarrável “Frente a Frente” da SIC Notícias. À atenção do PCP, normalmente tão lesto da defesa do “sector público”, eis um exemplo típico de como empresas do estado, esquecendo-se da sua tal função de “Serviço Público” (assim, com maiúsculas e tudo), podem funcionar, de facto, a favor e em favor do “privado”. Por mim, não vejo nisso problema de maior: por exemplo, a RTP e a sua má programação, com a respectiva queda de receitas publicitárias, ajudou durante os anos 90 à implementação das TV’s privadas e todos ganhámos com isso. O que me preocupa, isso sim, é se os portugueses, mesmo a minoria que vê os canais temáticos do “cabo”, já está de tal modo embrutecida que prefira os debates entre a “camarada” Odete e Narana Coissoró, o charme de Nuno Melo despejado sobre Ana Drago ou, para não deixar ninguém de fora, a verborreia de um tal Miguel Relvas ou daquele senhor do PS que acho que é de Angola e amigo de Mário Soares mas cujo nome me escapa, a uma discussão séria e aberta entre, por exemplo, Joaquim Aguiar e Paulo Varela Gomes. Prefere? Se calhar, sim...

No país dos sovietes (2)

Poster de autor desconhecido (1919)

"A general military training is a safeguard for freedom." Publisher: Vsebovuch, Moscow"(Lithography, 110.5x74.5 cm., inv.nr. BG L3/210)
"In the years following 1917, the Soviet Union is torn by a bloody civil war between the 'Reds' (the communists) and the 'Whites'. This poster calls for the farmers to fight on the side of the Reds."

História(s) da Música Popular (66)

The Righteous Brothers - "(You're My) Soul and Inspiration" (Barry Mann - Cynthia Weil)

The Righteous Brothers - "You've Lost That Lovin' Feelin'" (Barry Mann - Cynthia Weil)

The Brill Building (XVI)

Ora pois cá estão finalmente os Righteous Brothers (Bill Medley e Bobby Hattfield – morreu em 2003), que não eram irmãos e nasceram ambos em 1940, separados por cerca de um mês e pela distância que vai da Califórnia ao Wisconsin. E aqui estão, claro, pela mão de Barry Mann e Cynthia Weil que escreveram para eles os seus dois únicos #1: “You’ve Lost That Lovin’ Feelin’” (1964) e (“You’re My) Soul and Inspiration” (1966). Cá por mim, prefiro uma outra, “Unchained Melody” (#4 em 1965), onde o falsete de Hattfield faz gelar o sangue mais rapidamente do que o uivo do cão dos Baskervilles, mas essa não é de Mann e Weil e, assim, ficará para outras núpcias.

Pois o termo “righteous” estará aqui muito bem aplicado, já que era uma palavra utilizada correntemente no calão dos negros americanos para definir um músico de excepção, principalmente no jazz, e estas eram, de facto, duas vozes excepcionais da chamada “white soul”, das melhores que a pop/rock dos anos cinquenta gerou. A Medley calhavam os registos mais “baixos” e a Hattfield, para além dos falsetes, os tons mais “altos”. No caso de “You’ve Lost That Lovin’ Feelin’” reza a história que também alguns (registos) calharam a Cherilyne Sarkasian LaPiere, para o mundo e a posteridade conhecida por Cher, que foi utilizada por Phil Spector (ecce homo) como back up singer. Sim, porque estes são mais dois excelentes exemplos do “Phil Spector wall of sound”, o mais genial produtor de música popular de sempre e, ao que consta, um dos piores maridos de todos os tempos. Mas a vida é mesmo assim: cada um nasce mesmo para o que nasce!

quarta-feira, novembro 21, 2007

Portugal e a qualificação

Luís Filipe Scolari terá lido este post... E ainda bem, já que assim Portugal terá ganho a qualificação!

Grandes Séries (24) - Foyle's War 2


"Foyle's War" (início em 2002)
Tenho procurado, aqui pelo “Gato Maltês”, chamar a atenção para algumas excelentes séries de televisão, na sua maioria de origem britânica, que têm passado quase despercebidas, umas, ou mereceriam repetição, outras. Uma das últimas que mencionei chama-se “Foyle’s War” (rating 9.0 em 10 na IMDB) e tem sido exibida autenticamente à “trouxe-mouche” pela RTP 1, numa rubrica de cinema chamada “última sessão” nunca exibida antes da uma e trinta da madrugada. Que eu desse por isso – digo-o assim porque na programação até o título da série é omitido, sendo apenas mencionados os nomes dos episódios – foram exibidos 2 episódios, e se o primeiro (pelo menos dos que eu vi) correspondia, de facto, ao também primeiro na ordem original da série, do segundo já não direi tal: era o primeiro episódio da 2ª “temporada”, como agora se diz. Pelo meio terão ficado 3 episódios, perdidos, sabe-se lá, nas brumas do East Sussex, lugar onde tudo se passa.

Pois agora, depois de pesquisa aturada e de ter enviado um e mail para o provedor do tele-espectador (acho que é isto que eu sou), até agora não merecedor de qualquer resposta, fui surpreendido, ao consultar propositadamente o site da RTP, que esta programa emitir um novo episódio (“They Fought In The Fields” que a RTP traduziu (?) por “Combate no Campo” esquecendo-se que o original em inglês é retirado de uma frase de W. Churchill que com esta tradução (???) e fora do contexto perde todo o significado) no próximo dia 26 às... adivinhem lá... 3.15h da madrugada!!! E, claro, incluído na rubrica filmes e sem mencionar o nome da série! Brilhante! Mais brilhante ainda: trata-se do 3º episódio da 3ª “temporada”. Qualquer comentário adicional é desnecessário, e prefiro deixá-los com mais um clip da série.

(Mais uma vez) Um país de tristes, uma tristeza de país

Existe em Portugal uma cada vez maior ânsia de protagonismo gratuito, frequentemente convivendo, paredes meias, com uma premonição catastrofista caso não se tenham em conta as objecções e conselhos que essa ânsia de protagonismo tão “altruisticamente” faz disponibilizar. Querem um exemplo? Se é promulgada uma nova lei, imediatamente temos a associação de juizes, de magistrados judiciais, de oficiais de justiça ou das 1327, mais coisa menos coisa, polícias que existem em Portugal a protestar por ela ser incorrecta, inadequada, lesiva dos interesses da “classe”, do “grupo” do “país” ou da “comunidade”, tendo como consequência mais directa que, a prazo mais ou menos curto, o país será invadido por uma corja de assassinos à solta, no mínimo, tão terríveis e ferozes como Jack the ripper ou o malvado Moriarty.

Outro exemplo? Vão construir uma estrada, um caminho, um túnel, um beco ou umas “escadinhas” (que, para mim, se vão tornando em escadas á medida que a vida avança), daquelas que faziam o carácter de uma Lisboa do antigamente, e logo vem a pré comissão dos futuros utilizadores das “Escadinhas Do Lá Vai Um” dizer que elas constituem um perigo para a saúde pública, os gatos vadios, as velhinhas que dão milho aos pombos ou os (malfadados, digo eu) próprios pombos. Ou que, se o problema é o encerramento de uma maternidade na “Aldeia da Roupa Menos Branca”, lá para os lados da raia, teremos por certo a secção aldeã da Ordem dos Médicos e o presidente da Junta de freguesia local a vociferar “traidores, vende pátrias, Miguéis de Vasconcelos” que os portugueses agora irão nascer castelhanos e venerar Santiago em vez de S. Jorge.

É claro que, no fundo, isto até nos diverte antes de chegar ao ponto de se tornar maçador e nos fazer relembrar, brutalmente, a parvónia em que vivemos e o subdesenvolvimento que revela - e vai dando notícia de jornal e de noticiário da SIC -, mas o mais preocupante é a desvalorização que acaba por atribuir, como um todo, a todo e qualquer tipo de preocupações preventivas. Um pouco como a história dos lobos e da aldeia: um dia virão e ninguém vai querer saber do aviso.

segunda-feira, novembro 19, 2007

Sindicatos, governo e conflitos - e se crescessem?

Não sei se no caso concreto da Valorsul têm ou não razão, mas a verdade é que, em termos gerais e abstractos, os sindicatos “pelam-se”, actualmente, por conseguir criar qualquer pequeno conflito com a PSP ou GNR, partindo dele para, uma vez amplificado, chamarem a atenção para a natureza ”autoritária e “arrogante” do actual governo, uma das linhas de força da sua argumentação oposicionista. Estão no seu direito, claro, e o governo tem-se revelado suficientemente ingénuo para cair na “esparrela” ou então incapaz de controlar as forças que dele deveriam depender; mas o facto é que a estratégia dos sindicatos se está a começar a revelar como “rabo escondido com gato quase todo de fora”, o que também não abona lá muito em favor da sua inteligência e capacidade de actuação. Para ambos, neste caso, uma grande seta para baixo ou um bem visível sinal menos. E se crescessem?

domingo, novembro 18, 2007

Série "B" (10)


" From Hell It Came" de Dan Milner (1957)

Um pouco mais de "bola", se não se importam...

Se empatar com a Finlândia, a selecção portuguesa de futebol será apurada para a fase final do europeu sem conseguir ganhar a nenhum dos seus adversários directos, algo que deveria deixar os seus responsáveis bem pensativos. Independentemente de algumas outras causas, como ter jogado fora de casa alguns desses jogos com os jogadores ainda em forma deficiente, por via de início de época recente e “ressaca” do mundial, a questão-chave, essa, é bem outra: um meio campo de qualidade duvidosa*, melhor disfarçado quando Deco joga e está em forma, que não pressiona, tem dificuldades em fazer circular a bola quando pressionado e, como não pressiona, ganha poucas bolas perto da área contrária. Ressente-se a defesa, que é assim sujeita a uma sobrecarga de trabalho e vê muitas vezes aparecerem-lhe pela frente os adversários embalados e em velocidade (ver jogos com a Polónia), obrigando-a a recorrer à falta perigosa (ver jogos com a Sérvia). Falta também quem equilibre a equipa, leve o jogo à frente funcionando um pouco como um “elástico”. Deco fá-lo um pouco (sabe "unir" a equipa à sua volta), mas tem estado demasiado ausente e “fora de forma”.

Ontem Scolari fez pior: partiu a equipa em dois, desequilibrou-a, criou-lhe um enorme buraco no meio e foi o que se viu. Simão sabe jogar a nº 10? Sim, mas fazia-o no Benfica de Santos, num 4X4x2 em losango, sem extremos e com a mobilidade de Miccoli e Nuno Gomes, o que equilibrava a equipa no meio campo. Não é a mesma coisa do que jogar com extremos de grandes correrias como Quaresma e Cristiano, ainda por cima individualistas e com grande percentagem de perdas de bola, e com pontas-de lança de outro tipo, jogadores de área (muito bem vindos, aliás) como Almeida e Makukula.

Bom, se Scolari não quer ter um desgosto na próxima 4º feira e deixar um país em estado de choque, terá de reequilibrar a equipa, dotando-a de um meio campo mais consistente. Sem Moutinho, o mais parecido que se arranjaria com Deco embora uns degraus abaixo – é um bom jogador mas nunca terá categoria internacional, para isso faltando-lhe quilos e centímetros -, terá de utilizar mais um médio “de ligação”. Quem melhor faz de “elástico”, tendo já experiência internacional, é M. Fernandes, mas não tem jogado e é muito irregular. Assim, talvez Meireles, adiantando Maniche e tirando um dos extremos, sendo Quaresma o principal candidato por ser o que pior tem jogado, o que menos faz circular a bola e menos surge no meio, fazendo de segundo ponta de lança. Veremos se será suficiente... A propósito: No Estugarda, Meira joga por vezes a “pivot” defensivo. Já alguém disse isso a Scolari?

* Se é na defesa e ataque - este agora reforçado com Hugo Almeida a jogar com regularidade no Werder Bremen e com um internacionalmente experiente Makukula - que estão os jogadores de melhor nível internacional (Miguel e Caneira jogam no Valência, Carvalho e Ferreira no Chelsea, Meira no Estugarda, Pepe no Madrid, Andrade na “Juve”, Bruno Alves e Bosingwa no FCP lider do seu grupo na “Champions League” – Nani e Cristiano no Man. Un., Almeida no Werder Bremen, Quaresma no FCP, Simão já jogou no Barça e, enfim, não sendo o Atlético um grande clube sempre dá para jogar na Liga espanhola), o meio campo é, de facto, o parente pobre: apenas Deco. Petit é um jogador útil mas de qualidade mediana em termos internacionais, Veloso poderá ou não vir a crescer (é um pouco lento, pouco agressivo e por vezes desconcentra-se, tendo a vantagem de construir jogo desde o seu meio campo), Maniche tem demasiados altos e baixos e internacionalmente nunca se afirmou, Tiago anda perdido e de Fernandes e Moutinho já se disse tudo.

sábado, novembro 17, 2007

(Já que sábado é dia de "bola") A tecnologia e os erros dos árbitros

Sou dos que defendo a adopção pelo futebol de tecnologias que permitam a diminuição drástica dos erros de julgamento, concedendo assim aos árbitros um importante auxiliar na avaliação das situações de jogo quando a isso são chamados. Claro – desnecessário dizer ? - que adaptando a sua utilização às características do jogo, bastante diferentes, por exemplo, das do rugby, desporto que também bem conheço, muito especialmente no número e duração das interrupções. Uma delas – e deveria começar-se por aí – é a contagem do tempo de jogo, não existindo qualquer razão para que ele não seja electronicamente cronometrado, descontando as interrupções e limitando a tempo útil de jogo a, digamos, 30’ por cada parte.

Bom, mas daí a pensar que se eliminam os erros... Dois exemplos: hoje, no Finlândia – Azerbaijão, depois de ver o lance do 2º golo finlandês repetido três ou quatro vezes, de ângulos diferentes e em câmara lenta, continuo com dúvidas sobre a existência ou não de falta. Com outra interpretação, um amigo que comigo via o jogo dizia que a falta não oferecia quaisquer dúvidas. O mesmo acontece quanto a um golo anulado aos azéris por fora de jogo, só que aí as dúvidas eram de ambos. Os dois lances podem decidir da presença de finlandeses, portugueses ou sérvios na fase final do campeonato da Europa, o que significa o acesso ou não a uns largos milhões de euros – fora os dividendos políticos, claro. Conclusão: com ou sem meios tecnológicos... pobre árbitro!...

sexta-feira, novembro 16, 2007

O Portugal de Salazar (3), mas também do "reviralho" (1)




"Micas" - ou o Portugal de Salazar

Muito curioso o post de Carlos Abreu Amorim no "Blasfémias" sobre o facto da protégée de Salazar, Maria da Conceição Rita, “nunca ter falado de política com o ditador, não se ter apercebido da campanha de Delgado e não ter a noção da gravidade da guerra em África”. Nada de muito estranho, contudo: no Portugal de então pouco se falava de política, menos ainda nos meios afectos ao regime, muito menos com mulheres e nada com criadas, supondo que “Micas”, apesar de não o ser de facto, teria, vinda de onde veio, um estatuto que não andaria muito longe do reservado ao pessoal doméstico. O próprio facto de ter cursado a escola comercial, em vez do liceu, o confirma, pois esse era, no Portugal classista e de escassa mobilidade social de então, a máxima sorte a que poderia aspirar quem vinha de um meio humilde e conseguia ter acesso a um “padrinho” protector. Nada disto, portanto, individualiza o ditador, serve para dele traçar um perfil específico ou para descobrir paradoxos – nem CAA o afirma, note-se. Mesmo a própria campanha de Delgado, apesar da mobilização popular conseguida, terá passado quase despercebida fora de Lisboa e Porto – e Portugal era então um país rural – e dos meios comunistas e “reviralhistas” republicanos, mais alguns “curiosos” e aderentes tímidos ou mais ou menos tácitos de última hora. Quatro ou cinco mil pessoas nas ruas (ou mesmo 10. 000), pelos padrões de então e riscos que isso comportava (na "baixa" - contam-me - acabou a tiro e a carga da GNR), era uma multidão, os jornais (apenas o “Diário de Lisboa” e o “República” estavam ligados à oposição) eram lidos por uma elite e controlados pela censura e da rádio e televisão nem vale a pena falar.

Quanto ao facto de Maria da Conceição Rita escolher Aristides Sousa Mendes como o segundo “melhor português de sempre”, a seguir a Salazar, nada de especialmente estranho, muito menos paradoxal. Tal como Salazar quando a protegeu a ela, “Micas”, e lhe deu a oportunidade de escapar ao seu destino, também Aristides Sousa Mendes protegeu os mais fracos e necessitados, dando-lhes uma oportunidade de, também eles, escaparem a esse mesmo destino, no caso a morte quase certa nos campos de extermínio. Desconhecedora da política e do mundo (este reduzido "ao seu mundo") ambos, Salazar e Sousa Mendes, para Maria da Conceição Rita foram homens que pautaram a sua vida pela dedicação e bondade, pela devoção a uma causa, pela vontade de abdicarem de si próprios em prol do “bem fazer”. Uma escolha "lógica", portanto!

quinta-feira, novembro 15, 2007

"One million dollar question"

Como estará o projecto, prometido por António Costa, de reformular a divisão administrativa da cidade de Lisboa e das 53 freguesias 53 em que esta se divide? Algo já foi iniciado? Alguns estudos preliminares e exploratórios? Existe um calendário definido para o mesmo? Alguma task force? (ou “unidade de missão” como é de bom tom agora dizer-se em linguagem de estado).

Muitas perguntas? Para já muito poucas respostas... e bem necessárias elas seriam!

terça-feira, novembro 13, 2007

História(s) da Música Popular (65)


Gene Pitney - "I'm Gonna Be Strong" (Barry Mann - Cynthia Weil)

Gene Pitney - "Looking Through The Eyes of Love" (Barry Mann - Cynthia Weil)

The Brill Builiding (XV)
Quando falamos de Gene Pitney (1940 - 2006) temos de ter em atenção que estamos naquele período de refluxo do rock n’ roll, entre 1958 e a ""British Invasion. De qualquer modo, Gene, que sempre foi mais popular no UK do que nos USA apesar de ser natural do Connecticut, tem indiscutivelmente qualidades acima da média de alguns outros “clean cut, boy next door” que fizeram muito do que foi a época. Uma das razões que fizeram o seu sucesso , para além da sua angustiada e melodramática voz um pouco à semelhança de um Roy Orbison pós rockabilly e Sun records, foi o seu talento enquanto compositor, bem expresso no maior êxito das Crystals (“He’s A Rebel”), já não falando do sucesso de um outro "cleen cut", menos crooner e mais "teenage idol", “Hello Mary Lou” de Ricky Nelson. Não nos enganemos, pois, e não tratemos de incluir tudo no mesmo saco da mediocridade, já que não era qualquer um que trabalhava com Phil Spector no Brill Building ou com Andrew Loog Oldham, manager dos Stones e amigo do dito Spector. Aliás, Gene acabou por gravar “That Girl Belongs To Yesterday” de Jagger e Richards. Mas se se quiser ter uma ideia mais próxima do percurso de Gene Pitney (sem exagerar, claro, já que também não é caso para tanto) sugiro o CD da Castle “The Collector Series”, que até é barato e bastante abrangente.


Mas estamos também é a falar de Barry Mann e Cynthia Weil, não é? Pois claro, e Mann e Weil foram autores de dois temas de Gene Pitney: “I’m Gonna Be Strong”, que chegou a #9 nos tops, e “Looking Through The Eyes Of Love”, que não conheceu sucesso semelhante. Aqui ficam, pois, também como exemplo da tal voz melodramática e plangente de Gene Pitney.

segunda-feira, novembro 12, 2007

A Espanha e o seu rei

Pela especial importância política que assumiu na, também ela muito particular e sensível, transição democrática de Espanha, pelo papel desempenhado na tentativa de golpe de estado de Fevereiro de 1981, pela própria natureza do estado espanhol e das várias nacionalidades que o compõem, se quisermos ir mais longe, pela questão do regime que dividiu a Espanha durante a Guerra Civil e, depois, pelo contencioso com o franquismo protagonizado por seu pai, D. Juan de Borbón, Conde de Barcelona, o rei de Espanha, D. Juan Carlos, assume uma importância política que vai muito para além do habitual papel reservado a um monarca constitucional nas diversas monarquias europeias. Mais do que nos interrogarmos sobre o facto de ter sido ou não eleito, como o faz Daniel Oliveira no Arrastão, o que é absolutamente redutor (todas as democracias europeias – monarquias ou repúblicas - têm orgãos de estado ou de soberania, não legislativos ou executivos, não eleitos), a questão a colocar é se um monarca constitucional deve estar presente numa cimeira política como e com as características da Ibero-Americana, para além do seu papel de representação de estado. Estou quase certo a nenhum outro isso se permitiria, e que só a muito especial condição que envolve a figura de D. Juan Carlos, em função do papel político que efectivamente desempenha e acaba por transcender de facto as suas meras funções constitucionais e protocolares, o torna possível e permite que assuma um protagonismo para além do que é habitual em cargos semelhantes. Mas foi também essa mesma condição que lhe permitiu mandar calar Chavez, atitude, de facto, política (independentemente do que se pense do presidente venezuelano e eu penso mal) impensável em qualquer outro monarca europeu e que está a deixar a Espanha, o PP e o PSOE à “beira de um ataque de nervos”. Mas... exactamente pelo que se afirma acima, resistirão a monarquia e a Espanha ao desaparecimento, um dia, do seu actual rei?

Exploitation (7)

"The Devil's Wedding Night" de Luigi Batzella (1973)

domingo, novembro 11, 2007

Remembrance Day

Hoje, dia 11 de Novembro, em que se celebra o dia o armistício que pôs fim á Grande Guerra (às 11 horas de dia 11-11-1918), milhões de britânicos usam esta papoila na lapela, símbolo do seu respeito por aqueles seus concidadãos que morreram nessa guerra e nas restantes, fossem elas justas ou injustas. Em Portugal, quando eu era criança e ainda havia alguns sobreviventes da participação portuguesa na Flandres, o meu pai, que nunca sequer foi militar, mesmo do serviço obrigatório, ostentava durante alguns dias, na sua lapela, não me lembro se nesta altura se em Abril, quando do aniversário da batalha de La Lys, uma miniatura de capacete militar, símbolo da sua homenagem aos que aí tinham morrido e também da sua contribuição para que essa memória se mantivesse viva. Talvez fosse também uma maneira daqueles que contestavam a ditadura isolacionista afirmarem essa sua oposição e a adesão aos ideais da República, admito-o, mas penso isso acabava por se diluir na homenagem sincera aos antigos combatentes.

Depois, os já raros sobreviventes da Grande Guerra foram desaparecendo e Portugal não tinha participado na II Guerra, a da geração do meu pai. E, com a guerra colonial, o termo combatente ou antigo combatente tomou conotações ideologicamente muito definidas, à direita: a ditadura fomentou-o, à esquerda radical deu-lhe algum jeito e os antigos combatentes, infelizmente, deixaram que isso assim acontecesse. É pena, pois Portugal tem bem razões para se lembrar de todos aqueles que, um dia, pelas boas ou más razões, independentemente da sua vontade ou determinados por ela, em ditadura ou democracia, mesmo que numa guerra injusta, morreram ou se sacrificaram, por vezes sabe-se lá porquê e até contra as suas ideias e ideais, nos campos de batalha de uma qualquer guerra. Até por que é a uma dessas guerras, embora injusta e muito por essa razão, que Portugal deve a democracia e a liberdade, enfim, um passo muito grande no caminho daquilo que conhecemos como fazendo parte da civilização.

sábado, novembro 10, 2007

A Guerra Aqui (mesmo) Ao Lado (28)

Columna de Hierro. Campesino, la revolución te dará la tierra. (Signed: Bauset. A.I.D.C. Gráficas Valencia, Intervenido, U.G.T. C.N.T. Lithograph, 4 colors; 163 x 117 cm.)
"In this poster, a farm laborer-turned-militiaman has impaled a monstrous representation of capitalism on his rifle and is tossing the man over his shoulder like a bale of hay. The laborer, depicted in red tones to indicate his revolutionary character, stands astride an outline of the Iberian Peninsula, thus adding visual support to the caption, which reads: "Land worker! The revolution will give you the land."
At the beginning of the war, the left-wing trade unions of both Barcelona and Valencia, among which the anarcho-syndicalist CNT was the most prominent, defeated the local military insurrectionists and took de facto control of their cities. At this juncture, many anarchist groups began to collectivize industry and agriculture, believing that the long-awaited revolution was upon them. Anarchist propaganda emphasizes the revolutionary nature of the struggle. This poster, commissioned by the radical anarchist militia unit Columna de Hierro (Iron Column), makes no reference to either war or fascism, but addresses itself directly to the overthrow of capitalism, the Anarchists' ultimate aim. The desire for revolution was not, however, shared by the Anarchists' partners in the Republican government, the Socialists and Communists, who wanted to present a moderate face to the Western democracies in a bid to gain their support. For this reason, communist and socialist propaganda stresses the need to defeat fascism, the importance of uniting together to fight the war, not to stage a revolution.
This poster was produced under the aegis of the two trade unions, the socialist-revolutionary UGT and the anarcho-syndicalist CNT. These two bodies took over Valencian industry in the first days of the Civil War and continued to control it until some time after the Republican government transferred from Madrid to Valencia in October 1936. We can thus date this poster to the first months of the conflict. The letters AIDC are the acronym of the anti-fascist intellectual organization, the Asociación Intelectual para la Defensa de la Cultura, founded in Barcelona in January 1936. Of the artist Bauset little is known, other than the fact that he studied under the celebrated Valencian photomontage artist, Josep Renau, before the war.

sexta-feira, novembro 09, 2007

Porque é que os sindicatos só conseguem mobilizar os funcionários públicos?

Se existe algo que reflicta bem o carácter obsoleto de um sector esse algo é a capacidade e poder de mobilização que os actuais sindicatos ainda conseguem ter na função pública, incluindo os professores. Numa época em que no sector empresarial isso só é conseguido, e mesmo assim empresa a empresa, em situações-limite de enceramento ou perspectivas de diminuição drástica dos postos de trabalho (com excepção da “Auto Europa” onde o sindicalismo é de outro tipo), esta é claramente uma excepção, fruto de um sector onde a modernização não chegou. E isso, essa capacidade de mobilização sindical, não é mais do que fruto uma organização demasiado hierarquizada e burocratizada, centralizada, com carreiras perfeitamente estanques, em que existem demasiadas funções indeferenciadas preenchidas por trabalhadores com poucas qualificações e em que a progressão não é definida por avaliação e mérito. Em que tanto faz ser professor de matemática ou trabalhos manuais, na Cova da Moura, Rebordosa do Mondego ou na Lapa. Em que todos chegarão a “coronéis” que, como se diz na tropa, “é um alferes que não morre”. Digamos que na FP há demasiado trabalho igual para demasiado salário igual.

Uma reforma profunda da Administração tenderá a alterar este estado de coisas, ferindo de morte a capacidade de mobilização deste tipo de sindicalismo e abrindo caminho a outro. Daí que os actuais sindicatos e ela resistam com todas as suas forças; daí que nunca essa reforma possa ser feita sem os afrontar directamente. Quem disser o contrário, apenas o fará em nome do oportunismo político. É pois dessa capacidade política do governo que depende o seu sucesso. Mas se, depois de olharmos com atenção o CV da grande maioria dos deputados, descobrirmos onde são maioritariamente recrutados e de onde são originários, será tempo de começarmos a ter dúvidas. Muitas dúvidas.

Mariza e o "Grammy"

Não sou fan de Mariza, e a sua música, uma amálgama de fado-canção, folclore, música ligeira e "world music" construída propositadamente na mira de um reconhecimento internacional com selo de “qualidade”, é-me perfeitamente indiferente ou até menos do que isso. Como indiferente me é o facto de ter ou não ganho o “Grammy”; como igualmente indiferentes me são os ditos "Grammy Awards". No entanto, a algo devo tirar o chapéu: uma campanha promocional e de comunicação extremamente bem elaborada tendo por base a sua nomeação para os "Grammy". Mariza, sabendo que poucas hipóteses teria, jogou tudo num concerto em Lisboa ao estilo “Pavarotti & friends”, simultâneo ao anúncio público dos prémios, e, assim, pôde dizer que tinha preferido “estar com o seu público”, uma atitude demagógica que lhe valeu aplausos frenéticos dos seus indefectíveis e destaque nos noticiários da manhã, minimizando, ou até mesmo fazendo esquecer, o que poderia ter sido a desilusão de não lhe ter sido atribuído o tal "Grammy", transformando a derrota em vitória.

Claro que poder-se-á sempre dizer: “e se tivesse ganho”? Melhor ainda para a demagogia: “apesar do reconhecimento internacional, Mariza ter-se-ia mantido fiel às suas origens e ao seu público, blá, blá, blá”. Demagogia barata? Claro que sim; bastante. Mas demagogia bem feita. Chapeau!!!

quinta-feira, novembro 08, 2007

História(s) da Música Popular (64)

The Ronettes - "Walking In The Rain" (Barry Mann - Cynthia Weil)

The Brill Building (XIV)

Ora a propósito de Barry Mann e Cynthia Weil, vamos lá pela primeira vez falar das Ronettes, duas irmãs, Veronica e Estelle Bennett , e uma prima, Nedra Talley, nascidas e criadas em NY. Veronica casaria mais tarde (1968) com Phil Spector, casamento que duraria até 1974, sabe-se lá bem como, acrescento, face ao que hoje conhecemos da personalidade do genial Spector. O que é também interessante no caso das Ronettes é que são bastante fruto de um acaso (o que nada desmerece do seu valor), pois encontravam-se casualmente à porta do Peppermint Lounge quando foram confundidas com um grupo contratado. Parece que se saíram bem, com uma versão de “What Did I Say” de Ray Charles, e isso foi apenas o começo. O tema que Mann e Weil compuseram para o grupo, “Walking In The Rain”, nem sequer foi o seu maior sucesso - esse foi “Be My Baby”, da também dupla do Brill Building Jeff Barry – Ellie Greenwich -, mas foi o segundo maior, chegando a #23 em 1964. Mais importante, é um excelente exemplo do que ficou conhecido para a história como “Phil Spector wall of sound” , um som denso e saturado que o próprio Spector denominava como a abordagem Wagneriana ao rock n’ roll. Um exagero, claro, mas de Spector não seria de esperar outra coisa, ou melhor, seriam de esperar coisas bem piores. Mas pronto, Spector foi tão importante que estamos aqui fartos de falar dele sem que ainda tenhamos chegado ao capítulo que lhe será dedicado. Bom, ainda não será da próxima vez, já que teremos ainda muito para falar sobre o Brill Building. Por exemplo, dessa próxima vez voltaremos para trás para falar dos temas de Mann e Weil para os Drifters e Gene Pitney. Até lá, aqui ficam as Ronettes.

quarta-feira, novembro 07, 2007

As Capas de Cândido Costa Pinto (36)

Capa de CCP para "O Relógio Falante" de Frank Gruber, nº 81 da "Colecção Vampiro"

"In thin air"...

Tal como a esquerda mais radical nos anos sessenta e setenta com o qual partilha mesmo algumas das suas mais destacadas personalidades, a nova direita não institucional (vamos chamar-lhe assim por comodidade), que tem a sua expressão mais evidente na "blogosfera" mas nela não se esgota, tem o seu quê de moda. Como tal, é por vezes irreverente, outras interessante e inovadora, não raramente lhe achamos graça e até arriscamos a ser por ela seduzidos. Aqui e ali, até podemos adoptar algumas das suas inovações. Mas, como qualquer moda que se assuma e se preze, é muitas vezes somente espampanante, iconoclasta e apenas destinada a embasbacar, vazia de conteúdo e com exclusão de qualquer outro objectivo que não seja o “choque e espanto”, que não seja alimentar-se e esgotar-se de si, para si e em si. Por vezes, faz-me mesmo lembrar o glam rock á procura do seu Bowie... Também, como moda que é, aderem a si, maioritariamente, os mais frívolos e que esperam um reconhecimento fácil, embora, aqui e ali, existam excepções que um dia servirão para confirmar a regra – e felizmente que assim é.

Como moda, e como a esquerda mais radical dos anos sessenta e setenta, tenderá a desvanecer-se com alguma rapidez, in thin air. Espero ainda vir a ter a oportunidade para ver o que fica.

terça-feira, novembro 06, 2007

Cinema e Rock & Roll (13)


"That Thing You Do" de Tom Hanks (1996)

Um salto de muitos anos, até 1996, originado por uma simpática discussão/debate/conversa com “Os Dias da Música” sobre “one hit wonders” e para um bem divertido filme de e com Tom Hanks sobre uma história de um... “one hit wonder”. Acho, mesmo, que o único filme sobre o tema, na ligação, só excepcionalmente feliz, entre o cinema e o rock n’ roll. A banda, muito apropriadamente, chama-se “The Wonders”, o tema, que também dá o título ao filme, “That Thing You Do” e Hanks o produtor. A acção, claro, passa-se em 1964, no início da “British Invasion”, o que se pode verificar perfeitamente pelo modo como o “Liverpool sound” influencia musicalmente o tema que é sucesso e faz também o efémero sucesso da banda, embora o look seja mais Buddy Holly and the Crickets.

Como disse, o filme é bem recomendável, mesmo em DVD, e apresenta mais duas curiosidades: a presença, como actores, de Chris Isaak e do realizador Jonathan Demme (“Silence Of The Lambs” e “Philadelphia”, por exemplo). Um serão bem divertido, muito especialmente para quem gosta e se interessa por estas coisas da música e do rock n’ roll. Divirtam-se, pois!

Cá se fazem?... cá se esbanja!

Em plena globalização, em que marcas e produtos da mesma marca são produzidos indiferentemente neste ou naquele país, por vezes em vários simultaneamente, em que a origem não é, na maior parte dos casos, indicada ou claramente visível (fabricado na UE é uma menção comum, por exemplo), que integram componentes de origem diversa, que sentido faz apelar a “comprar português”?

O que é que isso significa exactamente? Por exemplo, quando se compra um Volkswagen fabricado em Palmela, na Auto-Europa, está-se a comprar português? E um vinho “Finca Flinchman”, produzido pela portuguesa Sogrape na Argentina? Quando se compra um pão da BIMBO, marca pertencente a uma multinacional americana cuja produção para o mercado português é assegurada por fábricas portuguesas e espanholas e cujo mercado o recebe de ambas as origens consoante a região onde é distribuído, estamos a falar de quê? E uma aguardente Macieira, marca do grupo “Pernod - Ricard? Outro exemplo: quando a Pescanova começar a produzir pregados (acho vão ser pregados, mas tanto faz, pode ser besugo, marmota ou chaputa) nas instalações de Mira, o peixe é português?

Estamos a falar, portanto, de empresas portuguesas (conhecemos os detentores do capital?), marcas portuguesas (como o sabemos?), fabricadas em Portugal (a mesma marca e o mesmo produto podem ter proveniências diferentes) ou dos famigerados “centros de decisão nacionais” (vão lá explicar isto a 99% dos consumidores!)? Que confusão, não é?
Bom, por último, quando o governo e os partidos do chamado “arco governamental” apelam (quanto a mim, bem) a um aprofundamento político da UE (um espaço de livre circulação de pessoas, produtos e serviços; de soberania partilhada) através da aprovação do Tratado Reformador, quando se incentivam (e muito bem) as empresas portuguesas à internacionalização, que sentido faz uma campanha deste tipo apelando a valores nacionalistas (ou pelo menos a alguns deles)? Não será completamente off strategy? Não seria interessante ver a campanha avaliada e os resultados dessa avaliação publicados? Já agora, quem foi o da “boa ideia” de assim esbanjar o dinheiro dos cidadãos-contribuintes?

segunda-feira, novembro 05, 2007

A reforma da administração pública e o silêncio da oposição

Ouve-se um silêncio ensurdecedor da parte da oposição sobre aquele que é até hoje o maior fracasso do actual governo, tratando-se, mais a mais, de um projecto-chave para o futuro do país: a chamada “Reforma da Administração Pública”. Será justo dizer porque o contrário significaria fazer recair sobre si o ónus de uma política cujas consequências serão necessariamente impopulares para muitos milhares de cidadãos?

"When I woke up this morning" - original blues classics (16)


Memphis Minnie (1897 - 1973) - "Where Is My Good Man At"

Daniel Oliveira e as posições europeias do "Bloco"

Daniel Oliveira retoma hoje no seu “Arrastão”, e a propósito das convicções anti referendárias de Vital Moreira, a explicação sobre as posições europeias do “Bloco de Esquerda”. Árdua tarefa, pois, como bem diz hoje no “Público” o próprio Rui Tavares, “a sua posição simultaneamente anti-Tratado e pró-Europa não vai ser fácil de explicar”. Pois não! Aliás, parece-me que no seio do “Bloco” a questão talvez seja bem pouco consensual, e esta aparente “quadratura do círculo” corresponda mais a uma “fuga” e a uma qualquer “coisa nenhuma”, capaz de realizar a síntese dialética entre posições contrárias, do que a qualquer posição “de fundo”, estrategicamente assumida. Ou então... Sim, eu sei que “todo o mundo é composto de mudança”, mas seria interessante, a este propósito, revisitar as opiniões de UDP e LCI quando da adesão à então CEE. Adiante...

Bom, coloquemos também agora de parte a questão das democracias plebiscitárias e referendárias, em termos gerais e abstractos, e vamos directos ao assunto.

Critica Daniel Oliveira em Vital Moreira a afirmação de que “quem é contra este tratado é contra a UE”. Não o direi de forma tão fundamental, mas sem dúvida que votar “NÃO” a este tratado, neste momento e não em qualquer outro tempo abstractamente definido, significa colocar a ideia UE em sérias dificuldades e levantar graves entraves ao seu aprofundamento político. Este é o resultado - e foi isso que aconteceu com os referendos em França e na Holanda - e não o reforço da Europa social, independentemente das motivações do voto de cada um, e é exactamente este o desígnio político da direita eurocéptica e atlântista, aliada conjuntural do PCP qual pacto germano-soviético dos tempos pós-modernos. Aliás o “Bloco” bem podia ter aprendido um pouco com o que aconteceu em França - e abandonar o papel de “idiota útil” - onde o voto “NÃO” de alguma esquerda “basista”e blasé, com as lutas internas a servirem de catalizador, acabou por fazer mergulhar a UE na sua maior crise de sempre e fazer recuar alguns anos a ideia de uma futura Europa federal que Daniel Oliveira diz defender. Não é ainda a Europa das ambições do “Bloco”? Admito que não - felizmente para uns e infelizmente para outros, não importa - mas a pergunta que o BE deve colocar a si próprio é a seguinte: “porque, e em nome de que valores, é que, votando contra um Tratado que continua a manter a Europa como o espaço político democrático onde a protecção e os direitos sociais são os mais elevados e onde posso continuar a bater-me com toda a liberdade pelas minhas ideias e convicções, me vou a aliar a sectores conservadores e nacionalistas, uns, ultra liberais e atlântistas, outros, e “estalinistas”, os restantes, na recusa de um aprofundamento político da União? Será, mais uma vez, a velha e relha ideia do social-fascismo, que deu no que deu? Ou apenas um pouco diáfano manto que cobre uma posição anti europeísta e isolacionista que o Bloco sabe poder correr o risco de colher pouca simpatia em meios jovens e urbanos, formados no "inter-rail" e no "Erasmus", do seu eleitorado? Sem esperança, aguardo resposta.

domingo, novembro 04, 2007

Grandes Séries (23)


Video clip de lançamento do último romance de Minette Walters "The Chameleon's Shadow"
Será talvez estranho falar de um (a) autor(a) de livros para referir uma série de televisão, mas é essencialmente disso que se trata. Primeiro, porque não vou falar de um série, no sentido habitual do termo, mas num conjunto de mini-séries, cada uma delas normalmente “passada” em dois ou três episódios de cinquenta minutos. Segundo, porque existe um denominador comum a todas elas e que lhes imprime um carácter de conjunto, e esse denominador chama-se Minette Walters, a autora dos livros que lhes deram origem e seguramente a mais conceituada e premiada autora contemporânea britânica de romances policiais (psychological thrillers, para ser mais exacto nas definições).

Cinco desses seus romances foram adaptados para televisão - "The Sculptress" (1996), "The Ice House" (1997), "The Scold’s Bridle" (1998), estes dois últimos os meus favoritos, "The Echo" (1998) e "The Dark Room" (1999) – e por essas adaptações passaram actores como Daniel Craig ("The Ice House") - actual James Bond -, Miranda Richardson ("The Crying Game", de Neil Jordan, por exemplo), Bob Peck ("The Scold’s Bridle") e Clive Owen ("The Echo"), Sir Walter Raleigh no filme “Elizabeth” actualmente em exibição. Por cá, foram por aí passando, tratados “à trouxe- mouxe” como algo a que apenas se recorre para preencher horas de exibição, acho que na Sic Mulher, no People & Arts, talvez na RTP2 e até, se calhar, no Hollywood. Embora de qualidade desigual ("The Dark Room" é talvez o mais fraco, sem que isso signifique não valha a pena ver) estão longe de merecer tal desconsideração, muito antes pelo contrário. Conclusão: talvez recorrer à Amazon, santa protectora de quem se sente ostracizado por não alinhar em massificações.

sexta-feira, novembro 02, 2007

O Mundo em Guerra (40)

USA

Classes sociais e escolha da escola

Por muito que se diga o contrário ou se tentem camuflar as verdadeiras razões da decisão, para quem tem possibilidades de o fazer, a escolha da escola, pública ou privada, ou uma qualquer de entre estas, tem muito mais a ver com uma questão de meio social e valores do que com a qualidade efectiva do ensino aí ministrado. E, diga-se, isto nada tem de “mal”, já que é perfeitamente legítimo que uma família, que o possa fazer, queira ver prolongada na escola a educação, ambiente, vivência, etc, que os filhos tenham em casa. Já era assim quando eu era aluno, e o normal era os filhos das classes mais altas frequentarem o ensino privado na primária (que correspondia então ao ensino obrigatório) não só porque desse modo “não se misturavam” nem se expunham ao “choque” classista (e a diferença de “classes”, linguagem, modo de vestir e comportamento era então bem mais vincado) como, não existindo ensino infantil do estado e sendo comum os filhos das famílias que o podiam fazer frequentá-lo desde os três ou quatro anos, não faria sentido mudarem quando chegassem à 1º classe. Nada que tivesse que ver, portanto, com a qualidade do ensino “oficial” que, me lembro, não estaria minimamente em causa. Uma vez chegados ao secundário (já não obrigatório) o panorama era radicalmente diferente, já que a maioria dos alunos oriundos da “escola oficial” - os das classes mais baixas - ou ia para a “escola técnica” aprender uma profissão ou, pura e simplesmente, deixava de estudar. Este era o panorama na minha geração, com poucas excepções, e devo dizer que, dos amigos e colegas de estudo e brincadeira de infância, apenas me lembro de um que tinha frequentado a escola oficial na primária e as excepções que passaram por escolas privadas no secundário tinham-no feito principalmente em escolas de “nacionalidade” ou católicas (neste caso, principalmente raparigas), por motivo de ascendência nacional ou opção de educação religiosa. Do mesmo modo, e restringindo-me ao ensino público, nenhum dos meus amigos de infância frequentou o “Passos Manuel” ou o “Gil Vicente” – nem que para o evitar fosse necessário recorrer a cunhas ou moradas de familiares - liceus situados em zonas de bairros populares, mais pobres, e cuja frequência reflectia essa mesma realidade. Não me consta o ensino fosse de pior qualidade ou a indisciplina, em plena ditadura, por lá grassasse.

O panorama, no que diz respeito à decisão sobre a frequência de uma escola, não se terá alterado assim tão radicalmente, apenas com a diferença de que a escolaridade obrigatória é agora de nove anos, o que “estende” até ao 9º ano a equação dantes enfrentada e resolvida para apenas quatro anos. Por exemplo, os meus filhos frequentaram colégios privados até ao 9º ano e, de seguida, completaram o secundário e a universidade em escolas públicas, num caso (UCP - Lisboa), digamos, semi-pública.

Reduzir a decisão de “escolha” da escola apenas à questão da “qualidade” do ensino de per si – como se essa qualidade constituísse uma entidade teórica isolável de todos os outros parâmetros -, expressa através da respectiva posição nos rankings (atenção: não sou contra a sua existência), sem ter em conta todas as outras questões em que uma decisão desse tipo normalmente se baseia, a maioria delas de carácter "social", é portanto uma falácia, tanto quanto o será pensar que uma escola pública onde a qualidade de ensino assim considerada seja excelente, independentemente de onde se localize ou quem maioritariamente a frequente, verá a si acorrerem milhares de alunos, oriundos das classes altas, ansiosos por tal experiência.
Alguma seriedade na discussão, pede-se...

Os "rankings", o "estatuto do aluno" e o "cheque-ensino"

Existe um elemento ausente/presente mas impossível de ignorar nas actuais discussões sobre o ensino público e privado suscitadas de novo pelos rankings escolares e pelo “estatuto do aluno”: ele chama-se “cheque-ensino” e é determinante, tal qual as posições, favoráveis ou desfavoráveis, assumidas por cada um face à sua adopção, e não ter isso em conta – isto é, presente – mesmo que na maior parte dos casos ele não seja sequer citado ou mesmo aflorado, é o mesmo que discutir religião sem sequer ter em conta a existência ou não de Deus e a posição de cada um perante essa questão.

As próximas decisões do PS e do governo e as legislativas de 2009

Existem duas decisões políticas de fundo a serem tomadas pelo governo nos próximos meses que irão ajudar a definir muito do seu futuro político, e do PS, nas legislativas de 2009: a questão do referendo sobre o Tratado Reformador Europeu e o futuro do aeroporto de Lisboa.

Sou, por princípio e em termos gerais e abstractos, contrário às “democracias” plebiscitárias e/ou referendárias (e não vem aqui ao caso a minha posição favorável ao federalismo europeu), com possível excepção para questões simples e concretas de âmbito local, mas reconheço que, no primeiro caso, uma decisão favorável ao referendo, até pelo contraste que estabeleceria com a decisão já tomada pelo PSD, iria, disso não tenho dúvidas, contribuir para um aumento da popularidade do governo, mais a mais quando se lhe apontam vícios vários de autismo e arrogância. Se este assim o decidir, será uma decisão irresponsável, ditada pela demagogia e o eleitoralismo fácil, arriscando-se a comprar um conflito com os seus parceiros europeus e, eventualmente, com o Presidente da República e a contribuir para hipotecar o futuro do aprofundamento político da União em troca de uma cedência aos vários eurocepticismos e basismos, por princípio seus adversários políticos, à esquerda e à direita. Mais ainda, arrisca-se a uma participação ridícula (não será pessimismo prever uma afluência na casa dos 30%) e, no caso de derrota (será de prever que apenas os partidários do “NÂO” serão susceptíveis de uma mobilização significativa), a actuar tal qual qualquer aprendiz de feiticeiro, criando um problema cuja necessária solução futura, por burocrática ou de gabinete mas sempre obnóxia, o colocaria numa situação de fragilidade política extrema, interna e externamente, e o afastaria ainda mais de qualquer pretensão de popularidade futura.

Quanto à nova estrutura aeroportuária, sabida da oposição da maioria dos portugueses, tem aqui o governo uma oportunidade de se tornar mais popular tomando uma decisão baseada na razoabilidade e num consenso alargado, definindo um corte, se não radical pelo menos significativo, com o modelo de desenvolvimento adoptado nos últimos decénios. Desconheço qual o grau dos compromissos já assumidos, mas, estando de fora, não me parece que, aqui, a decisão mais popular fosse coincidente com a decisão de risco ou com a decisão errada, antes pelo contrário. Enquanto adversário do projecto “grande cidade aeroportuária” e também enquanto cidadão e eleitor desconfiado da credibilidade das alternativas ao actual governo, espero bem que o governo tome uma decisão sensata. Terá tudo a ganhar, ele e nós.

quinta-feira, novembro 01, 2007

História(s) da Música Popular (63)

The Crystals - "Uptown" (Barry Mann - Cynthia Weil)

The Crystals - "He's Sure The Boy I Love" (Barry Mann - Cynthia Weil), um tributo (que não partilho), da autora (ass: Dream Dancer 82) aos Monkees
The Brill Building (XIII)
O primeiro tema escrito pela parceria Barry Mann – Cynthia Weil foi o ignorado “Bless You”, para o não menos desconhecido Tony Orlando, em 1961. Adiante, pois. Seguiu-se “Uptown”, para as Crystals (1962), e aqui a “coisa” já “fia mais fino”: este foi o primeiro dos temas de Mann - Weil a revelar as suas preocupações sociais, que por vezes iriam colocar a “dupla” na antecâmara da canção de protesto de que será referência o tema escrito para os britânicos Animals “We Gotta Get Out Of This Place”. Mas isso é já conversa para outro post. Fiquemo-nos, para já, pelas Crystals, já que também em 1962 outro tema para elas verá a luz do dia: “He´s Sure The Boy I Love”. E é aqui que se levanta a controvérsia, já que, se em “Uptown” são as verdadeiras Crystals que interpretam o tema, em “He´s Sure The Boy I Love” o tema terá sido gravado, não em NY mas em LA, por Darlene Love (uma das protegidas de Phil Spector) e as Blossoms, e depois lançado sob o nome “Crystals”, tal como terá acontecido, segundo se diz e parece que é verdade, com o grande sucesso e único #1 do grupo, “He´s A Rebel”. Coisas de Phil Spector, claro, parece que com a desculpa de que não haveria tempo para as Crystals se deslocarem até LA, onde então Phil Spector se encontrava. Mas sobre uma coisa pelo menos não existem dúvidas: “Uptown” e “He´s Sure The Boy I Love” foram os dois temas escritos por Barry Mann e Cynthia Weil para as Crystals, quaisquer que elas fossem. Por isso, disso mesmo aqui deixo testemunho.