quinta-feira, maio 31, 2007

"Lucy in the Sky with Diamonds" (8)

Cartaz de Bob Fried para um concerto de B.B. King, Mothers of Invention e Booker T & the MG's em Filmore East.

Breves...

  1. O valor que o Sporting vai conseguir com a venda de Nani corresponde, “mais coisa menos coisa”, ao seu orçamento da época passada. O produto da venda de Anderson corresponde a um pouco mais de 50% do orçamento do FCP nessa mesma época. Acresce que nenhum deles foi particularmente decisivo nos resultados das respectivas equipas, tendo Anderson estado parado, por lesão, mais de metade da época. Conclusão: se nada de especialmente relevante se passar, o “meu” Benfica já entra na nova época a perder.
  2. A posição mais correcta e consequente, em termos partidários, sobre o novo aeroporto de Lisboa é a do CDS. Como tenho sido bastante crítico em relação ao dito partido, aqui neste blog, aqui fica um elogio para que conste.
  3. O governo “sobrereagiu” na comunicação social em relação à greve de ontem. Os resultados da dita greve, apelidada de geral, não justificavam tanto alarido mediático por parte de ministros, secretários de estado e por diante. Ele terá sido mesmo contraproducente. Será que o governo, tido por dar tanta importância à comunicação, não tinha, na sua estratégia de resposta, mais de um plano para aplicar consoante os resultados que se fossem verificando ao longo do dia?

quarta-feira, maio 30, 2007

Absolut ads (5)

En Grève

Traduções???!!!

Mesmo nos dias mais negros, há coisas que nos fazem rir (como se diz?) a "bandeiras despregadas" (mais uma para o Diogo Infante explicar). Segundo o site Sky Sports, "Nani is a Sporting player and it is the intention of Sporting that it stays that way," director of communications Salema Waiter told A Bola. Presumo que este Salema Waiter seja, nem mais nem menos, Salema Garção, que acho certamente terá também o sentido de humor suficiente para rir a bom rir com a tradução do seu nome. Por este andar ainda teremos o Presidente da República traduzido por Aníbal Chip ou (vá lá, não se importem!) um ex-premier britânico denominado, em português, Winston Monte da Igreja.

"The Hammer Collection" (1)

"The Hound of the Baskervilles", de Terence Fisher (1959)

Greve

Logo pela manhã, ouvi alguém da CGTP declarar que muitos trabalhadores não fariam greve por motivos financeiros, isto é, impossibilidade de perderem um dia do seu salário. É, em si mesma, uma declaração de falta de confiança e de ausência de expectativas nos seus resultados. Vejamos. Um dia de trabalho representa 3.333...% do salário mensal (0.0024% de um salário anual de 14 meses), o que poderia ser recuperado no futuro com relativa facilidade caso a greve alcançasse alguns dos seus resultados, mesmo que medidos pela fasquia mínima. Mesmo falando de algo menos tangível, como objectivos políticos, mal está a consciência política dos trabalhadores, as suas lutas e seus dirigentes quando, mesmo em ocasiões de crise e “recuo do movimento dos trabalhadores” (como diria a CGTP), estes não conseguem sacrificar 3.3333...% do seu salário de um mês ou 0.0024% do seu rendimento anual por conta desses mesmos objectivos, ou disfarçam a adesão à greve com uma falta justificada. Longe vai o tempo das “greves revolucionárias” em que se sacrificava o presente e, por vezes, a vida em troca da esperança futura.

terça-feira, maio 29, 2007

O CDS e a Câmara de Lisboa

Segundo o “Público”, Telmo Correia declarou que só abandona a liderança do grupo parlamentar do CDS se ganhar a eleição para a Câmara de Lisboa. Se tivesse alguma hipótese de ganhar, estaria a fazer chantagem com os eleitores. Como não tem, irá continuar nas suas actuais funções. Significa isto que não se percebe muito bem o que anda então lá a fazer como candidato “faz de conta”.

História(s) da Música Popular (45)

"Dance Craze" (I)

Hank Ballard & The Midnighters - "The Twist" (1958/1959)


Chubby Checker - "The Twist" (1961)

No período de declínio do rock n’ roll original que se seguiu a 1958 (ver posts anteriores sobre o assunto), e como alternativa mais “integrada” e menos marginal às necessidades e desejos da nova cultura juvenil, surgiu a loucura das “danças”, em que muitas vezes o diagrama, com os passos respectivos, vinha já impresso nas capas dos discos (singles e EP’s) de 45 rpm. Ele foi o “twist”, o “mashed potatoes”, o “watusi”, o “jerk” e é só pedir que qualquer uma mais se arranjará.

De todas elas, foi o “twist” a que teve maior difusão, talvez por ter sido a primeira em que os pares dançavam a “solo”, sem qualquer contacto físico, criando uma certa ruptura com o rock que, embora mais físico, “selvagem” e enérgico, não deixava de ser uma evolução das danças da geração anterior. Também para a sua difusão muito terá contribuído a televisão e, principalmente, o programa “American Bandstand”, de Dick Clark, mas também um certo clube de New York chamado “Peppermint Lounge” (por lá começaram também as “Ronettes”) e o seu grupo residente, Joey Dee and the Starliters, com o seu “Peppermint Twist”.

Mas comecemos bem pelo princípio e esse foi Chubby Checker e o seu “The Twist”. Foi? Não é bem assim, já que “The Twist” não é mais do que um cover do, até aí quase desconhecido, B-side com o mesmo nome de Hank Ballard & The Midnighters (um grupo de Detroit, Michigan), gravado em Novembro de1958 com o A- side "Teardrops On Your Letter" e editado em Janeiro do ano seguinte.

“The Twist” (o de Chubby Checker) foi, claro está, #1 e este reincidiria mais tarde com “Let’s Twist Again”, que também chegou ao topo do hit-parade. Por cá as versões francesas de Sylvie Vartan e Johnny Halliday terão sido as mais populares nas festas de garagem e do Liceu Francês. Os USA ficavam longe, as importações da América eram caras e a cultura francófona dominante fazia o resto.

Pois então aqui ficam a versão original de Hank Ballard & The Midnighters (a minha preferida) e, em vídeo, a que lhe deu asas: a de Chubby Checker. Voltaremos a este assunto das danças...

segunda-feira, maio 28, 2007

"Arte Popular" no "Estado Novo" (3)

Cartaz para o Teatro do Povo, autoria gráfica de Paulo Ferreira,1939

Espanha e Navarra

Por muitos desertos, camelos, pontes dinamitadas, Ota ou Rio Frio, DREN e tutti quanti que sirva para nos entreter, este foi o acontecimento mais importante na península, na última semana, em termos políticos e estratégicos. Apetece dizer: é a política, estúpidos!

Grandes Séries (16)

Acho que se a minha alglofilia se terá iniciado numas férias de Natal, teria para aí uns seis ou sete anos, com a leitura de “Nova Aventura dos Cinco”, nº 2 da respectiva colecção (só depois li “Os Cinco na Ilha do Tesouro, o nº 1) e, penso, o primeiro livro que terei lido, ela terá sofrido forte impulso uns anos mais tarde (primeira metade dos anos setenta) com a exibição de “Upstairs, Downstairs”, que tive a oportunidade de rever na RTP Memória nestes últimos anos. Não haverá para dizer muito mais do que já foi dito vezes sem conta, isto é, que é um retrato, talvez piedoso e benevolente - demasiado subtil, também - mas, talvez também por isso mais globalmente eficaz para grandes audiências, do sistema de classes da sociedade inglesa no final do século XIX e início do século XX e, principalmente, das transformações por que passará nos anos posteriores à WWI, início do seu declínio. Será, para mim e para muitos - e para sempre - uma série de culto que nos acompanhará pela vida fora, uma espécie de “Rosa Púrpura do Cairo” ao contrário: não esperamos que o protagonista salte do ecran, mas apetece-nos nele entrar e viver o ambiente, mesmo com todas as suas tragédias.

Interessante também verificar como algumas das realidades que apresenta irão estar, embora de forma parcial e mitigada pela evolução dos tempos, presentes na sociedade portuguesa até muito perto do 25 de Abril de 74.

Neste clip, prepara-se a recepção a Edward VII que irá jantar ao nº 165 de Eaton Place. Sem mais comentários...

Os McCann e o Papa

Antes que comecem para aí o disparate e a asneira (se é que ainda não começaram e eu tenha andado distraído), a decisão do Papa Bento XVI ao receber em audiência o casal McCann é política, e só assim pode e deve ser analisada. Isto já antecipando as mil e uma análises pseudo bem pensantes que irão por aí surgir sobre o facto de o chefe da Igreja Católica não ter a mesma atitude perante familiares de outras crianças desaparecidas, sobre as mesmas mortas no Darfur e o que mais adiante se verá e ouvirá. Sendo os McCann católicos num país maioritariamente anglicano, e onde esta é a religião de estado (Elizabeth II é fidei defensor - “defender of the faith” – curiosamente título concedido por Leão X a... Henrique VIII, mas que foi mais tarde revogado pelo Papa Paulo III e posteriormente conferido pelo parlamento aos monarcas anglicanos), claro que Joseph Ratzinger (inteligentemente, diga-se) não deixará escapar uma oportunidade que lhe é concedida de mão beijada (literalmente) para marcar pontos num terreno que lhe é desfavorável, sabendo do impacto mediático que o acto necessariamente irá assumir. Por mim, chapeau para Ratzinger e para os McCann, mas esperemos agora pela reacção de Rowan Willliams, Archbishop of Canterbury.

sábado, maio 26, 2007

Outras Músicas (25)

Bix Beiderbecke (1903 - 1931)
"Davenport Blues"

Gravado em Richmond, Indiana, a 26 de Janeiro de 1925, é a primeira gravação de Bix Beiderbecke com o seu próprio nome. Uma homenagem à sua cidade natal, Davenport, Iowa. Com Tommy Dorsey no trombone.

sexta-feira, maio 25, 2007

Nota de uma sexta-feira à tarde (com chuva) - 3


Ainda não ouvi nenhum dos candidatos à Câmara de Lisboa mencionar o facto, anacrónico e ridículo, de um concelho inteiramente urbano com menos de 600 000 habitantes (564 477, mais precisamente) estar dividido em 53-freguesias-53, algumas, como Madalena e os Mártires, com 380 e 341 habitantes, respectivamente, e outras, como Benfica e Stª Mª dos Olivais, com mais de 40 000. Muito menos escutei qualquer proposta de alteração desta divisão administrativa, claro. Mas o melhor é mesmo não perder a esperança.

Nota de uma sexta-feira à tarde (com chuva) - 2

Alguém se lembra de uma só ideia política interessante e inovadora expressa ontem por Paulo Portas na entrevista a Judite Sousa? As expressões, “oh, Judite”, “oiça, Judite” e outras do mesmo género estão obviamente excluídas.

Nota de uma sexta-feira à tarde (com chuva)

Portugal parece ter-se tornado num país em campanha eleitoral permanente, em que a propaganda e o tom "comicieiro" se tornaram num ruído que tudo abafa à sua volta. Má propaganda, pois parece que ignorada pela maioria dos cidadãos: as intenções de voto nos vários partidos pouco mudaram nos últimos dois anos. Parece que também aqui o desperdício se tornou norma.

The Classic Era of American Pulp Magazines (33)

Capa de Norman Saunders para "A. Merritt's Fantasy Magazine" (Julho de 1950)

William Blake: "Songs of Innocence and of Experience" (13)

Can I see another's woe,
And not be in sorrow too?
Can I see another's grief,
And not seek for kind relief?

Can I see a falling tear,
And not feel my sorrow's share?
Can a father see his childWeep,
nor be with sorrow filled?

Can a mother sit and hear
An infant groan, an infant fear?
No, no! never can it be!
Never, never can it be!

And can He who smiles on all
Hear the wren with sorrows small,
Hear the small bird's grief and care,
Hear the woes that infants bear --

And not sit beside the next,
Pouring pity in their breast,
And not sit the cradle near,
Weeping tear on infant's tear?

And not sit both night and day,
Wiping all our tears away?
Oh no! never can it be!
Never, never can it be!

He doth give his joy to all:
He becomes an infant small,
He becomes a man of woe,
He doth feel the sorrow too.

Think not thou canst sigh a sigh,
And thy Maker is not by:
Think not thou canst weep a tear,
And thy Maker is not year.

Oh He gives to us his joy,
That our grief He may destroy:
Till our grief is fled an gone
He doth sit by us and moan.
"On Anothers Sorrow" - Ilustração e poema de William Blake para "Songs of Innocence and of Experience"

quinta-feira, maio 24, 2007

Anedotas, gaffes e o novo aeroporto

Para além da parte anedótica de desertos e camelos, pontes dinamitadas e expressões em francês – que são ridículas, valem o que valem, mas nada abonam em favor de quem as proferiu, do governo ou partido que o apoia -, esta última discussão sobre a gaffe do ministro Lino, que parece querer concorrer “a toda a força” com o seu colega Pinho, teve uma vez mais o demérito de colocar a discussão sobre o novo aeroporto onde ela não deve ser colocada, mas onde convém aos partidos do bloco central e aos interesses que os apoiam: não entre o tipo de estruturas aeroportuárias necessárias ao país – o que significa entre modelos de desenvolvimento alternativos – mas entre localizações para o mesmo tipo de estrutura: a “grande cidade” aeroportuária. Sobre o assunto, é talvez altura de recuperar este meu post anterior.

Norman Rockwell "Freedom" Images (2)

Freedom of Speech

Feira do Livro

Em Junho do ano passado, Miss Pearls teve a simpatia de publicar no seu blog homónimo este meu texto sobre a Feira do Livro. Como penso ele ainda se mantém actual, ele aqui fica, hoje, dia da respectiva abertura:
"O que me espanta é a "Feira do Livro" ainda existir!!! Eu comecei a ir à "Feira do Livro" teria uns 8 ou 9 anos, com o meu pai, em busca dos livros dos "Cinco" e do "Emílio e os Detectives". A "Feira" tinha lugar na "Avenida", onde as pessoas circulavam, saindo dos empregos para apanhar transportes públicos e beber um café. Era um Portugal c/ uma classe média quase inexistente, com 35 ou 40% de analfabetismo, 50% da população a trabalhar no campo e 3 ou 4 livrarias em Lisboa frequentadas por uma elite restrita. E não havia descontos nos livros, nem promoções, lançamentos, "feiras" do livro usado e muito menos centros comerciais, hipermercados, Amazon e Fnac, lojas multimédia onde se pode comprar tudo. Sendo assim, o "conceito" de "levar o livro ao povo" fazia todo o sentido, colocando-o na rua, onde as pessoas passavam, com descontos a promover a sua venda.Entretanto, Portugal mudou radicalmente. Existe uma larga classe média com algum poder de compra; a população tornou-se "urbana"; os livros vendem-se em Livrarias localizadas nos "Centros Comerciais" que o "povo" frequenta, em hipermercados c/ promoções e descontos, em lojas multimédia onde se podem comprar em conjunto com cd's e dvd's. Durante o ano, compram-se livros a 1 euro em "feiras" do livro usado. Ah, e há a "Amazon"... Para além disso, o livro tem agora a concorrência do cd, do dvd e de 60 canais de TV. E da internet. Entretanto a "Feira do Livro" é basicamente a mesma, com o mesmo aspecto pouco acolhedor, que não nos "envolve" com os livros, e as mesmas "barraquinhas" manhosas atiradas para o Parque Eduardo VII onde ninguém "passa". Acresce que a "Feira" está dividida por "editoras" e não por "temas": quem se lembra de qual a editora de um livro a comprar? Hoje em dia, por muito que nos custe, não tem qualquer razão de ser. Quem leva o "livro ao povo" são os hipermercados, as "Bertrand" e "Bullosa" nos CC's e por aí fora. E com sucesso!, pois nunca se leu tanto em Portugal. Portanto, não é uma questão de falta de promoção de um bom produto: é um mau produto, sem mercado, que, como tal, nenhuma boa campanha de promoção poderá salvar!"

quarta-feira, maio 23, 2007

A final da Champions League

A pergunta que apetece fazer depois de assistir à final da Champions League: será que "Rafa" Benitez queria mesmo ganhar o jogo?

António Costa e o novo aeroporto

É óbvio que o “calcanhar de Aquiles” da candidatura de António Costa à Câmara de Lisboa é a sua defesa do novo aeroporto da Ota. Aliás, como seria de esperar, já o percebeu e tenta agora focar a questão no destino dos terrenos libertados pela Portela. Esta questão – a do destino dos terrenos – não será muito importante na próxima vereação intercalar, mas será crucial para o caso de uma candidatura à reeleição. Por isso, será de esperar a apresentação de um projecto “sedutor” para essa zona, contando com a colaboração de Manuel Salgado, que permita, em certa medida, “compensar”(?) os “alfacinhas” pela perda do seu aeroporto e pelos prejuízos que isso possa causar à cidade. Aguardo com particular interesse o modo como Costa e os seus concorrentes (todos eles contra o novo aeroporto da Ota) irão apresentar e discutir este assunto.

A Imaculada Conceição de Maria...

Segundo li no "Independent", Female sharks can reproduce without having sex, scientists revealed today.
Os meus amigos e familiares católicos (são muitos e prezados a começar pela minha mãe e a acabar nos meus filhos) que me desculpem - a mim que não sou crente - pela heresia. Mas não estará aqui a chave para compreender o mistério da Imaculada Conceição de Maria?

Cinema e Rock & Roll (4)


"The Girl Can't Help It" de Frank Tashlin (1956)

Se me perguntarem qual o meu rock n’ roll favourite movie, ou pelo menos o que citarei top of mind, só por acaso ou distracção a resposta não será “The Girl Can’t Help It”, uma comédia de Frank Tashlin de 1956 (acho que em português se chama “Uma Rapariga Com Sorte”). Talvez porque tenha sido o primeiro que vi, ainda antes de fazer dez anos e já em reprise - como se dizia na altura -, talvez porque esteja cheio de estrelas do então emergente r n’r, tais como Little Richard, Gene Vincent, Fats Domino e Eddie Cochran - que os primos mais velhos se encarregaram in illo tempore de me fazer descobrir - talvez também por ser uma comédia divertida e capazmente dirigida pelo experiente Tashlin (realizador de vários filmes de Jerry Lewis), talvez também pelo seu deslumbrante colorido De Luxe. O mais certo é ser por tudo isto em conjunto... Ah!, e ainda tem Jane Mansfield, que embora nunca tenha sido das minhas favoritas certamente impressionaria alguém cuja idade ainda não chegaria aos dois dígitos. Revi-o mais tarde, no cinema, onde deve e pode ser visto em todo o seu esplendor, e também na televisão, onde perderá bastante. Pareceu-me não ter envelhecido e por isso aqui ficaremos por dois ou três posts desta série. E, tal como não podia deixar de ser para começar - parafraseando o crítico “Laurodérmio” -, let’s look at the traila!

A estratégia de oposição ao governo e os direitos, liberdades e garantias

Está a tornar-se muito claro que a estratégia de oposição ao governo, quer à esquerda quer à direita, passa, conjunturalmente, pela denúncia e agitação de alguns casos que, alegadamente, podem reflectir uma tentativa de combate à pluralidade de opinião e às liberdades e garantias dos cidadãos. As características de personalidade do primeiro-ministro e a necessidade de “forçar” a implementação de algumas medidas que afectam os chamados “direitos adquiridos” fornecem o supporting evidence que sustenta essa estratégia. Situam-se neste campo a campanha sobre o controle da informação (que José Pacheco Pereira tem vindo a conduzir desde há já algum tempo), a questão da TVI e, mais recentemente, o caso do professor afastado por alegados insultos a José Sócrates e a lista de grevistas a ser elaborada por cada serviço do estado. Independentemente das razões ou não razões que possam assistir a cada caso, individualmente considerado, e de considerar que qualquer atentado aos direitos, liberdades e garantias (o “santo dos santos” da democracia) deve ser severamente denunciado e combatido, só trazendo também à luz o acima exposto se pode analisar e compreender cabalmente cada uma das questões em causa. Caso contrário, correremos sérios riscos de concluir de forma errónea e parcial. Logo, injusta.

terça-feira, maio 22, 2007

As Capas de Cândido Costa Pinto (28)

Capa de CCP para "O Mistério dos Fósforos Queimados", de Ellery Queen, nº 2 da "Colecção Vampiro"

História(s) da Música Popular (44)




Em toda a história da música popular, existe apenas um (um e só um) tema que tem direito a parágrafo específico no prefácio do Tracks Catalogue do “Music Master”, um “calhamaço” de mais de mil e quinhentas páginas escrito em letra quase ilegível e que condensa todos os temas e respectivos intérpretes. É também o único tema com direito a chamada especial, “em caixa”, no lugar que lhe é destinado na ordem alfabética do catálogo. E não, não é nenhum desses temas mais conhecidos, frequentemente passados nas rádios de todo o mundo ou incluídos em tudo o que é colectânea que se preze, de grupos como os Beatles ou Rolling Stones. Não são as “lamechices” de Paul McCartney, género “Yesterday” ou “Eleanor Rigby”, ou o excelente “Satisfaction” de Jagger e Richard. É, isso sim, um quase obscuro tema de banda de garagem, de seu nome “Louie Louie”, cuja versão mais popular se deve aos Kingsmen, uma banda de Portland, Oregon. A canção é um original de Richard Berry, escrita em 1955, e foi gravada por várias bandas da costa oeste, incluindo Paul Revere and the Raiders, antes de chegar “às mãos” dos Kingsmen que a gravaram em 1963. Basicamente é algo de primitivo, com uma “letra” original em que um cliente diz a um barman que vai para a Jamaica em busca do seu grande amor, mas tornou-se um ícone das festas de garagem, os célebres teenage parties. Para isso muito terá contribuído uma "batida” fortemente sincopada e um riff simples e que fica no ouvido, mas também o facto de, na versão dos Kingsmen, ser suposto a “letra” poder ser considerada obscena, apesar da “Federal Communications Commission” ter concluído que a canção era inintelígivel a qualquer velocidade a que fosse escutada.

O riff foi retomado, com maiores ou menores adaptações, em muitos temas célebres da música popular, tais como “You Really Got Me”, dos Kinks, “Wild Thing”, dos Troggs, e “Get Off My Cloud”, dos Rolling Stones, e “Louie Louie” terá tido mais de mil e quinhentas cover versions, sendo as mais conhecidas a dos Motorhead e dos próprios Kinks. A Rhino Records editou mesmo uma compilação (dois volumes em CD) com o nome “The Best of Louie Louie”, nela integrando algumas das mais conhecidas versões do tema, que é considerado o #1 de toda a história do rock & roll. É a versão que tornou “Louie Louie” famosa, a dos Kingsmen, que aqui fica.

P.S.: existe na net uma quantidade enorme de informação sobre o tema, que valerá a pena ser consutada pelos mais curiosos. Saliento:

segunda-feira, maio 21, 2007

A Fenprof, os exames e o ministério

Lê-se no "Público" on line e espanta-se:

A Federação Nacional dos Professores (Fenprof) criticou hoje a realização das provas de aferição nos 4º e 6º anos, considerando que a intenção do Ministério da Educação é responsabilizar as escolas e os docentes pelos resultados dos alunos.

"O ministério de Maria de Lurdes Rodrigues parece pretender que as referidas provas sejam mais um mecanismo de avaliação e responsabilização das escolas e professores, caso as classificações dos alunos venham a ser baixas", afirma a Fenprof, em comunicado.

"Esta intenção, que a Fenprof rejeita e repudia, fica muito clara pelo facto de o Ministério da Educação remeter para as escolas a incumbência de montar estratégias de superação das dificuldades dos alunos, pretensamente diagnosticadas através das classificações por eles obtidas"

Mas então a quem caberá a responsabilidade? Apenas ou essencialmente ao Ministério? Quem terá de definir estratégias para a superação das dificuldades dos alunos? Também só e apenas o Ministério? Nesse caso, para que servem então os professores? Para lerem mecânicamente o que vem nos manuais? As classificações não são, também elas e em conjunto com outras metodologias, método de diagnóstico e avaliação da eficácia da aprendizagem?

Se alguém ainda tinha dúvidas sobre a responsabilidade dos sindicatos do sector, com a conivência das várias equipas que foram passando pelo ministério, no estado a que chegou a educação em Portugal...

O Mundo em Guerra (34)

France

As mudanças no CDS/PP


Pelo menos duas coisas mudaram clara e visivelmente no CDS nas últimas semanas: o alfaiate e o camiseiro. E convenhamos que para melhor...

O PSD num impasse?

Tenho por hábito mencionar a política proibicionista e a estratégia global de luta contra a droga como arquétipo do fracasso: apesar dos milhões e energia gastos, os resultados são decepcionantes. Costumo dizer que se existisse apenas uma entidade responsável e essa fosse uma empresa privada, há muito os accionistas teriam demitido os executivos ou forçado a uma alteração de estratégia.

O mesmo me apetece dizer actualmente do PSD: após dois anos de oposição, todas as sondagens revelam que a popularidade de José Sócrates não foi significativamente afectada e o PS continua a poder aspirar a uma nova maioria absoluta. Isto, apesar da necessidade do governo prosseguir uma política de contenção e retracção de regalias sociais em vários sectores, das manifestações de rua, do desemprego em alta e dos tiros no pé do primeiro ministro, como é o caso da questão da licenciatura e das gafes do ministro Pinho, por exemplo. Nem mesmo assumindo um papel de relevo na contestação a um projecto impopular (e com razão) para a maioria dos eleitores, como é o caso do novo mega-aeroporto de Lisboa, o PSD conseguiu alterar as intenções de voto dos portugueses, talvez porque em vez de propor uma alternativa clara, em termos de modelo de desenvolvimento e de infra-estruturas aeroportuárias (mas não só), acabou por se limitar a colocar em cima da mesa a questão da sua localização. Talvez também porque os portugueses identifiquem ainda demasiado o PSD como o partido das obras públicas e isso o torne menos credível como portador de um projecto alternativo.

Será pois altura de os accionistas do PSD (os seus filiados e militantes) colocarem em causa, mais do que a fulanização da liderança, a estratégia e projecto até aqui assumidos, já que estes parecem não ir ao encontro das expectativas dos eleitores ou eles não julguem credível a equipa que se propões executá-los. Pelo menos, apesar dos investimentos realizados a quota de mercado ganha é quase nula, por vezes mesmo negativa. Numa empresa privada seria altura para interrogar o mercado e, em função dos resultados obtidos, redefinir a estratégia, os seus executores e o portfolio de produtos e marcas, o que iria também obrigar o leader (PS) a ser melhor e, com ele, todo o sector de “negócio”. Os consumidores/eleitores, entre os quais me incluo, certamente agradeceriam.

sexta-feira, maio 18, 2007

Futebol, racionalidade e emoções

Racional, muito racionalmente, e sendo as probabilidades do Benfica se sagrar campeão nacional de futebol esta época muito ténues, manda a verdade que se diga que a opção menos penalizadora para os benfiquistas, como eu, seria o FCP ser campeão. No caso de o ser o Sporting, este passaria a ser clara e definitivamente o segundo clube português neste decénio, em termos de resultados (já o é) e sem possibilidades de futura ultrapassagem, o que lhes concederia uma nova dinâmica em termos desportivos e financeiros que, do ponto de vista benfiquista, seria bem avisado evitar. Este é, aliás e de modo muito claro, um desafio-chave que o Benfica terá que enfrentar nos próximos anos!

Mas o problema é que o futebol é uma actividade de emoções, o que quer dizer também de identificações e rejeições, e, assim sendo, tenho de confessar que me daria particular gozo ver o FCP empatar com o Desportivo das Aves e entregar o título ao Sporting – se não puder mesmo ser ao Benfica, claro, para o que teria de perder. Mesmo que o que ainda resta de “belenense” entre família (a minha mãe) e amigos estivesse “mortinho” pela vingança de 1954/55, quando os “lagartos” foram às antigas Salésias empatar com o Belenenses na última jornada (a 4 ou 5’ do fim) e, assim, tirar o título ao “Belém” e entregá-lo de mão beijada ao Benfica!!!

O túmulo de D. Afonso Henriques

Parece que o governo optou pela mistificação da História e manutenção dos mitos, pensará ele, tão necessários à justificação da existência de Portugal como nação independente, em vez de assumir a verdade histórica, ou pelo menos uma parte dela. No fundo, no fundo, é um atestado de estupidez e menoridade intelectual passado aos portugueses e a prova de que a falsificação da História, tal qual nos era ensinada no tempo da ditadura, vive muito para além dos regimes. Com nuances, convenhamos, adaptando-a ao “ar do tempo", mas mesmo assim falsificação.

Anglophilia (34)








The Blues and Royals Regiment

quinta-feira, maio 17, 2007

"Portugal - Um Retrato Social"

Um concurso, ou entretenimento, de televisão, cujos resultados não têm qualquer significado ou rigor científicos, sendo, por isso, insusceptíveis de qualquer tipo de análise política séria, ocuparam, durante semanas, os nossos comentadores e analistas, gastando rios de tinta, resmas de papel, milhares de megabytes e centenas de horas de emissão. Tudo porque no referido concurso foi eleito(???) como o “melhor português de sempre” o nosso ditador de estimação. O assunto – quer dizer, o concurso (?) – chegou a mobilizar algumas das personalidades tidas por mais influentes (certamente, mais mediáticas) na nossa sociedade, em defesa das suas damas (e cavalheiros, claro).

Na passada semana acabou de ser emitido na RTP1 o último programa de uma série que analisa com seriedade e rigor a nossa história recente; a evolução de várias facetas do país e dos seus habitantes nas últimas quatro décadas. Estou a falar, claro, de “Portugal- Um Retrato Social”, de António Barreto e Joana Pontes. Foi dos melhores programas de TV, de produção nacional, dos últimos anos e aquele que, em conjunto com “Portugal - Um Retrato Ambiental”, de Luísa Schmidt, melhor analisou alguns aspectos sociais da nossa história na segunda metade do século XX. Nos media, na "blogosfera", na TV do serviço público abateu-se sobre o assunto um silêncio de morte. Nem um debate final, uma análise à posteriori, uma discussão na "blogosfera". Nada! Era talvez demasiado sério. Não seria talvez controverso.

PS (de post scriptum): talvez um pouco tarde demais, mas sobre o tal concurso idiota e os seus resultados saúdo um artigo que Pedro Magalhães publicou no “Público”, o único - que me lembre - que pôs os pontos nos ii e “chamou os bois pelos nomes”. Muito bem!

Clássicos do Cinema (32)


"O Pátio das Cantigas", de António Lopes Ribeiro (1942)

Uma competente polícia de investigação criminal?

No meio da algazarra patrioteira, xenófoba e anti-britânica (saudades do ultimato?) surgida como reacção a alguns comentários despropositados de alguma imprensa inglesa (não confundir o "Guardian" e o "Independent", por exemplo, com o "Sun" ou o "Daily Mirror"), também eles arroubos serôdios de uma ex-potência imperial mas que não tiveram a expressão que por aqui se fez crer e cuja cobertura dos acontecimentos e reportagens tem “metido num chinelo” a efectuada pelos “nossos” media, temos assistido, a propósito do desaparecimento de Madeleine McCann, a uma defesa acalorada, por parte de governo, comentadores, ex-inspectores, criminalistas e tutti quanti, da competência profissional da polícia de investigação criminal portuguesa. Confesso a minha perplexidade, e a convicção de que tal só se pode dever a uma fé inquebrantável nos “destinos da pátria” e/ou a uma repetição ad nauseam e acéfala de afirmações de quem tem por única missão na vida defender a instituição que dirige ou dirigiu, tutela ou a que pertenceu. É que se nos remetermos aos factos (que é o que efectivamente vale e interessa para uma avaliação objectiva), e independentemente do maior ou menor grau de dificuldade que possa apresentar este tipo de investigação (que acredito seja elevado), nos casos de desaparecimento de menores que tiveram maior expressão na opinião pública (Penafiel, Rui Pedro, Joana ou até mesmo o de um jovem desaparecido na Arrábida aqui há uns anos) nunca a polícia conseguiu encontrar-lhes o rasto (no caso de Penafiel a criança foi encontrada por denúncia). Nas actuais investigações também parece andar aos papéis (ou aos computadores – ele há vícios que custam a largar...). Esperemos bem que me engane.

quarta-feira, maio 16, 2007

O cão de José Mourinho e a pronúncia dos jornalistas

Ei-lo. Não será exactamente este, mas será necessariamente parecido, o de Mourinho. Mas cuidado, caros jornalistas da TSF (e outros, já que o erro é recorrente). Não é um Yorkshaiare Terrier, mas sim um Yorkshare ou Yorkshiere Terrier (pronuncia-se das duas maneiras, o nome deste condado, Yorkshire, do norte de Inglaterra). É que se decidissem pronunciar à portuguesa (qualquer coisa como Iorkchire), a coisa ainda se percebia. Mas assim...

A Guerra Aqui (mesmo) Ao Lado (20)

Cartaz de Artel para "Departamento de Orden Publico de Aragón" (1937)
"Hi ha una gran preocupació per mantenir l'ordre i augmentar la producció. Per tant, tots aquells que mantenen una actitud contraria als interessos republicans són perseguits. Són habituals els cartells contra "vagos", borratxos o prostitutes".

O "Bloco de Esquerda" e o casamento

O casamento é um contrato que pode nada ter a ver com o amor; quando nos casamos ninguém nos pergunta se nos amamos, nem nada nesse contrato a isso nos obriga. A maior parte das vezes subentende-se isso esteja na sua base, mas existem casamentos sem amor como existe amor sem casamento. Como todos os contratos, impõe direitos e deveres e, não sendo um contrato a termo, pode ser revogado, como é normal nos contratos, por via do não cumprimento dos deveres nele inscritos ou por decisão de ambos os signatários. Assim, genericamente, estabelece a lei.

Mas como é um contrato que envolve, frequentemente, sentimentos e emoções, por vezes, mesmo, dificilmente controladas ou controláveis, que tem que ver com a vida em comum e, eventualmente, com outros que não foram tidos nem achados para a assinatura do mesmo ou se manifestaram contra, com a evolução de algo tão mutável e volúvel como personalidades e vivências, tanta coisa não tangível nem fungível, dificilmente se pode manter sem o assentimento de ambas as partes, por isso mesmo assumindo a forma de um contrato sem prazo definido, ou seja, deixado este à consideração das partes envolvidas. Poderia, e deveria, por isso mesmo, ser revogável por decisão unilateral, passando a “letra de forma” aquilo que já é prática corrente, uma vez que a grande maioria das revogações, ditas por mútuo consentimento, do contrato de casamento, são, por questões de facilidade, decisões unilaterais “impostas” a uma das partes. Penso que esta seria uma medida clarificadora, salvaguardando devidamente as questões de poder paternal e patrimoniais, e que isso constituiria apenas a consagração em lei de uma prática social já estabelecida.

Tendo dito isto, não me parece ser, contudo, uma questão prioritária na sociedade portuguesa, não me parecendo existir qualquer pressão social significativa nesse sentido ou que a actual lei constitua, por si, um grave “empecilho”; nas áreas ditas “de sociedade”, e no que diz respeito à modernização da sociedade portuguesa, outras existirão a resolver prioritariamente em termos legais. Tratou-se apenas de “marcação de território” por parte do “Bloco” que sabia perfeitamente ser algo que neste momento o PS não estaria em condições de assumir. Mas é algo que no futuro terá forçosamente de ser encarado. Sem facilitismos mas também sem a tão habitual hipocrisia.

Manuel Alegre/Helena Roseta

Verdade, verdadinha: cada vez mais Manuel Alegre (que até deve ser boa companhia para um copo de um Bairrada do Carlos Campolargo e umas conversas sobre caça e o Benfica) e Helena Roseta me fazem lembrar uma versão up-market e aggiornata da dupla Aires Rodrigues/Carmelinda Pereira dos anos oitenta, com a cidadania a ocupar o lugar que antes era o da “unidade dos partidos de esquerda, PS e PCP. Ou então é o contrário: Aires Rodrigues e Carmelinda Pereira seriam uma versão premonitória e low cost do que viria a ser a dupla Manuel Alegre/Helena Roseta. Enfim...

terça-feira, maio 15, 2007

"A época dos incêndios"

Aqui há uns anos, na década passada, por razões estritamente profissionais tive por várias vezes de contactar e ter reuniões de trabalho com dirigentes de associações de bombeiros voluntários (o que se chega a fazer na vida!...). Estando longe de ser a pessoa mais inteligente e conhecedora do meio que existe á face da Terra, cedo - para não dizer logo - deu para perceber a teia de interesses menos lícitos que envolvia esses mesmos corpos e associações e os seus dirigentes respectivos (pelo menos esses), e na qual estes se movimentavam com particular à vontade. Estávamos ainda longe da actual mediatização dos incêndios, e dessas desconfianças (ele é mais certezas), por me terem de alguma maneira chocado, dei então conta em conversas privadas aos os meus amigos mais chegados. Nada, portanto, que não pudesse ser facilmente constatado por quem de direito, caso para isso houvesse vontade política. Para que conste...

"Lucy in the Sky with Diamonds" (7)

Dylan - poster de Milton Glaser

António Costa e a CML

Não tenho, face à sociedade portuguesa ou qualquer outra, qualquer posição partidária apriorística; defendo valores, ideias e ideais, opções ideológicas, políticas ou sociais. Por maioria de razões não a tenho para Lisboa, já que a nível local essas opções partidárias, mesmo para quem as tem, se apresentam sempre mais esbatidas. “Alfacinha”, não sou dos que consideram a minha cidade das mais bonitas do mundo, longe disso e tanto pior para mim, mas gostava de me rever mais na cidade onde nasci e vivo.

Having said this, considero uma excelente notícia a provável candidatura de António Costa à Câmara Municipal de Lisboa. Defendi, em post anterior, que nas actuais circunstâncias só uma candidatura polarizada pelo Partido Socialista, sozinho ou em coligação, poderia constituir uma alternativa á desastrosa gestão camarária dos últimos anos. Para ser mais correcto, de todos os anos em que me lembro de existir, pois o menos mau dos presidentes de Câmara (João Soares) foi apenas isso mesmo: menos mau, logo, medíocre. Mais, no mesmo post afirmei também essa teria de ser uma candidatura politicamente forte, de alguém com “peso” específico dentro do partido e com experiência política comprovada. Só essa experiência e peso políticos lhe poderiam permitir definir opções de forma clara, e assumir alguma autonomia na gestão de toda a rede de interesses ligados à Câmara Municipal e que se expressa através dos aparelhos locais: concelhias, distritais, etc. E digo “autonomia na gestão de...”, já que me parece perfeitamente suicidário e erro de principiante ignorar completamente esses interesses ou afrontá-los e afastá-los de modo directo e liminar. Toda a gestão é também isso mesmo: uma gestão de expectativas, interesses e ambições. Só isso permite que se alcancem resultados. Um dos erros de Carmona Rodrigues terá sido, eventualmente, esse: a sua inexperiência e /ou falta de apoio políticos esteve na origem do seu déficit de autonomia na gestão desses interesses, tendo acabado seu refém. Eis uma das razões porque me parece, nas actuais circunstâncias, ser de afastar a opção por um “independente”.

No entanto, não tendo da política uma visão fulanizada, este será apenas um primeiro passo. Há que estar atento á constituição da lista a apresentar (com autonomia face à concelhia e à antiga vereação de triste memória) e àquilo a que António Costa se propõe. Esperemos que resista á apresentação de um programa irrealista e megalómano, e se cinja àquilo que os “alfacinhas” efectivamente esperam neste momento: racionalização dos recursos (incluindo os recursos humanos), reorganização de serviços, saneamento financeiro e apresentação de um conjunto de medidas, simples mas eficazes, realizáveis rapidamente e com poucos meios, que permitam, a curto prazo, tornar um pouco mais agradável a vida em Lisboa. Ah, já agora, e depois de eleito que chame a colaborar com a Câmara aquela que foi a sua melhor vereadora dos últimos anos: Mª José Nogueira Pinto.

segunda-feira, maio 14, 2007

Absolut ads (4)

Spring

História(s) da Música Popular (43)


Beach Boys - "Surf Jam"

Pois se os Beach Boys estão essencialmente ligados à surf music vocal, e foram essas suas harmonias que os levaram pelos caminhos do sucesso e por campos bem mais vastos e inovadores do que a surf music - até ao fantástico “Pet Sounds” -, também fizeram algumas incursões pela surf music instrumental, embora raras e bem menos conhecidas. Por exemplo, gravaram um cover do incontornável “Misirlou”, de Dick Dale, o verdadeiro hino do género, incluído no álbum “Surfin’ USA”. Nesse mesmo álbum os instrumentais estão também representados por um outro cover de um original de Dick Dale (Let’s Go Trippin’), além de “Honky Tonk”, de Bill Doggett (1956). Mais dois originais de Brian Wilson completam o bem fornecido “lote” instrumental deste “Surfin’ USA”: “Stoked” e este “Surf Jam”. Este último é talvez o seu instrumental mais conhecido da época, integrando muitas antologias de surf music. Pois aqui fica.

Ontem, fui do Leixões e do Guimarães!



Em Inglaterra, provavelmente a sociedade europeia tradicionalmente mais classista, o futebol foi desde sempre um desporto da working class. Ainda hoje, os estádios dos seus principais clubes, mesmo que remodelados e confortáveis, se situam nos mesmos locais de há cem ou mais anos, em bairros operários e populares das quase periferias, à primeira vista mal se distinguindo das restantes construções das ruas em que se situam, muitas vezes as casas “em banda” ou semi-detached dos seus habitantes. Numa sociedade em que a religião dominante é o anglicanismo, os jogos disputavam-se tradicionalmente ao sábado à tarde (a tradicional “semana inglesa” era uma realidade) , pois o domingo era o dia do “Senhor” dedicado ao descanso e á família. Os trabalhadores reuniam-se no pub, antes e depois dos jogos, e o clube era um símbolo de identificação com o bairro e com a comunidade. Este é a base que, ainda hoje e depois de uma enorme evolução, está na génese do sucesso da super-profissionalizada e bem sucedida Premiership.

Em Portugal, apesar de uma industrialização incipiente e tardia, exceptuando o caso dos actuais três grandes, mais ou menos populares ou interclassistas nas origens, o futebol também “pegou de estaca” e se desenvolveu nas zonas industriais e operárias. Aí nasceram e cresceram clubes como o Vitória de Guimarães (a “cidade industrial” num Minho rural), o Barreirense, o Olhanense (da vila da pesca e das conservas de peixe), o Leixões (idem e o segundo maior porto português – as cidades portuárias europeias sempre tiveram equipas de futebol competitivas: Bilbau, Marselha, Liverpool, Hamburgo, Olympiakos do Pireu, etc), o Atlético e o Vitória de Setúbal (Setúbal, fruto do desenvolvimento da construção naval – mas não só - era a cidade que mais crescia em Portugal nos anos sessenta, a época de ouro do "seu" Vitória). Mesmo o Belenenses, apesar das ligações à ditadura e de recolher muitos adeptos nas classes altas, tinha uma indiscutível base operária na então zona popular de Belém, influência que se estendia para além rio nas zonas também populares ligadas ao Tejo, de Almada, Trafaria e Cova da Piedade. O seu antigo estádio (as "Salésias") era assim, em termos de localização, um pouco como os estádios ingleses, encravado entre as casas baixas da zona mais antiga do bairro numa rua que, significativamente, se chamava “das Casas do Trabalho”.

A terciarização da sociedade portuguesa nas últimas décadas, fruto da falta de competitividade industrial por via do fim do império, da adesão à União Europeia e da globalização, conduziram alguns desses clubes aos escalões secundários, substituídos por clubes quase artificiais e sem público, tradição ou inserção popular, sustentados pelas autarquias e sabe-se lá por que mais. Casos mais emblemáticos são os do Estrela da Amadora, da União de Leiria e da Naval 1º de Maio, por sinal os clubes que terão das mais baixas assistências da primeira liga.

Por isso saúdo o regresso do Vitória de Guimarães e do Leixões à I Divisão. É como que um regresso do futebol às suas origens e raízes populares, e uma certeza de estádios mais cheios e com adeptos mais entusiastas e sofredores pelos seus clubes, mais conhecedores. De menos indiferença e mais affición. Também de maior investimento na formação, espera-se, em cidades onde poder vir a jogar no clube da sua comunidade e dela ser ídolo ainda será orgulho para muitos jovens. Pelo mesmo motivo, fico a torcer por um regresso em breve do Olhanense, em vez dos algarvios andarem entretidos em salvar o Farense não se sabe bem de quê ou de tentarem inventar um clube algarvio do nada ou coisa nenhuma. Ontem, durante a tarde, fui do Leixões e do Vitória. Espero, numa tarde de um dos próximos anos, poder ser também do Olhanense!

sábado, maio 12, 2007

As Capas de Cândido Costa Pinto (27)

Capa de CCP para "O Falcão de Malta" de Dashiell Hammett, nº 34 da "Colecção Vampiro"

Paulo Portas e o inglês

Paulo Portas, que gosta de deixar bem vincada a sua afeição a Inglaterra ou pelo menos a Savile Row e Jermyn Street (sim, eu sei que é a inveja que me faz falar, pois em Savile Row, até agora, só “lambi vidraça” e em Jermyn Street, mais propriamente no Turnbull & Asser, não terei comprado mais do que uns pares de meias) cometeu ontem no “Expresso da Meia Noite” uma gaffe imperdoável. Ao referir-se ao realizador Stephen Frears chamou-lhe Stefan e não Stiven, que é a pronúncia correcta. Stephen e Steven pronunciam-se da mesma maneira, Paulo Portas, tal como Jeffrey e Geoffrey (Djefri). Pois é, nem sempre o hábito é suficiente para fazer o monge, e, pelo vistos, PP ainda andará muito longe da beatitude! Mas numa coisa estamos de acordo, vá lá: nos elogios a Elizabeth II. Deve ser das poucas...

sexta-feira, maio 11, 2007

Grandes Séries (15)


"The Avengers" (1961 - 1969)
Já que no último post sobre as grandes séries de TV falámos de Rachael Stirling (filha de Diana Rigg) aqui está um clip com a apresentação daquela que é, certamente, uma das mais populares séries de todos os tempos. Aqui com a curiosidade de, para além de Patrick Macnee - no papel de John Steed bowler hat (em português diz-se "chapéu de coco" por o seu primeiro utilizador ter sido um tal William Coke) and wangee umbrella -, podermos ver Diana Rigg (Ema Peel) e a sua sucessora, a partir de 1968, Linda Thorson (Tara King). A série passou por vicissitudes e modelos vários desde o seu início (ver aqui), mas foi o conjunto de episódios com as personagens John Steed/Ema Peel, tal como delas nos lembramos, que moldou para a história aquela que ficaria a ser a sua personalidade definitiva. Uma curiosidade: Honor Blackman, a Pussy Galore de "Goldfinger", foi a antecessora de Diana Rigg, no papel de Cathy Gale. Abandonou a série justamente para integrar o elenco de "Goldfinger".

The Classic Era of American Pulp Magazines (32)

Ilustração de David Waite para a história de Nat Karta "Turn Off The Heat" (1949)

quinta-feira, maio 10, 2007

Paulo Portas e a Câmara de Lisboa

Paulo Portas (re)começa mal. A sua declaração de hoje sobre a Câmara Municipal de Lisboa é puramente oportunística e tacticista. Não só dá cobertura à retórica populista anti-partidos de Carmona Rodrigues, como aproveita para responsabilizar o PSD. Não pela desastrosa gestão camarária, mas pela queda do respectivo executivo. Se amanhã Carmona for acusado e, depois, provada a sua responsabilidade, o que dirá então Portas? Pouco isso lhe importa, para já, pois o objectivo é apenas táctico: dando razão a José Pacheco Pereira, atacar o PSD que actualmente ocupa o terreno indispensável aos objectivos a que se propõe. De caminho perdeu talvez o melhor candidato de todo o espectro político a uma futura vereação camarária: Mª José Nogueira Pinto. Convenhamos que não é brilhante...

O PS e a Câmara de Lisboa

O projecto do PS para a Câmara de Lisboa na voz de Vitalino Canas. Tudo e mais alguma coisa, ou seja, nada. Ou melhor: nada, ou seja, tudo e mais alguma coisa.

Ainda a propósito de Madeleine McCann

Portugal é, ainda hoje, uma sociedade demasiado fechada, um país onde ainda se cultiva demasiado o secretismo e onde o estado e as suas instituições desconfiam à partida dos cidadãos e das suas capacidades. Onde ambos, estado e cidadãos, se olham frequentemente mais como inimigos do que como cooperantes, mesmo que, aqui e ali, conflituais nos seus objectivos e interesses. As elites desconfiam do povo porque o acham incapaz, iletrado e demasiado boçal - a “piolheira” do rei D. Carlos; o povo desconfia das elites porque considera que estas o desprezam e se mostram incapazes de desenvolverem o país, de lhe darem um rumo que permita a esse mesmo povo o progresso por que anseia. Isso acabou por criar nele um sentimento de inveja, uma sensação de injustiça face àqueles que progridem, progresso sempre visto mais como fruto de uma qualquer “trafulhice” do que como resultado de esforço e inteligência.

Esse secretismo e desconfiança reproduzem-se também ao nível de muitas empresas, internamente e na sua relação com os utilizadores dos serviços prestados, principalmente naquelas que no passado eram estatais ou detêm, ainda hoje, posições de quase monopólio ou de pouca transparência num mercado incipiente ou protegido (transportes, telecomunicações, energia, etc). Basta ter trabalhado em empresas de matriz anglo-saxónica para verificar como nelas tudo se passa de modo bastante diferente, internamente e na sua projecção para o exterior. É exactamente essa dicotomia de culturas e mentalidades que se expressa exemplarmente neste artigo do "Independent" (nota: não é um tablóide!) sobre o desaparecimento de Madeleine McCann e o modo de actuação da polícia portuguesa. Mais do que reacções xenófobas ou de virgens despeitadas, talvez fosse bem melhor tentarmos aprender algo com alguns bons exemplos alheios.

William Blake: "Songs of Innocence and of Experience" (12)

They laugh at our play,
And soon they all say,
'Such, such were the joys
When we all--girls and boys -
In our youth-time were seen
On the echoing green.'

Till the little ones, weary,
No more can be merry:
The sun does descend,
And our sports have an end.
Round the laps of their mothers
Many sisters and brothers,
Like birds in their nest,
Are ready for rest,
And sport no more seen
On the darkening green.

"The Eccohing Green" (2ª parte) - poema e ilustração de William Blake para "Songs of Innocence and of Experience"


quarta-feira, maio 09, 2007

Outras Músicas (24)



Deolinda - "Fado Toninho"
"Deolinda" é como Blondie; um grupo, não o nome da intérprete. Esta chama-se Ana Sofia Bacalhau e os restantes membros do grupo são Zé Pedro Leitão, Pedro da Silva Martins e Luís José Martins. Uma boa surpresa onde elas estão quase sempre asusentes: na música popular portuguesa. A recuperação de uma antiga tradição já quase perdida: o fado "jocoso".
Nota: peço desculpa pela qualidade do vídeo, imagem e som, mas não existe mais nenhum registo disponível.

Cinema e Rock & Roll (3)



"Expresso Bongo" (1960, Val Guest)
Damos um pequeno salto até 1960 (depois voltaremos atrás), pois considero este clip uma verdadeira e rara pérola. Trata-se da segunda aparição de Cliff Richard (na altura, ainda o contraponto britânico de Elvis Presley) e dos Shadows (na altura, Drifters - mudaram para evitar confusões com o grupo americano do mesmo nome) em cinema, depois de "Serious Charge", num filme que conta com Laurence Harvey e Sylvia Syms como protagonistas. Nunca consegui ver o filme - por isso não respondo pela sua qualidade - embora saiba que a história trata, como era habitual nestes casos, de jovens estrelas emergentes do rock n' roll, respectivos agentes e etc. Contudo, sempre soube da sua existência, pois o disco com a banda sonora respectiva (um EP) estava disponível em Portugal e consta da discografia de Cliff e dos Shadows (acho ainda o tenho para ali). Penso, mesmo, que o filme nunca passou por cá, quer no cinema quer na televisão (tenho mesmo quase a certeza absoluta). Altura, portanto, de recorrer aos bons serviços da Amazon.

Cliff canta "Love", de Norrie Paramor (produtor dos 1ºs discos de Cliff) e Bunny Lewis (autor de alguns dos seus 1ºs êxitos).

Madeleine

Anda por aí pela "blogosfera" uma indignação não disfarçada - por vezes tintada, ela sim, pelo lugar comum e pela snobeira intelectual mais rasteira - pelo destaque dado na comunicação social, tido por excessivo e despropositado, ao caso da criança inglesa desaparecida no Algarve. Permito-me discordar, em absoluto, considerando o assunto, pelo seu tema e circunstâncias, de indiscutível relevância. Infelizmente, muitos dos comentadores desta mesma "blogosfera" mostram-se incapazes de passar do reflexo condicionado á reflexão e, por isso, tudo o que é crime, rapto ou apela, segundo eles, aos sentimentos, é imediatamente remetido para a categoria de comunicação tablóide, indigna, portanto, da sua consideração a não ser por via da excomunhão. E discordo porquê?

Em primeiro lugar, o assunto tem que ver com aquilo que é o instinto e objectivo primeiro de qualquer espécie, acima, mesmo, da sobrevivência: a continuação dessa mesma espécie, através do assegurar a sobrevivência das “crias”, dos descendentes, defendendo-os dos seus predadores. Por muito que isso possa chocar, não estamos, em muitos dos nossos padrões comportamentais, tão longe como pretenderíamos de outras espécies animais, principalmente de outros mamíferos, e este – assegurar a sobrevivência da espécie - é o objectivo básico da nossa existência. Por outro lado, fruto da diminuição da mortalidade infantil e do aumento da qualidade de vida, o nosso comportamento para com as crianças mudou radicalmente nas últimas décadas. Aquilo que era visto como normal (a morte por doença ou acidente de uma parte da descendência – o que gerava algum distanciamento face às crianças) é hoje, felizmente, visto como algo incomum e inaceitável. A diminuição da mortalidade gerou, como sua consequência, mais e melhores afectos. Estamos longe da necessidade de gerar filhos para ajudar à subsistência da família - do “a minha mulher é uma boa parideira” – e isso esteve na origem de novas atitudes e comportamentos. Mais ainda: estamos, neste caso como em outros, perante um novo tipo de predadores até aqui desconhecido e cuja actuação é facilitada pela disseminação das novas tecnologias, da globalização e da liberdade de circulação: as redes internacionais de pedofilia e adopção. É algo que temos ainda dificuldade em combater (nas sociedades mais “atrasadas” a violência, sexual ou não, sobre as crianças, era exercida pela família ou por próximos), tal como terá acontecido com outras espécies quando da introdução pelo homem de novos predadores ou das armas de fogo, e que por isso contribui para potenciar os nossos medos e impotências. Em certa medida constitui um novo “medo” desconhecido, tal como aconteceu com a ameaça das invasões marcianas dos anos cinquenta, mas que aqui é bem mais real. Estamos assim, portanto, perante algo de novo e que constitui uma questão social emergente, de indiscutível importância para as novas gerações, merecendo, por isso, o tratamento mediático alargado que lhe tem sido concedido.

Tem também sido glosado o tema da desigualdade de tratamento atribuída a este caso, por envolver cidadãos estrangeiros, em contraste com outros casos, mais ou menos recentes, de desaparecimento de crianças ou adolescentes. Mais uma vez, acho não têm razão.

Contrariando uma das recentes análises de Vasco Pulido Valente no “Público”, a propósito de um outro tema, numa sociedade desigual nem sequer os sentimentos “igualizam”. Reagimos a crimes, desgraças e catástrofes consoante a identificação que temos com os que as sofrem e, diferentemente, segundo os nossos valores, a nossa cultura, as nossa vivência e, sacrilégio!, a nossa classe social. Não temos perante um tsunami na Ásia, um atentado terrorista no Bali ou a queda de um avião na Colômbia, a mesma reacção do que teríamos se isso acontecesse nos USA, na Europa, em Espanha, no nosso país ou na nossa cidade. Do mesmo modo que não reagimos á morte inesperada de um familiar ou amigo chegado como o fazemos em relação a alguém mais distante, por muito que o estimemos. Uma família da classe média urbana não reage à perda catastrófica dos seus “teres e haveres” do mesmo modo que o faz uma família do mundo rural mais profundo, por muito que isso possa ter para ambas consequências idênticas. E assim sucessivamente... Por isso, não reagimos ao desaparecimento de uma criança da classe média britânica em férias no Algarve, aparentemente integrada num meio familiar estável e favorecido e, tudo leva a crer, vítima de um novo tipo de crime, do mesmo modo que reagimos e analisamos o desaparecimento de alguém raptado por razões de disputa familiar ou sujeito a maus tratos numa família “disfuncional”. Não assistimos ao desaparecimento de um bebé, como é o caso, do mesmo modo que o fazemos face a um adolescente ou uma criança com maior grau de autonomia. Será cruel, mas é assim, e sabemos onde nos levaram as construções apressadas do “homem novo”. O tratamento concedido ao caso pelas polícias é consequência disso mesmo, do impacto diferenciado que os casos possam ter nesses mesmos media e na opinião pública, acrescido da importância do turismo como actividade principal de uma região, como é o caso do Algarve e, por extensão, o do país.

Por último, será provincianismo apelar à colaboração da polícia britânica para ajudar na resolução do caso ou isso é apenas uma medida de bom senso e profissionalismo ditada pela maior preparação e experiência dessa mesma polícia neste tipo de casos? Basta acompanhar regularmente ao media ingleses, ou, até, as respectivas séries policiais de TV (cujas histórias, mesmo que romanceadas, acabam por reflectir aquilo que são as preocupações e a “cena criminal” dominante no país) – para concluir que a sua expertise, fruto da maior incidência deste tipo de casos, não será, por certo, de menosprezar.

Para concluir: se há reacções e análises que não nos surpreendem se e quando expressas nos vários "fóruns" de opinião em televisões e rádios, a outros se pede que pensem. No fundo, não é o que devíamos pedir um pouco a todos nós?


terça-feira, maio 08, 2007

"Que floresçam mil flores"... (10)


Suburbanismo e centros comerciais

O modelo de desenvolvimento português, subordinado, em grande parte, aos interesses maioritários do imobiliário e da construção, mas também forçado por uma terciarização acelerada por via do fim do império e da necessária integração na União Europeia, conduziu a uma rápida suburbanização da sociedade portuguesa. As “malhas” urbanas das grandes cidades, Lisboa e Porto, as suas áreas metropolitanas, têm muito mais que ver com a América do Sul do que com a Europa, e foi esse, em grande medida, o (mau) exemplo que presidiu ao desenvolvimento urbanístico de grande parte de um país a sair da ruralidade. E, note-se, quando falo em “suburbanidade” não me refiro apenas ao modelo urbanístico, mas a algo muito mais vasto: uma cultura, um way of living a ela umbelicalmente ligado. Com os seus valores, comportamentos, ambições, frustrações e formas de ócio e lazer.

Dessa suburbanização fazem parte os mega centros comerciais, com as suas lojas e supermercados abertos entre as dez da manhã e as onze da noite, domingos e feriados, centros de lazer e passeio do proletariado das periferias, de súbito “promovido” a pequena e média burguesia consumista. Este é um cenário que, mal nosso, também evoca mais a América Latina do que a Europa, onde o comércio de rua, tradicional ou não, individual ou franchisado, continua a ser a regra. Acresce que a rentabilidade desses centros comerciais e supermercados (Continente, Colombo, Vasco da Gama e por aí fora – Benfica, Telheiras e Parque das Nações são pouco menos do que subúrbios) está ligada uma determinada lógica de funcionamento que obriga a esse mesmo horário de abertura alargado, o que tem que ver com a rentabilidade dos seus activos e os hábitos dos próprios consumidores gerados por essa mesma suburbanização de valores e culturas.

Parte activa deste modelo de desenvolvimento e seu mentor, o governo (os governos) decidiram, de repente, obrigar ao fecho dos tais supermercados aos domingos e feriados à tarde, mantendo as restantes lojas abertas, o que é uma decisão contrária a toda a lógica do modelo. Pior, decidiu fechar alguns e manter outros abertos com base apenas na área ocupada, mesmo que pertençam ao mesmo grupo ou network internacional e a filosofia seja idêntica. Para proteger o comércio tradicional (dizem), depois de ter definido uma estratégia de desenvolvimento que o pôs em causa e de ter provocado a desertificação dos centros urbanos e, também aí, ter sido um dos seus coveiros... Alguém entende aqui uma lógica, um fio condutor, uma estratégia?

Nota: No meio disto tudo, a directora de marketing do grupo Auchan (peço desculpa mas não me lembro do nome – a nossa memória tem esta rara virtude de seleccionar o que interessa) veio declarar à TSF, defendendo a abertura a domingos e feriados, que é “exactamente isso o que acontece nos países com crescimento de dois dígitos, como a China, a Índia e a Rússia (esqueceu-se de Angola – acho...). Pois ficámos esclarecidos sobre qual o modelo de desenvolvimento sugerido para Portugal pelo grupo Auchan!!! Por ter dito, como prova da excelência do Centro Comercial das Amoreiras, onde se situa um supermercado desse mesmo grupo Auchan, “que este não era frequentado por pretos” (estou a citar de cor), a então directora desse centro comercial, Mª José Galvão de Sousa, foi afastada do cargo. Com afirmações como a acima citada, talvez um dia a directora do Auchan nos venha dizer que a diversidade étnica é uma das mais valias do grupo...

Adriano Pimpão e o "ranking" das universidades

O reitor da Universidade do Algarve, Adriano Pimpão, mostrou seu desagrado face ao estabelecimento de um ranking das universidades. Reacção semelhante tiveram os professores, aqui há uns anos, quando do estabelecimento de um ranking nas escolas do ensino secundário. Claro está, neste país tudo o que “cheire” a avaliações, classificações, isto é, que possa “medir” o trabalho, esforço e valor de cada um em função dos resultados obtidos é liminarmente afastado qual cruz para o diabo ou réstea de alhos para vampiro. No caso do ensino secundário, a argumentação tinha que ver com o facto dos lugares nesse ranking dependerem da zona onde a escola estava inserida, da classe social de origem dos seus alunos, etc, etc. Como se os portugueses fossem burros e não entendessem isso mesmo. Na base dessa argumentação nem sequer haveria classificações no futebol, pois FCP, Benfica e Sporting têm, como toda a gente sabe, orçamentos e número de sócios e simpatizantes bem superiores aos das restantes equipas. A continuar assim, alegremente, ainda um dia teremos direito a que algum primeiro-ministro ou Presidente da República eleito nos venha brindar com uma versão “tuga” da frase de Nicolas Sarkozy referindo-se ao Maio de 68. Só que, em Portugal, a referência será o 25 de Abril...

segunda-feira, maio 07, 2007

Série "B" (1)

"The Secret of the Incas Empire"

História(s) da Música Popular (42)


Beach Boys - "Surfin' USA"

Chuck Berry - "Sweet Little Sixteen"
Não vou ousar dizer que a história da música popular está cheia de casos de plágio, mas lá que eles existem, e alguns bem famosos, isso também é verdade. Entre eles, o célebre caso conhecido nos meios judiciais como Bright Tunes Music v. Harrisongs Music é talvez o mais famoso, e teve que ver com as acusações de plágio a George Harrison (ex- Beatles) pela sua composição “My Sweet Lord”, alegadamente uma cópia do êxito das Chiffons, de 1963, “He’s So Fine”. O caso, depois de peripécias várias, acabou com a condenação de Harrison por ter plagiado de forma não intencional a canção das Chiffons, e levou ao pagamento de parte dos direitos de “My Sweet Lord” e do álbum “All Things Must Pass” à “dita” Bright Tunes Music.

Bom, mas a propósito de quê e de quem vem esta história ao caso na surf music? Expliquemos: o segundo êxito dos Beach Boys, e seu primeiro tema no top ten (#3) e que será o do seu lançamento definitivo, é uma cópia de uma velha composição de Chuck Berry (“Sweet Little Sixteen” - 1957) com uma “letra” diferente, “adaptada”, fazendo menção a todos os surf spots de que Brian Wilson se terá lembrado: “Surfin’ USA, 1963. Como Brian não surfava, e por isso não sabia quais os surf spots mais famosos, contou com a ajuda do irmão da sua namorada de então, Judy Bowles. Pelo menos é o que ele diz! O assunto foi, a princípio, pouco pacífico, já que Berry, logo que o single se tornou num sucesso, resolveu protestar contra o facto de a composição vir atribuída a Brian Wilson. Mas parece que por fim a “coisa” lá se resolveu, com o pai Wilson a ceder o copywright a Chuck Berry que, ao que se diz, até gostava de “Surfin’ USA”. O que eu sei é que nos vários CD’s e vinil que tenho cá por casa e onde consta o tema, ele é atribuído a Chuck Berry (umas vezes) e a Chuck Berry e Brian Wilson (outras). Portanto, tudo bem quando acaba bem. “Surfin’ USA” é também título do segundo álbum dos Beach Boys, para a Capitol, e para que possam comparar aqui fica ambos os temas em causa: “Surfin’ USA”, dos Beach Boys, e “Sweet Little Sixteen”, de Chuck Berry. Quem é amigo?

domingo, maio 06, 2007

Norman Rockwell "Freedom" Images

Freedom From Fear

José Pacheco Pereira e os aparelhos partidários

José Pacheco Pereira escreve este sábado no “Público” (reproduzido no “Abrupto”) uma interessante análise sobre os aparelhos dos partidos do chamado “bloco central”, a propósito da crise na Câmara de Lisboa e dos comportamentos e movimentações em curso. Duas notas:

  1. JPP é um intelectual, um “pensador” da política, um homem culto e informado e, por isso mesmo, que tende naturalmente a ser profundo e a assumir o primado da política (da “luta política” como tantas vezes afirma), da estratégia e não da táctica, da autonomia e não da pertença. Esse é o seu lugar como que “natural”, o que o coloca à partida num campo de antagonismo com aquilo e aqueles que no seu artigo refere. Por isso mesmo, essa sua análise assume também um carácter exorcístico face a uma realidade na qual era um corpo estranho e à qual teria tido dificuldade em se adaptar, que como que o tendia naturalmente a expelir. Basta ler regularmente JPP e ter uma ideia, mesmo que vaga e distanciada, como é o meu caso, de como funcionam as estruturas partidárias locais para perceber o modo como Pacheco Pereira terá sido, durante esses anos, obrigado a lutar num terreno que lhe era desfavorável, onde as suas melhores armas teriam dificuldade em conseguir espaço sequer para se exprimirem, muito menos para se imporem. Ter-se-á exposto assim a uma situação quase surrealista, para si certamente amarga, derrotado ou afastando-se numa luta por lugares de liderança num partido político por via da sua própria superioridade política e intelectual. É como que um contra-senso. Assim sendo, este seu artigo assume um papel também de “ajuste de contas”, não com alguém mas com instituições às quais (e bem) não reconhece “valor”. Também com o seu próprio passado.
  2. No entanto, penso a análise de JPP poderia ir um pouco mais longe, pois se descreve os factos não se debruça tanto sobre as causas. E essas, penso, mais uma vez não andarão muito longe daquelas que estão ligadas ao atraso português da falta, pouca ou nenhuma autonomia dos indivíduos, empresas e instituições face ao estado, num país com baixas qualificações e uma estrutura empresarial, institucional e individual sem capacidade competitiva suficiente para se tornar mais autónoma. Esse é o drama e o caldo de cultura que ajudou a moldar a personalidade dos portugueses e onde eles, portanto, com maior á vontade se movimentam. Onde vale mais a pequena habilidade do que o rasgo, a dependência e o cinismo do que a autonomia e a livre crítica, o “conhecimento certo” do que o conhecimento tout court, a obediência do que a qualificação, o temor reverencial do que a irreverência necessária, o “mais do mesmo” do que a inovação. Nesse sentido, o que se passa na Câmara de Lisboa, de modo particular com os dois principais partidos, PS e PSD, não é muito diferente do que se passa em outras áreas do país. É mesmo um pouco do seu retrato. Onde JPP não se revê e não gosta de rever o país. Eu também não.

sexta-feira, maio 04, 2007

O património histórico da Europa democrática, os partidos comunistas e a URSS

L'Affiche Rouge


"L'Affiche Rouge" - Léo Ferré


A luta contra as ditaduras que dominaram parte da Europa entre os anos vinte e setenta do século XX, quer fossem os nazi-fascismos ou as ditaduras de Franco e Salazar que neles mergulharam algumas das suas raízes, faz parte da herança patrimonial das democracias liberais da Europa ocidental. Nela, e nas suas memórias, nesse património histórico, político e cultural, se forjou uma parte daquilo que constitui, hoje em dia, a sua personalidade e, assim, também e não raras vezes um pouco do seu corpo jurídico doutrinário. Em algumas delas, como é o caso de Portugal e Espanha, essas lutas estão muito directamente na génese das actuais democracias, com elas quase por vezes se confundindo como herdeiras directas e exclusivas, o que por vezes conduz a conclusões erróneas e redutoras. Nessas lutas tiveram especial e destacada participação os partidos e militantes comunistas, tanto na resistência política como na luta armada, principalmente nos países sob ocupação da Alemanha nazi e na Itália fascista. Independentemente do modo como essa participação nos foi transmitida e da sua conformação com a realidade histórica – o que não vem aqui e agora ao caso -, consoante o lado de quem “contava” e o rigor que colocava nesses mesmos relatos, a sua contribuição foi inequívoca, sendo de salientar que a sua influência social e cultural transcendeu em muito a sua importância política se esta considerada no sentido menos lato do termo. Assim, apesar das suas contradições ideológicas e de prática política com os valores liberais, essas lutas dos partidos e militantes comunistas e as suas memórias, a história e as histórias de alguns dos seus militantes e simpatizantes, muitas vezes em aliança conjuntural com cristãos e socialistas, liberais e anarquistas, passaram também a fazer parte da herança cultural das democracias europeias, moldando-as, e daqueles que com elas se identificam.

A derrota da URSS na guerra fria e a queda do muro de Berlim, a adesão de muitos dos antigos países que viviam sob ditadura comunista à União Europeia e à NATO, veio como que recentrar a Europa no sentido do leste, alargando o campo democrático a novos países e nações com um património histórico diverso do nosso, ocidentais, na luta pelas democracias e identidades nacionais que nesses casos muitas vezes se confundem numa só realidade. Dessas memórias e património histórico não fazem parte os militantes e partidos comunistas enquanto parceiros, mesmo que contraditórios, de um caminho democrático. Não estiveram, mesmo que conjuntural e por vezes desconfortavelmente, deste lado da barricada: estiveram do outro. Contra eles, e não com eles, se trilhou o caminho democrático e de afirmação nacional, por vezes dando mesmo origem a alianças pouco claras e espúrias. Mas é uma memória e um património que contribui para que analisemos a história europeia recente sob uma nova e mais abrangente perspectiva, que nos enriquece na diversidade. Pois que seja bem vinda!