sexta-feira, março 30, 2007

Professores e "carreira"

"As faltas por doença, assistência a filhos menores ou morte de familiar não serão contabilizadas para efeitos de selecção no primeiro concurso de acesso a professor titular"
Por muito que isto possa parecer politicamente incorrecto ou até cruel - e mesmo partindo do princípio que todas as faltas correspondem a situações legalmente aceites devidamente verificáveis e verificadas, o que sabemos está longe de acontecer na prática - será que quem sistematicamente falta, mesmo que por razões ponderosas de doença e “assistência a familiares”, e quem apresenta uma assiduidade, digamos que, imaculada pode ser colocado em igualdade de circunstâncias face a uma oportunidade de promoção e progressão na carreira?

Grandes Séries (12)

Mais um clip retirado de "Lipstick On Your Collar" (1993 - Dennis Potter) - o que é bom sempre se repete! - , desta vez apresentando Ewan McGregor e os seus colegas de e na repartição do "Foreign Office". O tema é "Little Bitty Pretty One" (1957), escrito por Bobby Day, penso que aqui na versão original de Thurston Harris. O tema foi objecto de covers por muita e variegada gente, de Clyde McPhatter a Cliff Richard, passando por Frankie Lymon and the Teenagers e muitos outros, incluído os Jackson Five.

quinta-feira, março 29, 2007

A Guerra Aqui (mesmo) Ao Lado (17)

Cartaz de Parrilla para "Vigilancia en la retaguardia" (1937)

"Memory Recall"

Por muito que temas como as votações em Salazar e Cunhal num concurso/passatempo da RTP, as dissidências e o modo de eleição do líder no CDS/PP (ou será só CDS? ou será só PP?), a localização da “cidade aeroportuária da Ota” (ou de Rio Frio? ou do Poceirão?), o escândalo da Universidade (?) Independente e a licenciatura do 1º ministro ou a carta de condução do Mantorras possam ocupar espaço e tempos infidáveis na comunicação social e na política-espectáculo, as questões essenciais na sociedade portuguesa continuam – e continuarão a ser – as seguintes:
  1. A do modelo de desenvolvimento, o que coloca obviamente a questão das grandes obras públicas e, logo, do tipo de aeroporto e rede ferroviária que irão ser construídos.
  2. A da consolidação das contas públicas.
  3. A da reforma (a sério) da Administração Pública, incluindo, também, a da divisão administrativa do território.
  4. A das reformas do serviço nacional de saúde e da segurança social, que permitam melhorar a sua eficácia e viabilizá-los de forma sustentada.
  5. A da melhoria do sistema de ensino público e da qualificação dos portugueses, que passa necessariamente por uma maior autonomia das escolas na contratação dos seus quadros docentes quebrando o círculo vicioso do confronto ministério/sindicatos.
  6. A da modernização de Portugal nas questões “ditas” de sociedade, aproximando as leis e práticas vigentes das dos países mais desenvolvidos.

É pois aqui, nestas questões, que se deve fundamentalmente centrar o escrutínio dos media e dos cidadãos.

quarta-feira, março 28, 2007

Ota e "Bloco de Esquerda"

Mais uma vez: como se pode ouvir, a grande preocupação do Bloco de Esquerda na questão do novo aeroporto de Lisboa não é a da adequação, ou não, de um projecto que contém, em si mesmo, um modelo de desenvolvimento para o país, e o condiciona para o próximo meio século, mas a questão da privatização da ANA, o que significa que tanto o "Bloco" como o PCP, para além da "posse" do capital e da natureza jurídica, estatal ou privada, das empresas, não têm a propôr qualquer modelo de desenvolvimento alternativo para o país.

"Lucy in the Sky with Diamonds" (4)

"The Rolling Stones" - KONST poster

"Portugal, Um Retrato Social"

A série documental “Portugal, Um Retrato Social”, de António Barreto e Joana Pontes, que ontem estreou na RTP 1, embora por vezes deixe “arrastar” demasiado uma ou outra sequência, é uma tentativa séria, profunda (tanto quanto o “meio” o permite) e rigorosa de analisar a evolução do modo de vida dos portugueses nos últimos decénios. Outra coisa não seria de esperar, aliás. Mas, para ser devidamente seguido, exige de quem o vê, tal como de quem estuda matemática, atenção e capacidade de concentração, algo para o qual o espectador médio português, viciado na “leveza” das telenovelas e do “Preço Certo”, não estará muito vocacionado. Será também por isso que constato a quase ausência total de comentários, esta manhã, na minha volta habitual pela "blogosfera"?

Aproveito a oportunidade para relembrar o também excelente documentário de Luísa Schmidt “Portugal – Um Retrato Ambiental” que a RTP passou há bem poucos anos. Talvez fosse útil repetir a sua exibição, aproveitando a embalagem...

terça-feira, março 27, 2007

Anglophilia (31)

Staffordshire dogs

Ainda a Ota

Por vezes as revelações vêm de onde menos se espera. E foi isso que aconteceu com o “Prós & Contras” de ontem, onde um debate que era suposto ser “técnico entre técnicos” acabou por ser fonte de informações políticas surpreendentes para os que andavam distraídos ou são por natureza ingénuos. Vi apenas uma pequena parte do debate, confesso, porque isso de “trezentos e tal engenheiros”, todos juntos e em “directo e ao vivo”, para quem não andou no “Técnico” nem passou pela Faculdade de Engenharia do Porto, é coisa de assustar o mais corajoso - com a Drª Fátima a comandar seria ainda pior. Mas vi o suficiente para ter ouvido duas coisas importantíssimas, ambas remetendo para questões políticas e estratégicas “de fundo”. Em primeiro lugar, um dos intervenientes gritando “alto e bom som” que “para a Ota ou para qualquer outro lado mas “rapidamente e em força” pois já estava tudo muito atrasado e nos arriscávamos a ser ultrapassados pelos infiéis (perdão, pelos castelhanos) que estavam a preparar o alargamento de Barajas transformando, desse modo, Lisboa num aeroporto regional como Sevilha ou Valência (esqueceu-se de Barcelona, uma regiãozita...). Depois, José Manuel Viegas proclamando que existem três espécies de aeroportos: os “vou ali já venho” (as palavras são dele), e que para esses chegava a opção Portela+1, um qualquer de tipo intermédio e aquele que Lisboa e Portugal se propõe construir, seja, “a grande cidade aeroportuária”!!! Se alguém ainda duvidava de que se estava perante uma opção política que tem que ver com o modelo de desenvolvimento e de competitividade propostos para o país, e o modo como ele se articula com a sua inserção peninsular, está aqui tudo bem dito e liminar e exemplarmente expresso.

À partida uma questão muito simples: qual o modelo competitivo e concorrencial que queremos e podemos estabelecer com o resto da península, num processo, simultaneamente, de cada vez maior integração económica e descentralização política? Um modelo directamente concorrencial, ou alternativo e de complementaridade baseado numa análise das nossas forças, fraquezas, oportunidade e ameaças (SWOT) num espaço ibérico em que, cada vez mais, Portugal é apenas (quer queiramos quer não) mais um mercado - tal como a Andaluzia, o País Basco, a Catalunha ou a Galiza - e em que os centros de decisão económica estão fundamentalmente localizados em Madrid? É que o que está na base da “grande cidade aeroportuária” é o modelo directamente concorrencial (mesmo assim com mais algumas megalomanias acrescidas), que, em minha opinião, não tem em conta a realidade, isto é, o que é o presente e será o futuro da península em termos de economia e de mercado(s). Parece-me um pouco como se, em Aljubarrota, o exército anglo-luso (sim, disse bem) em vez de ter escolhido o terreno, combatido a pé, feito recurso ao arco longo e às fortificações, tivesse combatido o exército luso/franco/ castelhano (também disse bem), de D. Juan, em campo aberto e a cavalo! Mas será que alguém acredita mesmo na viabilidade desse modelo e que, portanto, o novo aeroporto de Lisboa se irá transformar nesse hub gigantesco, concorrencial com Madrid, mais a mais com as duas cidades a um par de horas de distância via TGV? Claro que não acredita, mas o assunto é bem outro. Vejamos.

O que as vozes dominantes já conseguiram fazer foi colocar a questão não em torno de dois modelos de desenvolvimento alternativos (o que prefiguraria as alternativas Portela+1 vs “cidade aeroportuária”) mas apenas em torno da questão “técnica” de localizações preferenciais, na base de um único modelo de desenvolvimento “à partida” assumido, modelo esse que mais não é do que o prolongamento do actual das grandes obras públicas e do betão. É mais do mesmo: mais rotundas, mais pavilhões, mais auto-estradas, mais Expo 98, mais Euro 2004 e agora mais “cidade aeroportuária” e respectivas (muitas) obras complementares. Claro que não admira que se assista a uma conjugação de interesses entre governo (“cidade aeroportuária” significa mais crescimento, mais emprego e... aparente, menos necessidade de mais e mais profundas e dolorosas reformas) e empresas ligadas à especulação imobiliária, construção civil e obras públicas, desde sempre o grande motor de desenvolvimento (?) do país. Não é também de admirar, portanto (como também já disse neste blog) que mesmo aqueles que estão por sistema “contra” (PCP e “Bloco”) sejam, neste caso, tão tíbios nas suas opiniões.

A questão essencial (key issue) não é, portanto, a localização do novo aeroporto - que é apenas o terreno onde se defrontam e enfrentam visões, lobbies e interesses diversos dentro do mesmo modelo de desenvolvimento proposto para o país - mas sim a de dois projectos de futuro antagónicos que prefiguram duas estruturas aeroportuárias diferentes entre si. Colocar a questão de outro modo é iludir o essencial e prestar um mau serviço aos portugueses, hipotecando o seu futuro. Mantenho uma pergunta já feita: por que razão, tanto quanto conheço e me lembro, em nenhuma outra cidade europeia a construção de um novo aeroporto implicou o fecho do já existente?

segunda-feira, março 26, 2007

Do futuro do litoral alentejano

O governo anunciou a construção de novos empreendimentos turísticos no litoral alentejano, que, segundo o mesmo governo, terão grande qualidade e serão respeitadores do ambiente, da ordenação do território e defesa do litoral. Para além de criarem mais “não sei quantos postos de trabalho”, que é sempre o argumento definitivo. Tudo bem, não irei pôr isso em causa, embora possa ter algumas razões para desconfiar do que aí vem. Mas o problema não são, muitas vezes, esses empreendimentos, em si, como o não são, no Algarve, Vale do Lobo, Quinta do Lago, Praínha ou Balaia. O problema é tudo aquilo que, à sua volta, esses empreendimentos potenciam, perante a complacência – e até mesmo o incentivo – de autarcas e populações locais, como no Algarve aconteceu com o crescimento desmesurado e sem controle de aldeias de pescadores, assim transformadas, na melhor das hipóteses, em clones de aglomerados suburbanos, e de uma estrada nacional 125 concorrente directa da feira em que se transformou a antiga estrada nacional nº 1. Caso para dizer: tenha medo; tenha mesmo muito medo!

The Classic Era of American Pulp Magazines (29)

Ilustração de Tom Blame para a capa de "New Mystery Adventures" (Dezembro de 1935)

História(s) da Música Popular (38)



"Death Rock"
Ora façamos uma pausa, para não ficarmos demasiado empanturrados e termos boca e estômago preparados para o que aí vem, entre a “surf music” instrumental e a vocal, assim como quem degusta um sorbet de limão ou cassis entre o peixe e a carne. E, para isso, falemos de algo trágico mas que nos fará sorrir, qualquer coisa no limiar do kitsch: o “death rock”! Pois as “death songs” foram algo relativamente em voga neste período de refluxo na história do rock, entre o final dos anos cinquenta e a British Invasion a que os Beatles deram origem. Para a “Rolling Stone Encyclopedia Of Rock & Roll” (de que sempre me socorro nestas e noutras alturas) eram “songs about grisly, melodramatic teen fatalities”, segundo os autores (Jan Pareles e Patricia Romanowski), talvez geradas por um ambiente demasiado influenciado pelo perigo nuclear e pela guerra fria. Talvez..., mas, cá para mim, muito mais porque os amores adolescentes - que se pensa serem sempre únicos e “para sempre” e para além dos quais nada existe que justifique a continuação da vida - se querem sempre trágicos, quais Romeus e Julietas dos tempos modernos. E, se virmos bem, algo que marca de forma inequívoca este período do pós "invenção" do rock & roll é exactamente o início da formação e autonomia dessa cultura adolescente, que atingirá formas de expressão mais elaboradas e contestatárias, política e socialmente, e o pico da sua afirmação, na segunda metade dos anos sessenta com o movimento hippie, o LSD, a luta contra a guerra do Vietnam e, na Europa, o Maio de 68. Penso, portanto, que estas “death songs” seriam um pouco a contestação, por via do amor “puro e verdadeiro” – por isso, trágico –, dos teenagers do final dos anos cinquenta aos casamentos e formas de relacionamento amoroso, que viam como convencionais e ultrapassadas, das suas famílias de origem. E a contestação começa sempre pelo que nos está mais próximo, pelo que é mais fácil e imediatista negar. No final dos anos cinquenta é um mundo novo que nasce e, tal como aconteceu após as revoluções burguesas dos séculos XVIII e XIX, isso gera necessariamente novas formas de cultura e relacionamento pessoal, com a negação de todas as anteriores.

Mas enfim, passemos da filosofia aos actos, e este “Tell Laura I Love Her” (1960), de Ray Peterson, é um excelente exemplo (um dos mais conhecidos, também) do "death rock": o rapaz pobre que se inscreve, e morre, numa corrida de “stock cars” para com o dinheiro do prémio poder comprar um anel de noivado à sua amada. Para cúmulo, não consegue despedir-se da “pikena” ao telefone (suprema ironia: fala com a mãe, que representa a geração anterior, a que se quer contestar) e a dita Laura acaba na capela a chorar a morte do seu amado! È o verdadeiro dramalhão de fazer chorar as pedras da calçada e inundar de lágrimas, por junto, o deserto do Mohave e o Death Valley! A canção foi editada pela RCA Victor depois da Decca ter recusado a sua gravação por o tema ser considerado inapropriado (!!!) e teve várias cover versions, sendo a mais conhecida a do britânico Ricky Valance (não confundir com o americano Ritchie Valens nesta altura já desaparecido), para a EMI, que foi #1 nos charts britânicos. Uma curiosidade: foi o primeiro êxito de Jeff Barry, seu compositor aqui em parceria com Ben Raleigh, o mesmo Barry que, mais tarde, formaria com Ellie Greenwich (e também com Phil Spector) uma das parcerias de maior sucesso do célebre Brill Building de NY. Mas isso são já outras histórias que não são agora para aqui chamadas!...

Claro que o "death rock", que nunca foi muito mais do que uma “curiosidade” sem grande expressão, entra em declínio quando os adolescentes da segunda metade dos anos sessenta se começam a preocupar com outras contestações e assuntos mais sérios, deixando de lado estas pieguices na música que faziam, tocavam e cantavam. E ainda bem que o fizeram!

Portugal-Bélgica

Um jogo é claramente insuficiente para se extraírem conclusões, e convenhamos que os belgas actuais parecem bem melhores a comer “des frites et des moules” e a beber uma “Mort Subite” do que propriamente a jogar à bola, mas fiquei com a ideia de que a selecção portuguesa de futebol parece estar a praticar um futebol bem mais objectivo do que o do tempo de Figo, Costinha, Maniche e Deco, já em si mesmo uma evolução face ao de épocas imediatamente anteriores, evolução essa fruto do jogo mais directo, simples, dinâmico e com a baliza nos olhos de jogadores como Petit, Tiago, Moutinho e Quaresma (além de Cristiano, claro). Uma impressão a ser confirmada ou desfeita em ocasiões posteriores e que, no caso de se vir a confirmar, tornará ainda mais gritante aquilo que já foi notório no jogo de sábado: que Nuno Gomes parece ser um corpo estranho àquela equipa e àquele modelo de jogo, tanto, ou ainda mais, quanto Pauleta e Luís Boa Morte, independentemente do seu valor individual, o pareciam ser na equipa anterior.

domingo, março 25, 2007

Tratado de Roma - 50 anos



"Ode An Die Freude" - Ludwig van Beethoven 9th Symphony. Orquestra Sinfónica do Paraná e Coral Nova Philarmonia.

A tão incensada vocação atlantista dos portugueses, que nunca foi outra coisa senão a opção que restava face à não integração na unidade peninsular e à subsequente necessidade de Portugal, para sobreviver, se tornar um protectorado, ou uma sub-potência, do grande império marítimo - a Inglaterra –, foi a responsável pelo afastamento do país dos palcos onde se jogou e decidiu o futuro do continente europeu. Foi pois, também, essa a opção responsável pelo seu atraso. Espero, embora com pouca esperança, que a lição tenha sido duramente aprendida, e que o caminho aberto por aquele que foi o mais moderno e cosmopolita político português do século XX, Mário Soares, no qual não votei nas últimas presidenciais porque tudo tem o seu tempo e a sua oportunidade, seja assumido por quem de direito sem grandes ou pequenas hesitações, ditas atlantistas ou pseudo tropicalistas.

sábado, março 24, 2007

Sábado é dia de "bola"

Se Vitória de Setúbal e Beira Mar descerem de divisão - o que é bem possível já que um tenta não declarar oficialmente falência e o outro lá vai “inventando” mil e um estratagemas para se manter mais ou menos viável - se exceptuarmos Lisboa e Porto, descem os dois últimos clubes históricos de zonas industriais e operárias onde o futebol cresceu e se tornou um jogo popular. Irão juntar-se a Olhanense e Portimonense, Leixões, Vitória de Guimarães, Sporting da Covilhã e Barreirense, substituídos por clubes “artificiais” sustentados pelas autarquias respectivas ou outros, como a Académica, sem uma efectiva inserção nas classes populares mas que cresceu e sobreviveu apoiada num estatuto e regulamento que a protegia e defendia da concorrência. Se verificarmos ainda que cidades como Faro, Beja, Évora, Castelo Branco, Portalegre, Viseu, Guarda, Vila Real, Chaves, Bragança e Viana do Castelo nunca tiveram, ou não têm há muitos anos e dificilmente terão no futuro próximo, representação na 1ª divisão do futebol português, estamos perante um panorama do que foi e é a estrutura da sociedade portuguesa, com uma industrialização inexistente ou tardia e, fundamentalmente, frágil, que não resistiu, ou resistiu mal, ao impacto da livre concorrência e da globalização. É por isso, também, que os estádios vão ficando cada vez mais vazios, e é também por isso que eu “torço” para que Vitória de Guimarães e Leixões voltem no próximo ano à 1ª divisão.

sexta-feira, março 23, 2007

William Blake: "Songs of Innocence and of Experience" (9)

Merry, merry sparrow!
Under leaves so green
A happy blossom
Sees you, swift as arrow,
Seek your cradle narrow,
Near my bosom.
Pretty, pretty robin!
Under leaves so green
A happy blossom
Hears you sobbing, sobbing,
Pretty, pretty robin,
Near my bosom.
"The Blossom" - Ilustração e poema de William Blake para "Songs of Innocence and of Experience"

Michelle Brito

Segundo o “Público”, existem pressões para que Michelle Brito, que parece ser a primeira portuguesa candidata séria a um lugar na elite do circuito mundial de ténis (apesar do “patrioteirismo” habitual nestas coisas por parte dos “media”), se naturalize americana, o que, parece, facilitaria o apoio das empresas. Ora aqui está uma boa oportunidade para algumas empresas portuguesas, mormente aquelas, como a PT e o BES, que são de há muito patrocinadoras do Estoril Open, mostrarem que o “sponsorship” não serve só para ajudar alguns amigos em maiores ou menores dificuldades e pode – e deve – ser encarado com profissionalismo e numa perspectiva séria de longo prazo. Mais a mais tratando-se de um desporto com cada vez maior projecção mediática, principalmente no feminino.

Clássicos do Cinema (29)

"Persona" de Ingmar Bergman (1966)

quinta-feira, março 22, 2007

Grandes Séries (11)

Mais um clip do 6º episódio de "Lipstick On Your Collar" (1993), de Dennis Potter, desta vez integrando mais um dos protagonistas da série, Giles Thomas no papel do "Private" Francis Francis. A canção é "Sh-Boom" (1954) um original dos Chords aqui na sua versão mais conhecida, a dos Crew- Cuts, um grupo canadiano branco integrante do movimento "Doo Wop".
Algo que ficou por dizer no post anterior: Dennis Potter seria homenageado três anos após a sua morte pelo cineasta francês Alain Resnais, com a realização do filme "On Connaît La Chanson" (1997)

"Portugal dos pequeninos"

Hoje de manhã, no Rádio Clube, o antigo secretário de estado do ambiente José Eduardo Martins justificou o facto de o Estado não actuar no caso da poluição, por empresas de curtumes, dos rios Lis e Alviela (foram os casos referidos) com a afirmação de que, caso o fizesse no sentido de forçar o cumprimento da lei, “as empresas ameaçarem com o seu fecho lançando milhares de trabalhadores no desemprego e a depressão económica na região”. Notável: o Estado cede à chantagem das empresas abdicando do uso da sua autoridade e da aplicação coerciva da lei que ele próprio promulgou. Maior confissão da falta de autoridade do Estado, convenhamos que será difícil. Valha-nos, ainda assim, a honestidade da confissão. É que, das duas uma: ou a lei não tem em conta a realidade do país – e está mal feita – ou então as empresas não têm viabilidade num país que se pretende civilizado e do primeiro mundo e devem fechar - ou deslocalizar-se para onde as “aturem” - doa a quem doer e com as consequências que daí possam advir, inclusivamente o facto de estarem, a troco de umas centésimas do PIB e de umas centenas de postos de trabalho, a pôr em causa o futuro de um país e de uma região.

Mas a questão é um pouco mais vasta. Por um lado mostra como uma legislação aparentemente “modernizadora” serve apenas, em muitos casos, para mascarar a ineficiência e inépcia das autoridades no controle e repressão de actividades ilícitas mas, de facto, abertamente toleradas. Muitas vezes com a própria cumplicidade das populações locais (seria este o caso, segundo o ex-secretário de estado) tementes de verem em perigo, no curto prazo, as suas actividades, empregos e ecologia social: de facto, estas dependem da sua possibilidade de poluir os rios. Sabemos bem onde isto leva...

Por outro lado, coloca a nu a extrema fragilidade de uma boa parte do tecido empresarial português, que sobrevive, apenas ou sobretudo, à custa de pequenas e grandes irregularidades e habilidades várias, desde o incumprimento, mais ou menos tolerado, da legislação até aos salários em atraso, fuga ao fisco, falta de pagamentos à segurança social, permanência da precaridade dos vínculos laborais para além do socialmente aceitável, atrasos nos pagamentos a fornecedores e tráfico de influências com as autoridades locais. No fundo, o “caldo de cultura” onde se alimentam e engordam casos como o de Marco de Canavezes, Felgueiras and so on... É este o verdadeiro “Portugal dos pequeninos”.

quarta-feira, março 21, 2007

Frederico García Lorca (12)

"Hombre joven y pirámides", 1929 - 1930. Ilustração de FGL para "Poeta En Nueva York"

Miguel Frasquilho e Dr. Strangelove

Francamente, quando penso em Miguel Frasquilho, que será o porta-voz do PSD para as questões de finanças públicas, não consigo deixar de me lembrar de Dr. Strangelove de Kubrick, o cientista nazi emigrado após a guerra para os USA (como o foi, de facto, Werner von Braun), interpretado por Peter Sellers, e que era incapaz de conter uma saudação nazi quando discursava ou falava sobre os seus projectos da bomba nuclear. Não, não estou a chamar nazi (muito longe disso) a Frasquilho, que tenho por democrata, mas a semelhança vem, isso sim, do facto de ele ser incapaz de evitar falar de redução de impostos de cada vez que tem de se pronunciar sobre algum tema de finanças públicas. A gente sabe que “old habits die hard”, mas, oh! homem, contenha-se!

Mais "Ota"

Dois comentários, breves, sobre a Ota:

  1. Que me conste ou tenha verificado, em nenhuma das principais cidades europeias em que foi construído um novo aeroporto nos últimos cinquenta ou sessenta anos (por exemplo, Paris com Roissy – Charles de Gaulle), ou em que foi ampliado e/ou “revitalizado” um segundo aeroporto já existente (como penso ser o exemplo de Londres – Gatwick, para além de Luton ou Stansted, ou de Milão – Linate e Malpensa), o principal aeroporto foi encerrado ou desactivado, nas suas principais funções de destino e origem de voos comerciais, na sequência desse processo. Que me lembre, também, os principais aeroportos europeus continuam a situar-se exactamente no mesmo local onde já existiam há esses mesmos anos. Estarei errado ou com má memória? Se não, alguém me explica porque isso não irá acontecer com Lisboa – Portela?
  2. Quando assistimos a debates sobre o novo aeroporto de Lisboa que envolvem técnicos, reconhecidos e qualificados, do sector, penso não é difícil concluir, ao fim de alguns minutos, que, de uma maneira ou de outra, “ninguém sai ileso” – ou quase ninguém, para ser mais justo. Isto é, o projecto é de tal modo gigantesco e os interesses envolvidos tão grandes que dificilmente alguém não está, de algum modo, envolvido ou condicionado por eles nos seus pareceres e opções, seja como consultor, engenheiro ligado a qualquer fase do projecto, executivo em empresa tutelada ou com fortes ligações ao Estado, etc, etc. A ter em conta por aqueles para quem os técnicos são “virgens vestais” e as suas conclusões inquestionáveis.

terça-feira, março 20, 2007

O Mundo em Guerra (30)

UK & CW

Domingos Lopes, "Mestre em Problemas da Paz e da Guerra"

Hoje, no “Público”, um tal de Domingos Lopes (que ignoro quem seja, mas isso não tem qualquer importância) assina um seu artigo sobre a questão iraniana como “Mestre em Problemas da Paz e da Guerra”. Independentemente da “gente” não saber qual a função desse mestrado, isto é, se serve para resolver ou criar os problemas da paz, da guerra e em que proporção ou grau o fará, em cada um dos seus vectores, isto de ser “Mestre em Problemas da Paz e da Guerra” será, certamente, coisa de monta. Já viram o que é, na rua, ser identificado por um polícia, este perguntar-lhe a profissão ou actividade e o “dito cujo” responder, tal qual outros respondem “médico”, “engenheiro”, “advogado”, “oficial da 5ª repartição do 1º bairro fiscal ou limpa chaminés, “”Mestre em Problemas da Paz e da Guerra”? Qual será a reacção do pobre cívico? Hoje em dia, de respeito, com certeza, pensando estar a falar com algum assessor do senhor Bush; há uns vinte ou trinta anos certamente acabaria na esquadra, tal qual tivesse respondido ser o Napoleão ou a cavalo do D. José. Mas a coisa será ainda mais importante numa reunião social, em que já o estou a ver rodeado das representantes mais interessantes do sexo oposto, pois isto de ser “Mestre” (“Mestre”, já viram bem?) em questões tão vitais para o futuro da humanidade, e tão importantes no seu passado, não pode passar sem uns “ohs!...” de admiração e uns “ais” de suspiração. É um pouco como se fora “Master of the Universe”, ou “Master (s) of War” como a canção do Dylan, e isto do poder, para as mulheres, sempre foi tão afrodisíaco como algumas dúzias de ostras quando se acreditava que o eram.

“Mestre em Problemas da Paz e da Guerra”!!!.... É que, vendo ainda melhor, a coisa remete-me também aí para as histórias do Flash Gordon, ou de filmes da série B, de histórias de quadradinhos do velho “Mundo de Aventuras” ou de revistas “pulp fiction” ainda antes de Tarantino as trazer de volta aos nossos corações. Ou então, mais perto, do Obi Wan Kenobi de George Lucas, “you’re my only help"...

Mas, oh meu caro Domingos Lopes “Mestre em Problemas da Paz e da Guerra” seja a criá-los ou solucioná-los ou seja lá o que isso for, você hoje divertiu-me mesmo, e eu ando tão precisado disso. E já que ando a precisar de pôr o ego cá para cima, não quer mesmo ser meu amigo? É que já viu o sainete que dava eu apresentá-lo assim aos do meu círculo restrito: este é o meu amigo Domingos Lopes, “Mestre em Problemas da Paz e da Guerra”! Fantástico, não era? Olhe, meu caro “mestre” (desculpe, com letra maiúscula – “Mestre”) que esta já vai longa, “may the force be with you”!!!

PS: olhe, já agora vou mesmo ler o seu artigo... Quem sabe se não me poderei tornar, não direi “mestre” (desculpe, “Mestre”), mas pelo menos um “iniciado” com algum futuro promissor!

Costa de Caparica

Não sou especialista em questões do ambiente ou de ordenamento do território; tenho sobre ambos os assuntos o conhecimento de qualquer cidadão interessado e atento e o desejo de viver um pouco melhor no país onde, desgraçadamente, me aconteceu nascer e viver uma boa parte da minha vida. Dito isto, não deixo de pensar que o que aconteceu na Costa de Caparica, nos últimos cinquenta anos (e para além das questões do avanço do mar já suficientemente analisadas por quem do assunto tem conhecimento técnico), terá sido um dos maiores atentados ambientais que já me foi dado observar. Na Caparica da minha infância, quando era ainda e apenas local de veraneio, entre Santo António e a Cova do Vapor não existia a estrada de duas faixas (autêntica auto-estrada) aberta nos últimos anos mas apenas uma pequena estrada que conduzia à Trafaria , ladeada, em parte esse trajecto, por um caminho de terra para peões e bicicletas onde calmamente se passeava ao fim da tarde. Delimitava a “mata”, onde não existiam parques de estacionamento, que a destruíram assim como às dunas, e onde as únicas construções eram o Inatel, um rinque de patinagem e umas “barracas”, talvez de pescadores, já muito perto da Cova do Vapor. Bairros de barracas, pomposamente chamados de “campismo”, que invadiram a “mata” e o pinhal onde antes existia apenas uma ou outra esplanada com mini golfe, local de passeio com as mães nos fins de tarde de Verão ou nos dias de menos sol, eram apenas “memória do futuro”. A sul da vila, as praias que levam à Fonte da Telha eram destino de passeios pelo areal, e os parques de estacionamento e respectivos acessos encavalitados nas dunas ainda não existiam. Penso que o que aconteceu com a pressão urbanística e humana sofrida por toda esta zona foi a destruição do frágil sistema ecológico da área compreendida entre a arriba fóssil (onde o mar, mais tarde ou mais cedo, tentaria voltar a chegar) e o mar, entre a Cova do Vapor e a Fonte da Telha, com as suas pequenas hortas na faixa plana junto à arriba, a característica “mata” e as dunas que era necessário atravessar para chegar à praia e ao mar. Ter-se autorizado a implantação de parques de “campismo”/bairros de barracas entre a estrada e o mar (por vezes em plena “mata” ou nas dunas), ter-se permitido o acesso de carros às praias e a parques de estacionamento construídos na zona entre a estrada e a praia, destruindo a “mata” e as dunas, foi um crime que, como tantos outros, ficará para sempre impune. Desgraçado país este, que se auto-destrói!

História(s) da Música Popular (36)

Let's Go Surfin'? (VI)
Pois acabemos este capítulo dedicado à surf music instrumental (a verdadeira... a legítima) com mais um “one hit wonder” nas pessoas e som dos Chantays e do seu “Pipeline”. “One hit wonder”, sim, mas suficiente para lhes abrir as portas do “Rock and Roll Hall of Fame” e de uma série de “covers” por parte de quem era quem no rock instrumental, desde Hank Marvin a Dick Dale passando pelos Ventures. Como curiosidade, o grupo - ou parte dele – continua activo, depois de algumas mudanças nos seus membros, tendo mesmo editado um novo CD em 1994 que eu farei o favor de, cuidadosamente, evitar ouvir. É que tudo tem o seu tempo, e deve permanecer fiel ao espírito do lugar, por isso é melhor ficarmo-nos por este “Pipeline” de 1963.

segunda-feira, março 19, 2007

Outras Músicas (20)

Scott Joplin (1868 - 1917) - "Maple Leaf Rag"

Pergunta.

A entrevista a Pedro Santana Lopes ontem, na SIC Notícias, foi entrevista, tempo de antena ou comentário político com Ana Lourenço a fazer da outra Ana (a Sousa Dias) ou de Mª Flor Pedroso?

"Que floresçam mil flores"... (7)


O PCP o BE e a OTA

Não deixa de ser curioso algum silêncio, ou pelo menos algum déficit de intervenção política pública, do PCP e BE, em outros casos tão estridentemente activos, no caso da Ota e TGV. Quando muito, e se estive atento, ficam-se por algumas declarações avulsas, aqui e ali, mais sobre questões acessórias ligadas com privatizações como a da ANA e menos sobre o essencial, suficientemente vagas para que se tornem numa não-opinião e apenas porque é necessário dizer alguma coisa. Percebo-os. Por um lado estamos a falar de grandes obras públicas, que pela sua própria natureza e estatuto jurídico (público) se inscrevem perfeitamente no seu ideário político. Mais ainda, e para além de algum emprego directo que irão necessariamente gerar - e nem todo irá para imigrantes -, irão gerar também algum efeito multiplicador, provocando crescimento económico conjuntural e subsequente aumento dos níveis de emprego, mesmo que tenha também como resultado um agravamento de déficit externo, algo que para quem não tem perspectivas de governo não se revestirá de grande importância. Mas, por outro lado, tanto o PCP como o BE têm a perfeita noção de que tudo isto é conjuntural, ilusório e não sustentável, e, principalmente, significará mais do mesmo, ou seja, em nada contribuirá para mudar qualitativamente o modelo de desenvolvimento ou os níveis de competitividade do país, ajudando a quebrar o círculo vicioso “baixa qualificação”, “baixa produtividade e valor acrescentado”, “salários baixos”, modelo contra o qual se têm, com razão, batido. Ora aqui está um assunto que lhes provocará algum desconforto e no qual gostaria de os ver mais activos...

domingo, março 18, 2007

"Allgarve"???

Aquilo que se está a fazer ao mexer com um "brand name" conhecido e reconhecido, como é o caso de “Algarve”, transformando-o, vá lá saber-se porquê, em “Allgarve”, é um erro grosseiro e primário, desaconselhado por qualquer marketeer experiente ou manual de marketing e gestão. Aliás, e salvo raras excepções, vem na sequência do conjunto de asneiras, disparates e desperdícios de dinheiros públicos em que se transformou, nos últimos anos, a promoção do país, como foi o caso das campanhas desenvolvidas quando do EURO 2004 e das quais nunca nos foram dados a conhecer avaliações e resultados. Tudo isto perante o ar divertido e satisfeito consigo próprio dos diversos responsáveis pelo sector nos últimos governos, ao estilo “tão inovadores e inteligentes que nós somos, já viram?” Lamentável!

sexta-feira, março 16, 2007

"Lucy in the Sky with Diamonds" (3)

Cartaz de Martin Sharp para os "Cream"

Qualidade de serviço "à portuguesa"

Almoço no “Pasta Café” do Monumental, onde é suposto ser rápido. Pedidos uma pizza e uns escalopes. Ao fim de cerca de meia hora de espera, resolvi questionar o empregado sobre as razões da demora. Resposta que tinha havido um engano com os escalopes e que, portanto, iria demorar ainda mais, pelo que era melhor substituir por um prato de massas. Comentário ao jeito de conclusão: em qualquer país civilizado não teria sido necessário perguntar; teria sido informado, teriam pedido desculpas e não teriam cobrado, ou teriam feito um desconto substancial no prato que, finalmente, fui obrigado a “escolher”. Escusado será dizer que nada disto se passou. Ponto final.

quinta-feira, março 15, 2007

Santana Lopes e a música

Santana Lopes e a música são definitivamente duas realidades incompatíveis. Depois do “gag” dos concertos para violino de Chopin, capaz de fazer corar de vergonha qualquer responsável da cultura de um país da África sub-sahariana, referiu “um célebre fado de Hermínia Silva que tinha uma estrofe repetida”: “anda Pacheco” (citei de cor). Pois é tempo e oportunidade de dizer a Santana Lopes, que até foi presidente da CML cidade onde a fadista nasceu e viveu e da qual é um dos símbolos, que não existe tal fado. “Anda Pacheco” era uma frase que Hermínia usava frequentemente quando cantava qualquer um dos seus fados, dirigindo-se e “puxando” pelo seu guitarrista António Pacheco, tal como “picadinho para a voz sobressair”. Que tal ir à FNAC comprar uns CD’s ou fazer uns downloads?

Grandes Séries (10)

Pois muita atenção aos leitores deste blog (que os há) pois vamos ficar por aqui algum tempo, bem gasto e bem merecido. Não apenas por este "Lipstick On Your Collar", nome emprestado de uma canção (1959) da italo-americana Connie Francis (que por aqui já passou num dos capítulos de "História(s) da Música Popular") que ilustra musicalmente o genérico da série, mas também de outras séries de TV criadas pelo génio (os génios são sempre criativos ou os criativos são sempre geniais, não é?) de Dennis Potter. Pois "Lipstick on Your Collar" é a Inglaterra (e a Londres, muito particularmente) dos anos cinquenta vista e vivida através da música popular e do quotidiano de dois funcionários administrativos do Foreign Office durante a crise do Suez (segunda metade dos anos 50), isto é, no estertor do Império. É o fim de uma época e o início de outra que se aproxima, da swinging London dos sixties, radicalmente diferente e revolucionária nos usos e costumes. Por alguma razão, e se estou bem lembrado, uma das últimas sequências da série é uma panorâmica sobre o 2I's Coffee Bar, no Soho, onde Cliff Richard, então o émulo britânico de um Elvis Presley ainda na sua fase de rock & roll, se deu a conhecer "à cidade e ao mundo". É o retrato de uma geração, imediatamente anterior à minha, que, em certa medida, se descobriu, fez adulta e formou a sua personalidade através das novas formas da música popular, que projectou a emancipação das gerações seguintes.
É também a primeira aparição na TV de Ewan Mc Gregor, no papel do "Private" Mick Hopper, que neste clip dança e finge que canta com Sylvia Berry (Louise Germaine) ao som do "one hit wonder" "Love Is Strange" (1956) dos americanos Mickey & Sylvia.
A série passou na RTP nos anos 90.

Fotografias (11)


"Fruto" - fotografia de JC

quarta-feira, março 14, 2007

Miguel Frasquilho e o "choque fiscal"

O inefável Miguel Frasquilho (o do “choque fiscal”) lá volta hoje no “Público” (não linkável) à questão do desagravamento de alguns impostos, neste caso o IVA e o IRC, com o objectivo de relançar a actividade económica, diz ele. Para isso apresenta alguns números justificativos da sua tese de existir “folga” para um decréscimo do IVA em um ponto percentual e do IRC para 22%. Partindo do princípio de que as suas contas sobre o custo de cada ponto percentual de IVA e IRC estão certas - não possuo elementos para o contestar - e dando de barato o facto de Miguel Frasquilho (MF) acabar por reconhecer, implicitamente, o sucesso do governo no controle do déficit (é o que eu costumo designar por “síndroma do jogador principiante de xadrez”: entusiasma-se tanto com o seu ataque que esquece as possibilidades de contra-ataque que o seu jogo concede ao adversário), gostaria de deixar algumas perguntas, já que MF é bastante rigoroso nas contas apresentadas que podem justificar a sua tese mas completamente vago ou omisso nas restantes.
  1. Utilizando o léxico “economês” de MF, coeteris paribus, qual o incremento esperado da actividade económica quando, a este nível de fiscalidade, se baixa um ponto percentual no IVA e/ou no IRC?
  2. Se desagregássemos, por sectores de actividade económica, qual seria o cenário? Seriam os sectores geradores de maior valor acrescentado os mais beneficiados?
  3. Qual seria a sua influência (quantificada) na criação de emprego? E na diminuição da fraude e evasão fiscais?
  4. Se, citando o próprio MF, “nada de estrutural foi até agora concretizado do lado da despesa pública” (parcialmente, tem razão) e sabendo que esta apresenta grande rigidez e apenas “reage” a “estímulos” no médio/longo prazo; sabendo que qualquer governo não controla um número significativo de variáveis que influenciam o nível da actividade económica, será responsável, de momento, mexer, reduzindo-a, na carga fiscal?
  5. Por último, não seria bem melhor que MF centrasse então os seus esforços no sentido de criticar, propor medidas e controlar a actuação do governo no sentido de uma redução estrutural e consolidada da despesa pública (o ponto fraco do governo nesta questão) que permitisse, então sim, um desagravamento responsável da carga fiscal?

Parafraseando a última frase de MF “é assim tão difícil perceber isto?!...” Cá por mim, acho que não!... Mas... e se MF perguntasse a Manuela Fereira Leite?

William Blake: "Songs of Innocence and of Experience" (8)


Little Lamb, who made thee?
Dost thou know who made thee?
Gave thee life, and bid thee feed,
By the stream and o'er the mead;
Gave thee clothing of delight,
Softest clothing, woolly, bright;
Gave thee such a tender voice,
Making all the vales rejoice?
Little Lamb, who made thee?
Dost thou know who made thee?


Little Lamb, I'll tell thee,
Little Lamb, I'll tell thee.
He is called by thy name,
For He calls Himself a Lamb.
He is meek, and He is mild;
He became a little child.
I a child, and thou a lamb,
We are called by His name.
Little Lamb, God bless thee!
Little Lamb, God bless thee!
"Little Lamb" - poema e ilustração de William Blake para "Songs Of Innocence And Of Experience"

terça-feira, março 13, 2007

Anglophilia (30)


"Dica"...

Passará um pouco fora de horas (uma da manhã), na SIC Mulher, nos próximos Sábado e Domingo se não houver surpresas de última hora. Mas atenção a “Warriors” (1999), uma mini-série da BBC sobre um grupo de soldados britânicos regressados da Bósnia e a sua dificuldade de readaptação à vida civil. Ganhou o British Academy Television Award para a melhor série dramática, além de outros prémios internacionais, e tem como protagonista Matthew Macfadyen (o Tom Quinn de “Spooks”), que vimos recentemente no cinema como Mr. Darcy em “Pride and Prejudice”.

Marques Mendes e o "surf" (#2)

Decididamente, nada a fazer. Depois de ter encontrado (finalmente!) um bom tema de confrontação com o governo em torno do novo aeroporto de Lisboa (ver aqui), eis se não quando Marques Mendes volta à estafada questão da redução de impostos, em si mesmo uma boa ideia mas conjunturalmente irrealista. Estragou tudo. Retirou força ao tema do novo aeroporto, dispersando as suas afirmações por temas vários em vez de as concentrar naqueles onde poderia ser melhor sucedido, fez o mesmo à sua própria credibilidade dando o flanco ao contra-ataque governamental, já que a proposta é responsavelmente indefensável e será facilmente rebatível por Teixeira dos Santos, evidenciou fracturas no seu próprio partido, já que Ferreira Leite tinha ontem afirmado precisamente o contrário, tem contra si a opinião dos principais economistas (não incluo Miguel Frasquilho no grupo, needless to say) e, por último, será uma ideia que muito dificilmente colherá aceitação junto do Presidente da República, ao contrário da questão da Ota. Condenou-se ao insucesso, portanto. Mas quem será o responsável pela estratégia de comunicação do PSD?

The Classic Era of American Pulp Magazines (28)

Capa de William Reusswig para "Detective Yarns" (Fevereiro de 1939)

Marques Mendes e o "surf"

Como este blog anda em maré de surf (music), é caso para dizer que Marques Mendes apanhou finalmente uma boa onda. Ao trazer para o topo da agenda política a questão do novo aeroporto de Lisboa (prefiro chamar-lhe assim, e não da Ota, porque penso tratar-se de uma questão mais vasta do que apenas a da sua localização), focando nela, pelo menos durante uns dias, a sua contestação ao governo (em vez de andar a “ir a todas” e acabar contestado, com toda a razão, pela sua correligionária Ferreira Leite), o leader do PSD mata vários coelhos com o mesmo tiro (já que isto de cajadadas me parece um pouco primitivo, nada consentâneo, mesmo, com épocas de choque tecnológico) e centra a sua crítica num ponto indiscutivelmente vulnerável da estratégia governamental.

Em primeiro lugar, porque é questão nada consensual, fora do inner circle do governo, captando a sua contestação simpatias várias entre potenciais apoiantes ou votantes do partido socialista. Em segundo lugar, porque está longe de se poder reduzir a uma questão meramente do foro da economia, sendo pedra de toque essencial para se entender qual o modelo de desenvolvimento proposto para o país. Mais ainda, é decisão em relação à qual o PSD, enquanto oposição com maiores perspectivas de se tornar futuro governo, pode perfeitamente reivindicar o seu interesse próximo e legítimo, pois trata-se de um projecto com implicações óbvias e importantes em futuras legislaturas. Por fim, em função de tudo isto e também de se tratar de algo que não colhe a simpatia dos mais conhecidos e reputados economistas aqui do “rectângulo” - e cito de cor Luís Campos e Cunha, Hernâni Lopes, Miguel Beleza e Silva Lopes -, assunto em que o Presidente da República se sentirá bastante à vontade para intervir de modo muito directo. Aguardemos, mas, entretanto, well done!

Já agora. Parece que o ministro Mário Lino declarou ontem, como justificação para a construção do novo aeroporto e das novas infraestruturas ferroviárias e portuárias, que Portugal possui uma "localização estratégica privilegiada que lhe permite desenvolver, com vantagens competitivas, ligações privilegiadas com o continente africano, com a Europa do Norte e com a Europa Mediterrânica e entre o continente europeu e o continente americano". Será que ele acredita mesmo nisso? E se nos deixássemos de vez das ilusões dos grandes “projectos estruturantes” e nos centrássemos naquilo que é de facto essencial para melhor a competitividade do país e a qualidade de vida dos portugueses, seja, a diminuição do déficit e da despesa pública e reformas efectivas no ensino, na administração, na justiça e na saúde? Ah, e se não é pedir muito, pôr Lisboa e Porto à distância de duas horas e “picos” pelos tais comboios pendulares...

segunda-feira, março 12, 2007

História(s) da Música Popular (35)


Let's Go Surfin'? (V)
Mais surf music e mais um “one hit wonder”, desta vez no som do incontornável “Wipe Out” dos Surfaris (formados em 1962), um grupo da Baixa Califórnia como, quase, não podia deixar de ser. A gravação é de 1963 e, curiosamente, é o “B” side de “Surfer Joe” que não alcançu sucesso semelhante. Possui vários elementos distintivos que contribuíram largamente para este seu êxito: o som inicial de uma prancha de surf “breaking the waves” e de uma gargalhada um pouco "terrifiante" (“contributo” do manager da banda, Dale Smallen), e o destaque dado à bateria enquanto instrumento solista. E por aqui (“Wipe Out”), e já não é pouco, se fica o interesse destes Surfaris, suficiente para provarem que a qualidade suplanta e quantidade e, deste modo, ficarem connosco para sempre.

domingo, março 11, 2007

Clássicos do Cinema (28)


"Johnny Guitar", de Nicholas Ray (1954)

Barça-RM e Chelsea-Tottenham

Basta ter visto o Barcelona-Real Madrid de ontem e o Chelsea-Tottenham de hoje (curiosamente, ambos com o mesmo resultado final, 3-3) para perceber porque os estádios portugueses estão cada vez mais "às moscas". A minha admiração e cumprimento vai para os mais de 30.000 sportinguistas que preferiram ir a Alvalade ver o jogo da sua equipa com o Estrela da Amadora do que optar pelo concorrencial, via TV, Barça-RM, disputado à mesma hora. Pela decisão, mereciam receber, pelo menos, uma carta de agradecimento de Filipe Soares Franco e outra de Hermínio Loureiro...

Espanha, Portugal, a "rua" e a política

  1. Em Espanha, centenas de milhar (ou mais) de manifestantes saíram ontem à rua. A questão, sob o manto diáfano da luta contra o terrorismo - oportunidade do momento - é a “velha e relha” natureza do estado espanhol, isto é, se e em que moldes é possível a unidade do país enquanto estado multinacional herdado da expansão e unificação sob a égide de Castela. A questão já esteve no cerne de uma guerra civil e, uma vez resolvida uma das outras (fascismo/comunismo) e apaziaguada a restante (monarquia/república), é a que fica por resolver da “herança” de 36/39. Sintomático, se estivermos atentos e conhecermos Espanha, é a presença massiva da bandeira da monarquia espanhola, símbolo actual da unidade de Espanha, nas “manifs” do PP. Numa Europa em que a expansão da União e o fim da guerra fria parecem potenciar o fim dos estado plurinacionais (Balcãs, por exemplo) ou o enfraquecimento dos laços que os unem e a emergência de maiores autonomias, como acontece com a Escócia e o País de Gales (para não falar da Irlanda que é um problema de colonização/descolonização), qual o futuro da Espanha?
  2. Em Portugal é a luta contra as medidas do governo que traz à rua mais de uma centena de milhar de manifestantes. Também aqui, embora o manto que a cobre seja bem mais opaco, vamos encontrar lá no fundo a velha questão, herdada do PREC, do confronto entre duas concepções antagónicas de estado: a democracia, tal como a conhecemos e praticamos no ocidente, e a proposta pelo PCP e derrotada na guerra fria...

Em ambos os casos (Espanha e Portugal), a conclusão de que é ainda a política que faz mobilizar os cidadãos e os traz ás ruas...

sábado, março 10, 2007

A Guerra Aqui (mesmo) Ao Lado (16)

Cartaz de Català Roca, Pere (1936)

O "Sol" e a biografia de José Sócrates

Penso que estaria longe de ser essa a intenção, mas a pequena biografia de José Sócrates publicada hoje no “Sol” é o retrato cruel de um Portugal de província e da sua pequena burguesia sem horizontes e sem grandeza, mesmo quando consegue amealhar algum pecúlio, em que a única “saída” para o povo é a emigração e para essa pequena burguesia, com algumas aspirações, é o Estado, seja através do ensino, de um lugar na Câmara Municipal ou dos partidos políticos, cujas lutas locais se movem não em torno de ideias e discussões políticas mas de rivalidades pessoais e de grupo, também elas, claro está (não poderia acontecer diferentemente) impregnadas da mesma mesquinhez e ânsia de “subir na vida”. É este o espírito que, em grande parte, molda o Portugal de hoje...

sexta-feira, março 09, 2007

Outras Músicas (19)

Robert Johnson (1911-1938) - "Phonograph Blues"

Fernando Santos e a "Lei de Murphy"

Lê-se: Benfica perdeu o jogo de ontem por via de 15’ de desorientação provocados pela lesão de Luisão e subsequente entrada de David Luís. Eu digo: o Benfica perdeu o jogo de ontem por falta de capacidade de gestão do seu treinador. Expliquemo-nos. Existem na equipa três defesas centrais e um jogador que pode ser, e já foi, adaptado com sucesso a essa posição. Teria sido normal que nos treinos já tivessem sido testadas, e mecanizadas, todas as opções possíveis, para além da dupla considerada titular, Luisão e Anderson. Aparentemente não terá sido assim, já que, quando entrou, David Luís não sabia muito bem como coordenar com Anderson e se deveria jogar na esquerda ou na direita. Poderão dizer-me: mas Fernando Santos disse-lhe, na altura, que deveria jogar do lado esquerdo e, por decisão unilateral de Anderson, isso não aconteceu. Pois é, se todas as opções tivessem sido anteriormente definidas e mecanizadas, mesmo as menos prováveis (para isso servem os treinos e é assim que faz José Mourinho, por exemplo), a questão nem se teria colocado, ali, em pleno terreno de jogo de uma eliminatória da UEFA. Quando David Luís entrasse, tanto ele como Anderson já saberiam muito bem o que fazer... "Lei de Murphy" (“o que pode correr mal, corre mal”), meu caro Fernando Santos, "Lei de Murphy"! Que raio, você até é engenheiro, deveria saber destas coisas!!!

quinta-feira, março 08, 2007

Frederico García Lorca (11)

"Bestia fabulosa aproximándose a una casa" (1929-1930) - Ilustração de FGL para "Poeta En Nueva York"

Os sindicalistas da PT

No dia da assembleia geral da PT que decidiria sobre o desbloqueamento dos respectivos estatutos, Joe Berardo e Henrique Granadeiro foram recebidos e saudados efusivamente pelos sindicalistas como sendo “dos seus”. Ou seja, o inimigo do meu inimigo meu amigo é. Terá sido isto que esteve na base do pacto germano-soviético, em 1939. Nada de novo ao cimo da terra, portanto.

O Mundo em Guerra (29)

Japan

O "novo" RCP e os portugueses mais importantes na História da rádio

Parece que a moda pegou. Para além dos “portugueses”, das sete maravilhas e por aí fora, o “novo Rádio Clube” está a proceder à eleição do rei (desculpem) do português mais importante na História da rádio e da televisão. Para isso nomeou dez nomes em cada um dos “media”, no qual os portugueses terão que votar (com os tais SMS’s de valor acrescentado, claro). Entre os nomeados lá estão, na rádio, Adelino Gomes, António Sala(?!), Igrejas Caeiro (ena!), Fernando Alves e o inefável Fernando Correia, entre outros. Nada disto é muito importante, e parece-me sem pretensões, mas, de qualquer modo, uma pergunta: já que a responsabilidade pela indicação dos nomeados vem do próprio RCP, e Jorge Gil? Para quem não sabe, Jorge Gil foi o principal responsável pelo “Em Órbita”, programa chave do FM do antigo RCP que iniciou a sua emissão a 1 de Abril de 1965 e foi, não só, o início de uma nova maneira de fazer rádio, em Portugal, como o primeiro divulgador (e durante muito tempo, quase único) da música popular anglo-americana, quando isso era quase considerado um crime de lesa-pátria. Foi também o “Em Órbita” o primeiro programa de rádio a “passar” José Afonso, numa das suas raríssimas (duas ou três) incursões pela música popular portuguesa. A partir do início dos anos setenta dedicou-se à divulgação de música antiga e barroca e, mais tarde, à organização de concertos destes géneros musicais, sendo responsável pela vinda a Portugal de alguns dos seus melhores intérpretes. Moldou uma geração no gosto pela música e divulgou a música que ajudou a mudar o mundo, mas, muito mais do que isso, cultivou uma radicalidade e um espirito de não concessão que também contribuíram para nos mudar a todos. Na rubrica “História(s) da Música Popular” deste blog, no dia 1 de Abril (dia da sua primeira emissão), a efeméride será devidamente assinalada.

Avaliações

Toda a nossa vida se faz de avaliações; avaliamos e somos avaliados. À nascença, desde logo: é parecido com a mãe ou com o pai - já que deixou de haver leiteiro á porta; loiro ou moreno; careca ou com cabelo; para os portugueses, supondo que poderá haver um antepassado soldado napoleónico que por cá ficou trocando de forma geométrica (o “hexágono” pelo “rectângulo”), rendido aos encantos de lusa beleza, a pergunta sacramental: “será que vai ter olhos azuis?”. Depois é um fartote, pela vida fora... Somos avaliados pelos professores (acho que ainda somos) e avaliamos os ditos: situação facilmente comprovada pelo estardalhaço em cada aula, consoante os que consideramos “bons” (pouco estardalhaço) ou “maus” (aula semelhante a um mercado em hora de ponta). Também os pais (alguns) avaliam se nos portamos bem, se estudamos ou não, e avaliam os nossos amigos, muitas vezes em função da hipotética conta bancária dos seus antepassados ou de conhecimentos de família: “ouve lá, porque não te dás mais com fulano, que é tão simpático...?”. Mais tarde, depois de avaliarmos ao espelho as nossas possibilidades perante o sexo oposto (ou o mesmo, não vá a LGBT acusar-me de homofobia), avaliamos também as nossa hipóteses de sermos bem sucedidos e vermos o nosso ego (?) a crescer, ou de levarmos algum sopapo na primeira oportunidade e, coitadinhos, ficarmos traumatizados para a vida ( com direito a shrink permanente muito woodyallaniano e tudo). Depois, consoante as conclusões que tirámos, avaliamos a(o)s candidata(o)s a namorada(o)s e o modo como seremos avaliados por el(a)s e também pelos outros, em função da eventual conquista. E é então aí que sofremos a avaliação das mães, ao estilo “a fulana é tão boa rapariga, logo te foste interessar pela beltrana (que não “Beltraneja”, que essa era Joana e pertence a outras histórias com “H” grande). Quando passamos a votar avaliamos o governo (é assim nos regimes democráticos), que pode ser despedido por mau desempenho, com justa ou injusta causa. Ah, finalmente, que é onde eu queria chegar, somos avaliados pelo nosso provável empregador, ou por quem nos “meteu a cunha” quando nos candidatámos a trabalhar. E aí avaliamos logo a “pinta do bicho”, do que vai ser o nosso chefe - director, patrão, CEO ou “chairman”, pois claro. Depois, avaliaremos e seremos profissionalmente avaliados pela vida fora. Todos... Todos? Mesmo todos? Talvez não se trabalharmos para o Estado...

Bom, mais a sério, admito que para os sindicatos a avaliação seja um problema e a descentralização de poderes, com possibilidade das hierarquias avaliarem e serem avaliadas pelo desempenho dos serviços e tarefas confiados, com flexibilidade na definição dos salários e prémios, possa significar o início do fim do poder absoluto desses sindicatos nas contratações, e da indispensabilidade da sua existência para os trabalhadores. É uma luta pelo poder, portanto, e pela sobrevivência que o actual sistema de ausência de avaliações credíveis e salário igual para todos (dentro do mesmo nível) lhes possibilita.

Também entendo que trabalhadores e chefias desconfiem do que se propõe, não só porque o não conhecem (e sempre se desconfia do que se não conhece), como porque o actual sistema permite, ele sim, um conjunto de decisões e comportamentos discricionários, que ninguém avalia e penaliza, e que temem passe a ser potenciado pelo que, consideram ser, uma certa “desregulamentação” aí vem. Mas se os sindicatos (estes, pelo menos) são irrecuperáveis para a mudança, haverá funcionários públicos que o não serão, e talvez fosse boa ideia que o governo decidisse começar a explicar directamente a cada serviço com acções de formação e esclarecimento as vantagens de um sistema credível de avaliação de desempenhos, baseado em premissas claras, objectivos concretos, sistema de “contrapesos” e comparações (nenhuma hierarquia pode ter só bons ou maus funcionários, como não poderá ser bem avaliada se basear a sua actuação no desleixo, no autoritarismo ou no na falta de motivação dos seus subordinados) e discussão entre avaliador e avaliado. Não em termos abstractos, claro; mas apresentando o modelo concreto que se quer implementar e, principalmente, ensinando as hierarquias a “trabalhar” e conviver com ele. Tarefa difícil, certamente esta, a de ensinar as boas práticas a quem sempre as desconheceu... Principalmente se o professor é aquele que, de uma maneira ou de outra, sempre com a ausência delas conviveu e, porque não dizê-lo, sempre disso beneficiou .

quarta-feira, março 07, 2007

"Lucy in the Sky with Diamonds" (2)

Dylan by Martin Sharp - "Blowin' In The Mind"

Grandes Séries (9) - 50 anos de TV em Portugal

"Perry Mason" (1957 - 1966)
As minhas imagens da série são ténues; muito vagas mesmo, confesso. Mas penso que terá sido a primeira série policial que vi na TV e que, talvez um pouco mais tarde, me atraiu para os livros da "Vampiro". O primeiro episódio foi emitido nos USA a 21 de Setembro de 1957, também o primeiro ano de emissões regulares de televisão em Portugal, daí a escolha. Desconheço as datas de emissão pela RTP, até porque a série tem mais de duzentos episódios - 271 para ser mais exacto!!! - e não sei se terão sido exibidos todos. Mas, para eu ter uma ideia de ter visto alguns, isso passou-se seguramente nos anos 60, até porque se estreou na Europa em Maio de 60 (Alemanha). Mas para todos os da minha geração - e dos meus pais - a série é um marco incontornável do entretenimento televisivo, que, um dia por semana, durante 60 ', nos agarrava ao écran. Raymond Burr era Perry Mason, aqui no "opening theme".

As "Sturm Abteilung" do presidente do FCP e a Liga Portuguesa de Futebol Profissional

Todos sabemos que os clubes de futebol podem ser punidos pelo comportamento incorrecto do seu público. Isto acontece quando de invasões de campo, incitamento ao racismo (em Portugal parece que não, porque, por definição ou carta régia, é suposto que os portugueses não são racistas), desacatos nas bancadas, agressão a árbitros e jogadores, etc, etc. Essas sanções, embora brandas já que Salazar determinou para todo o sempre que somos um povo de “brandos costumes”, costumam ir de multa a jogos de interdição do respectivo estádio, uma vez que em Portugal não se utiliza a penalização “jogo á porta fechada”, corrente na UEFA, talvez porque, na prática, a maioria dos jogos sejam já assim disputados. Pergunta: o que vai acontecer ao FCP, isto é, que sanção lhe vai ser aplicada pelo comportamento da sua “claque” (melhor diria, das Sturm Abteilung do seu presidente) durante o minuto de silêncio, determinado pela FPF e LPFP, de homenagem a Manuel Bento, 63 vezes internacional por Portugal? Eu tenho a resposta – seja, nenhuma sanção – mas pelo menos gostava que a LPFP explicasse porquê... Mais uma pergunta: não foi falado, quando da realização do EURO 2004, que se passariam a adoptar, para este género de gente, medidas de interdição de entrada nos estádios e de obrigatoriedade de comparência na esquadra de polícia mais próxima durante as horas de realização dos jogos? A quantos já foi a medida aplicada? Onde? Com que resulatados? Pois...

"Que floresçam mil flores"... (6)


terça-feira, março 06, 2007

Chelsea FC - FCP

Mesmo sem o "capitão" John Terry, e como gritava insistentemente, de minuto a minuto, um vizinho meu na bancada de Stamford Bridge num Chelsea - Southampton uns anos antes da era Abramovich, quando a equipa perdia mais vezes do que ganhava: cheer up, blue boys!!!

William Blake: "Songs of Innocence and of Experience" (7)

Sweet dreams, form a shade
O'er my lovely infant's head!
Sweet dreams of pleasant streams
By happy, silent, moony beams!

Sweet Sleep, with soft down
Weave thy brows an infant crown!
Sweet Sleep, angel mild,
Hover o'er my happy child!

Sweet smiles, in the night
Hover over my delight!
Sweet smiles, mother's smiles,
All the livelong night beguiles.

Sweet moans, dovelike sighs,
Chase not slumber from thy eyes!
Sweet moans, sweeter smiles,
All the dovelike moans beguiles.

Sleep, sleep, happy child!
All creation slept and smiled.
Sleep, sleep, happy sleep,
While o'er thee thy mother weep.

Sweet babe, in thy face
Holy image I can trace;
Sweet babe, once like thee
Thy Maker lay, and wept for me:

Wept for me, for thee, for all,
When He was an infant small.
Thou His image ever see,
Heavenly face that smiles on thee!

Smiles on thee, on me, on all,
Who became an infant small;
Infant smiles are His own smiles;
Heaven and earth to peace beguiles.


"A Cradle Song" - Poema e ilustração de William Blake para " Songs of Innocence and of Experience"

História(s) da Música Popular (34)

"Misirlou" - Dick Dale & The Del-Tones (1963)

"The Victor" - Dick Dale & The Del-Tones (1964)
Let's Go Surfin'? (IV)
Ora então cá estamos, finalmente chegados a Dick Dale (“The King of Surf Guitar”) & the Del-Tones. Dick Dale (Richard Anthony Monsour ) nasceu em Massachusetts a 4 de Maio de 1937, filho de pai libanês e mãe polaca, e, apesar de natural da East Coast e não da Califórnia, era um excelente surfista (dizem...). Primeira questão interessante é que era canhoto, o que nisto das guitarras tem o seu “quê”, já que, de início e tal como o fez Jimmy Hendrix, tocava com uma guitarra (“Fender”) para dextros, mas, ao contrário do autor de “Are You Experienced”, sem inverter a ordem das cordas e colocando-a de “pernas para o ar”. Bom, mas para além de ser um coleccionador de animais selvagens ou pouco atraentes, desde uma tarântula a um leão da montanha (acho que em português se chama “puma”) passando por vários leões africanos, Dick Dale estabeleceu as normas do que viria a ser o som futuro da surf music, tendo influenciado decisivamente Brian Wilson, dos Beach Boys, e Jan & Dean com aquilo que a "Rolling Stone Encyclopedia Of Rock & Roll" designaria por “twangy, heavily reverbed tone”.

Penso que a sua primeira gravação é “Let’s Go Trippin’”, de 1961, e curiosamente a única vez que chegou aos tops foi com “The Scavenger”, em 1963, um tema vocal com barulho de motos á mistura... Bem, mas o seu tema-chave é de facto “Misirlou”, de Maio de 1962, originalmente um tema popular grego e do médio-oriente (Dick era de origem libanesa) que se tornaria um símbolo máximo da surf music. “Misirlou” terá sido interpretado pela primeira vez por Michalis Patrinos, em 1927, e através do mesmo intérprete terá chegado aos USA, tendo posteriormente sido gravada um versão jazz, em 1941, por Nick Roubanis, um músico americano de origem grega. Mas foi a versão de Dick Dale que tornou o tema famoso, ao ponto dos Beach Boys terem posteriormente gravado um cover, em 1963, incluído no álbum “Surfin’ USA”. Será ainda, mais tarde, a sua inclusão na banda sonora de “Pulp Fiction” que condenará o tema à eternidade. Ainda bem! Aqui, a versão, em vídeo, é a do filme “A Swingin’ Affair”, de 1963.

Quanto a “The Victor” foi incluído no quarto álbum de Dick Dale, “Mr. Eliminator”, de 1964. É um dos meus temas favoritos!

segunda-feira, março 05, 2007

Grandes Séries (9)



A trilogia "House Of Cards" (1990), "To Play The King" (1994) e "The Final Cut" (1995) é hoje aqui recomendada, embora o vídeo seja muito curto e não muito significativo. Foi o que se arranjou.
Trata-se de uma sátira ficcionada (de humor bem negro) à política britânica (mas não só: que se cuidem ali para os lados dos "Passos Perdidos"), na época do "pós Thatcherismo", e narra a ascensão (nada transparente...) e queda de Francis Urquarth (conservative party), desde Chief Whip (comparável aos nossos presidentes de grupo parlamentar) até primeiro ministro. Pelo meio, a Rainha Elizabeth morre, Charles sobe ao trono mas é obrigado a abdicar em favor de William. Interpretação notável de Ian Richardson no protagonista.
A série (não sei se na sua totalidade se apenas "House Of Cards") passou na SIC nos anos noventa e, ultimamente, foi reposta na BBC Prime com legendas em inglês. Pode ser obtida na Amazon e, garanto, o dinheiro será muito bem empregue!

Anglophilia (29)






Teddy Bears



Paulo Portas, a "direita" e um projecto político...

Já aqui afirmei em post anterior que um dos problemas para a direita, neste momento, em Portugal, e ao contrário do que acontece em Espanha com a questão nacionalidades/natureza do estado espanhol, é o facto de não existir na sociedade uma questão política clara e única que permita o “separar das águas” entre dois blocos políticos diferenciados, o que acaba por reforçar a tendência, já de si natural, para a "fulanização" da política. Durante muitos anos essa separação política foi clara e evidente e, para não recuarmos demasiado, passou pela natureza do regime e dicotomia situação/oposição no período seguinte à consolidação da ditadura (após o início da década de trinta e o fim da ditadura militar subsequente ao 28 de Maio), pela questão colonial quando a guerra entrou num impasse (1963/4) e pela natureza do regime político no período revolucionário. Após este período, nem a questão europeia revelou clivagens de maior (exceptuando o caso do PCP, minoritário, cada vez menos influente politicamente e sem uma perspectiva de poder), mesmo tendo em conta as suas várias nuances, entre eurocépticos e federalistas, posições sempre veladamente expressas e assumidas, de modo apenas envergonhado, somente quando do debate sobre o projecto de tratado constitucional. A questão “atlantismo”/“eurocentrismo”, que emergiu tenuamente com o mandato de George W. Bush e a invasão do Iraque, foi demasiado conjuntural e efémera nesse seu afloramento, e reservada a discussões académicas e mais ou menos iniciáticas que soaram a esoterismo para uma boa parte da opinião pública. A excepção a este “estado de coisas” foi o referendo sobre o aborto, em que se defrontaram duas concepções claramente antagónicas e inconciliáveis do mundo e da vida. Daí o extremar de posições, a riqueza do debate e a estimulante campanha. Voltou a política, claro!!!

Tudo isto vem a propósito do desafio lançado por Paulo Portas a Ribeiro e Castro (e, claro, também ao PSD de Marques Mendes) relativamente à futura direcção da direita e de toda a oposição com vocação de governo. Na maioria das análises, a dissertação versa muito mais sobre as características pessoais de PP, o seu "zig-zag" político (e o do seu partido), o seu carisma contraposto à ausência deste em Ribeiro e Castro, as movimentações de algumas personalidades dentro do próprio PSD, do que sobre aquilo que de facto é determinante: não existindo, à partida, um tema único que marque claramente um antagonismo conceptual entre a esquerda e a direita com ambições de governo, em torno de que projecto político, de que ideias e concepções, de que “posicionamento” (utilizando uma linguagem importada do "marketing" e da gestão), pode a direita maximizar as suas possibilidades enquanto oposição com perspectivas de poder a prazo? Quem melhor pode corporizar e tornar credível esse projecto, dando-lhe o seu cunho pessoal e projectando-o na sociedade com maiores hipóteses de sucesso? Ou então, pondo as coisas “às avessas”, o que também posso admitir: tendo em atenção where he comes from, isto é, que em função do seu passado (ideias, prática, etc) existe apenas um espaço relativamente restrito onde PP pode ser credível, que projecto político deve ele consubstanciar para conseguir os seus objectivos de liderar a oposição à direita?

Existem na sociedade portuguesa algumas questões que condicionam claramente a governação e limitam o leque de opções políticas: sejam, não sendo exaustivo, a questão de déficit, da sustentabilidade da segurança social e a falência do modelo de desenvolvimento. São elas, e não a arrogância de Sócrates, a teimosia dos seus ministros ou a, dita, respectiva insensibilidade social que condicionam a política governamental, o que não exclui que o primeiro ministro, pela sua personalidade, não se assuma como the right man in the right place nesta conjuntura. Pessoalmente, não estou a ver Ferro Rodrigues muito confortável a dirigir um governo posto perante estas circunstâncias. São pois estas questões, e não quaisquer outras, que, em última análise, têm conduzido o governo à tentativa de racionalização de custos do serviço nacional de saúde, ao aumento da idade da reforma, à contenção de salários e estudo de restruturação de carreiras na Administração Pública. Ao aumento da carga fiscal e melhor cobrança de impostos, a uma tentativa de reformulação das políticas educativas, etc, etc. Ou seja, que “obrigaram” o governo a ocupar o terreno que se convencionou ser o do “centro” e até mesmo o do centro direita. Opções “forçadas” pelas circunstâncias e este terreno ocupado, por onde terá de passar qualquer oposição à direita que resista à demagogia do “cavalgar o descontentamento popular" ou do “fazemos melhor do mesmo”, esta última pouco credível face ao registo dos anteriores governos PSD/CDS e que conduziu à queda dos índices de popularidade do partido de Marques Mendes? Sem que isso signifique que o subscreva, aparentemente só pela proposta de um projecto globalmente mais liberal na linha das concepções de alguma opinião publicada, embora extirpado de alguns dos seus (muitos) laivos de irrealismo político e que poderá ir ao encontro das aspirações de alguns grupos etários mais jovens dos centros urbanos. Será isso politicamente exequível numa sociedade com enormes graus de iliteracia e deficiente educação, tradicionalmente avessa ao liberalismo e dependente do estado? Seria isso capaz de ganhar e garantir a conquista do centro político? Seria esse projecto compatível com Paulo Portas e poderia este ser credível enquanto seu líder? De todas as perguntas, penso, talvez apenas esta última possa ter uma resposta, desde já, afirmativa...

sábado, março 03, 2007

The Classic Era of American Pulp Magazines (27)

Ilustração de autor anónimo para "Saucy Movie Tales" (Março de 1936)

Sonae e a OPA

Belmiro de Azevedo e a Sonae alcançaram uma posição de liderança internacional no seu core business. Dominaram o mercado nacional no imobiliário e na distribuição, um sector, ainda assim, digamos que“atrasado” da estrutura empresarial. Diversificaram para um sector de “ponta”, para as novas tecnologias, e não conseguiram sucesso comparável. Marcará a OPA abortada o início do refluxo e a marcação de fronteiras para uma geração de empresários do norte que cresceu no pós revolução?

sexta-feira, março 02, 2007

Paulo Portas

Paulo Portas quer ser o David Cameron português, substituindo Eton pelo S. João de Brito e não tendo um grande partido no qual se apoiar. Nem um Blair em fim de mandato e “desgastado” pela guerra do Iraque. Nem alguns escândalos do “Labour”. Nem a sociedade britânica. Nem o seu sistema eleitoral. Nem a “House Of Commons”. Nem, nem... Convenhamos: Is a hell of a task! Quase tão complicado como democratizar o Iraque. I wish him luck. Por enquanto faz fatos em Saville Row e camisas em Jermyn Street. Já é um começo...