domingo, dezembro 31, 2006

Outras Músicas (13)

Concerto de Ano Novo, 1992. Johann Strauss: Tritsch-Tratsch Polka. Interpretação da Wiener Philharmoniker dirigida por Carlos Kleiber.

Saddam

Nada a fazer. Todas as notícias que vêm do Iraque são tristes. Até a da morte de um ditador. Dos mais cruéis de que a memória alcança e a História fez presente.

When I Look at the Pictures - Lawrence Ferlinghetti (11)


In Goya's Greatest Scenes


In Goya's greatest scenes we seem to see

the people of the world

exactly at the moment when

they first attained the title of

"suffering humanity"


They write upon the page in a veritable rage of adversity

Heaped up

groaning with babies and bayonets

under cement skies

in an abstract landscape of blasted trees

bent statues bats wings and beaks

slippery gibbets

cadavers and carnivorous cocks

and all the final hollering monsters

of the

"imagination of disaster"

they are so bloody real

it is as if they really still existed


And they do

only the landscape is changed


They are still ranged along the roads

plagued by legionaries

false windmills and demented roosters


They are the same people

only further from home

on freeways fifty lanes wide

on a concrete continent

spaced with bland billboards

illustrating imbecile illusions of happiness


The scene shows fewer tumbrils

but more maimed citizens

in painted cars

and they have strange license plates

and engines

that devour America
Poema de Lawrence Ferlinghetti para "The Colossus" de Goya, 1811. Museo Nacional del Prado, Madrid.

Zapatero e a ETA

O atentado de ontem da ETA é indiscutivelmente uma derrota de José Luís Zapatero, do seu governo e da sua estratégia. Por contraponto, é uma vitória dos sectores mais radicais da direita espanhola (como a “Associação das Vítimas do Terrorismo”) que parece, nos últimos tempos, ter conseguido aprisionar todo o PP, mesmo os seus sectores moderados, na sua demagogia populista. No entanto, continuo a pensar que Zapatero tem razão e que não existe uma solução não política para a violência do terrorismo “etarra”, apesar do “hiato” nas negociações e da actividade repressiva que certamente se irá seguir e não pode nem deve ser excluída. Esperemos que o governo e o seu presidente saibam resistir neste combate de duas frentes: política face ao revanchismo da direita radical no período pós 11 de Março e repressiva, mas também, em última análise, política, face à chantagem e violência da ETA. É que o que está em causa neste combate político entre o governo e o PP (o actual PP) não é apenas a ETA e o terrorismo interno, mas outras duas questões fundamentais para a península e para a Europa: a questão das nacionalidades, para as quais a direita espanhola nunca teve outra solução que não fosse a “España Una, Grande Y Libre” (com mais ou menos nuances e maior ou menor autonomia) e a política externa do estado espanhol depois trágico alinhamento com George W. Bush no caso do Iraque.

sábado, dezembro 30, 2006

The Classic Era of American Pulp Magazines (20)

Ilustração de autor desconhecido para "Snappy Stories" (Outono de 1937)

Milly Possoz e o "Estado Novo" (10)

Ilustração de Milly Possoz para o poema "O Lavrador", de António Lopes Vieira, em "O Livro da Segunda Classe" (1958)

Os clubes portugueses e os "reforços" de Inverno

“Patética” a actuação dos principais clubes do futebol português neste “defeso” de Inverno na busca de “reforços” de quarta ou quinta categoria no mercado internacional. A esmagadora maioria deles, se contratados, a seguirem o mesmo caminho dos agora dispensados dentro de seis meses ou um ano. Que a imprensa desportiva faça disso motivo para manter ou aumentar as suas tiragens, entende-se: é esse o seu negócio e se perder credibilidade é um problema entre títulos e leitores. Que os clubes, em estado geral de falência, insistam em negócios que se podem prever ruinosos em 90% dos casos já dá para pensar em outros interesses. Interesses esses, claro está, directa ou indirectamente financiados pelo Estado local e central.

sexta-feira, dezembro 29, 2006

Adriano Moreira

Cada presença de Adriano Moreira na televisão (há pouco, na RTP-N) é uma lição de História e de política do século XX, projectada no futuro deste século. De sabedoria, mais propriamente. Um tempo bem empregue, como se estivesse ali, na nossa sala, a ensinar-nos o valor do conhecimento e da inteligência. Da independência, que não é mais do que a lealdade apenas a esses valores.

Clássicos do Cinema (17)

"The Big Sleep" de Howard Hawks (1946)

Problemas com a ligação à NetCabo

Problemas relacionados com a ligação local à NetCabo (de minha casa, do prédio ou da zona - ainda não sei) poderão dar origem a algumas irregularidades na edição deste blog durante os próximos dias. Pelo menos, até à próxima terça-feira, dia em que uma "excelentíssima" equipa técnica da não menos "excelentíssima" Net Cabo (que não trabalha aos fins de semana ou feriados - o cliente que se "amanhe", pois claro) fará o favor de se deslocar até aqui para resolver a situação. Como se costuma dizer, do facto, a que sou alheio, peço desculpa a todos os leitores. Pela minha parte, tentarei minimizar o impacto negativo que esta anomalia possa vir a causar.

My name is Bond, James Bond...

Um Bond do século XXI, mais duro e menos gentleman, mais frio mas menos cínico, mas, por isso mesmo, coração também por vezes mais dado às fraquezas da paixão e aos enganos a que ela nos expõe. Mais “cortado à faca” mas, acima de tudo, menos cabotino! Também sem “Q” e sem Miss Moneypenny, o que quer dizer menos fantasia e fogo de artifício, jogos de sedução mais profundos e inteligentes, mais nas fronteiras do amor. Já houve quem não tivesse gostado, mas, para mim, um dos melhores “Bond” de sempre, Daniel Graig fitting very well into the character. Uma perseguição inicial nas alturas de cortar a respiração e dois achados geniais: O prédio que se “afunda” em Veneza e a afirmação de indiferença pelo modo de preparar o dry Martini. Ah!, e uma "Bond Girl" que até parece gente real! Duas horas de excelente entretenimento, sem dúvida.

As Capas de Cândido Costa Pinto (21)

Capa de CCP para "O Caso Benson" ("The Benson Murder Case") de S. S. Van Dine, nº 11 da Colecção Vampiro

quinta-feira, dezembro 28, 2006

Milly Possoz e o "Estado Novo" (9)


Ilustração de Milly Possoz para "Alegria na Casa" de "O Livro da Segunda Classe" (1958)

"Tu quoque" José Pacheco Pereira? - ou "Os Feriados e a Demagogia"

Afinal, parece que a demagogia e o populismo encontram terreno fértil onde menos se espera, e mesmo entre aqueles que não raras vezes levantam a voz contra eles. Este é o comentário “que me apetece” depois de ter assistido ontem à “Quadratura do Círculo”. Que raio, José Pacheco Pereira, a amizade não desculpa tudo e, quando se trata de populismo, não pode haver condescendência para uns (Rui Rio) e intransigência para outros (Paulo Portas ou Santana Lopes). Mas enfim, parece que já quase ninguém lhes escapa, infelizmente. Tudo isto vem a propósito da tolerância de ponto no “Boxing Day” (o dia a seguir ao Natal, para que me não acusem de anglofilia exacerbada) e numa coisa eu estou de acordo: a dita “tolerância de ponto” mais parece uma atitude magnânima de um qualquer senhor feudal do que uma decisão de um estado democrático num país que se pretende civilizado. Solução? Seria bem mais interessante que o Estado se dedicasse a efectuar uma revisão criteriosa dos feriados nacionais, quer civis quer religiosos, adaptando-os aos tempos de hoje. Por exemplo, e não tendo eu qualquer parti pris (tanto me faz viver numa república como numa monarquia, desde que democráticas e civilizadas, e essa seria a minha posição face a eventual referendo), que sentido faz hoje em dia, e para as novas gerações, o feriado de 5 de Outubro e não, por exemplo, o 23 de Setembro ou o 1 de Outubro dias, respectivamente, da aprovação e juramento, por D. João VI, da Constituição de 1820 que, essa sim, faz Portugal entrar na modernidade? Quanto aos feriados religiosos, os católicos que se pronunciem, mas também me parece que haverá um ou outro que bem poderia ser eliminado sem grande prejuízo da dita maioria católica. Qualquer deles bem poderia, pois, ser substituído com vantagem pelo “Boxing Day”, bem melhor aproveitado para um calmo regresso a casa ou à “normalidade” depois das “azáfamas” do Natal. Acresce que nesse dia já muitas empresas concedem “ponte” a metade dos seus funcionários e outros aproveitam a semana entre o Natal e o Ano Novo para férias. Dos que restam, todos sabemos que se trata, na maioria dos casos, de uma semana de descompressão e trabalho não muito intenso. Fica a sugestão...

quarta-feira, dezembro 27, 2006

Milly Possoz e o "Estado Novo" (8)

Ilustração de Milly Possoz para "Um Segredo" em "O Livro da Segunda Classe" (1958)

Rui Rio e um outro tipo de exibicionismo

Se, como vimos, o exibicionismo de Miguel Sousa Tavares é um exibicionismo sem risco, isto é, sem qualquer hipótese de a sua imagem ser identificada apenas com o facciosismo e demagogia dos seus escritos pró FCP dada essa ser claramente a excepção, haverá quem, a norte, fruto de essa não ser a excepção mas a regra, não tenha medido bem o risco respectivo e apenas se faça notar pelo disparate e pelo ridículo, chegando já ao ponto de atingir as raias do patético. Esta será, de facto, a imagem que, lenta e seguramente, vai construindo. Estou a referir-me a Rui Rio, claro, que nos últimos tempos apenas se faz notar pelo gratuito das atitudes que o fazem stand out from the croud. Se no caso do Rivoli a sua decisão de entregar a respectiva gestão a privados mereceria, pelo menos e numa primeira abordagem, o benefício da dúvida (ideia reforçada pelas atitudes “infantis”, de “esquerda festiva”, dos respectivos “ocupantes”), a sua entrega a Filipe La Féria, qual “rabo escondido com gato de fora”, sem, pelo menos e ao que eu saiba, qualquer decisão no sentido de contribuir para, de algum modo, garantir uma produção teatral minoritária e alternativa na cidade - em conjunto com o modo como foi decretado o “fim dos subsídios” - entra no campo da demagogia e populismo mais rasteiros. O mesmo se pode dizer, claro, da atitude sobre a não aceitação da “tolerância de ponto” no "Boxing Day", como se disso dependesse qualquer incremento da produtividade ou isso pudesse constituir qualquer exemplo para o resto do país. Exemplo, será, mas do patético, e assim ficamos todos sem saber se as suas atitudes iniciais de separar claramente o futebol da gestão da cidade (que, diga-se, como princípio são de louvar, mas também chegaram a atingir a proporção de “birras” de "prima dona") são fruto de uma vontade estrategicamente assumida ou foram apenas mais um episódio (o primeiro de muitos) de afirmação gratuita de uma personalidade provinciana e tacanha.

O Mundo em Guerra (20)

Germany

História(s) da Música Popular (22)



Difícil é também classificar Connie Francis, nascida Concetta Franconero a 12 de Dezembro de 1938 na “portuguesa” Newark - New Jersey, mas a sua importância para a música popular é indiscutível, muito por via da Aldon Music, de Don Kirshner, e da dupla Howie Greenfield/Neil Sedaka, ou seja, do Brill Building (lá iremos, mais tarde). Também porque foi a intérprete feminina que mais “entradas” conseguiu no hit parade, com excepção da Srª Dona Aretha Louise Franklin, pois claro, que isto do “respeitinho” é muito bonito!

Como italo-americana que se preza, começou, aos cinco anos, por cantar “O Sole Mio” e, por sugestão do pai (“isto” nem sempre os pais são fonte de sabedoria e bom gosto) gravou em 1958 “Who’s Sorry Now”, uma versão “modernizada” de um êxito de 1923. Depois de ter gravado outros oldies, como “Among My Souvenirs” que chega a #7 do “hit parade”, os êxitos foram “de seguida”, tanto nas “baladas” (Everybody’s Somebody’s Fool chega a #1) como em áreas mais próximas do r&r. De entre estes, salienta-se “Lipstick On Your Collar” (#5) que virá a dar o nome e a ser canção-tema de uma das melhores séries de televisão de sempre, em 1993, da autoria de Dennis Potter (passou na RTP nos anos noventa e era bom que esta a repetisse na RTP Memória).

Mas talvez o seu êxito mais conhecido em Portugal seja “Stupid Cupid” dos ditos Howie Greenfield/Neil Sedaka (esse mesmo, o do “Oh Carol!”) que com ele ganharam um contrato com a então nascente Aldon Music, do produtor Don Kirshner, e assim se mudaram de “armas e bagagens” para o nº 1619 da Broaway, o célebre Brill Building (já disse que, a seu tempo, dedicarei um capítulo inteiro ao assunto). O que é mais curioso é que a versão talvez mais conhecida em Portugal é um cover, com letra e pronúncia em português do Brasil, cantado por uma tal Celly Campelo (morreu em 2003), que, aliás, reincidiu com outro tema de Connie Francis, “Together”, que em português se chamava, salvo erro, “Juntinhos” (pelo menos, faz sentido!). Penso que “Estúpido Cupido” também não terá sido o único cover de Greenfield/Sedaka, mas "isto agora não interessa nada".

Como é habitual, a estrela de Connie Francis entrou em período de fade out com a “British Invasion”, mas aqui fica o testemunho, via “Stupid Cupid”, da sua marca na música popular. "Stupid Cupid" you're a real mean guy!

A Guerra Aqui (mesmo) Ao Lado (8)

Cartaz de Arteche para a "Frente Popular" (1936)

Miguel Sousa Tavares e o FCP

Depois de ler o artigo de Miguel Sousa Tavares hoje em “A Bola” (só "linkável" amanhã), dei por mim a interrogar-me, uma vez mais, sobre qual seria o motivo que levaria alguém indiscutivelmente inteligente e com uma imagem e prática de independência e isenção, como MST, a ser tão faccioso e demagógico em tudo o que ao FCP diz respeito. A resposta só pode ser uma: exibicionismo. Puro e simples exibicionismo. Um exibicionismo sem risco, porque escudado nessa mesma inteligência e isenção que é seu timbre e imagem - e até no seu êxito enquanto escritor - e ainda mais “exibicionista” porque marcado por um “corte” radical (apetecia-me dizer epistemológico) com toda a sua prática restante.

terça-feira, dezembro 26, 2006

Anglophilia (21)

Boxing Day hunting

James Brown (1933-2006)

Há (havia) em James Brown um excesso de exibicionismo gratuito, uma excentricidade forçada que me desagrada profundamente, daí não ser dos meus favoritos, estar mesmo muito longe disso. Por outro lado, o facto de se ter dispersado por vários géneros ou sub-géneros, ao longo de uma carreira demasiado longa e orientada fundamentalmente para o “sucesso” e o showbizz, (preenchida?), retira-lhe alguma consistência e coerência, alguma unidade, tal como aconteceu a tantos outros, apesar disso mais decisivos do JB. Não alinho, portanto, nos panegíricos excessivos que os media lhe dedicam - e que são sintomáticos do que acima se afirma nesta época do “mais vale parecê-lo do que sê-lo” - colocando-o ao nível de importância de um Bob Dylan e de um Elvis Presley, também eles com carreiras demasiado longas e desiguais. Que dizer, então, de outros nomes da música negra como Ray Charles, Otis Redding e Aretha Franklin, para só nos ficarmos por aqui? E fiquemo-nos mesmo por aqui...

segunda-feira, dezembro 25, 2006

Outras Músicas (12)

J.S.Bach - 1. Jauchzet frohlocket auf preiset die Tage (de "Christmas Oratorio", BWV 248). Interpretação dos English Baroque Soloists e do Monteverdi Choir dirigidos por John Eliot Gardiner.

sábado, dezembro 23, 2006

Norman Rockwell and "The Saturday Evening Post" (Xmas 7)


Aljubarrota na 2: (II)

Apesar de alguma pobreza de meios, o programa da 2: sobre a batalha de Aljubarrota pautou-se por um rigor e sentido da verdade histórica que se saúda. Recomendável: uma desmontagem que não deixou pedra sobre pedra sobre um dos maiores mitos da nossa história, que marca o fim da Idade Média em Portugal. Devia ser exibido obrigatoriamente aos estudantes do secundário e aos candidatos (devem ser poucos) aos cursos de História. Fico à espera do mesmo rigor nos programas que se seguem, sobre a batalha de La Lys e a operação “Nó Górdio” que não se enquadrará lá muito bem no que se designa, normalmente, por batalha. Estranha-se a ausência da Guerra da Restauração e das batalhas travadas quando das invasões napoleónicas. Esperemos por elas numa nova série. Entretanto, uma enorme chapelada aos autores do primeiro programa.

sexta-feira, dezembro 22, 2006

Milly Possoz e o "Estado Novo" (7)

Ilustração de Milly Possoz para "O Presépio" de "O Livro da Segunda Classe" (1958)

Aljubarrota na 2:

Confesso que estou curioso sobre o primeiro (?) programa da série “As Grandes Batalhas de Portugal” que hoje, na 2: (21.15h), se debruça sobre a batalha de Aljubarrota, cuja descrição e enquadramento nos livros de História de Portugal do ensino secundário tem constituído fraude digna de candidatura ao “Guiness Book Of Records”, tão do agrado dos portugueses que preferem o fogo fátuo ao trabalho organizado de longo prazo. Vá lá que nos últimos anos alguns artigos de divulgação, publicados em jornais e revistas, se têm encarregue de colocar as coisas nos seus devidos lugares. De qualquer modo, e antecipando-me um pouco, não quero deixar desde já de acentuar algumas questões:

  • Não existia, na época, um sentimento “nacional” tal como o conhecemos hoje, não estando, por isso, o assunto na primeira linha do conflito. O levantamento do “povo” (leia-se “burgueses”) de Lisboa tem como objectivo fundamental não a “independência” mas a tentativa de evitar o seu domínio por parte da aliança entre grande aristocracia portuguesa e castelhana, o que constituiria um travão às suas aspirações de fortalecimento e poder. Forçaram mesmo aquilo a que se chamaria hoje um “parecer jurídico”, por parte de D. João das Regras, para justificar a entrega do trono a um bastardo que, ainda por cima, estaria relutante em aceitá-lo.
  • Estávamos, na Europa, em plena “Guerra dos Cem Anos”, e o que aconteceu em Aljubarrota (onde parece que os dois exércitos nunca estiveram realmente face a face o que, a acontecer, tornaria qualquer eventual heroísmo ou bravura inglórios), em certa medida, não foi mais do que um dos seus episódios, não substancialmente diferente do que aconteceu em Crécy e Poitiers e, mais tarde, em Azincourt. Aliás, havia ingleses do lado português, que foram decisivos, e franceses, além de portugueses (uma boa parte da grande aristocracia portuguesa combateu por D. João de Castela, que defendia os seus interesses), do lado de Castela que foram também decisivos, neste caso para derrota.
  • John of Gaunt, 1º Duke of Lancaster e filho de Edward III de Inglaterra, pai da futura rainha Filipa de Portugal (Philippa of Lancaster), era pretendente ao trono de Castela por via do seu casamento com D. Constança, filha de D. Pedro de Castela, e o seu envolvimento, para além de questões de Estado relacionadas com a “Guerra dos Cem Anos”, deve-se também a este facto. Invadirá, sem sucesso, Castela no ano seguinte (1386) ao da batalha de Aljubarrota.
  • Este é o início da chamada “aliança inglesa” (entre Portugal e a Inglaterra), episódio da luta de Inglaterra contra as duas grandes potências continentais (Castela/Espanha e França), que garantirá a independência de Portugal nos séculos seguintes mas tornará o país uma sub-potência marítima sob protecção britânica, afastando-o das grandes decisões que se jogarão no espaço europeu continental. Talvez a referência inicial do nosso subdesenvolvimento.

Norman Rockwell and "The Saturday Evening Post" (Xmas 6)


Portugal e a Fórmula Um

Existem duas condições básicas para se ser piloto de fórmula um: ou se é um superdotado (e há muito poucos), com provas dadas nas categorias de acesso o que também implica algum investimento, ou se tem um saco cheio de dinheiro de patrocínios, o que pressupõe um mercado doméstico atractivo para quem quer investir contratando um piloto local ou empresas deste país com objectivos e/ou um grau de internacionalização suficiente para que esse patrocínio tenha retorno. Neste último caso, obviamente, Portugal não cabe e, até agora, ainda não conseguiu gerar nenhum superdotado. Por isso, tal como outros antes dele, parece que Tiago Monteiro vai ficar fora do “circo”. “Má sorte” ter nascido português... ou a imagem cruel de um mercado e de uma realidade empresarial.

quinta-feira, dezembro 21, 2006

Clássicos do Cinema (16)

"It's A Wonderful Life" de Frank Capra (1946)



Anglophilia (20)

História(s) da Música Popular (Xmas Special)


Desta vez é uma acontecimento bem mais festivo, de nascimento e não de morte - o Natal, que me leva a editar um História(s) da Música Popular especial. E é com o “Brill Building”, Phil Spector (um dia lá iremos a ambos) e o seu "Christmas Album" (“A Christmas Gift For You”) que o faço, desejando a todos os leitores de “O Gato Maltês” (excepto aos meus piores inimigos, se forem seus visitantes, que nestas coisas gosto pouco de dar “a outra face”) um óptimo Natal e um excelente ano de 2007. O álbum foi gravado em 1963, e foi considerado pela "Rolling Stone" como o 142º melhor álbum de sempre da música popular. Por seu lado, Brian Wilson, dos "Beach Boys", considerou-o o seu disco de Natal preferido, o que, vindo de quem vem, merece todo o crédito e mais que o ainda houvesse.
Nele colaboram algumas das “descobertas” de Phil Spector (para além do seu “wall of sound”, claro), tais como “The Crystals”, Darlene Love, “The Ronettes”, Bob B. Soxx And The Blue Jeans, bem como o próprio Phil Spector, Jack Nitzsche e Sonny Bono, futuro marido de Cher (em 1964) e co-intérprete do célebre “I Got You Babe” que lançou o duo “Sonny and Cher” em 1965.

Pois aqui fica a versão de Darlene Love (gravou “He’s a Rebel” com as “Crystals”, o único #1 do grupo) e do Phil Spector “wall of sound” de “White Christmas”, de Irving Berlin, com os votos de um óptimo Natal e um ainda melhor Ano Novo.
All the best!!!

Norman Rockwell and "The Saturday Evening Post" (Xmas 5)


António Lobo Xavier e o "apito dourado"

António Lobo Xavier afirmou ontem na “Quadratura do Círculo” (SIC Notícias) não considerar Mª José Morgado isenta no que diz respeito às investigações do caso “Apito Dourado”, dadas as suas declarações anteriores e posições de princípio face às ligações entre futebol, construção civil, autarquias e corrupção. Mais, também afirmou isso não ser muito importante (ou impeditivo?) dado o facto de não lhe competir julgar. Analisemos. Por um lado é uma afirmação habilidosa, digna de um jurista de créditos firmados como, indiscutivelmente, ALX o é: faz uma afirmação indiscutível (“MJM não é imparcial mas isso, no caso, não é muito importante”) mas, para os não iniciados nas “minudências” jurídicas, que são 99% dos portugueses, deixa no ar uma suspeição (“não é imparcial”). Eu diria (honni soit qui mal y pense) que é uma “sacanice” brilhante.

Mas diria também mais: o facto de não ser imparcial e ter posições firmes e publicadas sobre o assunto só pode ser positivo, pois a sua acção irá centrar-se no sentido da credibilização dessas suas posições públicas anteriores (sem a qual poderá ficar desacreditada) o que a conduzirá, certamente e neste caso, pelos caminhos necessários a uma investigação aprofundada, não desistindo perante as primeiras “dificuldades” (entenda-se o termo da forma o mais abrangente possível). Competirá então à esperada imparcialidade dos tribunais julgar dos factos apresentados e, assim, indirectamente, da credibilidade de MJM e do modo como terá conduzido a investigação.

Por outro lado, a afirmação de ALX contém também em si mesma um mecanismo de ocultação da sua própria “não independência”, enquanto parte interessada, sendo, como é, vice-presidente da direcção daquela que, mesmo que indirectamente, é, em termos de opinião pública, a principal entidade visada em toda a investigação: o FCP e o seu presidente. É que se MJM não julga, e, por isso, não tem necessidade de alegar independência, o mesmo não acontece com ALX, enquanto comentador, já que esta sua categoria deveria subentender, senão independência, pelo menos alguma ética de “distanciamento”, pudor ou “nojo” que o deveria levar a abster-se de um envolvimento tão directo ou, em alternativa, a anunciar a sua condição de “parte” antes de cada intervenção.

quarta-feira, dezembro 20, 2006

Grandes Séries (6): a WWII na TV (á "boleia" de Iwo Jima)

"Wish Me Luck" (1987)
Histórias das voluntárias civis do SOE britânico ("Special Operations Executive") na França ocupada. Kate Buffery, que vimos recentemente no excelente "Trial And Retribution" no papel da Inspectora Pat North (SIC Mulher) é uma das protagonistas. A série passou na RTP, penso que, ainda, no final dos anos 80.
"Piece of Cake" (1988) - sorry, no video...
A vida num esquadrão de caça da RAF antes e durante a Batalha de Inglaterra, onde se espelha também o sistema de classes da sociedade inglesa. A série passou na RTP (penso que no 2º canal) se bem lembro por mais do que uma vez. Memorável! À venda através da Amazon.
A história da companhia "Easy", da 101ª Divisão aerotransportada, desde o período de treino até ao final da guerra na Europa. Uma produção de Steven Spielberg (que também produz o díptico de Eastwood) e Tom Hanks. Também uma lição de História, já que acontecimentos tão importantes como o desembarque em Omaha Beach e o lançamento de paraquedistas no dia D, a operação Market Garden, a batalha das Ardenas e a libertação dos campos de concentação nazis passam por aqui. A série foi exibida na SIC, por duas vezes, nos últimos anos e é bastante fácil de adquirir na FNAC.

Revanchismo político no referendo?

Um interessante comentário de uma leitora deste blog leva-me a escrever esta nota, completando o que afirmei em post anterior sobre o que poderá estar em causa neste referendo:

O modo como os partidários do “Não” têm conduzido a campanha, nesta última semana - apresentando uma proposta que, na prática, é um incentivo ao aborto clandestino -, obriga-me a interrogar, uma vez mais, sobre o que estará em causa neste referendo, para além daquilo que consta da respectiva pergunta e que é bem claro. Para além dos números do próximo domingo poderem significar uma vitória ou derrota da efectiva influência política da Igreja Católica (e, principalmente – friso -, de alguns dos seus sectores e organizações mais conservadores), na sociedade portuguesa, parece-me que, “cavalgando” oportunisticamente questão da IVG, poderá estar a desenhar-se em torno da campanha um fenómeno de revanchismo político de cariz semelhante ao acontecido em Espanha com o PP, mudando apenas o alvo (Sócrates em vez de Zapatero). E se em Espanha esse fenómeno se organizou em torno da Associação das Vítimas do Terrorismo e da questão das nacionalidades, conduzindo ao domínio do PP pelos seus sectores mais radicais, a actual “deriva” conservadora do PSD na questão agora a referendar (e não só: o enfrentamento do PR na questão das finanças autonómicas é sintomático), depois de posições iniciais de evidente moderação, poderá indiciar fenómeno semelhante, ao qual não será alheio o facto de o PS ter vindo a ocupar, nos últimos tempos, o espaço político que era tradicionalmente o seu e de o CDS estar em crise. Claro que há vozes do PSD na campanha do “SIM” (como Rui Rio e Paula Teixeira da Cuz - Pacheco Pereira "resguardou-se"), mas esperemos não estejam a fazer o papel, reservado à extrema-esquerda no tempo da guerra fria, de idiotas úteis. Aguardemos...

Terá o "revanchismo" político tomado conta do referendo?

Um interessante comentário de uma leitora deste blog leva-me a escrever esta nota, completando o que afirmei, em post anterior, sobre o que poderá estar em causa neste referendo:

O modo como os partidários do “Não” têm conduzido a campanha, nesta última semana - apresentando uma proposta que, na prática, é um incentivo ao aborto clandestino -, obriga-me a interrogar, uma vez mais, sobre o que estará em causa neste referendo, para além daquilo que consta da respectiva pergunta e que é bem claro. Para além dos números do próximo domingo poderem significar uma vitória ou derrota da efectiva influência política da Igreja Católica (e, principalmente – friso -, de alguns dos seus sectores e organizações mais “conservadores”), na sociedade portuguesa, parece-me que, “cavalgando” oportunisticamente questão da IVG, poderá estar a desenhar-se em torno da campanha um fenómeno de revanchismo político de cariz semelhante ao acontecido em Espanha com o PP, mudando apenas o alvo (Sócrates em vez de Zapatero). E se em Espanha esse fenómeno se organizou em torno da Associação das Vítimas do Terrorismo e da questão das nacionalidades, conduzindo ao domínio do PP pelos seus sectores mais radicais, a actual “deriva” conservadora do PSD na questão agora a referendar (e não só: o enfrentamento do PR na questão das finanças autonómicas é sintomático), depois de posições iniciais de evidente moderação, poderá indiciar fenómeno semelhante, ao qual não será alheio o facto de o PS ter vindo a ocupar, nos últimos tempos, o espaço político que era tradicionalmente o seu. Claro que há vozes do PSD na campanha do “SIM” (poucas e só uma bem audível – Paula Teixeira da Cuz), mas esperemos não estejam a fazer o papel, reservado à extrema-esquerda no tempo da guerra fria, de idiotas úteis. Aguardemos...

O referendo e o revanchismo político

Um interessante comentário de uma leitora deste blog leva-me a escrever esta nota, completando o que afirmei, em post anterior, sobre o que poderá estar em causa neste referendo:

O modo como os partidários do “Não” têm conduzido a campanha, nesta última semana - apresentando uma proposta que, na prática, é um incentivo ao aborto clandestino -, obriga-me a interrogar, uma vez mais, sobre o que estará em causa neste referendo, para além daquilo que consta da respectiva pergunta e que é bem claro. Para além dos números do próximo domingo poderem significar uma vitória ou derrota da efectiva influência política da Igreja Católica (e, principalmente – friso -, de alguns dos seus sectores e organizações mais “fundamentalistas”), na sociedade portuguesa, parece-me que, “cavalgando” oportunisticamente questão da IVG, poderá estar a desenhar-se em torno da campanha um fenómeno de revanchismo político de cariz semelhante ao acontecido em Espanha com o PP, mudando apenas o alvo (Sócrates em vez de Zapatero). E se em Espanha esse fenómeno se organizou em torno da Associação das Vítimas do Terrorismo e da questão das nacionalidades, conduzindo ao domínio do PP pelos seus sectores mais radicais, a actual “deriva” conservadora do PSD na questão agora a referendar (e não só: o enfrentamento do PR na questão das finanças autonómicas é sintomático), depois de posições iniciais de evidente moderação, poderá indiciar fenómeno semelhante, ao qual não será alheio o facto de o PS ter vindo a ocupar, nos últimos tempos, o espaço político que era tradicionalmente o seu. Claro que há vozes do PSD na campanha do “SIM” (poucas e só uma bem audível – Paula Teixeira da Cuz), mas esperemos não estejam a fazer o papel reservado à extrema-esquerda no tempo da guerra fria: de idiotas úteis. Aguardemos...

O referendo e o revanchismo político

Um interessante comentário de uma leitora deste blog leva-me a escrever esta nota, completando o que afirmei, em post anterior, sobre o que poderá estar em causa neste referendo:

O modo como os partidários do “Não” têm conduzido a campanha, nesta última semana - apresentando uma proposta que, na prática, é um incentivo ao aborto clandestino -, obriga-me a interrogar, uma vez mais, sobre o que estará em causa neste referendo, para além daquilo que consta da respectiva pergunta e que é bem claro. Para além dos números do próximo domingo poderem significar uma vitória ou derrota da efectiva influência política da Igreja Católica (e, principalmente – friso -, de alguns dos seus sectores e organizações mais “fundamentalistas”), na sociedade portuguesa, parece-me que, “cavalgando” oportunisticamente questão da IVG, poderá estar a desenhar-se em torno da campanha um fenómeno de revanchismo político de cariz semelhante ao acontecido em Espanha com o PP, mudando apenas o alvo (Sócrates em vez de Zapatero). E se em Espanha esse fenómeno se organizou em torno da Associação das Vítimas do Terrorismo e da questão das nacionalidades, conduzindo ao domínio do PP pelos seus sectores mais radicais, a actual “deriva” conservadora do PSD na questão agora a referendar (e não só: o enfrentamento do PR na questão das finanças autonómicas é sintomático), depois de posições iniciais de evidente moderação, poderá indiciar fenómeno semelhante, ao qual não será alheio o facto de o PS ter vindo a ocupar, nos últimos tempos, o espaço político que era tradicionalmente o seu. Claro que há vozes do PSD na campanha do “SIM” (poucas e só uma bem audível – Paula Teixeira da Cuz), mas esperemos não estejam a fazer o papel reservado à extrema-esquerda no tempo da guerra fria: de idiotas úteis. Aguardemos...

A RTP, o "Serviço Público" e a laicidade do Estado

Uma pergunta: sendo Portugal um estado laico e estando o Natal cada vez mais laicizado ou paganizado; sendo a RTP uma estação pública de televisão, porquê esta insistência ad nauseam, nesta época, em séries de temática religiosa - católica, neste caso? Ele foi a enésima versão da vida de Jesus Cristo, agora é a do Papa João Paulo I e o que mais adiante, por certo, se verá... Ainda por cima, as ditas séries nada acrescentam em termos históricos ou artísticos... Como termo de comparação, queira consultar a programação de BBC num país onde, formalmente, nem sequer existe separação entre a Igreja e o Estado (A rainha Elizabeth é a chefe da Igreja Anglicana e “defender of the faith”).

As Capas de Cândido Costa Pinto (20)

Capa de CCP para "O Homem Sinistro" ("The Sinister Man") de Edgar Wallace, nº 52 da Colecção "Vampiro"

Norman Rockwell and "The Saturday Evening Post" (Xmas 4)


terça-feira, dezembro 19, 2006

O verdadeiro "Major Alvega" (2)


Milly Possoz e o "Estado Novo" (6)

Ilustração de Milly Possoz para "Como pobre de pedir" de "O Livro da Segunda Classe" (1958)

Goa e os "Satyagraha"

Foi, como sempre, excepcionalmente interessante ouvir Adriano Moreira ontem na SIC Notícias, no “Jornal das Nove”, desta vez a conversar com Mário Crespo sobre a ocupação do antigo “Estado Português da Índia” pelo exército da União Indiana, faz agora 45 anos e era ele, Adriano Moreira, “Ministro do Ultramar”. Um dos assuntos referidos, e um pouco já esquecido, foi a importância do movimento "Satyagraha" nos anos que antecederam a invasão. Por isso aqui fica alguma documentação, essencialmente fotográfica, sobre o assunto, com os agradecimentos a A. M. por nos trazer ao conhecimento ou à memória factos importantes, mas esquecidos, da nossa História recente.

Sócrates e o TC

José Sócrates está, com a sua carta, a “pressionar” o Tribunal Constitucional? Sem dúvida, e trata-se de uma actuação intolerável e de um erro político grave. Mas será que não está apenas a levar até às últimas consequências a falta de independência que marca, qual pecado original, a sua composição? Seja, de dez dos seus treze juízes serem nomeados pela Assembleia da República, isto é, pelos partidos políticos, sem que isso fosse, por eles próprios - partidos e juízes - alguma vez objecto de qualquer contestação?

História(s) da Música Popular (21)



Difícil é classificar Brenda Lee, nascida Brenda Mae Tarpley em 1944 e mais tarde conhecida como “Little Miss Dynamite”, que começou a cantar na rádio (gosto mais de dizer “telefonia”) e na TV em Atlanta, aos sete anos, para ajudar no sustento da família depois da morte do pai. Aparece pela mão do country e com a benção de Nashville, por via do produtor Owen Bradley (o mesmo de Patsy Cline e Loretta Lynn, duas estelas da country music), gravando “Rockin’ Around The Christmas Tree” em 1960. Depois de uma digressão europeia, grava “Sweet Nothings” (#4 em 1960, tinha então 15 anos), mais perto do rock & roll original tal como acontece com outros temas seus incluindo uma interpretação muito do lado rockabilly sound do célebre Jambalaya de Hank Williams. Mas o seu maior sucesso é “I’m Sorry” (#1 também em 1960), um tema na linha melódica de uma balada, embora a sua voz rouca e poderosa, mas simultaneamente infantil e plangente, dê à interpretação das baladas um cunho muito pessoal. Talento precoce, aos 21 anos tinha já gravado 256 faixas para a Decca, entre as quais outro #1, “I Want To Be Wanted”. Como muitos outros desta época, a sua estrela apaga-se com a “British Invasion” e regressa às origens, isto é, ao country. Mas é ela que marca o definitivamente o caminho para futuras intérpretes do "pop/rock" dos sixties...

Seria complicado ficarmo-nos só por um tema, se quiséssemos transmitir toda a “força” das suas interpretações, potencialidades da sua voz e leque de opções que fez seu. Por isso mesmo optámos por dois temas diferenciados: “Sweet Nothings” (lado esquerdo) e “I’m Sorry” (dtº), este talvez o tema que ficou para sempre como a sua marca.

Norman Rockwell and "The Saturday Evening Post" (Xmas 3)


segunda-feira, dezembro 18, 2006

O MIC e o aborto

O Movimento Independente de Cidadania (M.I.C), formado para apoiar a candidatura de Manuel Alegre à Presidência da República, vai referendar internamente (ler aqui) a posição a tomar no referendo sobre o aborto. É uma prova da sua condição de moribundo e, se isso fosse preciso, de que nenhum movimento deste tipo sobrevive à razão da sua criação e objectivo a que se propõe.

O verdadeiro "Major Alvega" (1)


Milly Possoz e o "Estado Novo" (5)

Ilustração de Milly Possoz para "A Criação", segunda parte ("Doutrina Cristã") de "O Livro da Segunda Classe" (1958)

Hermínio Loureiro

Em entrevista à Rádio Renascença e ao “Público”, que é um simultaneamente um excelente exemplo de prestidigitação pela palavra e das tais memórias de Mário Moreno citadas em post anterior, Hermínio Loureiro (que foi Secretário de Estado do Desporto, pasme-se!) declara que o futebol português está a atravessar o “Cabo das Tormentas” e o quer fazer chegar ao “Cabo da Boa Esperança”. Como ambos são denominações diferentes para um e o mesmo lugar, estamos esclarecidos sobre o caminho a percorrer. Mais ainda, diz querer “que os principais agentes mudem de mentalidade” e que “isso dá muito trabalho”. Caro presidente da Liga, não se esqueça de avisar quando der por terminada a tarefa de mudar a mentalidade de Valentim Loureiro, Pinto da Costa, Gilberto Madaíl e os arguidos do “apito dourado” que a sua “lista” integra. Quando der a tarefa por concluída, pode avisar aqui para o blog, ou então publicar nos jornais um daqueles anúncios a agradecer ao Divino Espírito Santo e ao Menino Jesus de Praga a graça concedida! Por mim, estou esclarecido!!!

Norman Rockwell and "The Saturday Evening Post" (Xmas 2)


Uma História Simples

No bairro onde cresci formávamos um grupo de crianças que brincava junto. Uns eram conhecimentos de vizinhança, outros os pais e as famílias já se conheciam de há algum tempo e de outros locais, muitos andavam no mesmo colégio ou, mais tarde, no liceu das proximidades e outros tinham laços familiares entre si. Juntávamo-nos em tardes passadas em casa uns dos outros ou nos “pátios” das garagens para infindáveis jogos de futebol tentando evitar que alguma porteira mais zelosa confiscasse a bola, ou inventando e improvisando outros desportos como o ténis contra a parede, basket com o cesto desenhado nas portas das garagens ou corridas de bicicleta e tudo o mais que a imaginação alcançasse. Era o tempo dos "Dinky Toys", com os quais disputávamos animadas corridas nos lancis dos passeios ou em pistas marcadas com molas da roupa no chão das casas, do "Meccano" e, para alguns, já que eram caros e as casas já não permitiam ter uma divisão só para eles como acontecia em casa dos primos mais novos da mãe, dos “comboios eléctricos da "Märklin" comprados numa loja de brinquedos da “baixa”. Cruéis, como só as crianças o sabem ser, desdenhávamos “de quem não era como nós”, sem sequer termos bem consciência do que isso verdadeiramente significava ou sequer usarmos a expressão. Um gesto? A maneira de falar ou de vestir? A atitude? Não importa, pois acho o sabíamos sem efectivamente o sabermos. E nem sequer era uma questão de dinheiro, pois pouco (e poucos) disso nos apercebíamos e os havia, no grupo - hoje consigo distingui-lo – os que viviam mais ricos e os que o faziam menos desafogadamente. Acho que era muito mais uma questão de “cultura” de vida, se isso pode existir; uma separação entre urbanos e aqueles ainda demasiado marcados por uma origem rural. Os “saloios”, como então chamávamos, comparando-os, inconscientemente, com os namorados das “criadas” então ainda uma normalidade no “dia a dia” do bairro. Entre estes, havia um que se tornava mais notado, tentando aproximar-se mais frequentemente mas sempre repelido ou vivendo nas margens consentidas do grupo e apenas nos jogos de rua e quando a sua participação, por esta ou aquela razão, nos dava qualquer jeito.

Na adolescência o grupo aumentou, com a inclusão dos namorados e namoradas. Acabaram os "Dinky Toys" e os jogos de futebol e começaram as reuniões para “ouvir discos”, os jogos de monopólio e de “ping pong”, as festas de garagem e os também jogos de sedução. Embora ainda o continuássemos a ver por perto, as suas tentativas de presença tornaram-se mais espaçadas, como que percebendo que a introdução do elemento feminino o tornava ainda menos desejado ou isso o intimidasse. Acho, mesmo, se sentiria mal, deslocado. A determinado momento, constou se teria tomado de amores platónicos por uma das raparigas mais giras do grupo, espreitando-a quando ela vinha do colégio, o que de imediato o transformou em objecto da chacota geral.

Chegada a idade adulta, e depois de várias actividades políticas ou culturais vividas intensamente nos chamados anos de brasa”, uns tornaram-se advogados, outros gestores; comissários ou pilotos da TAP, bancários, médicos e arquitectos. Nunca mais soubemos dele, invisível "nos anos de brasa", até que um dia apareceu obscuro deputado de um dos partidos do “arco governamental” (parece que é assim que se diz), sem que antes, ou até hoje, lhe tenhamos conhecido qualquer intervenção política ou ideia sobre a vida ou o país. Consta que teria grande capacidade de trabalho, e assim por lá andou, pela “Assembleia”, os anos suficientes para a reforma precoce, e pelo “partido” em tarefas que se presume burocráticas e com o cinzentismo e subserviência que, sem disso termos consciência, sempre lhe tínhamos reconhecido. Um dia, por qualquer razão que desconheço, e depois de ter conseguido colocar um familiar seu em lugar de relevo no executivo camarário, deixou o parlamento e passou para as mesmas funções de “chega-me isso” num dos clubes de futebol da cidade dirigido por personalidade de passado pouco claro e fortuna súbita. Acho que por lá continua, pois o vejo por vezes na televisão, em fundo, sem nunca lhe ter ouvido uma palavra.

sexta-feira, dezembro 15, 2006

Mª José Morgado

A escolha de Mª José Morgado para coordenar o processo “apito dourado” (que raio de nome!) é uma boa escolha que se saúda. A melhor escolha possível nas presentes circunstâncias. A todos nos deixa a sensação de algum alívio. É, no entanto, também o espelho do nosso atraso, pois bem gostaria tivesse sido possível optar por um qualquer procurador anónimo com o mesmo conforto e confiança. Seria sinal de que estaríamos num país bem mais civilizado, em que a justiça funcionaria eficazmente sem ser necessário recorrer a qualquer imagem “justicialista” tão típica das sociedades do terceiro-mundo.

Milly Possoz e o "Estado Novo" (4)

Ilustração de Milly Possoz para "Dia de Páscoa" de "O Livro da Segunda Classe" (1958)

História(s) da Música Popular (especial)




Ahmet Ertegun (31 de Julho de 1923 - 14 de Dezembro de 2006)

Aos 83 anos, morreu Ahmet Ertegun. Para a grande maioria o nome nada significa, mas é suficientemente importante para justificar este post especial, fora da ordem mais ou menos cronológica de “História(s) da Música Popular". Ahmet era filho de um antigo embaixador da Turquia nos USA e foi co-fundador, em 1947 juntamente com Herb Abramson, da “Atlantic Records”, de Memphis, uma das duas mais importantes editoras de música negra nos USA (a outra é a também célebre “Tamla Motown”, de Berry Gordy, sediada em Detroit, a “motor city”. Para avaliar da sua importância na música popular, basta dizer que gravaram para a “Stax/Atlantic” nomes como Otis Redding, Wilson Pickett, Ray Charles, Aretha Franklin, Sam & Dave, Percy Sledge, “Drifters”, “Coasters”, Ben E. King e eu sei lá quantos mais. Para a “Atlantic” gravaram também grupos “brancos” como "Crosby, Stills, Nash e Young" (foi, aliás, Ahmet que convenceu Young a juntar-se ao grupo) e os “Led Zeppelin”. A distribuição dos “Rolling Stones” nos USA foi também por ela assegurada depois de terminado o contrato do grupo com a “Decca”. É também a "Atlantic" um bom exemplo do melting pot americano, já que Ahmet era muçulmano, Jerry Wexler, um dos seus principais produtores, era judeu e a música que gravava era maioritariamente negra. Ahmet Ertegun estava em coma desde o dia 29 de Outubro, como resultado de uma queda nos bastidores do "Beacon Theater", em Manhattan, onde estava em preparação um concerto dos "Rolling Stones" comemorativo dos 60 anos de Bill Clinton. Os bons espíritos sempre se juntam... É uma das personalidades admitidas no "Rock & Roll Hall Of Fame", que ele ajudou a criar e implementar, e, como curiosidade, diga-se também que foi um dos fundadores do “Cosmos” de NY, clube de futebol onde, nos anos 70, jogaram algumas das estrelas (decadentes) do futebol mundial como Pelé e Beckenbauer.
Hesitei muito sobre o que aqui devia deixar enquanto homenagem a Ahmet; as escolhas são inúmeras. Optei por esta, que é bom exemplo, entre tantos outros, da música da “Atlantic”. Para além disso, decisivo na escolha, tem um título sintomático: “do you like good music? “Seet Soul Music”, Mr. Ertegun? Ora, pois, ela aqui está: Arthur Conley, “Sweet Soul Music”.

Nota: como um bom resumo da música da “Atlantic Records” recomenda-se a colectânea “Atlantic Rhythm and Blues”, 1947-1974. 7 CD’s.

quinta-feira, dezembro 14, 2006

"The Lost Prince"

Eu sei que os dias e os horários não são lá muito propícios, mas para quem não viu quando da sua exibição na RTP, recomenda-se vivamente "The Lost Prince", a exibir na BBC Prime, com legendas em inglês (teletexto 888), no dia de Natal e no Boxing Day às 14h. A história da, curta, vida do príncipe John, filho mais novo do rei George V e da rainha Mary, irmão, portanto, de Edward VIII e de George VI e tio da rainha Elizabeth II. Notável interpretação de Miranda Richardson no papel da rainha Mary. 8.1 de rating (em dez) no IMDd.

Milly Possoz e o "Estado Novo" (3)

Ilustração de Milly Possoz para "O Meu Pai" de "O Livro da Segunda Classe" (1958)

Clássicos do Cinema (15)

"Aniki-Bóbó" de Manoel de Oliveira (1942)




A saia da Carolina... (4)

Dito isto, e estabelecidas todas estas mais do que suspeitas que são já de longa data, não existiu qualquer mérito nas conquistas desportivas do FCP? Alto, não vamos tão longe. Se o “ressurgimento” do FCP, nos anos imediatamente posteriores ao 25 de Abril, não fica isento de suspeitas ou certezas de ter sido conseguido com recurso a corrupção e tráfico de influências, e se elas foram necessárias, e mesmo imprescindíveis, a essa “alavancagem, uma vez ela conseguida muitas das conquistas e principalmente as europeias são de indiscutível mérito. É claro que sem esse apoio inicial assim conseguido, e quando era necessário vencer uma inércia criada por anos de derrotas, tudo poderia ter sucedido diferentemente, dir-me-ão. Mas o FCP, Pinto da Costa e José Maria Pedroto também souberam aproveitar de forma inteligente o momentum. Lembremo-nos que, fruto do chamado PREC, das nacionalizações, do exílio de uma parte significativa da antiga “classe empresarial” e de uma política económica focada nas exportações, o poder político e económico estava, como nunca esteve e, provavelmente, nunca mais virá a estar, “virado” a norte. Esse foi o “caldo de cultura" que tornou tudo isto possível, aproveitando, por um lado, um certo vazio criado e, por outro, a emergência de novos poderes. E como neste mundo nada acontece por acaso, também não deverá ser por isso que, independentemente de histórias de alcova mais ou menos sórdidas e circunstanciais, seja este o momento do início da curva descendente. Aguardemos, pois...

A saia da Carolina... (3)

As reacções dos “homens do futebol”, e muito especialmente de críticos, comentadores e jornalistas, ao livro de Carolina Salgado, maioritariamente, têm oscilado entre o estilo surpreendido de virgens vestais seguido do “investigue-se até às últimas consequências”, dito com o ar pesaroso de quem saiu do enterro da avó ou do melhor amigo, ao discurso do tipo versão culta e académica de um monólogo do saudoso Mário Moreno, “Cantinflas” para os mais novos ou distraídos. Aqui e ali, escapou também uma análise mais “trauliteira”, ao bom estilo "Bancada Central", como a de um texto de um tal Eugénio Queiroz no “Record” da passada 2ª feira (infelizmente, não existente na versão on-line), editor desse jornal, e que me dispenso de comentar. Vindo de quem vem, lamentável a argumentação de António Lobo Xavier ontem na “Quadratura do Círculo”. Sabidas as suas ligações aos orgãos sociais do FCP, esperaria, e teria preferido, se abstivesse, alegando essa qualidade. Pena não o tenha feito. No polo oposto, saliento e saúdo as análises de Pacheco Pereira, no mesmo programa, e de António Marinho Pinto, num dos jornais da SIC Notícias, principalmente ao referir-se ao caso do presidente da Académica de Coimbra. Muito bem!

A saia da Carolina... (2)

Em análises á “revelações” do livro de Carolina Salgado (verdadeiros “segredos de polichinelo”, diga-se!), tenho visto, escrito e lido, muito mais valorizadas as questões da agressão a Ricardo Bexiga e da “fuga” de Pinto da Costa para Espanha, para escapar à detenção, do que os problemas de falsificação da verdade desportiva que aí são indiciados, como se isso fosse algo de um certo foro privado da “tribo” do futebol. Não deixando de ter em conta a gravidade dos dois primeiros actos citados, permito-me discordar. A falsificação de resultados, a existir e numa indústria que movimenta centenas de milhões de euros, pode consubstanciar um delito de natureza económica gravíssimo, desviando ilicitamente, por meios fraudulentos para os infractores, recursos avultados daqueles que deveriam ser os seus legítimos destinatários.

A saia da Carolina... (1)

Acho interessante ouvir alguns comentadores pedirem o fim da promiscuidade entre os políticos e o futebol, o que será mais ou menos a mesma coisa do que pedir que se ponha termo a todas as guerras ou se alcance a paz no mundo, o fim da fome e a prosperidade geral. Que estrelas de cinema ou telenovela, top models e frequentadores das revistas "cor de rosa" o façam, a “gente” compreende: a mais não são obrigados. Mas que pessoas com outras responsabilidades (como Eduardo Dâmaso, por exemplo, esta manhã na TSF) afirmem a sua necessidade ou é ingenuidade ou falta de seriedade intelectual. Que raio, a “quadra” não desculpa tudo! Ou não será essa promiscuidade que tem permitido as subvenções sem fim do Estado (central e local) a clubes de futebol, o fechar de olhos e as orelhas moucas a um desfiar de irregularidades e “falcatruas” diversas (quando não crimes) que têm possibilitado a sobrevivência desses mesmos clubes, de outro modo sem qualquer tipo de viabilidade pelo menos a este nível? Não tenhamos ilusões: o fim dessa promiscuidade significaria, a curto prazo, a falência ainda mais acelerada de uma indústria que, no fundo, ninguém quer ver extinta ou em grave crise de competitividade.

A Guerra Aqui (mesmo) Ao Lado (7)

Cartaz de Carmona para a Generalitat de Catalunya (1937)

quarta-feira, dezembro 13, 2006

Sobre os benefícios e malefícios da descentralização no "reino" de Portugal

Confesso o meu espanto quando, repetidamente (talvez assim se torne verdade), oiço referidas um pouco por todo o lado e por todos as virtudes da descentralização contrapostas aos malefícios inerentes ao seu contrário, seja, para os menos atentos, à centralização. Espanto, porque não me lembro de ninguém ousar afirmar o contrário ou, o que me pareceria mais correcto e de acordo com a realidade e com o que nos ensinam a vida, a escola e a História, colocar sequer em dúvida que isso seja verdade universal, em todas e quaisquer circunstâncias, portanto. É o terreno de eleição do politicamente correcto, do medo do desacordo, do pavor às minorias, do não-direito à diferença em todo o seu esplendor! E, no entanto, todos sabemos que não é assim, e nas instituições, empresas, comunidades, países e estados existem tempos diferenciados, momentos em que a prossecução de objectivos exige a centralização férrea e outros a gestão descentralizada. Que o diga talvez o mais moderno de todos os nossos governantes, o Senhor D. João II. Acresce que quanto mais descemos na “pirâmide” menor será a qualidade (é a vida...) e se isso não terá grande importância e a diferença será pouca onde a civilização fez sede há muitos anos, num país provinciano e de fraca, mal preparada e muito pouco extensa classe média (que, em última análise, é quem faz “andar as coisas”), como é o caso de Portugal, pode mesmo tornar-se dramático. Os exemplos por aí estão e dispenso-me de os citar.

Vem isto a propósito da intenção (por enquanto, parece-me mesmo não passar de um powerpoint mais ou menos propagandístico) do Governo de descentralizar, entregando-a às autarquias, a gestão de escolas do ensino básico, hospitais locais e redes de acção social. Neste caso, e na teoria, não poderia estar mais de acordo, adversário me confesso, por exemplo, do actual modelo “estalinista” de gestão das escolas. Mas quando oiço o Sr. Ruas falar sobre assunto pouco me falta para puxar da pistola...É que estas mesmas autarquias (o seu pessoal, as suas estruturas, procedimentos e modelos de gestão e... hábitos de trabalho e cultura instalada) formaram-se, cresceram e consolidaram-se com outras finalidades e objectivos, não me parecendo nada líquida a sua conversão e adaptação num curto espaço de tempo. Para além de que talvez fosse também útil começar pela total restruturação da divisão administrativa do território (que já tarda vinte anos), eliminando municípios e freguesias, fundindo alguns e criando outros. Como isso seria necessariamente trabalho longo, não digo que se não avance desde já; ficar com o actual sistema de gestão centralizada das escolas é, pura e simplesmente, suicidário. Mas que se não brinque de aprendiz de feiticeiro e não se pergunte, então, porque a arma nos explodiu na cara.

Milly Possoz e o "Estado Novo" (2)

Ilustração de Milly Possoz para "A Casa Nova" de "O Livro da Segunda Classe" (1958)

As Capas de Cândido Costa Pinto (19)

Capa de CCP para "A Pista do Alfinete Novo" ("The Clue Of The New Pin") de Edgar Wallace, nº 62 da Colecção "Vampiro".

Mª de Fátima Bonifácio e Pinochet

Maria de Fátima Bonifácio, que independentemente de acordos e desacordos oiço sempre com interesse e atenção, acabou de declarar na RTPN (“Choque Ideológico”), em certa medida isso funcionando como atenuante para o “golpe” militar de Pinochet, que duvidava que, na situação radicalizada do Chile durante a presidência de Allende, estivessem reunidas condições para a realização de novas eleições e para a possível aceitação de uma vitória da direita. Não negando que, eventualmente, pudesse existir essa possibilidade, competindo às chamadas “forças da ordem” garantir e forçar mesmo a sua realização e aceitação dos respectivos resultados, estamos aqui, aceitando a argumentação de MFB, perante a ideia do golpe militar preventivo, versão adaptada da guerra preventiva da administração Bush que tão “excelentes” resultados tem dado. Adaptando a situação ao meu bairro e à minha rua, vou passar a chamar a polícia de cada vez que vir um sujeito com mau aspecto ali à porta ou a rondar algum carro! Ou, melhor ainda, acho que lhe dou logo um murro! Bom, de qualquer modo alguma coisa Pinochet garantiu: é que não houve mesmo eleições. E durante dezassete anos!!!

História(s) da Música Popular (20)





Bom, nesta época de chumbo (depois de 1958) em que o "r&r" está em período de fade out, nem tudo é assim tão mau. De entre o que não o é, não podemos deixar de realçar os "Everly Brothers" (Don e Phil), naturais do Kentuky, cujas melodias e harmonias vocais ajudaram a estabelecer o padrão para gente tão famosa e importante como os “Beach Boys”, “Mamas and the Papas” e, principalmente, “Simon and Garfunkel”. Vieram do country (os seus pais, Ike e Margaret, eram estrelas country que os “manos” acompanhavam em digressão) e isso nota-se bem ao ouvi-los. E como os grandes sucessos sempre acontecem assim, o seu primeiro (“Bye Bye Love” – 1957) teria sido rejeitado anteriormente por cerca trinta intérpretes. É a prova de que a maioria nem sempre tem razão, pois claro, ou de que a razão nem sempre está com a maioria, eu direi mais. Êxitos foram muitos, desde o já referido a “Wake Up Little Susie” e “Bird Dog”. Mas o seu maior foi indiscutivelmente este “Cathy’s Clown”, gravado para a Warner Bros. em 1960 e que vendeu mais de dois milhões de cópias. Foi o seu primeiro e último sucesso para a Warner, que terá acordado tarde. A sua estrela, como a de tantos outros da época, começou a empalidecer com a “british invasion” e entre depressões e drogas as coisas seguiram o seu, mau, caminho.

Em Portugal passavam frequentemente na rádio, o que significava que a sua música e clean cut look eram aceitáveis para a ditadura e para a moral e bons costumes conservadores da época. Deixaram mesmo sequelas, na pessoa e na pele do duo “Os Conchas”, apelidados pela maldicência indígena de “Os Irmãos da Ameijoa”, que gravaram mesmo um cover, com letra em português, deste “Cathy’s Clown”. Chamava-se, salvo erro, “O Fantoche do Amor”!!!

Pronto, mas vale o original. E aqui ficam então os verdadeiros “Everly Brothers” e o seu “Cathy’s Clown”.

segunda-feira, dezembro 11, 2006

Outras Músicas (11)

Pipes and Drums:
"Scotland The Brave" pela U.S. Air Force Band.

Norman Rockwell and "The Saturday Evening Post" (8)


Pinochet

Ditadores são como os chapéus: há muitos. Demasiados. Não os chapéus, contra os quais nada tenho, mas os ditadores. E houve alguns com as mãos bem mais sujas de sangue do que Pinochet, o que em nada o aligeira de responsabilidades nem tão pouco lhe concede atenuantes. Mesmo no século XX e na sua segunda metade, quando os direitos humanos adquiriram foros de cidadania reconhecida, e em países que se pretendem geridos pelas leis da civilização e estarão longe das várias Áfricas que nós ainda consideramos coisa de primitivos, esquecendo o que por lá fizemos e os, maus, exemplos que por lá deixámos. Mas houve, de facto, algo que contribuiu que para Pinochet ficasse para a história como o símbolo do que mais odioso pode existir nos ditadores e nas ditaduras. Mais do que isso – e muito justamente - como o exemplo do “torcionário” no poder: um conjunto de circunstâncias, factores e acontecimentos que determinaram que assim fosse e desse modo se venha a fazer história. Tentemos sistematizá-los.

Em primeiro lugar, o Chile é o país mais europeu da América Latina. Não estamos numa daquelas repúblicas onde os generais Alcazár e Tapioca trocavam regularmente o poder por via de “pronunciamentos” militares, mas num país com uma tradição democrática estabelecida e umas forças armadas, dizia-se, constitucionais, o que terá contribuído para o “choque e espanto” sentidos.

Também, o facto de Salvador Allende ter sido eleito democraticamente. Com apenas 36.2 % dos votos, é certo, mas assim mandavam os preceitos constitucionais e as regras eleitorais. Para além disso, a própria figura de Allende, longe de ser um populista como hoje o são os que se reclamam da “esquerda” na América Latina, era a de um “europeu como nós”, respeitador da legalidade e um homem culto de formação humanista. Por fim, um “moderado” tanto quanto se podia sê-lo nessa época e nesse local. Por vezes, apetece-me compará-lo a Manuel Azaña, ambos homens bem intencionados levados na radicalização de um processo que pareciam já não dominar. Por fim, a dignidade da sua morte, e mesmo o romantismo que ela encerra na sua última fotografia conhecida, pistola-metralhadora na mão e capacete mal posto na cabeça, muito pouco à l’aise na pose, o que contribuía para reforçar a sua imagem do cidadão por oposição ao guerrilheiro, figura tão em voga na América Latina de então.

Por outro lado, e tanto quanto isso era possível acontecer na época, tudo se passa numa certa marginalidade face à “guerra fria”, por um lado, ou aos modelos “guerrilheirista” e “guevaristas”, por outro, não sendo o partido comunista do Chile uma força determinante em todo o processo nem tendo nele uma influência decisiva. Terá sido mesmo, talvez, o primeiro processo em que aquilo que se designava genericamente por “esquerdismo”, tão característico do pós Maio 68, assumiu um papel de destaque e uma influência decisiva, muito por responsabilidade da ala esquerda do PS chileno e do MIR.

Mais ainda, é um golpe militar “puro e duro”, sem (ao contrário dos fascismos, do comunismo ou de movimentos populistas) o suporte de uma teoria ideológica ou de um pensamento doutrinário estruturado. Trata-se, pura e simplesmente, de estabelecer a “lei e a ordem” e de assegurar a continuidade dos negócios em geral e dos interesses americanos em particular (mais os dos negócios do que os estratégicos, o que reforça a carga negativa). É o “estado policial” na sua forma mais pura e despojada. Por fim, a brutalidade inicial não é escondida mas mostrada como elemento dissuasor – e os acontecimentos do Estádio Nacional e o episódio Victor Jara assumem aqui um carácter estruturante. É a tortura selectiva na sua forma mais brutal e primitiva (dos choques eléctricos e por aí fora) que assume o posto de comando. A fotografia de Augusto Pinochet, óculos escuros, sentado, rodeado pela sua "junta" militar passa para a história da iconografia política como o símbolo do medo, do “Viva la Muerte” mais de trinta anos depois.

Por último, estamos na época de todos os sonhos e experimentalismos vários. Na ressaca da “primavera de Praga”, o comunismo soviético perde a credibilidade que, aqui e ali, ainda lhe sobrava dos tempos da WW II. Existe, à esquerda, um clima febril de busca de alternativas, de “modelos”, do “maoísmo” ao “guerrilheirismo guevarista”, do “socialismo em liberdade” aos nacionalismos terceiro-mundistas. A experiência de “transição pacífica para o socialismo”, no seio das instituições liberais, é uma ingenuidade comovente que apaixona, e à qual o golpe de Pinochet põe termo colocando também assim um fim em todas as utopias.

Morreu, finalmente, Augusto José Ramón Pinochet Ugarte. Parece que era católico, e por isso acreditava na imortalidade da alma, se é que ditadores a têm. Pois que assim seja e, para o caso de a ter, que a memória das suas vítimas a atormente para todo o sempre.

domingo, dezembro 10, 2006

Milly Possoz e o "Estado Novo" (1)

Ilustração de Milly Possoz para "A Minha Mãe" de "O Livro da Segunda Classe" (1958)

Uma vez mais o futebol; mas não só...

Luís Filipe Vieira, presidente do Sport Lisboa e Benfica, foi constituído arguido no “caso” Mantorras. Sobre José Veiga, ex-director geral da SAD do mesmo clube, não valerá a pena acrescentar mais nada. Jorge Nuno Pinto da Costa, presidente do Futebol Clube do Porto, é acusado na praça pública, pela sua ex -companheira (acho que é assim que se diz), de um extensa lista de irregularidades que prefiguram crimes graves. Tudo isto perante a passividade, apatia e desinteresse dos associados dos clubes e accionistas das SAD respectivas. Estranho? Nada, mesmo: é a pujança da chamada “sociedade civil”.

The Classic Era of American Pulp Magazines (18)

Ilustração de autor desconhecido para "Sheena, Queen of the Jungle" (Primavera de 1951)

Do (meu) "Chiado" e da (minha) nostalgia.

Desde que abriu a FNAC, onde invariavelmente despacho 90% dos presentes de Natal, que passei a frequentar o Chiado com assiduidade redobrada, o que sempre me remete para alguma nostalgia de infância e juventude principalmente nestas épocas de Natal. Fraquezas? Nesse tempo (“the past is a foreign country: they do things differently there”) ia por vezes ter com o pai ao fim da tarde, ao edifício da Rua Garrett que também tinha entrada pela Travessa do Carmo para onde deitavam as janelas do gabinete (no 25 de Abril puseram lá uma metralhadora a apontar para o quartel da GNR), e não raras vezes acabávamos por descer ao “Nicola” onde nos juntávamos à tertúlia do Belenenses que, segundo o meu pai, tinha contado anos antes com a presença frequente de Américo Tomás, quando ainda ministro da Marinha, “belenense” indefectível. Se ia a família toda, por vezes "calhava" jantarmos na cave do mesmo “Nicola", onde existia um groom (era assim que se dizia) - o “Barata” - que era do “Atlético” (imagine-se!) e invariavelmente perguntava se o meu pai já era presidente do “Belenenses” ou administrador da companhia onde trabalhava! Mas o que mais me fascinava nestas incursões pela antiga taberna de Manuel Maria eram os “rolinhos” de manteiga, postos na mesa em pequenos pratos, e o facto de o meu pai pedir sempre um café “de lá de cima”, que era de “saco” e não “expresso”. O lado negativo da "excursão" eram as esperas intermináveis no alfaiate, que usava um emblema de “brilhantes” do “Belém” na lapela e onde me lembro de conversas prolongadas de meu pai com Miguel Di Pace, que vim a saber um dos melhores jogadores de futebol que terá passado por Portugal e pelo "Belenenses". Parece que era rico, e por isso oferecia-se para ser o último a ser pago quando a tesouraria “apertava” lá para os lados de Belém!

Mais tarde, já na adolescência e início da idade adulta, era o tempo de perguntar se a “conta” dos “Monteiros” ou do alfaiate (havia conta corrente em ambos, que se pagava mensalmente consoante as disponibilidades da ocasião) permitia o fato que fazia falta ou as vaidades nos impeliam a comprar. Lembro-me de a compra do meu primeiro tweed, teria para aí uns doze anos, ter sofrido forte influência de compra idêntica do então Príncipe Juan Carlos, na altura já nos vinte e tais, informação subliminarmente avançada pelo Sr. Raúl a quem sempre nos dirigíamos. A tertúlia do “Belém” era então já uma saudade, passada a época das poucas glórias, e, por isso, depois de uma paragem na “Bertrand” ou na montra da “Piccadilly”, local de compra de gravatas e guarda-chuvas, lá seguíamos directamente para o carro, chave entregue aos cuidados do Sr. Augusto do Largo do São Carlos.

Aqui há bem poucos anos, já bem adulto e pai de família, entrei numa pequena engraxadoria da Rua Garrett e fui surpreendido por pergunta fulminante: “desculpe, não é filho de fulano de tal?” Pois, bem me parecia, é tão parecido com o seu pai! Sabe, ele antes de se reformar vinha cá quase todos os dias engraxar os sapatos...” Desci a Rua do Carmo e entrei directamente na “Luvaria Ulisses”, o único sítio do mundo onde ainda hoje consigo comprar luvas...

sábado, dezembro 09, 2006

História(s) da Música Popular (19)


"Crónica dos Anos de Chumbo"
1958 e, de modo mais abrangente, o final da década de cinquenta marcam o declínio do rock & roll. Elvis, depois de assinar contrato com a RCA (o que marca o início do fim, apesar de algumas “faixas” ainda interessantes) e de ficar nas mãos do “coronel” Parker, parte para cumprir o serviço militar na Alemanha e vem de lá a cantar “O Sole Mio” ou, pior, “It’s Now Or Never”. Hollywood e Las Vegas esperam-no. Buddy Holly e Ritchie Valens morrem no já aqui referido desastre de avião. Jerry Lee Lewis suscita o escândalo e espanta os defensores da moral e dos bons costumes ao casar com uma prima de treze ou catorze anos, o que, ao que parece, nem era assim tão pouco habitual nos estados do sul. Chuck Berry é preso sob a acusação de rapto e violação de uma branca, pois claro. Johnny Cash afunda-se no álcool e nas drogas e converte-se ao country. Carl Perkins é vítima de um desastre de carro que lhe custa a carreira e Eddie Cocrhan morre em 1960, em Londres, no mesmo desastre que fere gravemente Gene Vincent. Por último, e para não destoar, Little Richard, cuja homossexualidade já não o ajudava muito no lado conservador da América, dedica-se à religião e retira-se de cena. Voltará ainda em 1964, tornando a sumir-se rapidamente.

No meio de tudo isto – e já não é pouco – surge o escândalo payola. Que se passou? Na época, era habitual as pequenas editoras (fundamentais, tal como as rádios locais, para o surgimento do rock & roll na pujante América do pós-guerra) entregarem aos disk-jockeys uma parte dos seus direitos de autor, como forma de retribuição pelo seu papel no lançamento de novos discos. Esta prática era, evidentemente, ilegal, o que levou a ASCAP (sociedade de autores e compositores mais ligada aos interesses das grandes editoras) a ordenar um inquérito sobre o assunto. Os resultados tiveram como consequência o escândalo que se adivinha, com muitos dos disk-jockeys, que tinham apoiado activamente o r&r, a saírem desprestigiados e a serem postos à margem. Entre eles estará Alan Freed, personagem nem sempre acima de qualquer suspeita mas a quem devem ser concedidos enormes e fundamentais créditos na divulgação da música negra para audiências brancas, das editoras independentes e do r&r na década de cinquenta.
Enquanto as mulheres, como Brenda Lee e Connie Francis, “levantam bem alto a bandeira do r&r” (lá iremos), entra-se na época dos teenage idols, dos boys next door com quem todas as mães da América gostavam as filhas saíssem no sábado à noite. É o tempo dos Pat Boone, Fabian, Frankie Avalon e Annette Funicello, mais os seus beach parties, e, claro, da retomada de controlo do mercado por parte das majors de NY e LA. Ah, pois claro, e é o tempo das “danças”, do twist, madison, mashed potatoes and so on. Mas é tudo isto um desastre assim tão grande? Talvez não tanto, porque o r&r adquire também uma maior qualidade, com melodias melhor construídas, um trabalho de produção mais cuidado e letras menos primitivas, tudo isto graças a alguns compositores e jovens produtores do "Brill Building/Tin Pan Alley", o edifício onde muitas editoras tinham os seus escritórios. É também este o período de oiro dos girls groups, da música "Doo Wop" e, na costa oposta, da surf music. Por todos eles passaremos, e a todos daremos a atenção que merecem, mas fiquemo-nos, agora, talvez pelo mais interessante dos teenage idols, Ricky Nelson, que teve também um papel (o jovem Colorado Ryan) no célebre “Rio Bravo” de Howard Hawks. Ricky Nelson nasceu em New Jersey, a 8 de Maio de 1940, dia que viria, cinco anos mais tarde, a ser o do fim da WWII na Europa. Parece que terá começado a cantar logo depois de uma namorada lhe ter confessado estar apaixonada por Elvis Presley!... Depois de um bem sucedido cover de “I’m Walking”, de “Fats” Domino, “Poor Little Fool” (1958) e “Hello Mary Lou (1961) atingem o #1 do hit parade. É este “Poot Little Fool” que por aqui fica, com a indicação de que com a "British Invasion" a estrela de Ricky Nelson empalidece e, após 1966, ele se dedica à country music, deixando cair o “y” a passando a Rick Nelson.