segunda-feira, novembro 27, 2006

A Televisão e o longo braço do Estado

Não sou um consumidor da televisão generalista; ignoro o que se passa pelos lados de SIC e TVI, vejo a RTP 1 esporadicamente (um ou outro telejornal e “Prós & Contras”, jogos de futebol e raros filmes ou séries) e penso a 2: (essa “genial ideia” de “ceder” o canal à “sociedade civil”) lá se arrasta sem nada que a individualize ou lhe dê especial notoriedade. Por isso, e de modo directo, não me afecta a questão dos atrasos e mudanças de programação que uma “peregrina” lei vinda do governo pretende “resolver”. Mas afecta-me a ideia em si: essa “mania” que o Estado tem, em Portugal, de “meter o nariz” em tudo o que mexe fora de seu já longo braço controlador. Autonomia? Criatividade? Empreendorismo? Inovação? O Estado ou controla ou desconfia! Sintoma de subdesenvolvimento e pobreza, claro está. Relação dialéctica: o Estado controla porque a “sociedade civil” é tradicionalmente fraca e a sociedade civil é tradicionalmente fraca por razões históricas e porque o Estado controla. “Cruel dilema”, dizia Vasco Santana no “Pátio das Cantigas” a propósito da sua paixão pela D. Rosa. Bom, mas o problema maior é que, se calhar, tal como a “velhinha” não queria atravessar a rua por muito que o grupo de escuteiros a forçasse, a “sociedade civil”, os indivíduos/cidadãos, também não se querem ver livres do longo braço da organização estatal. Claro que a SIC e a TVI protestaram (era melhor que o não fizessem!), mas depois de ouvir no “Fórum” da TSF a esmagadora maioria dos ouvintes louvar uma medida que só de pensar nela fico com urticária, acho que está tudo dito sobre a mentalidade dominante, que prefere o controle e a liberdade vigiada às saudáveis livre iniciativa e escolha. Resta refugiar-me, sem qualquer convicção, no raciocínio que invariavelmente utilizo neste tipo de situações: se tanta gente pensa diferente de mim, se calhar sou eu que estou errado!

Norman Rockwell and "The Saturday Evening Post" (7)


Portugal do "Estado Novo" (7)

«DEPOIS DA AULA»

Professor: Graças Vos damos, Senhor,
Todos: por todos os benefícios que nos tendes concedido. Ámen.
Professor: Abençoai, Senhor,
Todos: a Vossa Igreja, a nossa Pátria, os nossos Governantes, as nossas famílias e todas as escolas de Portugal. Pai-Nosso, Ave-Maria, Glória. Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Ámen.
Excerto de lição de "O Livro de Leitura da 1ª Classe"

sábado, novembro 25, 2006

"Prime Suspect"

Seguindo a minha sugestão (não vejo qualquer outra razão plausível!!!...) a RTP fez regressar "Prime Suspect" com "Dame" Helen Mirren no papel de DCI Jane Tennison. Foi nas últimas 5ª e 6ª feira, já um pouco depois das 22.30h. Se não é "Serviço Público", é, pelo menos, uma manifestação do mais elementar bom gosto, o que nunca é por demais realçar tão avesso ele anda a mostrar-se. Esperemos por novo episódio na próxima semana. Com ansiedade...

The Classic Era of American Pulp Magazines (17)

Capa de Reginald Heade para "Hotsy - You'll Be Chilled" de Hank Janson (1951)

sexta-feira, novembro 24, 2006

Portugal do "Estado Novo" (6)


«ANTES DA AULA»

Todos: Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Ámen.
Professor: Jesus, divino Mestre,
Todos: iluminai a minha inteligência, dirigi a minha vontade, purificai o meu coração, para que eu seja sempre cristão fiel a Deus e cidadão útil à Pátria.
Todos: Pai-Nosso, Ave-Maria, Glória.
Excerto de lição de "O Livro de leitura da 1ª Classe"

O PCP e a deputada Luisa Mesquita

O primado do colectivo no PCP nasce nas lutas da primeira metade do século XX, das empresas muito hierarquizadas, com um enorme número de trabalhadores indiferenciados, pouco qualificados e executando tarefas idênticas, pouco especializadas e repetitivas. Empresas, essas, maioritariamente industriais, do “sector produtivo”, como lhe chama o PCP com o seu “não sei o quê” de nostalgia. Do tempo em que, pela própria natureza das mesmas, do processo produtivo de então e do tipo de funções executadas, a competição entre os operários era, em si mesma, algo esvaziado de sentido, num mundo empresarial onde o que conta é maioritariamente a capacidade produtiva e não o “conhecimento”, a criatividade ou a inovação. Era o terreno de eleição dos grandes "contratos colectivos". Por último, era uma luta por vezes muito difícil, travada em condições de grande repressão e mesmo de clandestinidade numa época em que as ditaduras ocupavam ainda um espaço relevante.

Tentar reproduzir esse mundo e essa organização no século XXI não faz qualquer sentido, e entra mesmo em contradição com personalidades moldadas por e num mundo que não é mais esse mas o da diferença, da singularização, da imaginação e da criatividade. Do indivíduo, enfim.

O caso da deputada Luísa Mesquita (e de Odete Santos?) parece-me, pois, reflexo dessa mesma contradição, dessa luta entre uma personalidade moldada já num tempo e num meio diferentes daquele que ainda configura o primado do colectivo do PCP, do ex-operário Jerónimo de Sousa. Mais do que uma divergência política ou de ideias, ou ideais, é uma afirmação de individualismo rebelde, que se saúda.

O Mundo em Guerra (17)

Japan

História(s) da Música Popular (18)



Como vimos, Terence “Jet” (assim chamado pelos colegas de escola por correr muito depressa) Harris (Kingsbury, norte de Londres, 1939) deixou os “Shadows” em Abril de 1962, ao que consta por incompatibilidade com Bruce Welch, guitarra rítmica do grupo. Seja ou não inteiramente correcta a afirmação, o que é facto é que, de todos os elementos dos “Shadows” era o que mais perto sempre esteve do rock & roll “puro e duro” e por isso não é de admirar que as divergências surgissem. Também dizem as más línguas que a sua primeira mulher, Carol Da Costa, terá sido a responsável pela entrada de Cliff Richard na idade adulta. Ainda antes de “Jet” se ter cruzado no caminho, claro está! Mas parece que este casamento não durou, et pour cause... Mas vamos ao que interessa. Depois de ter deixado os “Shadows”, “Jet” Harris gravou a “solo” dois singles (“Besame Mucho”/ "Chills and Fever" e “The Man With the Golden Arm"/"Some People") ambos com algum, moderado, sucesso. Mas o sucesso a sério, esse, veio sim quando formou dupla com o seu ex-colega e baterista dos “Shadows” Tony Meehan (que se chamava Daniel e nasceu em Londres em 1943). Este, que tinha deixado o grupo em Outubro de 1961 com a perspectiva de trabalhar como produtor para a Decca, juntou-se a “Jet” para três singles de sucesso: “Diamonds" (de Jerry Lordan, o compositor de “Apache”)/"Foot Stomp", que chegou a #1, “Scarlett O’Hara"/(Doing The) Hully Gully" (#2) e “Applejack”/”The Tall Texan” (#4). Todos eles editados em 1963. Algumas curiosidades sobre “Diamonds”: para a gravação, “Jet” trocou o seu “Fender Precision Bass” por uma novíssima Fender Jaguar, afinada um “tom” abaixo do normal, e Jimmy Page (futuro Led Zeppelin) integra a gravação como músico de estúdio. Bom, mas como nestas coisas do r&r a tragédia anda sempre paredes meias com o sucesso, uns dias depois de “Applejack” ter sido editado o carro onde “Jet” Harris seguia com uma nova namorada “esbarrou” com um autocarro e “Jet” saiu algo maltratado. Mas ainda anda por aí, quase aos setenta anos tocando os velhos êxitos dos “Shadows”, depois de um período de profissões várias para sobreviver. Quanto a Tony Meehan, que era o mais novo dos "Shadows", morreu no ano passado num acidente doméstico. Ele há vidas...

Portugal do "Estado Novo" (5)

«O Anjo da Guarda»

O Fernando vai ao colégio e tem de passar em ruas e praças onde se cruzam automóveis.
- Cautela, Fernandinho! Vai sempre com atenção.
O menino às vezes é distraído e não pensa no perigo. Mas a mãe, que ficou em casa a trabalhar, nunca se esquece do filho e vai pedindo ao Anjo da Guarda que o acompanhe:
- Anjo da Guarda, livrai o meu menino de todos os perigos. Velai por ele!»
Excerto de Lição de "O Livro de Leitura da 1ª Classe"

Anglophilia (17)


"Trooping The Colour"

Clássicos do Cinema (13)

"Citizen Kane" de Orson Welles (1941)

quinta-feira, novembro 23, 2006

"Vírus"

Problemas de vírus informático têm impedido a actualização deste blog com a desejada, e desejável, regularidade. Esperemos estejam agora, e finalmente, resolvidos.

segunda-feira, novembro 20, 2006

A "Caixa" e Scolari.

Confesso que me preocupa pouco o volume do investimento (parece que 16 milhões de euros) da Caixa Geral de Depósitos na campanha que “utiliza” Scolari como endorsee. Preocupa-me, isso sim, o que está a seu montante, isto é:


  1. Era uma campanha de publicidade desta magnitude, efectivamente, o movimento necessário, neste momento, da empresa no mercado?

  2. Qual o seu objectivo estratégico?

  3. Como compara com o investimento da concorrência?

  4. Foram consideradas alternativas e analisados vários cenários?

  5. Foram estabelecidos objectivos quantificáveis?

  6. O conceito e a campanha foram pré-testados?

  7. Foi efectuado um planeamento de “meios” optimizado?

  8. Será efectuado tracking para analisar o impacto da campanha na marca e no mercado?

Ficam estas perguntas, poderíamos acrescentar outras. Colocar o ênfase no montante total investido é talvez popular (ou “populista”), eficaz como sound byte, mas passa ao lado do essencial e poderá ser facilmente desmontado enquanto argumento.

Portugal do "Estado Novo" (4)

«Respeitai as autoridades»

O pai é a autoridade na família. Os filhos são obrigados a ter-lhe amor, respeito e obediência. O professor é a autoridade na escola. Todos os meninos devem obedecer às suas ordens e estar com atenção às suas lições.
É Deus quem nos manda respeitar os superiores e obedecer às autoridades.»
Excerto de Lição do "Livro de Leitura da 1ª Classe"

A Guerra Aqui (mesmo) Ao Lado (4)

"Cara al Sol" - Cartaz nacionalista de Sáenz de Tejada (1940)

As Capas de Cândido Costa Pinto (17)

Capa de CCP para "O Enigma do Sapato Holandês" ( "The Dutch Shoe Mistery") de Ellery Queen, nº 14 da Colecção "Vampiro"

"Virose"

Este blog foi interrompido durante 3 dias em virtude de "virose" grave do computador que lhe dá origem. Continua de seguida, uma vez já resolvida a "doença".

sexta-feira, novembro 17, 2006

Outras Músicas (10)

Yundi Li interpreta o Nocturno Op. 9 No. 2 de Frédérique Chopin

Ségolène Royal

Para já, é bonita e tem "classe", o que ajuda mas não chega. Alguma inconsistência nas propostas e mesmo uns laivos de populismo deixam-me um pouco inquieto. Por isso, e por enquanto, contentemo-nos com a imagem... No caso presente, não é tudo, mas "ele" há começos bem piores...

Aníbal Cavaco Silva na SIC

Pode não se gostar do estilo e eu não gosto; pode não se apreciar a personalidade e eu não simpatizo lá muito – dificilmente o contaria entre os meus amigos; pode achar-se que é um dos “pais do monstro” e do modelo de desenvolvimento e de sociedade que nos conduziu a esta situação desastrosa, e eu acho que tem nisso sérias responsabilidades; pode mesmo achar-se, e eu acho pois fui seu aluno, que as suas qualidades didácticas eram ténues embora lhe reconhecesse o valor científico - inequívoco. Por isso, não votei nele – mas também em nenhum dos outros – nestas últimas eleições, embora reconhecesse ser o único candidato credível para a conjuntura. Mas para quem, como eu, defende, há mais de dez anos, que uma vez normalizada e “civilizada” a democracia (o que, pode dizer-se, aconteceu com o fim da presidência de Mário Soares) o regime parlamentar puro seria o mais adequado e menos perturbador para o país e para a sociedade (o que muito irritava os meus amigos “à esquerda”, confiantes na tal “maioria sociológica”), Aníbal Cavaco Silva tem sabido ser, e parece pretender ser se a normalidade não for afectada, o Presidente mais “parlamentarista” de sempre, o que ficou bem patente na entrevista de ontem à SIC. Sim, eu sei que a conjuntura favorece que assim aconteça (desnecessário enumerar as razões), mas limito-me, com agrado e aprovação, a constatar o facto que vale por si. O que se passará no futuro entra no campo da especulação. Portanto, vale o que vale: pouco.
Apenas um reparo: a ocasião escolhida para a entrevista - porque em concorrência directa com a de PSL à RTP - pareceu-me muito pouco adequada, colocando-se o Presidente da República a "concorrer", em termos de audiência, com uma personalidade controversa e populista (é o mínimo), da nossa vida política, que o acusa de responsabilidades na queda do governo de que foi primeiro ministro. Um share menor do que o da entrevista de PSL será, no mínimo, embaraçante.

Portugal do "Estado Novo" (3)

«Os pobrezinhos»
- Batem à porta. Meu filho, vai ver quem é.
- É um pobre, minha mãe, um pobrezinho a pedir esmola.
A mãe veio logo com um prato de sopa e deu-o ao pobre. Depois, voltou para a sala de costura e deixou o filho a fazer companhia ao mendigo. Este, quando acabou de comer, disse por despedida:
- Deus faça bem a quem bem faz!
O menino ficou comovido: - Que pena tive do pobrezinho!
- E é caso para isso, respondeu a mãe. Os pobres são nossos irmãos. Devemos fazer-lhes todo o bem que pudermos. Jesus ensinou que até um copo de água, dado aos pobres por caridade, terá grande prémio no céu.»
"Excerto de lição do "Livro de Leitura da 1ª Classe"

Norman Rockwell and "The Saturday Evening Post" (6)


quinta-feira, novembro 16, 2006

Anúncio

A Federação Portuguesa de Futebol (Instituição de Utilidade Pública) recruta, para os quadros da sua selecção principal:


"Ponta de Lança"
m/f
Requere-se:

  • Idade entre os 20 e os 30 anos.

  • Capacidade comprovada para valer pelo menos um golo por jogo contra equipas como o Azerbaijão, Cazaquistão, Arménia e outras similares.

  • Possibilidade de ganhar pelo menos uma bola por jogo em luta contra os "centrais" adversários, especialmente no jogo aéreo.

  • Concentração competitiva e técnica de remate suficientes para não acertar sistematicamente no guarda redes adversário de cada vez que se encontra isolado.

  • Coragem para jogar na área e rematar à baliza em qualquer situação sem medo das entradas dos adversários.

Oferece-se:

  • Integração em equipa ganhadora com provas dadas em competições internacionais.

  • Direcção de um dos mais conceituados técnicos mundiais.

  • Possibilidade de jogar com alguns dos melhores jogadores do mundo, principalmente na assistência a "pontas de lança".

  • Prémios aliciantes e divulgação da sua actuação através das maiores cadeias de televisão mundiais.

  • Entrada imediata e titularidade assegurada caso cumpra estes requisitos.

Resposta a este blog ou directamente à Federação Portuguesa de Futebol, c/o Luis Filipe Scolari: Rua Alexandre Herculano, Nº 58 1250-012 Lisboa - Portugal . Telefone: 351 214 254 439.

O Tribunal Constitucional e o aborto.

A decisão do Tribunal Constitucional sobre o referendo ao aborto (favorável, sete votos contra seis) mais do que uma decisão a favor do referendo, parece ser uma decisão contra si próprio, o modo como é constituído e funciona. Se nos lembrarmos dessa sua constituição, tudo leva a crer que os juizes votaram em função das suas convicções e não por via de quaisquer pressupostos jurídico-constitucionais. Enquanto votante do “sim”, saúdo a decisão. Mas lamento a metodologia que me parece a ela ter presidido, enquanto cidadão preocupado com o funcionamento do Estado e das instituições da República.

The Classic Era of American Pulp Magazines (16)

Capa de Robert Gibson Jones para "Amazing Stories" (Março de 1945)

História(s) da Música Popular (17)



A partir de “Apache” seguem-se vários sucessos para os “Shadows” e entre eles destaque para “Wonderful Land”, do mesmo Jerry Lordan e já com a orquestra de Norrie Paramor como pano de fundo, “Kon-Tiki”, “Dance On” e “Foot Tapper” todos eles #1 dos tops. Em 1961, o seu álbum de estreia (“The Shadows”) foi o primeiro de qualquer “grupo” ou de qualquer artista britânico a atingir o topo do hit parade respectivo. Mas também começam as deserções e, claro, as aquisições. Em Setembro de 1961, Tony Meehan é substituído por Brian Bennett e em Abril do ano seguinte Jet Harris por Brian “Licorice” Locking, ex-membros do backing group de Marty Wilde, “The Wild Cats”. Finalmente, em 1963 o próprio Brian Locking abandona para se dedicar á religião (que não a do rock & roll), enquanto “testemunha de jeová”, e é substituído por John Rostill. Este será o line up que durará até 1968 e do resto ainda reza a história, mas não o interesse. Em 1962, Jet Harris e Tony Meehan passam a actuar como um duo e, no ano seguinte, alcançam o # 1 dos tops com “Diamonds”. Mas disso falaremos já na próxima vez. Agora, proponho uma passagem por “The Savage”, ainda com o line up original (o meu favorito) e um dos meus temas mais caros. Faz parte da “banda sonora” do filme “The Young Ones”, cuja canção do mesmo nome foi também um sucesso para Cliff Richard. Este "The Savage" é um dos temas que, quanto a mim, melhor define a personalidade da “Stratocaster”, também ela substituída, a partir de 1964, pela britânica “Burns”. Sinais dos tempos...

Portugal do "Estado Novo" (2)


«A cantina escolar»
- Gostei tanto de ir hoje à escola, minha mãe! A senhora professora estava muito contente, porque inaugurou uma cantina, onde os meninos pobres podem almoçar de graça. Se visse, Mãezinha! As mesas muito asseadas, os pratos branquinhos, jarras floridas e tudo tão alegre!
A sopa cheirava que era um regalo; e todos nós estávamos satisfeitos, ao ver os pobrezinhos matar a fome.
O filho do carpinteiro, a quem eu às vezes dava da minha merenda, de vez em quando ria-se para nós, como que a dizer:
- Está óptima, a sopinha!
Perguntei à senhora professora quem tinha feito tanto bem à nossa escola e ela respondeu-me:
- Foi o Estado Novo que gosta muito das crianças e para elas tem mandado fazer escolas e cantinas, creches e parques. Mas as famílias que possam também devem ajudar. Não te esqueças de o dizer à tua mãe.»
Excerto de lição do "Livro de Leitura da Primeira Classe"

A imprensa desportiva.

Num jogo contra uma equipa fraquíssima, com uma defesa ainda mais fraca, Nuno Gomes, o "ponta de lança" de serviço na selecção portuguesa, foi incapaz de conseguir um golo que fosse, ou mesmo uma assistência decisiva. Isto, apesar de ter lhe terem sido proporcionadas três ou quatro oportunidades flagrantes, pelo menos duas delas apenas com o guarda-redes pela frente. Apesar disso, todos os jornais desportivos de hoje lhe dão nota positiva, num bom exemplo dos valores (?) e do rigor pelos quais se rege a imprensa desportiva e, por extensão, o país. Valha-nos o “Público” que lhe dá nota claramente negativa.

quarta-feira, novembro 15, 2006

Publicidade certeira!

Um anúncio de rádio actual “reza” mais ou menos o seguinte (não sei se a ordem é esta, mas isso não é muito importante): Londres tem o “Big Ben”, o Rio de Janeiro o “Maracanã”, Paris o “Louvre” e a “Torre Eifell”, Nova Iorque a “Ponte de Brooklin”, Washington a “Casa Branca”, Estocolmo o “Palácio Real” e Lisboa a... Worten! Certíssimo!, acrescento eu. Right on target! Afinal os publicitários não são assim tão exagerados...

Portugal do "Estado Novo" (1)

«A dona de casa»

Emilita é muito esperta e desembaraçada, e gosta de ajudar a mãe.
- Minha mãe: já sei varrer a cozinha, arrumar as cadeiras e limpar o pó. Deixe-me pôr hoje a mesa para o jantar.
- Está bem, minha filha. Quando fores grande, hás-de ser boa dona de casa.»
"excerto de lição do livro de leitura da 1ª classe"

O Mundo em Guerra (16)

Italy

Mª de Lurdes Rodrigues "asneirou"

Maria de Lurdes Rodrigues “asneirou”. Com esta história de os professores não estarem sujeitos a serem colocados no quadro de supranumerários, e como bem disse Vital Moreira, está criar um novo regime de excepção sem que nada o justifique. E bem sabemos como basta uma excepção...

Mas vejamos um pouco mais fundo. Não me custa aceitar ver um professor com "horário zero" a tratar eficazmente da gestão da biblioteca. Basta saber ler e escrever – e presumo eles saibam – ter um cérebro mediano e ser razoavelmente expedito com um computador (o que nem sempre será verdade, mas enfim). Já me parece bem mais complicado ver um professor, mesmo com uma licenciatura em engenharia, a superintender eficazmente a gestão de edifícios, um licenciado em direito a prestar apoio jurídico e por aí fora. São lugares que requerem experiência e conhecimentos técnicos que vão algo para além da respectiva licenciatura (às vezes, sabe-se lá por que Universidade) e que serão certamente bem melhor preenchidos por técnicos competentes ou por empresas em regime de outsourcing. Acresce que uma parte significativa dos professores com "horário zero" não serão os mais diligentes, assíduos e empenhados. Receio, por isso, que se esteja a complicar e a arranjar problemas em vez de os resolver. Poupar dinheiro não justifica tudo (se é que se poupa) e o objectivo é (ou deveria ser), não o esqueçamos, a melhoria da qualidade do ensino e das qualificações de quem o frequenta.

José Veiga

Por razões várias, e que são sobejamente conhecidas de quem se interessa por estas coisas da “bola”, mandava o bom senso, para defesa da instituição Sport Lisboa e Benfica, do seu bom nome e credibilidade, que José Veiga nunca tivesse sido nomeado director-geral da SAD. Por maioria de razões, esperemos que depois do sucedido ontem a sua demissão seja aceite.

Mais duas notas:

- Devia estranhar – mas não estranho – que, apesar da ligeira melhoria dos resultados desportivos e de realizações como o Estádio e o Centro de Estágio, os benfiquistas não estivessem mais críticos e intervenientes. Pelo menos, cumprindo uma tradição que se acentuou nos anos de Vale e Azevedo, Manuel Damásio, Jorge de Brito e, até, Fernando Martins.

- Um dia esta direcção “populista” cairá. Esperemos nessa queda não arraste consigo o clube, mas não estou muito optimista.

terça-feira, novembro 14, 2006

Anglophilia (16)

Polo

Clássicos do Cinema (10)

"Gilda" de Charles Vidor - 1946

Portugal mudou.

Querem uma prova de que Portugal mudou? Uma, apenas? Depois de ter "terminado a sua relação com Cristiano Ronaldo" (é assim que dizem as revistas "do social"), que, não sei bem porquê, está desde aí a jogar bem melhor, Merche Romero está agora íntima de um ex-judoca, agora porteiro de discoteca. Há trinta ou quarenta anos não seria "célebre e rica" e, como a Alexandra da "Angústia para o Jantar", viveria num apartamento da Infante Santo "por conta" de alguém, ele sim, rico, mas suficientemente discreto e amantíssimo pai de família na sua vida "oficial".

Zita Seabra, Alêtheia e Pedro Santana Lopes

Uma grande “chapelada” à agência de comunicação de dupla Zita Seabra/Alêtheia – Pedro Santana Lopes. Directos nas televisões, notícia em todos os telejornais das oito da noite e, ainda, “sessão da meia noite” na SIC Notícias, é obra. E que dizer das duas primeiras páginas do “Público” de hoje, com chamada de capa e tudo? Claro que PSL foi primeiro-ministro (foi?) e que é sempre uma benção para os “media” (o que não é elogio), mas mesmo assim convenhamos que é obra. Não será por aí (falta de promoção) que o livro não ascenderá a best seller, aposto. Suspeito, no entanto, mas apenas suspeito, que venderá menos do que o “Bilhete de Indentidade” de Maria Filomena Mónica, já que, por opção de PSL - que joga, neste caso, na imagem de político respeitável e traído (e solitário como convém a quem foi traído) - faltar-lhe-á o voyeurisme de alcova em que o livro de MFM é pródigo – e todos sabemos que o voyeurisme político vende bem menos, porque menos íntimo e proibido. Mais a mais, no caso de MFM estamos a falar não só de uma mulher (o que torna esse voyeurisme mais “picante” e transgressor), como de alguém que pertence a um meio social que, à época, cultivava a descrição e a opacidade. Mesmo assim, caso para dizer, como João Soares, “o homem tem mel”.

Mas atenção. Sabemos que não podemos esperar de PSL nada de interessante em termos de pensamento político ou mesmo de qualquer outro, como também sabemos que nada ou pouco, de “não conhecido”, haverá para revelar sobre o que se passou no período do seu governo e da sua demissão. Por isso, este impacto e este mediatismo súbitos não revelam, eles próprios, nada de especialmente louvável em termos do país que somos e do vazio político e intelectual que se instalou. Também, em termos “mediáticos”, claro. Querem provas? À esquerda do PS, procedeu-se à exumação de uma série de cadáveres, já bem pouco “esquisitos”, numa conferência de partidos “comunistas e operários”. No PS, a oposição ficou entregue a quem propõe, com a maior ligeireza, aquele que seria um dos maiores erros políticos da democracia portuguesa: legislar sobre a modificação da lei do aborto no caso de o “não” ganhar, mesmo que sem percentagem de participação vinculativa. No PSD, Marques Mendes salta para o colo de Jardim e até de onde menos se espera (do sempre interessante José Pacheco Pereira) nada de mais notável chega do que uma campanha sobre um dejà vue de há vários governos: a “manipulação” informativa da RTP. Mais uma razão para tirarmos o chapéu à agência de comunicação da “Alêtheia”: se não foi por acaso (o livro é para vender no Natal), o timing foi mesmo na mouche!

segunda-feira, novembro 13, 2006

As Capas de Cândido Costa Pinto (16)

Capa de CCP para "O Santo Brinca Com O Fogo" ("The Saint Plays With Fire") de Leslie Charteris, nº 26 da Colecção "Vampiro"

O "Hóquei Patriótico"

No sábado à tarde, em casa de amigos para almoço e assistir ao Geórgia – Portugal em rugby pela televisão, dei por mim, depois do jogo e de zapping apressado, a sintonizar algures um jogo de hóquei em patins, jogavam Benfica e Porto. Por pouco tempo, diga-se, pois é desporto que nada me atrai e o qual não sigo. Sei que Portugal, Argentina, Espanha e Itália dividem entre si as candidaturas a títulos, mas se me perguntarem quem é o campeão nacional, do mundo ou da Europa, só por acaso acertarei. Reparei, isso sim, que estariam no pavilhão do Benfica não mais do que umas mil pessoas, número este que pecará bem mais por excesso do que por defeito. Depois de me interrogar quem pagará por estes devaneios (a audiência televisiva deve ser proporcional aos assistentes in loco) lembrei-me que nem sempre foi assim. Em tempos, era eu criança, estávamos em plena glória daquilo que eu, mais tarde, passei a designar por “hóquei patriótico”, em que este era o desporto nacional por excelência com direito a relatos pela rádio e manifestações públicas de regozijo, com idas do povo ao aeroporto e tudo, quando o país se sagrava campeão do mundo ou da Europa. Como os relatos eram normalmente à noite, tínhamos o direito de ficar acordados até mais tarde, ouvindo nervosamente as marchas militares que eram o indicativo da Emissora Nacional para os relatos desportivos. Por vezes, desesperávamos, pois a ligação a Montreux (quase sempre era lá, acho) nem sempre era fácil e temíamos perder alguns minutos do relato. Por fim, lá vinha o som de Montreux, normalmente com interferências e eco, mas era isso que contribuía também para dar a noção de distância e de epopeia. Invariavelmente, Portugal ia “despachando” os adversários por vários a zero ou a um (“éramos” – assim mesmo, no plural – os melhores), até que vinha o tal jogo com a Espanha - a das bandeirinhas que marcavam as batalhas no mapa - que tudo decidia. Era o “jogo da rádio” por excelência: mais rápido, com o barulho de fundo de pavilhão, a bola a bater nas tabelas e os patins a “guincharem” nas travagens. Mais a mais, era um desporto de classe média, que se jogava na linha de Cascais e em Sintra bem como em outras estâncias turísticas como Herne Bay, Montreux e praias dos arredores de Barcelona, onde existiam ringues de patinagem para os tempos ociosos. Um dia, tudo se desmoronou. Eu, por mim, comecei a interrogar-me quando, pai regressado de viagem a Paris e tendo eu, entusiasmado, comentado que “tínhamos” sido campeões, talvez do mundo, ele, não disfarçando algum desprezo trocista pelo facto, afirmou que no L’Équipe isso tinha tido direito a três linhas de notícia numa página interior. De seguida, aproveitou para acrescentar que “isso não se jogava em lado nenhum”. No país, o Benfica campeão da Europa de futebol, o Sporting a vencer a Taça das Taças e, por fim, a selecção de futebol em terceiro no mundial davam, juntamente com a implantação decisiva da televisão (no hóquei, na televisão só por sorte se vê a bola) e o “recuo” da rádio, a machadada final no “hóquei patriótico” da minha infância.

A Guerra Aqui (mesmo) Ao Lado (3)

Cartaz de José Bardasano - 1937

História(s) da Música Popular (16)




UK e os "Shadows"
Tenho algum pudor em incluir os “Shadows” no rock instrumental, puro e duro, melhor me parecendo já mais perto daquilo que se convencionou chamar de pop/rock. Mas o facto é que não só se iniciam como backing group de Cliff Richard, na sua fase de Elvis Presley britânico, como, à semelhança de outros rockers da mesma origem, partem do skiffle e do rock & roll (ou de lá perto) para se integrarem, pouco a pouco, na música ligeira. Mas pronto, isto acabaria por cair numa daquelas discussões, um pouco ortodoxas, sobre quem é o verdadeiro liberal - bactereologicamente puro e incontaminado, entenda-se - e como é que ele se distingue entre todos os outros, os menos puros, reflexo contemporâneo das discussões sobre a “linha justa” e o verdadeiro partido comunista de há uns trinta e tal anos. Ita missa est!

Pois os “Shadows” iniciais e da sua fase mais interessante (Hank Marvin e o seu amigo Bruce Welsh + Jet Harris e Tony Meehan, depois de Ian Samwell, Terry Smart e Ken Payne terem por lá passado, episodicamente, antes da fama) começaram por se chamar "Drifters" e mudaram de nome por causa do grupo vocal americano homónimo, o de Clyde McPhatter. Convém também dizer que em Portugal deram origem a uma enorme “shadowmania”, tal era o número de grupos (na altura dizia-se "conjuntos") formados e desfeitos à sua semelhança, para tocarem nas festas de liceu, com amplificadores que por vezes pouco mais eram do que telefonias melhor, pior ou mesmo nada adaptadas. E quanto às Fender... ainda pior um pouco!

Bom, mas continuemos com os “Shadows”, os autênticos, cujo primeiro single (vocal), ainda sob o nome “Drifters”, se chamava “Feelin’ Fine” e tinha como “b” side “Don’t Be A Fool With Love”. Quase não se deu por ele e foi aí que começaram os problemas legais com o grupo norte-americano! De seguida, veio novo single (“Jet Black”/”Driftin”), este já instrumental e incluído também no primeiro album de Cliff Richard, “Cliff Sings”. Depois do terceiro single não sucedido, o vocal “Saturday Dance”/”Lonesome Fella” (o primeiro sob a nova designação “The Shadows”), o êxito veio finalmente, já em 1960, com o “Apache” de Jerry Lordon, êxito mundial e #1 no hit parade do Reino Unido durante seis semanas. Curiosamente, nos Estados Unidos a versão que mais vendeu foi a do guitarrista dinamarquês Jorgen Ingmann, ao que dizem as más línguas devido a problemas promocionais. Pois é “Apache” que hoje fica por aqui, mas os “Shadows” terão, claro, ainda direito a outras histórias e a mais música. Quanto aos "vocais" do grupo, lamento: só os tenho em vinyl num album chamado "The Shadows Vocals" comprado por acaso numa loja de Viena já lá vão uns quinze anitos...

domingo, novembro 12, 2006

Semelhanças...

Assim de repente, Manuel Alegre e Helena Roseta parecem ser hoje em dia, e cada vez mais, uma versão up-graded e actualizada da "dupla" Aires Rodrigues e Carmelinda Pereira do PS das décadas de 70 e 80.

Um Post de Domingo...

Se me perguntassem , dos actuais políticos mais em evidência, quais os que gostaria de conhecer mais de perto e até com eles privar um pouco, certamente citaria espontaneamente - top of mind, mesmo - Manuel Alegre e Jerónimo de Sousa, dois nos quais nunca votaria... Manuel Alegre tem e cultiva qualquer coisa de Hemingway, das mulheres, dos touros e das caçadas – da aventura romântica também - embora com menos mundo e menos excessos. Por isso parece hoje tão fora do seu tempo, mas também, por via disso, deve ser excelente companhia para jantar e conversa sobre as coisas do mundo e da vida, talvez à volta de umas perdizes estufadas e de um daqueles vinhos do Sr. Santos do Buçaco, tão perto da sua Águeda onde nasceu.

Já Jerónimo será um contador de histórias; das histórias do seu mundo que só conhecíamos pelo Soeiro e pelo Redol de uns vinte ou trinta anos antes. Aqui no meu bairro, tão interclassista, seria o vizinho de um “meio mais modesto”, honesto e frontal, no qual se podia confiar e a quem deixaríamos a chave de casa em caso de necessidade. Também com quem discutiríamos a “bola” nas manhãs de sábado, ao balcão do café comentando as “gordas” do “Expresso”, e a quem, de tempos a tempos, convidaríamos para uns caracóis e umas cervejas ao fim da tarde , antes de uma ida à “Catedral”.

Talvez seja isso mesmo que faz o seu sucesso eleitoral...

Norman Rockwell and "The Saturday Evening Post" (5)


sexta-feira, novembro 10, 2006

História(s) da Música Popular (15)



As boas amizades fazem-se nos bancos da escola. Isto é um lugar comum, claro, mas não o foi para Sandy Nelson (Santa Mónica, CA – 1938) pois foi lá que ele conheceu Phil Spector, Nancy Sinatra e Jan (Berry) & Dean (Torrence) émulos dos “Beach Boys”. Mas com amigos destes quem quereria, ou poderia, ser outra coisa senão músico? E pronto, assim se fez e Sandy Nelson lá tocou com os "Teddy Bears" do grande (excepto no tamanho) Phil Spector e até participou na gravação do LP “Crazy Times” de Gene Vincent. Tornou-se um baterista de reconhecidos méritos, como músico de estúdio, e, em 1959, grava este “Teen Beat” que chega ao 4º lugar dos tops. Muda para a Imperial Records (a mesma para onde grava “Fats” Domino) e segue-se “Let There Be Drums”, # nº 7 do hit parade. É uma semente que dará frutos no UK, já que Tony Meehan e Brian Bennett gravarão também eles, enquanto bateristas dos “Shadows”, temas em que a bateria estará na linha da frente, respectivamente “Me And My Drums” e “Little B”. Mas isso é já outra história e como, quer queiramos quer não, a tragédia espreita sempre nestas coisas do rock & roll, Sandy Nelson terá um acidente de moto que obrigará à amputação do seu pé direito, o que, contudo, não afectará a sua carreira. Mas, como dizia Bob Dylan, os tempos mudam e não mais terá um sucesso como este “Teen Beat”.

quinta-feira, novembro 09, 2006

Anglophilia (15) - Remembrance Day


In Flanders fields the poppies blow
Between the crosses, row on row
That mark our place; and in the sky
The larks, still bravely singing, fly
Scarce heard amid the guns below.

We are the dead. Short days ago
We lived, felt dawn, saw sunset glow,
Loved and were loved, and now we lie
In Flanders fields.

Take up our quarrel with the foe;
To you, from failing hands, we throw
The torch; be yours to hold it high.
If ye break faith with us who die
We shall not sleep, though poppies grow
In Flanders fields.
"In Flanders Fields" - a poem by Major John Mc Crae (1915)

Um Sonho...

Tive um sonho! Até aqui nada de novo, até porque toda a gente sonha e alguns o confessam. Penso, mesmo, que depois de Martin Luther King toda a gente sonha ainda mais e, o que é pior, o passou a confessar. Questão de moda ou, mais propriamente, de sound byte. Por vezes, mente, já a coisa passou a ser bem vista e a dar um ar de "mensageiro do destino" a quem o anuncia! Um cliché, essa do sonho... Mas eu sonhei! Ou melhor, minto ao dizer que sonhei porque me dá jeito, porque assim lá tenho matéria para um post mais “entretido”, como dizia o treinador “Quinito”. E o que é que eu sonhei? Pois sonhei acordado, hoje de manhã, quando ouvi quase todo o debate (?) final sobre o OE 2007 (masoquista, eu?). Sonhei que o Ministro da Finanças fazia uma apresentação do orçamento em powerpoint aos deputados e que estes iam colocando questões pertinentes sobre o que lhes era mostrado. Mais ainda, sonhei que muitos dos mapas e slides faziam parte de um conjunto cuja apresentação era obrigatória em todos os OE’s, conjunto esse aprovado pela AR há já alguns anos, podendo o governo juntar alguns mais que tivesse por convenientes e demonstrativos e a oposição pedir a apresentação de um número necessariamente limitado de outros. E, claro está, que cada ministro faria o mesmo para a sua área de responsabilidade, para cada ministério, ficando depois responsável pelo seu cumprimento, não só na globalidade como também nas suas várias rubricas. Ah! e que cada alteração significativa, movimento entre rubricas principais ou variação acima de uma determinada percentagem obrigaria, primeiro, a uma justificação e, ao persistir, a uma nova autorização da câmara. Pronto, não sou nenhum Martin Luther King, mas foi isto que eu sonhei e não vejo mal algum nisso, caramba.

Clássicos do Cinema (9)

"La Dolce Vita" de Frederico Fellini - 1960

As Capas de Cândido Costa Pinto (15)

Capa de CCP (não creditada no livro) para "O Caso das Garras de Veludo" ("The Case Of The Velvet Claws") de Erle Stanley Gardner, nº 3 da "Colecção Vampiro"

quarta-feira, novembro 08, 2006

América...

Sou e sinto-me profundamente europeu, ainda por cima de muitas e variadas origens, felizmente. Mas se vivesse nos Estados Unidos (de que gosto muito, diga-se), na América como gosto mais de dizer, votaria certamente democrata. No entanto, numa coisa têm os nossos “neo cons”, de trazer por casa, razão: contrariamente ao que diz a esquerda, de modo demasiado apressado, não existe uma “boa” e uma “má” América. Não se pode querer uma sem ter a outra e é, isso sim, essa sua pluralidade, essa sua enorme contradição, que faz com ela se mova e com ela o mundo. Não se pode ter o New Deal "rooseveltiano" sem o fundamentalismo "bushista", a “aristocracia” de New England sem a América “rasca” do white trash, a intelectualidade da "Village" sem a ignorância da América profunda, os gay do "Castro" de Frisco sem as ligas de temperança, os amish e os quakers, o rock n’ roll sem a segregação. A beat generation e a América do cinema sem a miséria que foi a imigração. Os vinhos de "Napa Valley" sem a memória da Prohibition. Podemos gostar mais de um ou de outro lado, sentirmos ou não identificações aqui e ali, acharmos mesmo que não pertencemos àquele mundo, mas teremos de a ver, com olhos de europeu, sempre, mas também com uma noção perfeita das suas origens, da sua história e dos seus percursos. Para que possamos compreendê-la.
América "boa" ou América "má"? América, pura e simplesmente!

Outras Músicas (9) - ...ou "Eu hoje vou adormecer assim..."

"God Bless America", de Irving Berlin, na interpretação de Kate Smith.

A Banca, o "populismo" e o azar de Marques Mendes

A questão dos impostos pagos ou não pagos pela Banca, independentemente das razões que possam assistir ao Governo, Banca e cidadãos - e o assunto é complexo, é a questão populista por excelência, do tirar aos ricos para dar aos pobres, e aí João Salgueiro tem razão. Mas também por todas estas razões me parece excessiva, e politicamente pouco cuidadosa, a sua reacção.
Quem tem mais uma vez azar é Marques Mendes, cujas propostas concretas apresentadas na discussão sobre o orçamento mereceriam um pouco mais de atenção e análise mediáticas, que lhe foram retiradas pela questão "bancária". O populismo veio mesmo para ficar?

A Guerra Aqui (mesmo) Ao Lado (2)

Cartaz de Melenderas para a "Junta Delegada de Defensa de Madrid"

É este PS de "Esquerda"?

Rui Ramos vem hoje no “Público” (sem link) dissertar sobre a identidade de esquerda do PS, o que não deixa de ser um assunto interessante e, principalmente, actual, embora RR se limite a algumas citações de antigos secretários-gerais e esqueça o enquadramento histórico do assunto, sem o qual tudo será mais difícil de entender. Senão vejamos: o que distingue historicamente a esquerda social–democrata e socialista dos partidos de direita, ditos “burgueses” fazendo uso da expressão usada nos países nórdicos? Ao nível da economia, uma maior intervenção estatal que, em alguns casos, podia chegar à nacionalização de alguns sectores–chave, seja, um menor foco no mercado. A nível das questões sociais e do trabalho, alguma ligação com os interesses sindicais e uma maior preocupação com a protecção e coesão sociais, logo, com o que se convencionou chamar de wellfare state - embora aqui, em maior ou menor grau, tenha de compartilhar os “louros” com a democracia–cristã. Em termos geo–estratégicos, uma maior ortodoxia (chamemo-lhe assim) no alinhamento com o bloco ocidental, embora aqui também existam excepções como a França de De Gaulle. Uma maior abertura e progressismo das questões de sociedade, tal qual elas se foram apresentando ao longo da história do século XX.

Foi a vitória das democracias e do capitalismo na “guerra fria” (curiosamente, verifica-se hoje que, ao contrário daquilo que alguma esquerda afirmava quando declarava que não existia democracia sem socialismo, o que não existe, de facto, é democracia sem capitalismo e que aquela é a sua forma de expressão política mais avançada) - ainda por cima na sua forma mais “pura e dura” do Reaganismo e Thatcherismo -, e a subsequente globalização, que vieram a tornar obsoletas, esvaziando-as de sentido, algumas destas questões que definiam tradicionalmente a esquerda democrática e deram à direita um lugar de vanguarda no pensamento e na inovação das ideias, dominando, hoje em dia, os media e aquilo que se designa em "marketing" por share of mind, neste caso, do pensamento político. Assim, foi a globalização que tornou inúteis as nacionalizações e foi o desenvolvimento das novas tecnologias e o fortalecimento das classes médias associado à terciarização que tornou rentáveis, logo atractivos para os “privados”, sectores da economia que até aí o não eram. A demografia, o aumento da esperança de vida, o desemprego e o fim do emprego de longa duração, gerados pela globalização e pela reconversão tecnológica, e o aumento exponencial dos custos com a saúde colocou em causa o wellfare state, pelo menos na forma como o conhecíamos. O fim dos blocos político–militares arrastou o terceiro mundo e os “não alinhados”, com toda a carga de atractividade emocional que em tempos poderiam ter possuído, e os sindicatos não souberam, ou não conseguiram ainda, adaptar-se ao mundo emergente do fim das “convenções colectivas” e da necessária flexibilidade e adaptabilidade laboral. Em Portugal, para agravar a situação, actuam de acordo com uma agenda fundamentalmente partidária e corporativa e não resistirão, certamente, a uma reforma do Estado e da Função Pública num sentido mais liberal, muito menos a uma restruturação do sector educativo, “destalinizando-o”. Bom, mas como nem tudo são agruras, foi ironicamente a própria liberalização económica que, em conjunto com os desenvolvimentos da genética e da bio–medicina, tornaram, e tornam, cada vez mais actuais as questões de “sociedade”, em relação às quais a esquerda democrática apresenta, tradicionalmente, uma maior abertura. Por exemplo, será que organizações tão economicamente anti-liberais como o Bloco de Esquerda ou a UMAR já pensaram nos interesses que alguns grupos privados de saúde (as clínicas de Badajoz são apenas um exemplo) poderão ter numa lei mais liberal sobre o aborto?

Assim sendo, que resta, pois, à esquerda democrática em termos de ticket político específico? No fundo, aquele que, nos últimos dez anos, tem sido a seu e a define, ou seja:

  • Conduzir e controlar, em termos de bom senso político, a urgente reconversão do Estado e das suas funções, tornando-o mais eficaz e competitivo e evitando os “desvarios” ultra liberais do tipo “despedir duzentos mil funcionários públicos” que conduziriam esse mesmo Estado ao colapso e o país a uma crise social e económica sem precedentes.
  • Reformar do wellfare state tornando-o, tanto quanto possível, sustentável a prazo e garantindo a necessária coesão e protecção sociais.
  • Tornar a escola pública competitiva e melhorar os níveis de educação por ela proporcionados.
  • Ser um aliado crítico dos USA na luta anti–terrorista e em termos geo-estratégicos evitando os “desvios” Bushistas.
  • Conduzir uma agenda liberal das questões de sociedade.

Como se pode depreender, isto implicará, pelo menos no que aos três primeiros pontos diz respeito, a adopção de medidas que, numa primeira análise, poderão parecer ir contra tudo aquilo que tem sido, ao longo dos anos, a linha essencial da sua actuação. Daí a incompreensão. Mas o mundo mudou, e tudo o que vá muito para além disto, em termos gerais, parece-me, assim, desajustado da realidade, logo, utópico. Parece que o PS o terá entendido... Será?

Anglophilia (14)

Regimental Ties

terça-feira, novembro 07, 2006

Norman Rockwell and "The Saturday Evening Post" (4)

História(s) da Música Popular (14)


Continuando com o rock instrumental e com a América, Duane Eddy (1938, Corning, NY) é talvez o nome mais conhecido e, dizem, o grande influenciador de guitarristas como Hank Marvin e George Harrison. Parece que começou a tocar guitarra com cinco anos e foi o bem conhecido Lee Hazlewood (produtor do êxito de Nancy Sinatra “These Boots Are Made for Walkin” # 1 em 1966) o seu produtor e mentor inicial. “Rebel Rouser” (# 6 em 1958) foi talvez o seu ponto mais alto, sendo também de salientar “Forty Miles of Bad Road (# 9 em 1959) e, principalmente, “Because They’re Young”, canção tema do filme do mesmo nome que chegou a # 4 em 1960 e em que a “estrela” principal era Dick Clark, mais conhecido como o apresentador do célebre “American Bandstand” e um dos investigados no escândalo payola (lá iremos). Duane Eddy tem também um papel no filme, que conta ainda com Tuesday Weld, a adolescente de serviço e episódica namorada de Elvis Presley. E pronto, fiquemos com o célebre “Rebel Rouser”, composto por Hazlewood e pelo próprio Duane Eddy e onde o sax de Steve Douglas tem papel de destaque. Não é isso que aqui nos traz?!

A Minha Webpage, a NetCabo, a Competitividade e o Engº Sócrates...

Desde a passada sexta-feira que tenho problemas com o acesso à minha webpage. Raramente consigo aceder, quando isso acontece a maior parte das vezes os ficheiros não abrem e transferir para lá o que quer que seja é a maior mentira do mundo. Desde esse dia que tento resolver o assunto com a NetCabo. Debalde... Sexta á tarde ainda se dignaram falar a dizer que viria alguém nesse dia, pois notavam demasiado "ruído" nas ligações (foi o que disseram), o que podia ser a causa. Pois, até agora... E se "ruído" era, deve ter-se transformado entretanto numa barulheira infernal, pois o (não) acesso está cada vez está pior. Entretanto, os meus mails desesperados têm direito apenas a resposta automática. Por isso, entre outras coisas, as "História(s) da Música Popular lá terão de esperar... Ah, "ele" era a Finlândia, não era, Engº Sócrates?

O Mundo em Guerra (14)

Germany

The Classic Era of American Pulp Magazines (14)

Capa de Hannes Bok para "The Horror of the Glen" história de Clyde Irvine publicada em Weird Tales (Março de 1940)

"Prós e Contras"

É meia noite e meia. Entre as alheiras e os grelos da Drª Fátima (foi ela que os mencionou), a senhora técnica de informática dos SMAS de Loures que quer saber quanto ganha o ministro, o senhor merceeiro de, salvo erro, Penafiel - ou outro Penafiel qualquer -, que, para além de achar que tem um papel muito importante no escoamento da pequena produção do sector primário, está preocupado com o pagamento especial por conta, ou seja, com o seu próprio umbigo, e o senhor que tem cinco filhos e não sei quê dos divórcios, se faz o “Prós e Contras”. O Ministro responde (coitado, nada pior para quem tem, obrigatoriamente, de desenvolver um pensamento geral e abstracto do que ser colocado perante questões particulares e comezinhas) e Daniel Bessa, Medina Carreira e Octávio Teixeira estão calados. No caso de os dois primeiros, sorte a deles; no caso do último, sorte a nossa!

Um quarto para a uma. Resisto. Octávio Teixeira ataca com a Banca (olha a novidade!), como se isso resolvesse o assunto, e o ministro não pode explicar a importância de um sector financeiro competitivo, não é popular. Intervalo de cinco minutos: “os cavalheiros levam as damas ao bufete” e eu vou à cozinha ver o que há, pois o jantar já lá vai há quase cinco horas. Morangos e uvas, que, pelo “ar”, parecem mais do “Pão de Açucar” das Amoreiras ou do “Modelo” ali da esquina do que da mercearia de Penafiel, resolvem o problema.

Uma e dez. Depois de uma conversa, um pouco esotérica para a esmagadora maioria dos cidadãos, sobre hipotecas e créditos, finalmente a Drª Fátima questiona sobre os comentários da Comissão Europeia ao plano de redução do déficit público. Azar: questiona a pessoa errada, Daniel Bessa e não o ministro, e mesmo assim à vol d’oiseau. Ficamos, pois, sem saber se este tenciona apresentar um plano de resposta com medidas correctoras e quais, que era o que realmente interessava saber. O resto do programa arrasta-se, sem nada de interesse, e até o habitualmente acutilante e bem preparado Medina Carreira se deixa enredar numa teia sobre a justiça , pertinente mas ali deslocada. Felizmente, ouvi-o e a Silva Lopes sobre o orçamento, nos últimos dias, ou nas últimas duas semanas

Vinte para as duas e o programa acaba. Uma noitada que, como diria JPP, é simultaneamente sintoma e elemento potenciador do nosso atraso. Se o disser, tem toda a razão.

P.S. (de post scriptum, pois claro): gostava de ver o PCP ou o “Bloco” apresentarem um orçamento de estado alternativo, a cinco ou dez anos... Aceitam o desafio?

segunda-feira, novembro 06, 2006

Mozart e a Colecção do "Público"

O "Público" vai editar, a partir de 14 de Novembro, um conjunto de CD’s da Naxos com obras de Mozart. Alguns comentários:

  1. A Naxos é uma editora de baixo preço (os CD’s custavam na FNAC, a última vez que os comprei, à volta de sete euros, mais “coisa menos coisa”) mas de qualidade (gravação e interpretações) normalmente bem acima da média, principalmente no que diz respeito aos períodos clássico e barroco, mas não só. Seis euros e noventa cêntimos não é, portanto, nenhuma “pechincha”, mas a qualidade, em princípio, vale o preço.
  2. Para um exemplo da qualidade que a Naxos por vezes atinge, esta editou, nos últimos anos, uma integral da obra de Chopin interpretada pela pianista turca Idil Biret que se tornou uma referência. A comprar, sem sombra de dúvida, ainda mais se atendermos ao preço. Quando comprei o que consegui, desapareceu rapidamente da FNAC. Como não tenho ido muito por lá, não sei como estão as coisas, mas talvez o Natal seja propício ao seu regresso.
  3. Quanto à edição do “Público”, devo dizer que a discoteca Mozart “cá de casa” (que é relativamente vasta) não é muito prolífera para os lados da Naxos, e por isso não conheço assim tão bem a maioria das interpretações propostas pelo jornal, mas devo salientar o CD com as duas últimas sinfonias de Mozart, as nº 40 e 41 - Júpiter, interpretadas pela Capella Istropolitana dirigida por Barry Wordsworth. Esse é dos Naxos que por cá existe e vivamente recomendo...

Outras Músicas (8) - ...E A Contra-Revolução Em Alemão

"Die Horst Wessel Lied" aka "Die Fahne Hoch", hino do NSAPD (Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães) interpretado pelo Musik Korps da SS Leibstandarte Adolphe Hitler (clicar para ouvir)

Outras Músicas (7) - As Revoluções Em Francês

  1. "Ah, Ça Ira" canção da Revolução Francesa cantada por Edith Piaf (clicar para ouvir)
  2. "Le Temps Des Cerises" canção da Comuna de Paris na voz de Ives Montand (clicar para ouvir).
  3. "Le Chant Des Partisans" hino da resistência (1943) cantado pela sua autora Anna Marly (clicar para ouvir)

When I Look at the Pictures - Lawrence Ferlinghetti (9)


MONET’S LILIES SHUDDERING

Monet never knew
he was painting his “Lilies” for
a lady from the Chicago Art Institute
who went to France and filmed
today’s lilies
by the “Bridge at Giverny”
a leaf afloat among them
the film of which now flickers
at the entrance to his framed visions
with a Debussy piano soundtrack
flooding with a new fluorescence (fleur-essence?)
the rooms and rooms
of waterlilies

Monet caught a Cloud in a Pond
in 1903
and got a first glimpse
of its lilies
and for twenty years returned
again and again to paint them
which now gives us the impression
that he floated thru life on them
and their reflections
which he also didn’t know
we would have occasion
to reflect upon

Anymore than he could know
that John Cage would be playing a
“Celo with Melody-driven Electronics”
tonight at the University of Chicago
And making those Lilies shudder and shed
black light
Poema de Lawrence Ferlinghetti para "Water Lilies I" de Claude Monet, 1905. Museum of Fine Arts, Boston

Más Notícias Sobre O Déficit...

A propósito do meu post "Much Ado About Nothing?" - Isto, sim, é preocupante e exigiria a muito curto prazo a apresentação por um qualquer Governo responsável de um conjunto de medidas correctivas coerentes. Esperemos isso aconteça e que o assunto não deixe de ser abordado pelo Ministro das Finanças no "Prós e Contras" de logo à noite. E, já agora, que também que a oposição cumpra finalmente o seu papel...

domingo, novembro 05, 2006

As Capas de Cândido Costa Pinto (14)

Capa de CCP para "O Crime Da Raposa" ("The Murderer Is A Fox") de Ellery Queen, nº 61 da "Colecção Vampiro"

Lennart Johanssen vs Roman Abramovich

O presidente da UEFA, Lennart Johanssen, declarou "não gostar da forma como Roman Abramovich usa o seu poder financeiro para construir uma equipa repleta de estrelas... mas admitiu a impotência da UEFA para intervir nesse domínio". Ver aqui. Dois comentários. Mais cedo ou mais tarde, para salvaguarda da indústria e da sua competitividade interna, terão de ser implementadas medidas limitativas para impôr uma maior igualdade aos clubes, do mesmo tipo, ou de outro qualquer que produza resultados semelhantes, das adoptadas pela NBA. Mas quem, para além da UEFA, as poderá impor?

Much Ado About Nothing?

Ele vai por aí muito ruído nos "media". É que “ele” foram as atitudes "clownescas", à la Mário Moreno (ou será Jerry Lewis?), do ministro Pinho, tipo “pé no balde e bolo na cara”, “ele” são os alinhamentos favoráveis ao governo dos telejornais do canal público que JPP tomou como causa sua (atenção ao inteligente contraponto da SIC), as confusões ou meias confusões das SCUT cuja adequação aos objectivos que se propõe atingir são discutíveis e deveriam remeter, isso sim, para uma discussão mais estratégica dos conceitos “utilizador/pagador”, hoje em dia transformado em “vaca sagrada”, ou financiamento geral ou local, um secretário de estado adjunto da indústria e inovação (uff...) que tem da política uma vaga ideia, o presidente do Governo regional da Madeira a falar e está tudo dito, os que acham que a reforma do ensino se faz com quem não a quer e, à falta de melhor e por fim, a vida privada do primeiro ministro (si, já os vi no cinema, aqui há uns meses, por sinal a ver o excelente “The Three Burials of Melquíades Estrada). Much ado about nothing? Não direi tal, mas, pelo menos, por relativamente pouca coisa. É que a avaliação deste governo far-se-á, em minha opinião, pelo que for capaz de fazer em cinco áreas fundamentais:

1. Contenção e diminuição estrutural do déficit público de acordo com os compromissos assumidos.
2. Reforma e modernização do Estado e da Administração Pública.
3. Reforma da segurança social que permita a sua sustentação, e a do Estado Social, a prazo.
4. Reforma do ensino que permita reverter a prazo os índices de aproveitamento e abandono escolar.
5. Modernização da sociedade portuguesa nas áreas de “sociedade” (v.g. aborto, droga, protecção de menores e minorias, violência doméstica, casamento de pessoas do mesmo sexo, etc).

Será capaz de o fazer? Estejamos atentos e críticos...

A Guerra Aqui (mesmo) Ao Lado (1)

Cartaz de Parrilla para as "Brigadas Internacionais"

Clássicos do Cinema (8)

"Beau Geste" de William Wellman - 1939

Quando Os Santanas Já Não São Vascos

Como eu dizia em post anterior referindo-me a Hermínio Loureiro, “ele” há apelidos que são verdadeiros anátemas”, e o apelido Santana teima em não deixar de nos divertir, desde os tempos em que Santanas eram só Vascos até àquele em que já eram Pedros, entertainer de serviço nos congressos do PSD fazendo com que estes se tornassem verdadeiros eventos mediáticos e definindo padrões para o que deveria ser um congresso partidário “bem curtido”. E, de facto, assim foi durante os anos a fio em que os congressos deste partido valiam bem alguns minutos em frente da televisão ou do aparelho de telefonia, como se dizia no tempo em que os Santanas eram mesmo só os Vascos.

Tudo isto vem a propósito da entrevista dada por Santana (Lopes, o contemporâneo) à “Única” e em que declara que “adorava (é o termo que usa, o que não se estranha) liderar a oposição ao governo de Sócrates”. À primeira leitura a tentação é rir; é a fase da comédia, não percebendo que depois de ter sido primeiro-ministro (!!!) os papéis de entertainer são forçosamente coisa do passado e outras representações bem mais dramáticas teriam de se seguir para nos tentar convencer, vencendo a nossa memória. De seguida, vem a tragédia, quando nos interrogamos, remexemos na nossa memória curta e nos lembramos do tempo em que ousaram dar-lhe esse papel, qual erro de casting e primeiro responsável pelo flop do filme. Depois... bem, depois acabamos por lhe desculpar (que foi o que todos sempre lhe fizemos, sem resistir muito, perante tamanha dose de naiveté)... É que o homem não cresceu, ficou mesmo assim, criança para sempre, e bem sabemos que há em nós algo que permanentemente nos impele para a infância, para o útero materno do qual nunca gostaríamos de ter saído... E talvez seja por isso que o entrevistam, lhe dão um sempre tão caro tempo mediático, por ele preencher assim, tão bem, esse espaço do nosso imaginário e por isso ter audiência garantida, que isto jornais e rádios não brincam em serviço, servem para ganhar dinheiro e a isso têm todo o direito, pois claro.

Bom, perante isto só tenho pena de uma coisa. É que já vi e ouvi invectivar Jorge Sampaio por o ter nomeado e o ter demitido, o próprio Santana Lopes por, enquanto primeiro-ministro, ter sido igual a si próprio, os media e os “barões” do partido por o terem “torpedeado”, Durão Barroso por ter feito pela “vidinha”, mas pouco ou nada tenho visto e ouvido sobre o facto de um congresso do partido o ter eleito vice-presidente... Será que não lhes terá ocorrido que um vice-presidente de “qualquer coisa” pode sempre passar a presidente dessa mesma coisa por impedimento do outro? Não? Não, mesmo? Pois devia, e que essa lacuna de pensamento sirva de lição para o futuro, é a moral da história que aqui também existe, tal qual como nas histórias de encantar e... nos contos infantis.

sexta-feira, novembro 03, 2006

Outra Vez As Polícias

A propósito desta notícia. Agora que a PSP é, desde há já alguns anos, uma polícia "civil", porquê duas polícias dependentes de ministérios diferentes? Porque não a mesma polícia, com dois ramos distintos ("segurança pública" e "investigação criminal"), dependentes do mesmo ministério e com uma chefia, a nível de "topo", comum? Sobre o assunto, sugiro uma leitura aqui.

"Como O Cinema Era Belo"

Uma lista de filmes é uma lista de filmes é uma lista de filmes. E a de João Bénard da Costa é a de João Bénard da Costa é a de João Bénard da Costa, pronto. Mas confesso: sob o título “Como O Cinema Era Belo” não percebo o que lá fazem alguns filmes, digamos, dos últimos dez ou quinze anos. Por exemplo, porque é que estando lá dois filmes de Terrence Malick estão os dois mais recentes e não “Badlands” ou “Days of Heaven”? E o mesmo vale para “Eyes Wide Shut”: porque não, por exemplo, “Paths of Glory”? Bom, mas é o menos... Tudo bem na mesma. É a lista de João Benard da Costa que (ele que me desculpe o plágio) é “muito cá de casa”. E inclui um filme de Fuller e basta isso para estar tudo muito bem. Mas, sinceramente, o que não sei mesmo é o que lá está a fazer - entre “Casablanca” e “Citizen Kane”, entre “The Searchers” e “Johnny Guitar” - o “ET” de Spielberg. E, neste caso, não é por ser este; é que qualquer um (não) servia!

Norman Rockwell and "The Saturday Evening Post" (3)

História(s) da Música Popular (13)


Not much to say, acerca de "Johnny & The Hurricanes" (Toledo, Ohio), a não ser que o seu som distinto provém do sax-tenor de Johnny Paris e do orgão Hammond de Paul Tesluk. O seu maior sucesso foi “Red River Rock” que chegou a #5 nos USA e #3 no UK, em 1959. Mas quem viu o “Pulp Fiction” de Tarantino lembra-se de certeza deste “Crossfire”, gravado também em 1959 e que é, by far, o meu favorito do grupo. E, se se lembrar ainda bem, pois é sinal de que viu o filme e fixou a espantosa banda sonora, que inclui também "Dick Dale & The Deltones", de quem falaremos, e muito, no capítulo dedicado à surf music, que nem só de Beach Boys e Jan & Jean ela se fez. Mas pronto, não nos afastemos do tema, apenas sendo relevante acrescentar que "Johnny & The Hurricanes" também andaram lá para as bandas de Hamburgo, nos early sixties quando já a decadência era já um facto e os ventos da British Invasion se aproximavam, tocando nos mesmos locais que os de Liverpool na sua fase AE (antes de Epstein) e até mesmo nas mesmas sessões. “Crossfire”?